RESUMO
Neste trabalho argumentamos que a possibilidade de existir como ser epistêmico é uma dimensão pouco explorada em pautas reivindicatórias de direitos humanos. Desenvolvemos essa ideia discutindo como uma compreensão das línguas como categorias puras pode afetar estudantes, sobretudo em grupos marginalizados. Em diálogo com narrativas produzidas por Filhos, pseudônimo de uma aluna de um curso pré-universitário voltado para jovens e adultos de classes populares, refletimos sobre os efeitos perfomativos de visões modernistas das línguas, especialmente da língua inglesa. Ao focalizar diferentes momentos interacionais, analisamos como Filhos reconstrói sua trajetória de socialização acadêmica (WORTHAM, 2005) e as ordens de indexicalidade (BLOMMAERT, 2005) que a organizam. Os resultados apontam para encenações ambivalentes, nas quais sentidos de aprendizagem e comunicação são hierarquizados de modo contraditório. Filhos tanto performa uma subjetividade nula de saberes legítimos e incapaz de agir no mundo em língua inglesa, quanto se engaja em práticas translíngues criativas. Essa oscilação indica um aspecto importante em processos educacionais: “é preciso de atrapalhar as significâncias” e de ter olhos para o que pode ser apressadamente considerado menor, ou sem importância. Tal foco investigativo implica um compromisso ético-político com “uma pedagogia das misturas”, conversando diretamente com os direitos linguísticos daquelas/es que socialmente ocupam lugares marginalizados.
Palavras-chave:
Subjetividades; Trajetória de socialização; Pedagogia das misturas; Ordens de indexicalidade