Resumo
Este artigo analisa a função textual-interativa de advérbios dêiticos de integração entre argumentos (NEVES, 2020) em entrevistas com personalidades políticas. Para tanto, identificamos os advérbios dêiticos de tempo e espaço nessas entrevistas, categorizando-os de acordo com seus valores semânticos e explicando seus padrões de funcionamento na textualização do gênero. Os dados correspondem às entrevistas com candidatos elegíveis à prefeitura de Recife no primeiro turno eleitoral de 2020. Como já mencionado, as ocorrências dos advérbios foram examinadas de acordo com as intenções dos falantes dentro da situação comunicativa empreendida pelo gênero textual e com a percepção de como os dêiticos se inserem na construção dos enunciados. Sendo assim, a análise teve como principais fundamentos teóricos as contribuições da Linguística Textual (KOCH, 2015), para tomar o texto enquanto unidade de análise e para compreender a relação entre os advérbios e os segmentos textuais. Os resultados apontaram que houve uma transição da ostensão dêitica para a organização textual, de modo que os dêiticos, em certas ocorrências, passaram a efetuar papéis argumentativos/opinativos. A inserção dos advérbios não ocorreu igualmente em todos os argumentos, sendo possível encontrar comparações, ênfases, comprovações, entre outros processos em que o dêitico auxilia para manifestar os propósitos interativos de crítica, de concordância ou de redirecionamento discursivo.
Palavras-chave: Advérbios dêiticos; Argumentação; Interação verbal; Entrevistas com políticos
Abstract
This paper analyzes the deictic adverbs’ textual-interactive function of integration between arguments (NEVES, 2020) in interviews with political personalities. In order to understand this function, time and space deictic adverbs were identified in these interviews, categorizing them according to their semantic values and explaining their operating patterns in the genre textualization. The data correspond to interviews with eligible candidates for the Recife mayor's office in the first electoral round of 2020. As already mentioned, adverbs’ occurrences were examined according to the speakers’ intentions within the communicative situation undertaken by the textual genre and with the perception of how deictics are inserted in the construction of utterances. Furthermore, the analysis had as main theoretical foundations the contributions of Text Linguistics (KOCH, 2015) to take the text as a unit of analysis and to understand the relationship between adverbs and textual segments. The results showed that there was a transition from deictic ostension to textual organization, so that deictic, in certain instances, began to play argumentative / opinionated roles. The insertion of adverbs did not occur equally in all arguments, and it is possible to find comparisons, emphasis, confirmations, among other processes in which the deictic helps to manifest the interactive purposes of criticism, agreement or discursive redirection.
Keywords: Deictic adverbs; Argumentantion; Verbal interaction; Interviews with politicians
Os advérbios são frequentemente citados como uma das classes de palavra cujas descrições são mais problemáticas (BIDERMAN, 2001; CASTILHO, 2014) devido à heterogeneidade de seus constituintes, questão acentuada também pelo polifuncionalismo característico dessa classe (CASTILHO, 2014), dos pontos de vista sintático e semântico-pragmático. Nessa perspectiva, definir um advérbio como “expressão modificadora que por si só denota uma circunstância (de lugar, de tempo, modo, intensidade, condição, etc.) e desempenha na oração a função de adjunto adverbial” (BECHARA, 2009, p. 242) não fornece subsídios suficientes para uma análise incisiva da importância dos advérbios no âmbito textual-discursivo (CASTILHO, 2014), nem sobre as duas funções que, segundo Neves (2014, 2018), podem ser assumidas distintamente pelos advérbios: a predicação e a dêixis.
Frequentemente entendidos como termos de valor suplementar no plano sintático, os advérbios apresentam, em virtude das características expostas por Neves (2014, 2018), grupos distintos quanto à funcionalidade, de modo que os predicadores podem incidir sobre outras classes de palavras ou outros advérbios, e os circunstanciais podem desempenhar funções argumentais e atuar na progressão textual. Essas propriedades distintas permitem admitir que a heterogeneidade dos advérbios define um continuum de usos em que os diferentes grupos estão situados, dos quais se destacam os dêiticos por sua proximidade com classes gramaticais, como pronomes e conjunções, e por sua dificuldade de compreensão fenomenológica tanto pela tradição quanto pelos linguistas contemporâneos.
Levando-se em conta que pesquisadores como Cunha e Cintra (2017) e Rocha Lima (2011) utilizaram constantemente o atributo circunstancial como base para caracterização dos advérbios, neste trabalho, as circunstâncias de espaço e tempo não são apenas vistas como relevantes para a enunciação e para o entendimento efetivo da dêixis, mas surgem como objeto de estudo a ser trabalhado. Desse modo, os advérbios dêiticos passam a ser vistos como mecanismos essenciais para a localização espaço-temporal do sujeito pela língua, de modo que, tal qual enfatiza Neves (2014), as fronteiras entre as referências físicas (dêiticas) e textuais (fóricas) se imbricam a ponto de o falante influenciar os enunciados por meio de tal jogo de convergência.
Embora a dêixis seja frequentemente relegada aos estudos semântico-pragmáticos, assumimos a importância do fenômeno no âmbito sintático e, de forma mais contundente, na esfera textual-interativa, a qual precisa de maiores investigações para conhecimento do impacto desse recurso linguístico em um dos principais objetos de estudo da Linguística: o texto. Não à toa Castilho (2014) destina um tópico para discussão sobre a predominância de advérbios específicos para cada gênero, a exemplo dos modalizadores nas entrevistas.
Além desses pontos, defendemos, aqui, dentro do polifuncionalismo adverbial, a possibilidade de a dêixis dos advérbios promover tanto a progressão textual quanto tomadas de posições discursivas. Por tal defesa, um fenômeno aparentemente secundário do processo enunciativo pode ser visto como basilar em um gênero textual como a entrevista. Nesse gênero, precisa-se do empenho do enunciador para a sustentação de sua expertise diante das perguntas (SCHNEUWLY; DOLZ, 1999), principalmente quando o enunciador atua na esfera política, demandando, assim, a articulação de elementos linguísticos que textualizam ideias que vão ao encontro dos desejos de seu partido.
Compreendendo a argumentação como um fenômeno inscrito na língua que orienta o sentido dos enunciados (DUCROT, 1981, 1987) e os argumentos como processos textuais reconhecíveis pelas marcas linguísticas e pelos componentes pragmáticos da situação (FIORIN, 2016), partimos da consideração de que, em textos da esfera política, os quais são definidos pelo manuseio linguístico realizado por agentes sociais que disputam poder institucional (BOCHETT et al., 2017), os advérbios dêiticos podem auxiliar na construção de argumentos para a orientação argumentativa pretendida.
A partir dessas considerações iniciais, este artigo aborda o funcionamento dos advérbios dêiticos para a construção dos argumentos em entrevistas com personalidades políticas envolvidas no processo eleitoral de 2020 para a prefeitura de Recife e discute de que maneira esses itens integram enunciados a fim de auxiliar nos sentidos produzidos linguisticamente. Nessa esteira, a investigação de caráter qualitativo, descritivo e documental analisou os dados gerados durante o processo eleitoral, com base nas funções textual-interativas dos dêiticos adverbiais.
Os advérbios dêiticos na interação verbal e a relação com a construção de argumentos
Tal qual enfatizado na subseção anterior, os dêiticos são uma subcategorização semântica dos advérbios. Para alguns autores, a exemplo de Neves (2000), os dêiticos são também chamados de circunstanciais. Entendemos, todavia, que circunstanciais e dêiticos não podem ser vistos como sinônimos. A circunstância dá conta de componentes semânticos diversos, tais como intensidade, modo, espaço, tempo, entre outros. Com efeito, a circunstância configura-se como hiperônimo do espaço e do tempo, que convocam uma característica fundamental da enunciação: a dêixis. Ao contrário do aspecto, outra característica presente em alguns circunstanciais, a dêixis é constituída por um conjunto de elementos “com referência à situação de enunciação, seja ela pressuposta, seja ela explicitada no texto pelo narrador” (FIORIN, 2016, p. 48). A instância do discurso é tomada pela subjetividade por meio da dêixis, que, segundo Benveniste (1976), utiliza formas vazias sob as quais se constituem as coordenadas da interação. Essas formas vazias são firmadas por um tripé de elementos que apontam o contexto imediato da enunciação pela linguagem. Tal tripé é organizado, segundo Yule (1996), pelas categorias de pessoa, espaço e tempo, de modo que os itens adverbiais contemplam as duas últimas categorias.
Segundo Lopes e Bertucci (2020, p. 286), “a dêixis está diretamente relacionada aos contextos enunciativos por precisar estabelecer uma relação direta com os elementos do mundo no processo de sua identificação”. Considerando tal visão, Cavalcante (2009) define o fenômeno por meio de duas características basilares: os dêiticos referem-se a uma entidade e ligam o enunciado à realidade enunciativa. Em outros termos, esses itens adverbiais remetem a um referente da nossa realidade, a exemplo do nosso conceito mental de “hoje” e “aqui”, e, por situarem o enunciado no curso do tempo e espaço, ligam o enunciado, produto da fala, à realidade do aqui-agora. Nesses moldes, há uma concordância entre os autores, e percebe-se que a dêixis é explicada pela associação física/ostensiva do significado ao item linguístico envolto em uma situação enunciativa. Tem-se, portanto, um fenômeno da esfera pragmática, que constitui a língua como fenômeno de ação pelo qual os sujeitos recompõem seus anseios de acordo com suas vivências de um tempo singular em um espaço sincrônico de múltiplos usos.
Relacionando tais observações aos advérbios dêiticos, percebe-se que as ancoragens de tempo e lugar vinculam os usos linguísticos não apenas ao momento de produção em termos do espaço-tempo, mas à subjetividade de cada ser que perpassa sua existência por meio da palavra, fincando suas ações no mundo a partir do ponto zero estabelecido no aqui-agora da enunciação.
Vale salientar que este trabalho, ao partir de pressupostos funcionalistas, entende que as categorias de espaço e de tempo são subjetivas e reconfiguram-se a ponto de permitir a localização de elementos no próprio texto, como reforça o processo de gramaticalização espaço > tempo > texto descrito por Heine (2007). Desse modo, entendemos que, na verdade, a foricidade nada mais é do que o processo cognitivo da dêixis no âmbito textual, podendo chamar a primeira de dêixis interna, remetendo ao espaço-tempo do texto, e a segunda, em seu sentido inicial, de dêixis externa, correspondendo à interação entre os sujeitos.
A fim de aclarar esse conceito, observam-se as sentenças retiradas de Cavalcante (2009, p. 139):
(1) Este trabalho comenta algumas estratégias...
(2) Diferentemente dos outros casos, aqui não se pode dizer...
Como se observa nesses dois casos, a expressão dêitica “este trabalho” e o advérbio “aqui” fazem referência ao espaço virtual do texto. Como aponta Cavalcante (2009), há uma sorte de transfiguração das categorias dêiticas para os limites do texto. Desse modo, é possível assumir que há uma continuidade da dêixis, que passa da exterioridade da enunciação para a interioridade do texto, separando tais usos pelas terminologias “dêixis externa”, que remete ao espaço-tempo concreto da enunciação, e “dêixis interna”, que traduz os valores espaciais e temporais na dimensão textual. Temos, portanto, nos dois casos apresentados, a dêixis interna.
Com o entendimento do conceito de dêixis, pode-se compreender o grupo de advérbios identificado pelos linguistas. Não obstante sejam classificados semanticamente por sua relação com a subjetividade da enunciação (CASTILHO, 2014), autores como Ilari (2007) e Neves (2014) não veem esses itens linguísticos pertencentes à mesma classe dos modalizadores e dos verificadores na medida em que a sua origem de bases nominais ou pronominais gera diferenças funcionais comparados aos demais advérbios. Ora, entende-se aqui tais elementos inscritos na história da língua e carregando consigo marcas diacrônicas, porém isso não significa que o fato de terem bases nominais ou pronominais os faça parte de outra classe sem terminologia definida. Com efeito, tal comportamento reforça mais uma vez a zona de desenvolvimento progressivo dos advérbios, posicionando os dêiticos entre as classes abertas e entre as fechadas, com a discussão sobre como as categorias de espaço e de tempo são caracterizadas nas dimensões da língua.
Semanticamente, os advérbios dêiticos convocam as categorias de espaço e de tempo. Para Castilho e Elias (2012), são marcações imprecisas emergentes do processo de constituição subjetiva mencionado por Ferreira Júnior e Azevedo (2018). Esse processo ocorre a partir da instauração do sujeito em usos linguísticos, de modo que o indivíduo inscreve sua singularidade em marcações como os dêiticos, os quais se tornam imprecisos, ao passo que a definição da proximidade espacial e temporal dependerá sempre de quem produz o enunciado.
Apesar de tal característica comum a esses advérbios, eles podem ser separados em locativos e temporais. Os locativos podem ser segmentados em dois sistemas, de acordo com Fiorin (2016): o enunciativo, formado pela tricotomia “aqui-aí-ali” e pela dicotomia “lá-cá”, e o enuncivo, formado pelos usos já arcaicos no Brasil “algures”, “alhures” e “nenhures”. Embora o autor opte por tal separação, entendemos que há um processo comum de ostensão, o qual, como o nome sugere, se efetua inicialmente pela exposição de um objeto físico ou de um conceito presente no sistema de significação humana, a exemplo dos conceitos de tempo e espaço. Nesse sentido, a fisicalidade da interação, ou seja, a experiência concreta do indivíduo no espaço/momento discursivo em que os interlocutores dialogam serve de alicerce para a dêixis, a qual passa a ser comparada com o espaço físico do texto, desembocando em um sistema comum com a predominância da tricotomia aqui-aí-ali, a qual, por se basear na experiência de quem enuncia (“eu”), é vista como uma posição egocêntrica.
Para Fiorin (2016), os temporais também são vistos pelos sistemas enunciativo e enuncivo. Contudo, tal qual indicado anteriormente, prefere-se ver um sistema comum que, para a categoria de tempo, é guiado pela linha temporal de passado, presente e futuro, a qual mantém as coordenadas interacionais e indica as direções do enunciado em um texto.
Sintaticamente, os advérbios dêiticos têm algumas propriedades em comum. Segundo Neves (2000), os dêiticos, chamados pela autora de circunstanciais fóricos, assumem as seguintes funções: argumental, adjuntiva adverbial, adjuntiva adnominal e juntiva. Essa conjuntura de possibilidades vai de encontro aos postulados das gramáticas mais tradicionais analisadas anteriormente e realça o polifuncionalismo adverbial (CASTILHO, 2014), configurando-o elemento que, embora costumeiramente periférico (ILOGTI DE SÁ; PAIVA; CEZARIO, 2020), pode assumir funções distintas, as quais se associam a papéis temáticos de direção, alvo, entre outros (CANÇADO, 2012).
Dentro da discussão estabelecida no parágrafo anterior, as propriedades sintáticas dos advérbios dêiticos parecem diferentes quando se comparam itens envoltos pela dêixis. Xavier e Kanthack (2019) observam isso em relação à mobilidade dos locativos, à qual estão relacionadas as funções sintáticas exercidas pelo advérbio. Outra autora que debate as propriedades sintáticas dos advérbios dêiticos é Bonfim (1988), cujas discussões são, com efeito, disruptivas no sentido de apresentarem a diversidade de binômios e de trinômios adverbiais com características distintas, chegando, inclusive, a defender que itens como “abaixo-acima” e “antes-depois” não constituiriam elementos dêiticos. Embora este trabalho aceite que haja grupos com propriedades mais similares do que outros, a exemplo do trinômio “aqui-aí-lá”, que podem assumir a função de sujeito e não podem sofrer intensificação, a definição de dêixis por Bonfim (1988) vai de encontro àquilo defendido aqui até então, sendo necessário o destaque à natureza relativa desses advérbios tendo em vista o aspecto pragmático e a enunciação.
As classificações funcionais dos dêiticos observadas até o momento, com destaque para Neves (2000) e Bonfim (1988), mostram que a colocação de tal grupo apenas na dimensão semântica, como o fez Castilho (2014), não abarca todas as propriedades desse conjunto de advérbios, aspecto reiterado pela função juntiva, a qual dialoga com a dimensão textual-interativa da língua. Nessa perspectiva, além de se destacarem as propriedades sintático-semânticas já elencadas, as observações em torno da dimensão textual-interativa devem ser enfatizadas a fim de chegarmos a constatações profícuas dentro do paradigma funcionalista, contribuições essas que levaram a afirmar, por exemplo, que as funções textuais dos dêiticos “agem diretamente no posicionamento desses circunstanciais da sentença, por exemplo, deslocando-os para mais próximo de seus referentes” (ARENA; ILOGTI DE SÁ, 2020, p. 96).
Outro tema de destaque na Linguística Textual e fundamental para nossa pesquisa são os estudos da argumentação. A argumentação é, segundo Fiorin (2015), a tomada de posição contra outra posição, e os argumentos representam, por conseguinte, meios de persuasão, ou seja, meios de levar alguém a aceitar uma tese. Com isso, a ideia defendida pelo falante no texto, cuja formulação em um enunciado ganha o nome de tese, participa de um embate retórico na relação com os interlocutores e projeta-se no texto enquanto estratégia persuasiva a partir de tipos de argumentos, os quais se adéquam aos propósitos comunicativo-argumentativos do usuário de língua.
Seguindo tais apontamentos, Marcuschi (2002) define que, em textos argumentativos, é possível observar sequências contrastivas explícitas, as quais se formulam por diferentes tipos de argumentos. Não obstante existam propostas de classificação distintas para eles, é válido mencionar alguns tipos de argumentos descritos por Fiorin (2015) com base em Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), proposta baseada na divisão entre argumentos quase lógicos, fundamentados na estrutura da realidade e fundamentadores da estrutura do real. Os quase lógicos baseiam-se em conclusões não logicamente necessárias, como defender que um time é melhor do que outro por um deles ter jogadores mais experientes. Os argumentos fundamentados na estrutura da realidade formam-se por relações concebidas como existentes no mundo objetivo, a exemplo da implicação na tese de separar as estruturas políticas e os símbolos religiosos por o Brasil ser um Estado laico. Os argumentos fundamentadores da estrutura do real, por outro lado, organizam a realidade mesmo não sendo vistos conforme a estruturação dela, como a indução de que, a partir de um público seleto, é possível definir a opinião geral.
Dentro dessa ampla divisão dos tipos de argumentos, alguns casos específicos merecem menção. Entre os quase lógicos, a comparação pode ser descrita como estratégia que permite concretude à abstração de uma ideia e tem vigor argumentativo, pois, ao comparar, por exemplo, a experiência de comer um sapo à de comer um frango, o interlocutor, caso não tenha conhecimento empírico sobre o primeiro, pode ter um vislumbre a partir da aproximação feita pelo falante. Entre os fundamentadores na estrutura da realidade, a causalidade e a sucessão podem estar correlacionadas no princípio causa-efeito, o qual se manifesta, por exemplo, na defesa de que a instauração de um novo governo foi a razão pela qual a resolução de problemas melhorou ou piorou. Entre os fundamentadores na estrutura do real, a exemplificação parte da indução a fim de formular um princípio de repetição entre casos, como a tese de que, se alguns brasileiros não apoiam o Estado democrático de direito, todos têm igual pensamento. Nessa perspectiva, as diferentes estratégias, embora tenham bases de fundamentação distintas, ainda obedecem ao ato de argumentar, que, conforme indica Koch (1996, 2015), orienta o texto no sentido de determinadas conclusões, defendendo uma tese de acordo com as intenções do falante em sua relação com seus interlocutores.
Diante das considerações acerca das correntes teóricas mencionadas, é possível entender que algumas contribuições vão ao encontro dos objetivos desta pesquisa. Em uma abordagem funcionalista, os usos são descritos a partir da interação e da pancronia. Em uma abordagem pragmática, tais usos marcam o mundo e imprimem ações na realidade. Em uma abordagem enunciativa, esses fatos linguísticos reconfiguram-se de acordo com o sujeito em sua construção sociocultural. Em uma abordagem textual, o texto consolida os fenômenos da língua em uma unidade de significação ampla e serve de ponte entre os indivíduos no processo interacional. Assim, os realces feitos mostram como tais correntes embasam a execução deste trabalho e permitem, enfim, a compreensão de como funcionam os advérbios no português brasileiro.
Percurso metodológico
Esta pesquisa enquadra-se como indutiva, qualitativa/interpretativa, descritiva e documental (MASCARENHAS, 2018; PAIVA, 2019). Com base nesse enquadramento, levantamos os dados por meio da seleção de entrevistas publicadas na internet entre 29 de julho e 14 de novembro de 2020, compreendendo, assim, o período anterior ao primeiro turno da eleição em Recife. Com isso, seria possível observar os usos linguísticos dos candidatos à prefeitura da capital pernambucana antes de haver a redução para os dois concorrentes ao segundo turno. Entre os candidatos, foram interpretados os dados de sete políticos, a saber: Carlos Andrade Lima, Coronel Feitosa, João Campos, Marco Aurélio, Marília Arraes, Mendonça Filho e Patrícia Domingos.
As entrevistas foram divulgadas em portais de periódicos recifenses, como o Diário de Pernambuco e a Folha de Pernambuco, os quais, além de circularem massivamente na região da capital pernambucana, compartilham suas publicações na íntegra pela internet, possibilitando o acesso a leitores de outros estados que se interessem pela situação de um dos
polos econômicos nordestinos. Para se chegar a esses portais, foram inseridos, no Google, nos dias 10 e 30 de outubro de 2020, termos que seguissem esta estrutura: [NOME DO CANDIDATO] + Recife + Entrevista.
Com o intuito de organizar as entrevistas utilizadas na análise, elaborou-se o Quadro 1, em que se apresentam, a seguir, as principais informações referentes a cada um dos textos constantes no corpus da pesquisa.
O Quadro 1 organiza as entrevistas analisadas de acordo com o entrevistado, a data de publicação e o veículo que as publicaram. Para as entrevistas com igual data de publicação, a divisão tem como base o horário em que foram colocadas nos portais de notícia. De modo geral, percebe-se que o número de publicações aumenta de acordo com a proximidade em relação ao primeiro turno eleitoral. Além disso, há uma predominância de entrevistas do Jornal do Commercio e do Diário do Pernambuco, com casos mais isolados de outros portais. Nesse sentido, depreende-se que os candidatos teriam suas entrevistas lidas por um público relativamente similar em virtude dos veículos mencionados, o que poderia motivar usos linguísticos voltados aos jornalistas encarregados pelas entrevistas e, concomitantemente, aos leitores que teriam acesso aos enunciados proferidos por tais entrevistados.
Vale ressaltar que as entrevistas elencadas no Quadro 1 tinham, em média, entre duas e três laudas, tamanho suficiente para que se pudesse buscar os dêiticos adverbiais para esta pesquisa. Essa proximidade no tamanho entre os textos teve como justificativa a criação de uma maior paridade entre eles a fim de descrever as estruturas linguísticas presentes nas entrevistas a partir de um material linguístico quantitativamente similar entre todos os exemplares coletados.
Em relação aos dados analisados, são advérbios simples de caráter dêitico, não havendo, nas ocorrências, sintagmas adverbiais constituídos por locuções ou orações. Assim, 12 advérbios foram observados, os quais estão listados a seguir: “aqui”, “ali”, “lá”, “aí”, “ontem”, “anteriormente”, “antes”, “hoje”, “agora”, “já”, “tarde” e “depois”.
Para cada ocorrência, foram utilizados códigos, de modo a contemplar o candidato que executou tal uso e o uso em si. Nesse sentido, os códigos estão estruturados da seguinte maneira: em primeiro lugar, há as iniciais do entrevistado; posteriormente, há a indicação de dêitico locativo (L) ou temporal (T) e a numeração de cada uso conforme as publicações das entrevistas. As iniciais dos candidatos são as seguintes: CA (Carlos Andrade Lima), CF (Coronel Feitosa), JC (João Campos), MA (Marília Arraes), MCA (Marco Aurélio), MF (Mendonça Filho) e PD (Patrícia Domingos).
Sendo assim, caso o primeiro dêitico adverbial utilizado na primeira entrevista elencada, a qual é de Coronel Feitosa, seja “ontem”, o código seria este: CF-T01. Nesse sentido, o código segue o padrão composto da sigla do candidato aparecendo em primeiro lugar e da indicação de tempo ou de lugar com a numeração baseada na sequência de usos em que o advérbio aparece nas entrevistas.
Definidos os advérbios e os códigos para cada uso, é válido mencionar como se opera a análise. De início, identificamos os dêiticos adverbiais nas entrevistas ― organizadas por ordem de publicação ― utilizando as ferramentas de busca/localização do Google Chrome e do Microsoft Word. Em seguida, eles foram categorizados pela definição inicial de tempo/lugar. Posteriormente, houve a descrição dos itens e sua análise dentro do funcionamento textual-interativo, de modo a observar e explicar os padrões percebidos no corpus.
Quanto à análise em si, descrevemos os advérbios a partir da perspectiva textual-interativa. Nessa conjuntura, o texto é uma atividade interacional consciente com a qual os componentes menores da língua se relacionam para a realização de um todo linguístico que mantém um vínculo com as circunstâncias de produção e de recepção (BENTES, 2009). A interação pela via do texto envolve, por tais circunstâncias, cooperação racional e acionamento de estratégias sociocognitivas flexíveis, como as inferências e os frames, a fim de mediar os sentidos aventados (VAN DIJK, 1992; KOCH, 2010; RASO, 2023). Os itens presentes na materialidade textual, a exemplo dos advérbios, devem ser tratados no âmbito da interação, pois “funcionam na situação de interação com as possíveis intenções dos interlocutores e a partir de sentidos preestabelecidos socialmente” (NEVES, 2020, p. 89). Nessa esfera, o funcionamento textual-interativo busca interpretar como o material linguístico presente na atividade sociocognitiva do texto adéqua-se às exigências interacionais dos participantes no processo comunicativo. A aplicação dessa perspectiva à análise empreendida aqui é feita, portanto, por um olhar duplo, levando em consideração tanto as relações existentes entre a situação comunicativa por meio dos indivíduos, do gênero textual e dos tópicos desenvolvidos quanto os usos dos advérbios dêiticos dentro das sentenças que firmam o texto.
Pontes na interação: os advérbios integrando argumentos nas entrevistas de políticos
A integração entre argumentos descreve os advérbios dêiticos inseridos em estruturas de tipologia argumentativa, que estão presentes com mais ênfase em virtude da atuação pública dos falantes e de um desempenho que ultrapassa a comunicação inicial entre candidato e jornalista para alçar perspectivas persuasivas em torno dos leitores dos jornais. Nesse sentido, as estratégias argumentativas interferem na composição do enunciado a ponto de requisitarem usos dêiticos ou de tais elementos servirem de ênfase para os demais mecanismos linguísticos manifestados no texto.
A categoria de integração entre argumentos também tem diferenças em usos temporais e locativos. Quando se trata dos temporais, as posições mais adotadas por esses usos são no lugar de sujeito ou ao lado esquerdo do verbo com o apagamento do sujeito. Dois advérbios recorrentes entre os diversos tipos de argumentos elencados são “já” e “hoje” para operar comparações, as quais são por contraste temporal, reforçando o que houve de positivo em tempo pregresso e realçando as problemáticas a serem combatidas na atualidade do momento da enunciação.
Em relação aos usos locativos, a principal característica a operar como distintiva é a posição egocêntrica em essência. Desse modo, “aqui” marca as prioridades de sujeitos com suas propagandas políticas e a centralidade das entrevistas em tópicos que põem Recife enquanto locus comum entre o jornalista, o candidato e o leitor, o qual, diante dos portais de comunicação em que as entrevistas estão, é, em geral, um morador da cidade. Sendo assim, ao passo que os temporais podem apresentar diferentes facetas de uso argumentativo, os locativos, embora consigam se apresentar em estruturas tipológicas argumentativas, são preferencialmente utilizados como marcadores do egocentrismo enunciativo.
Foram encontrados 05 (cinco) tipos de argumentos nos quais os dêiticos estão inscritos: argumento por comparação, por comprovação, por conclusão, por dado estatístico e por repetição.
A primeira função textual-interativa ligada à argumentação é a dos advérbios dêiticos em argumentos por comparação. No corpus, três ocorrências foram observadas, entre as quais uma é temporal e duas são locativas. Inicia-se pela descrição do dêitico temporal, que está presente no seguinte caso:
MA-T32 Nós vamos zerar essa questão de dormir em fila, de não ter equipes de saúde da família o suficiente, vamos ampliar as equipes de saúde da família, que hoje são menos do que era há oito anos atrás [...].
Marília Arraes inicia seu enunciado a partir de uma proposição voltada para a área da saúde enquanto uma das prioridades de sua possível gestão. No desenvolvimento das propostas nessa área, Arraes apresenta um empecilho da atual gestão sob a forma de um adjunto adnominal oracional (“de dormir em fila, de não ter equipes de saúde da família o suficiente”), o qual esclarece sobre a falta de médicos para o atendimento. A inserção dessa problemática culmina em uma proposição de ampliar as equipes, gerando um aposto explicativo (“que hoje são menos do que era há oito anos atrás”) no qual há uma comparação estruturada por meio da perspectiva temporal.
Na comparação, é possível verificar que o dêitico antecede o verbo e está em uma estrutura paralelística com o sintagma de valor adverbial “há oito anos”. Tais percepções sustentam a visão de que Marília Arraes tentou intensificar a comparação realizada, o que se percebe na posição ocupada pelo advérbio, entre o sujeito e o verbo, além de “hoje” ser compreendido em um sentido mais amplo, ligado ao contexto socioeconômico gerenciado por uma gestão antagônica à dela. Nessa perspectiva, o tempo atual é fator de garantia das problemáticas vividas na cidade e com as quais a prefeiturável terá de lidar em uma possível vitória nas urnas, justificando, assim, o seu comprometimento na ampliação das equipes de saúde.
Observada a ocorrência do dêitico temporal, podemos analisar os dêiticos locativos. O primeiro deles está registrado em CF-L02, descrita a seguir:
CF-L02 “Não se permitiram as escolas cívico-militares. Muitos pais e mães querem esse tipo de escola, como fizeram em muitas cidades do Brasil. Mas a pauta política aqui prevalece sobre a vontade da população”, afirmou.
Nesse excerto, Coronel Feitosa apresenta um fato relacionado às decisões políticas em Recife, caso responsável por direcionar o tópico discursivo do enunciado. Em seguida, o entrevistado apresenta um desejo coletivo em relação ao conteúdo do tópico e o enseja na comparação com outras cidades no Brasil. Após a comparação, Coronel Feitosa ratifica o seu argumento a partir de um aspecto contrastivo verificado na localidade da enunciação expressa pelo advérbio “aqui”. Essa colocação, embora inserida em uma sentença iniciada por uma conjunção costumeiramente associada à oposição (NEVES, 2000), causa, na realidade, uma segunda comparação: segundo o candidato, os pais e as mães, assim como nas demais cidades brasileiras, desejam as escolas cívico-militares, porém a pauta política, comparada às outras cidades brasileiras, impede a realização desse plano. Desse modo, “aqui” auxilia no estabelecimento dessa comparação, que também se aclara por meio do paralelismo entre as demais cidades do país e “aqui”, o qual, pela fala do prefeiturável, relaciona-se à situação de Recife.
Em CF-L02, vemos “aqui” enquanto objeto multifuncional, que opera, em primeira instância, situando um contraste na realidade da enunciação e, ainda, em outra instância, formulando uma comparação entre os lugares mencionados no enunciado, efeito mais contundente a partir dos usos paralelísticos. No entanto, tal uso não funciona de igual modo em CF-L15, que passa a ser analisado:
CF-L15 Os jovens são o nosso futuro e esse manifesto é um compromisso com o Brasil, que está mudando e isso foi comprovado quando os jovens votaram no presidente Bolsonaro. Eles mostraram que querem um Brasil sem corrupção, com economia livre, respeito e com princípios cristãos. Aqui no Recife será assim. Os jovens recifenses também querem essa mudança.
CF-L15 exibe a opinião do Coronel Feitosa a respeito dos jovens e da atuação deles no processo político. Em sua exposição, o prefeiturável comprova sua ideia a partir do resultado das eleições para presidência ocorridas no ano de 2018. A tese construída pelo candidato é metaforicamente realizada a partir da relação entre os jovens e o futuro, exemplificando que suas escolhas políticas denunciam as mudanças no Brasil, argumento destacado nos dois primeiros períodos. Essa argumentação é, então, envolta pelo advérbio “aqui”, o qual é acompanhado pelo sintagma “no Recife” como um possível paralelo entre o contexto nacional e o municipal, que estará futuramente em conformidade com os acontecimentos em grande escala.
Tal uso mostra que o enunciado é alicerçado por meio de encapsulamentos, que, segundo Cavalcante (2012), resumem uma porção textual, seja em retomada, seja em projeção. Os resultados das eleições encapsulam a metáfora, os valores atribuídos ao Brasil encapsulam a figura do presidente, e o advérbio introduz o sintagma preposicionado e encapsula o conteúdo completo dos períodos anteriores. A inserção do dêitico, porém, muda o direcionamento para a situação da cidade, que é reforçada ainda pelo uso de “assim”. Nessa perspectiva, Coronel Feitosa não procura dar prosseguimento ao tópico desenvolvido a respeito do Brasil livre da corrupção, mas busca recuperar a tese sobre os jovens serem o futuro a partir de uma comparação, a qual é ensejada pelo dêitico e justificada pela sentença final, em que o prefeiturável destaca que o desejo no plano federal terá igual efeito na cidade.
Considerando os interlocutores e o gênero textual investigado, atestar a fala pode suprir eventuais contestações na argumentação dos entrevistados, enriquecendo a tese formulada pelo falante. Com base nisso, o segundo tipo de argumento no qual os dêiticos se encontram é o argumento por comprovação, isto é, por exemplificação com intuito declaradamente comprobatório. Essa comprovação é marcada no corpus pelos advérbios. Nos exemplos analisados, os candidatos utilizaram os dêiticos nessa estratégia, havendo dois casos temporais e um locativo. A fim de ilustrar o argumento por comprovação, inicia-se a discussão a partir de MF-T15:
MF-T15 [...] vou buscar apoio do governo Bolsonaro, já visitei 9 ministros.
No trecho da entrevista em tela, Mendonça Filho discute sobre suas discordâncias em relação ao governo atual e aclara seus objetivos para um futuro mandato. Segundo o prefeiturável, a volição política estaria voltada para busca de apoio do governo no âmbito federal e, para demonstrar que tem contatos nessa esfera, o candidato justapõe um fato pregresso, que é iniciado pelo dêitico “já”. Esse uso, que, aparentemente, apenas enseja um acontecimento passado, dá força argumentativa para o argumento por comprovação iniciado por Mendonça Filho.
O advérbio “já” parece preencher o espaço de um possível conectivo e vem após uma sentença em que Mendonça Filho anuncia um desejo para sua possível gestão na prefeitura. Desse modo, a quebra temporal, que ainda é intensificada pelo dêitico, serve para ambientar o prefeiturável em um cenário favorável politicamente e comprovar uma ligação já existente entre o candidato e o governo federal, o que poderia dar maior segurança aos eleitores a respeito de como Mendonça Filho procederia até alcançar tal objetivo. Nesse contexto, o dêitico temporal, além de ratificar o fato de o candidato ter visitado alguns ministérios, insere-se em uma cláusula de teor explicativo que, quando posposta à sentença sobre a busca de apoio, funciona enquanto argumento comprobatório, buscando as provas que levarão o prefeiturável a um desempenho produtivo na gestão. “Já” também incide sobre a quantidade de ministérios visitados, fortalecendo as conquistas numéricas e sugerindo uma progressão desses números ao longo do mandato.
Outro trecho presente na mesma entrevista também integra um argumento por comprovação e é analisado a seguir:
MF-T17 Quem tem que considerar isso não sou eu. Não vou ficar nessa briga, procurando apoios. O presidente já disse que não tem candidato no primeiro turno e não vai participar da eleição nessa etapa [...].
O excerto destacado também está presente na mesma entrevista de MF-T15. Nesse momento do diálogo, ao argumentar que não pretende buscar apoios, Mendonça Filho isenta sua opinião em uma estratégia de preservação da face ao direcionar a resposta sobre um possível apoio do então presidente Jair Bolsonaro para o que o líder político havia dito, destacando a fala do presidente como autoridade cuja aliança política em Recife não estava definida. Desse modo, seria inoportuno o uso do presidente com propósitos eleitorais. Com o intuito de validar seu argumento por comprovação, o candidato utiliza o advérbio “já”, que, além de ensejar o argumento pela paráfrase do presidente, possivelmente demonstra a falta de proximidade entre Mendonça Filho e Jair Bolsonaro, exigindo uma retomada de outrem para eximir-se de uma responsabilidade de que talvez ele não esteja satisfeito ou confiante para asseverar em seu enunciado. “Já” é, nessa esteira, um marcador temporal e possivelmente modalizador que marca a subjetividade do prefeiturável em relação ao tópico discutido durante a entrevista. Essa modalização traz consigo um efeito determinante e chancelador quanto à opinião inquestionável sobre o que foi proferido.
No corpus analisado, a presença dos temporais tem, portanto, a predominância do “já” na integração de argumentos por comprovação. Os locativos, por sua vez, estão restritos a uma ocorrência, que está descrita a seguir:
MCA-L04 Quem escreveu foi Eduardo Bolsonaro. Tá lá no Twitter dele é só procurar.
Inicialmente, Marco Aurélio critica a postura adotada pelo também candidato Mendonça Filho, que, segundo o entrevistado, estaria buscando apoio do presidente da República e de seus aliados. O prefeiturável ainda enuncia que houve uma paráfrase feita por ele em relação ao político Eduardo Bolsonaro, o que sugere uma estratégia de preservação da face. Tal estratégia visaria a atenuação de uma possível ameaça à face positiva de Marco Aurélio na eleição, porém a menção a uma fala de outrem de maneira descontextualizada poderia não obter o sucesso desejado pelo candidato nesse processo.
Com o intuito de ratificar o argumento por comprovação a partir da fala de uma autoridade política, Marco Aurélio utiliza o dêitico de distância “lá”, o qual é cataforicamente estendido pelo sintagma preposicionado “no Twitter”, demarcando de onde foi retirada a paráfrase e reforçando seu ponto de vista com base em uma figura ideologicamente mais relevante em âmbito nacional. Além de destacar a distância de um objeto presente na seara da internet e de fácil busca pelos leitores da entrevista, o processo de dêixis interna pela anunciação do sintagma preposicionado reitera a fala de Eduardo Bolsonaro, atribuindo uma nova informação ao conteúdo previamente exposto e fortalecendo o argumento de Marco Aurélio. Nessa esteira, a demarcação do local restringe a citação ao uso do candidato em um contexto específico e possibilita a continuação das críticas ao seu rival nas eleições.
Também foi observado o argumento por conclusão em algumas ocorrências. Como integrantes de argumentos por conclusão, os advérbios dêiticos estabelecem uma semelhança com outros conectores textuais, os quais costumam ser representados pela classe das conjunções. Nesse contexto, os dêiticos inserem uma informação que, na progressão com o período seguinte, desencadeia uma relação conclusiva no enunciado. Para ilustrar o uso, descrevemos a inserção do dêitico temporal no caso presente no corpus da pesquisa:
CA-T33 É um tema polêmico porque não se deve partir da premissa de que todas as escolas têm a mesma estrutura. Mas se há condições sanitárias e respeitando as regras, não vejo motivos para não voltar. Porém, é preciso acompanhamento e a fiscalização da Prefeitura e do Governo. Já reabriram shoppings, comércios, bares e eventos. Portanto, está no momento das escolas também.
Em trecho de entrevista de Carlos Andrade, o candidato discorre sobre a volta às aulas presenciais, selecionando o adjetivo “polêmico” para a definição do tópico. A partir dele, as duas sentenças seguintes encaminham o tópico por contraste até haver a introdução do advérbio temporal “já”, que, ao contrário das sentenças anteriores, traça um paralelo por meio de locais reabertos depois da pandemia.
O argumento por conclusão é construído paulatinamente a partir da opinião individual sobre o tema até a condução de que, como locais de ampla circulação social já estão abertos, as escolas também podem ser abertas. É relevante perceber que Carlos Andrade compôs seus enunciados focalizando os conectivos, porém, no momento do uso de “já”, o prefeiturável opta por apenas destacar esse dêitico, o qual, por si só, teria força para evidenciar sua tese embasada nos fatos ocorridos e nas consequências a partir deles. Assim, “já” indicia que Carlos Andrade provavelmente encara os locais mencionados como mais problemáticos, ensejando as ideias apresentadas nas sentenças contrastivas e definindo a relação conclusiva a partir do jogo entre o tempo demarcado na dêixis e a lógica conduzida por meio da conjunção conclusiva “portanto”, a qual se vincula ao dêitico que encabeça a sentença anterior.
Vale ressaltar que esta pesquisa entende que “já”, elemento por vezes desconsiderado enquanto dêitico, possui tal valor de modo mais subjetivo, pois sua definição é ainda mais imprecisa do que a tricotomia ontem-hoje-amanhã. No entanto, esse item ainda situa o indivíduo e o seu enunciado em um determinado momento, produzindo, nos enunciados analisados, uma sorte de marcação enfática que auxilia na integração entre as sentenças e na produção do argumento, o qual progride para uma lógica de acontecimentos e sua consequência de acordo com a compreensão do entrevistado a respeito do tópico de seu enunciado.
O quarto tipo de argumento é formulado a partir de um dado estatístico. Ele pode atuar de diferentes maneiras em um enunciado, de modo que é possível fazer comparações, comprovar e, evidentemente, apresentar uma informação numérica para contribuir na tese criada pelo sujeito. No corpus desta pesquisa, foram identificados dois casos de argumentos estatísticos, dos quais um tem valor temporal e outro, locativo. Diante disso, iniciamos a análise a partir do dêitico locativo, que está presente em MA-L13:
MA-L13 A gente tem que exigir que o governo do Estado tire esse complexo de lá. A Zona Oeste toda fica refém dessa situação. E é ruim pros presos também. Ali era um local que deveria ter mil pessoas e hoje tem 6 mil. Paulo Câmara tem que sair em 2022 e levar o complexo com ele.
Ao contrário das análises anteriores, o locativo é descrito primeiro aqui em virtude de sua ordem de aparição no enunciado, havendo uma complementação entre os dêiticos que será comentada posteriormente.
O trecho da entrevista com Marília Arraes discorre acerca do Complexo Prisional do Curado, situado na Zona Oeste de Recife e, segundo a prefeiturável, prejudicial à população que vive nos arredores. Inicialmente, a candidata insere uma exigência coletiva enquanto proposição inicial. É a partir dela que Marília Arraes desenvolve sua tese em torno do prejuízo causado pela presença do complexo na região. Ao comentar sobre o lugar, há uma série de referências textuais com as quais a falante trabalha e inter-relaciona, a exemplo da menção ao complexo e à Zona Oeste, e da relação entre sentenças ocasionada pelo uso de “lá” e de “ali”. Nesse fluxo referencial, a candidata destaca a situação negativa para todos, levando a uma menção estatística formulada a partir do dêitico “ali” sobre as proporções de indivíduos presentes no complexo. A partir de tal apresentação, a candidata demonstra o prejuízo para os moradores e enseja seu ponto de vista sobre a necessidade de saída da gestão atual juntamente com o complexo.
Não obstante “ali” desempenhe função fulcral no desenvolvimento do enunciado, a discussão em torno do dêitico temporal em MA-T24 também é essencial a fim de se obter uma compreensão efetiva sobre como os advérbios atuaram na composição do argumento estatístico. Sendo assim, analisa-se o uso de “hoje”:
MA-T24 A gente tem que exigir que o governo do Estado tire esse complexo de lá. A Zona Oeste toda fica refém dessa situação. E é ruim pros presos também. Ali era um local que deveria ter mil pessoas e hoje tem 6 mil. Paulo Câmara tem que sair em 2022 e levar o complexo com ele.
Sob o ponto de vista do dêitico temporal “hoje”, não há uma rede referencial semelhante ao uso locativo. Na verdade, aliado ao uso de “ali”, o advérbio “hoje” exerce uma função comparativa na integração do argumento de Marília Arraes. A falante, em vez de utilizar um paralelo com dêiticos temporais, mostra a distinção a partir do verbo conjugado “era” e enfatiza a mudança no presente a partir do dêitico ao lado do verbo “tem”. O uso do futuro do pretérito também mostra como a gestão não auxiliou na mudança de tal realidade. O “hoje”, assim, marca o agravamento de uma situação que não pode mais ser tolerada e serve de base para a Marília Arraes enunciar a necessidade da saída de Paulo Câmara e da alteração no cenário prisional da região.
A partir dessas discussões, fica evidente que os dêiticos, em uma integração de argumentos, funcionam de modo complementar, havendo um pilar textual de referências locativas e um pilar enunciativo/interativo de mudanças temporais, que ficam demarcadas, nos casos analisados, por meio das gestões políticas.
Por fim, a integração de argumentos a partir de advérbios dêiticos também é observada em argumentos por repetição. A ênfase é uma estratégia textual-interativa importante para se alcançarem os objetivos pretendidos por um candidato político em uma entrevista para seus possíveis eleitores. A repetição é um modo de operação enfática que possibilita o alcance desses objetivos. No corpus desta pesquisa, foram identificados três casos de dêiticos locativos em um esquema de repetição, o qual é descrito a seguir:
MCA-L05 Tenho apoio do vice-presidente Mourão. O general Mourão morou três anos aqui (no Recife) [...]
MCA-L06 [...] a filha dele nasceu aqui [...]
MCA-L07 [...] ele serviu aqui. Ele é um homem sério e de bem. Tenho muito orgulho dele ter me abraçado.
Os trechos estão presentes em uma mesma entrevista concedida por Marco Aurélio e falam sobre a relação entre o prefeiturável e o vice-presidente da República a partir da experiência vivenciada por ambos em Recife. Como se percebe na comparação entre os excertos, há uma repetição do dêitico locativo “aqui”. Embora os usos estejam marcados como individuais, a análise dos dêiticos enunciados por Marco Aurélio deve ser realizada de maneira conjunta a fim de observar a estrutura paralelística com propósitos argumentativos na qual eles estão inseridos.
A repetição de “aqui” após a afirmação de que Carlos Andrade teria o apoio do vice-presidente vem promover uma justificativa sobre a relação entre os dois indivíduos, desembocando no último período, em que a consequência de tais fatos é o orgulho da conexão entre ambos apresentada no texto. Vale mencionar que o dêitico impulsiona a intensidade do argumento do candidato, demarcando os momentos da vida de Mourão em Recife e encaminhando tal lógica para uma proximidade factível entre os políticos representada pelo ato do abraço.
Ao comparar os diversos modos de argumentar que os dêiticos integram, há alguns funcionamentos diferentes para cada tipo observado. Na comparação, os paralelismos são frequentes, e a aproximação da vivência do entrevistado conduz o argumento. Na comprovação, as modalizações e as especificações se fazem presentes, com grande destaque para o uso do “já”. Na conclusão, as sequências lógicas e as conjunções fomentam uma proximidade ainda maior entre os dêiticos e as classes fechadas. Nos dados estatísticos, a mescla de tipos de argumentos mostrou-se possível, havendo jogos referenciais entre os dêiticos nesse processo. Na repetição, a similaridade paralelística é frequente para enfatizar a intensidade da ideia expressa pelo prefeiturável.
De modo geral, percebe-se que os dêiticos buscam, na integração entre os argumentos, conduzir o texto a partir das categorias de tempo e de espaço, aproximando-se, em certa medida, das conjunções enquanto elementos de realce das relações estabelecidas entre as sentenças. Contudo, podem-se notar algumas diferenças de uso entre tais categorias, a exemplo dos temporais exprimindo comparações e contrastes e dos locativos reiterando o egocentrismo das falas dos entrevistados, que moldam seus enunciados para as vivências interligadas entre eles, os jornalistas e os leitores sobre a realidade de Recife.
Considerações finais
Tomando o texto como unidade de análise e relacionando-o ao plano da interação, este artigo reuniu entrevistas nas quais as funções textual-interativas pudessem ser empiricamente descritas. Nesses textos, a expertise e a argumentação foram necessárias a fim de os candidatos entrevistados exporem suas opiniões e convencerem seus interlocutores a respeito de suas propostas. Com base em tal ideia, entendemos que os usos linguísticos motivados nessas entrevistas foram perpassados pelas exigências do domínio jornalístico, que partilha os acontecimentos cotidianos em uma imbricação entre a figura do jornalista, das pessoas públicas e da sociedade em geral. As reflexões sobre tais usos, em especial, sobre os advérbios dêiticos, consideraram essa relação dentro dos limites da interação na entrevista, o que compreende a postura do candidato frente ao jornalista e, por conseguinte, aos leitores dos jornais.
Do ponto de vista do gênero textual e dos entrevistados, a construção de sequências argumentativas pareceu necessária a fim de sustentar os projetos políticos dos candidatos, o que se confirmou nas ocorrências e tem auxílio dos dêiticos na construção dessas estruturas. A inserção dos advérbios, todavia, não ocorreu de modo igual em todos os argumentos, sendo possível encontrar comparações, ênfases, comprovações, entre outros processos em que o dêitico auxilia para manifestar os propósitos interativos de crítica, de concordância ou de redirecionamento discursivo. O argumento por conclusão imbricou os processos de retomada dos elementos na argumentação e de progressão textual na inserção de uma informação nova.
Quanto à integração entre argumentos, os advérbios dêiticos auxiliaram na argumentação ou desencadearam processos como comparações, contrastes ou realces. O egocentrismo é centralizado em usos locativos, o que sugere um grau argumentativo mais contundente em temporais. No entanto, essa possibilidade não anulou a contribuição dos locativos na sequência argumentativa e reitera a importância desses dêiticos na interação, sobretudo em entrevistas cujas perguntas eram voltadas para as problemáticas circundantes em Recife.
Referências
- ARENA, Ana Beatriz; ILOGTI DE SÁ, Érika Cristine. No ano passado, a “vakinha” ganhou um ponto fixo. Desde então…: uma análise funcionalista de circunstanciadores temporais. Revista (Con)Textos Linguísticos, v. 14, n. 28, p. 77-98, 2020.
- BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
- BENTES, Anna Christina. Linguística textual. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (org.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2009. p. 259-299.
- BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral I São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.
- BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Teoria linguística: teoria lexical e linguística computacional. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- BOCHETT, Amanda Canterle; CALLEGARO, Erick Kader; FREITAS, Jéssica Cantele; CABRAL, Sara Regina Scotta. Concepções de discurso político: caminhos para uma discussão teórica. Moara - Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras, v. 1, n. 47, p. 128-151, 2017.
- BONFIM, Eneida. Advérbios São Paulo: Ática, 1988.
- CANÇADO, Márcia. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012.
- CASTILHO, Ataliba Teixeira de. Nova gramática do português brasileiro São Paulo: Contexto , 2014.
- CASTILHO, Ataliba Teixeira de; ELIAS, V. M. Pequena gramática do português brasileiro São Paulo: Contexto, 2012.
- CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os dêiticos textuais. In: DIONISIO, A. P.; HOFFNAGEL, Judith; BARROS, Kazuê Ssaito Monteiro de (org.). Um linguista, orientações diversas Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. p. 135-147.
- CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto São Paulo: Contexto, 2012.
- CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
- DUCROT, Oswald. Provar e dizer: linguagem e lógica. São Paulo: Global, 1981.
- DUCROT, Oswald. O dizer e o dito Campinas: Pontes, 1987.
- FERREIRA JÚNIOR, José Temístocles; AZEVEDO, Natanael Dduarte de. A dêixis pessoal na aquisição de linguagem: uma perspectiva enunciativa. Scripta, v. 22, n. 44, p. 249-262, 2018.
- FIORIN, José Luiz. Argumentação São Paulo: Contexto, 2015.
- FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo: Contexto, 2016.
- HEINE, Bernd. Grammaticalization space > time > text Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. Handout apresentado no I Workshop on Grammaticalization of the Discourse and Grammar Research Group/XI Seminário do Grupo de Estudos Discurso e Gramática.
- ILARI, Rodolfo. A categoria advérbio na gramática do português falado. Revista Alfa, São Paulo, v. 51, p. 151-174, 2007.
- ILOGTI DE SÁ, Érika Cristine; PAIVA, Maria da Conceição Auxiliadora de; CEZÁRIO, Maria Maura. Ordem de circunstanciais temporais em português e francês: motivações discursivas. Revista Linguíʃtica, v. 16, p. 646-665, 2020.
- KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem São Paulo: Cortez, 1996.
- KOCH, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem São Paulo: Contexto, 2010.
- KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à linguística textual: trajetórias e grandes temas. São Paulo: Contexto, 2015.
-
LOPES, Ludmila Dias do Nascimento Serafim; BERTUCCI, Roberlei Alves. Análise de dêiticos em questões de vestibular. Muitas Vozes, v. 8, n. 2, p. 216-239, 2020. Disponível em: Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/view/13855 Acesso em: 26 abr. 2023.
» https://revistas.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/view/13855 - MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais & ensino Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.
- MASCARENHAS, Sidnei Augusto (org.). Metodologia científica São Paulo: Pearson, 2018.
- NEVES, Hebertt. Argumentatividade das palavras: construção de aparato textual-interativo para o estudo do léxico e análise em textos do jornalismo recifense sobre as eleições de 2018. 2020. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2020.
- NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português São Paulo: Editora Unesp, 2000.
- NEVES, Maria Helena de Moura. Circunstanciais. In: ILARI, R. (org.). Gramática do português falado São Paulo: Contexto, 2014. v. 3. p. 329-344.
- NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática do português revelada em textos São Paulo: Editora Unesp, 2018.
- PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. Manual de pesquisa em estudos linguísticos São Paulo: Parábola, 2019.
- PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
- RASO, Tommaso. Pragmática São Paulo: Parábola, 2023.
- ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
- SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos objetivos de ensino. Revista Brasileira de Educação, v. 11, p. 5-15, 1999.
- VAN DIJK, Teun A. Cognição, discurso e interação São Paulo: Contexto, 1992.
- YULE, George. Pragmatics Oxford: Oxford University Press, 1996.
- XAVIER, Adriana Castro; KANTHACK, Gessilene Silveira. Advérbios locativos em notícias jornalísticas: uma abordagem morfossintática. Signótica, v. 31, p. 1-22, 2019.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Dez 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
30 Abr 2023 -
Aceito
31 Ago 2023