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Em busca das fontes: a versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive no impresso sevilhano de 1497

In Search of the Sources: The Abbreviated Version of the Spanish Translation of the Work of Isaac of Nineveh in the Sevillian Print of 1497

RESUMO

Este estudo teve como objetivo discutir a questão das fontes da versão abreviada da tradução espanhola obra de Isaac de Nínive presente no impresso sevilhano de 1497. Foram consideradas duas hipóteses: a da contiguidade material (a fonte para a versão abreviada estaria no mesmo testemunho em que estava a fonte para a tradução espanhola dos excertos da obra de Vicente Ferrer, também presente no impresso sevilhano de 1497) e a da fonte latina (a fonte com a obra de Isaac estaria em latim). A análise de testemunhos supérstites da obra de Vicente Ferrer dos sécs. XV e XVI (manuscritos e impressos) não permitiu confirmar a hipótese da contiguidade material, embora se tenha obtido nova evidência de pertinência da hipótese. A análise de diversos testemunhos da tradição da obra de Isaac de Nínive (em grego, latim, italiano, francês, espanhol, catalão e português) permitiu não apenas confirmar a hipótese da fonte latina, como também evidenciou que ela está fortemente vinculada ao ramo do cód. 996 da Biblioteca Mazarina de Paris, de origem franciscana, embora este não tenha sido seu modelo.

PALAVRAS-CHAVE:
Crítica Textual; Isaac de Nínive; Vicente Ferrer; Língua Espanhola; Tradução

ABSTRACT

This study aimed to discuss the question of the sources of the abbreviated version of the Spanish translation of the work of Isaac of Nineveh present in the Sevillian print of 1497. Two hypotheses were considered: that of material continuity (the source for the abbreviated version would be in the same testimony in which there was the source for the Spanish translation of the excerpts from Vincent Ferrer's work, also present in the Seville print of 1497) and that of Latin source (the source with Isaac's work would be in Latin). The analysis of surviving testimonies of Vincent Ferrer's work from the 15th and 16th centuries (manuscripts and prints) did not confirm the hypothesis of material contiguity, although new evidence of relevance of the hypothesis was obtained. The analysis of several testimonies of the tradition of the work of Isaac of Nineveh (in Greek, Latin, Italian, French, Spanish, Catalan and Portuguese) allowed not only to confirm the hypothesis of the Latin source, but also showed that it is strongly linked to the branch of Codex 996 of the Mazarine Library in Paris, of Franciscan origin, although this was not its model.

KEYWORDS:
Textual Criticism; Isaac of Nineveh; Vincent Ferrer; Spanish Language; Translation

Introdução

A obra de Isaac de Nínive, monge asceta do séc. VIII, obteve grande difusão ao longo da história, sobretudo durante a Idade Média. Escrita originalmente em siríaco, foi traduzida para diversas línguas: para o grego, em fins do séc. VIII ou princípios do século IX; desta para o latim em torno do final do séc. XIII; e deste, também durante a Idade Média, para diversas línguas românicas, direta ou indiretamente, como o italiano, o francês, o catalão, o espanhol e o português ( Cambraia, 2017CAMBRAIA, César Nardelli. Livro de Isaac: edição crítica da tradução medieval portuguesa da obra de Isaac de Nínive. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2017.).

Especificamente em relação à língua espanhola, sabe-se existirem quatro traduções medievais diferentes:

  1. A do cód. II/795, da Biblioteca do Palácio Real de Madri (ff. 1-123r), de 1484, impressa em 1489 (ff.1r-182r), traduzida do latim por Bernardo Boil, com texto integral;

  2. A do cód. a.II.13, da Real Biblioteca do Mosteiro de São Lorenzo do Escorial (ff. 91r-92v), do séc. XV, traduzida de texto catalão compatível com o cód. 5-3-42 da Biblioteca Capitular Colombina de Sevilha, apenas com o capítulo final da obra;

  3. A principal do impresso de 1497 (ff. 127v-162v), vinda a lume em Sevilha, traduzida também de texto catalão, com o texto integral;

  4. A abreviada no mesmo impresso de 1497 (ff. 116v-117r), cujo modelo para a tradução ainda não foi identificado (provavelmente latino), com parte do penúltimo capítulo e o capítulo final inteiro. ( Cambraia, 2021CAMBRAIA, César Nardelli. Do catalão ao espanhol: a tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive do cód. a.II.13 da Real Biblioteca do Mosteiro de São Lorenzo do Escorial. Caligrama: Revista de Estudos Românicos, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, p. 7-26, 2021. DOI: DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.26.1.7-26 . Acesso em: 30 mai. 2023.
    http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.26....
    , p. 25).

No presente estudo, pretende-se discutir a questão das fontes da quarta tradução espanhola acima citada, ou seja, a da versão abreviada do impresso sevilhano de 1497.

O impresso sevilhano de 1497

O impresso sevilhano com a obra de Isaac de Nínive foi publicado em 26 de junho de 1497 por Meinardo Ungut e Stanislao Polono. Segundo Tenorio (1901TENORIO, Nicolás. Algunas noticias de Meinardo Ungut y Lanzalao Polono. Revista de Archivos, Bibliotecas y Museos, Madrid, v. 5, n. 8-9, p. 633-638, 1901. Disponível em: https://hemerotecadigital.bne.es/hd/es/viewer?id=38821690-cf11-4bac-a990-b0e6996c0bf2&page=1 . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://hemerotecadigital.bne.es/hd/es/v...
), esses dois impressores alemães se mudaram para Sevilha durante o reinado dos Reis Católicos (1474-1516) e há registro de sua presença na cidade já em 1491. Eles foram chamados de Nápoles pelos referidos monarcas. Meinardo faleceu em 1500 e sabe-se que, dois anos depois, Stanislao estava atuando como impressor na cidade de Alcalá, onde veio a falecer em 1505. Segundo a catalogação de Haebler (1897HAEBLER, Konrad. The early printers of Spain and Portugal. London: Bibliographical Society, 1897. Disponível em: https://archive.org/details/cu31924029499021. Acesso em: 30 mai. 2023., p. 123), entre 1491 e 1499 saíram por obra desses dois impressores 50 incunábulos. Haebler (1897HAEBLER, Konrad. The early printers of Spain and Portugal. London: Bibliographical Society, 1897. Disponível em: https://archive.org/details/cu31924029499021. Acesso em: 30 mai. 2023., p. 56-58) informa que a oficina impressora de Sevilha, após a mudança de Stanislao, passou às mãos de Jakob Kronberger: no ano de 1503, houve ainda impressões sob a responsabilidade de ambos, mas, a partir de 1504, as publicações seriam apenas por obra de Kronberger. De acordo com Haebler (1897HAEBLER, Konrad. The early printers of Spain and Portugal. London: Bibliographical Society, 1897. Disponível em: https://archive.org/details/cu31924029499021. Acesso em: 30 mai. 2023., p. 59), os Kronbergers (Jakob, Johann, filho de Jakob, ou ambos em colaboração) foram responsáveis pela impressão de 239 livros.

O impresso de Meinardo e Stanislao com a obra de Isaac de Nínive, intitulado na folha de rosto como Forma Noviciorum, apresenta o seguinte colofão 1 1 As transcrições do impresso de 1497 neste estudo foram feitas a partir do exemplar da Biblioteca Nacional da Espanha de cota INC/908 (disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000137334). :

⁋ Acaba el libro que compuso el glorioso serafico doctor sant Buenauentura. llamado Forma delos Nouicios. e el tratado del mesmo doctor q ue fabla delas dema ndas e repuestas del cuerpo e del a ni ma, con otros dos tratatos Jmpremidos en la muy noble cibdad de Seuilla. por. Meynardo vngut aleman. e Stanislao polono compañeros. a xxvj. dias del mes de Junio. año d e Mill.cccc.xcvij.

Esse impresso contém cinco obras, sendo a primeira identificada no próprio impresso como libro e as demais como tratados (a seguir, entre colchetes, a atribuição de autoria constante no impresso):

I. Forma de los novicios [Seráfico doctor Sant Buenaventura]:

1º livro: Enformación de los novicios: 32 caps. (ff. 1ra-12vb);

2º livro: Reformación del coraçón: 60 caps. (ff. 12vb-35ra);

3º livro: Aprovechamiento en la religión: 111 caps. (ff. 35ra-87rb).

II. Imagen de vida: 9 caps. [Reverendo padre fray Juan Buenaventura de la Orden de los Menores] (ff. 87rb-112ra).

III. Breve información: 6 caps. (ff. 112ra-117ra).

IV. Árbol de la vida: 12 caps. [Reverendo padre e señor Sant Juan Buenaventura, seráfico doctor] (ff. 117rb-127va).

V. Tratado compuesto por el Reverendo abad llamado Isaac de Síria (ff. 127va-162vb).

Não foi em todos os casos que os textos, todos em espanhol, foram corretamente identificados no impresso, como já havia assinalado Baraut (1959BARAUT, Cebrià. Fragmentos de una versión castellana cuatrocentista del «Tractatus de vita spirituali» de San Vicente Ferrer. Analecta Sacra Tarraconensia, Barcelona, v. 32, p. 213-228, 1959. Disponível em: http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/sites/default/files/public/analecta/ast_32/ast_32_213.pdf . Acesso em: 30 mai. 2023.
http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/si...
) 2 2 Cebrià Baraut Obiols (1917-2003), monje beneditino e historiador, deu reiteradas contribuições para o conhecimento da tradição espanhola da obra de Isaac de Nínive: identificou e publicou o fragmento do Tractatus de vita spirituali de Vicente Ferrer presente no impresso sevilhano de 1497, que contém duas das traduções espanholas da obra de Isaac ( Baraut, 1959); apresentou argumentação sólida para demonstrar que uma outra tradução espanhola, feita por Bernardo Boil e presente em um impresso de 1489, foi na verdade publicada em Zaragoza, na oficina de Juan Hurus ( Baraut, 1962); e, por fim, também foi quem deu a saber que o manuscrito com a tradução espanhola de Boil, cuja descoberta pelo Rev. Melquíades Andrés já havia noticiado ( Baraut, 1962, p. 174), se encontrava na Biblioteca do Palácio Real de Madrid, sob a cota Cód. II/795 ( Cisneros, 1965, v. 1, p. 16). :

O primeiro texto é, na verdade, tradução da obra De exterioris et interioris hominis compositione, de Davi de Augsburg ( ca. 1200-1272), conhecido em latim como David ab Augusta. Em edição mais recente, essa obra apresenta títulos e divisão em capítulos diferentes ( Augusta, 1899AUGUSTA, David ab. De exterioris et interioris hominis compositione secundum triplicem statum incipientium, proficientium et perfectorum. Claras Aquas (Quaracchi): Typographia Eiusdem Colegii, 1899. Disponível em: https://archive.org/details/deexterioriseti00davigoog . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://archive.org/details/deexterioris...
) 3 3 Incipit na versão latina: Primo semper debes considerare, ad quid veneris ad Religionem... ( AUGUSTA, 1899, p. 3) :

- 1º livro: Forma de compositione hominis exterioris ad novitios: 41 caps.;

- 2º livro: Forma de interioris hominis reformatione ad proficiente: 49 caps.; e

- 3º livro: De septem processibus religiosorum: 70 caps.

O segundo texto é, de fato, tradução de uma obra de João Boaventura ( ca. 1217-1274), teólogo da Ordem dos Frades Menores, mas conhecida em latim como Soliloquium sive dialogus hominis et animae e distribuída em 4 capítulos em edição recente ( Bonaventura, 1898BONAVENTURA, Saint Cardina. Doctoris Seraphici S. Bonaventurae S. R. E. Episcopi Cardinalis Opera Omnia. Claras Aquas (Quaracchi): Typographia Colegii S. Bonaventurae, 1898. T. VIII. Disponível em: https://archive.org/details/doctorisseraphic08bona . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://archive.org/details/doctorissera...
, t. 8, p. 28-67) 4 4 Incipit na versão latina: Flecto genua mea ad Patrem Domini nostri Iesu Christi ... ( Bonaventura, 1898, t. 8, p. 28) .

O terceiro texto é, na verdade, uma combinação de excertos de duas obras. As cinco primeiras unidades textuais são tradução de parte do Tractatus de vita spirituali de Vicente Ferrer (1350-1419) e correspondem aos caps. 1-5, 12 e 16 ( Sicard, 1870SICARD, Joannes Dominicus. Speculum fratrum praedicatorum. 2. ed. Paris: Frates Possielgue, 1870. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=4nztaaaacaaj . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://books.google.com.br/books?id=4nz...
, p. 74-92, 118-122 e 138-140) 5 5 Incipit na versão latina: Ponam in hoc tractatu tantummodo documenta salubria... ( Sicard, 1870, p. 74) . A sexta e última unidade é tradução da obra de Isaac de Nínive e corresponde a trechos presentes nos caps. 52 e 53 da edição da Patrologia ( Migne, 1865MIGNE, Jacques-Paul. Patrologiae cursus completus: series graeca prior. Paris: Ed. de l’Auteur; 1865. T. 86, p. 1. Disponível em: http://books.google.com/books?id=sppyaaaamaaj . Acesso: 30 mai. 2023.
http://books.google.com/books?id=sppyaaa...
, coll. 880-886).

O quarto texto é, de fato, tradução de uma obra de João Boaventura, com título compatível em latim ( Lignum vite) e distribuída em 12 capítulos ( Bonaventura, 1898BONAVENTURA, Saint Cardina. Doctoris Seraphici S. Bonaventurae S. R. E. Episcopi Cardinalis Opera Omnia. Claras Aquas (Quaracchi): Typographia Colegii S. Bonaventurae, 1898. T. VIII. Disponível em: https://archive.org/details/doctorisseraphic08bona . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://archive.org/details/doctorissera...
, t. 8, p. 68-87) 6 6 Incipit na versão latina: Christus confixus sum cruci... ( Bonaventura, 1898, t. 8, p. 67) .

O quinto texto é efetivamente tradução da obra de Isaac de Nínive e trata-se de versão mais completa do que a latina presente na Patrologia ( Migne, 1865MIGNE, Jacques-Paul. Patrologiae cursus completus: series graeca prior. Paris: Ed. de l’Auteur; 1865. T. 86, p. 1. Disponível em: http://books.google.com/books?id=sppyaaaamaaj . Acesso: 30 mai. 2023.
http://books.google.com/books?id=sppyaaa...
, coll. 880-886), contando com 45 caps. (os capítulos da tradução espanhola geralmente correspondem a mais de um capítulo da edição da Patrologia) 7 7 Apresenta-se no anexo uma edição paleográfica da versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive no impresso sevilhano, por se tratar de versão ainda inédita. .

A base de dados Incunabula Short Title Catalogue 8 8 Disponível em: https://data.cerl.org/istc/id00102370. da British Library registra a existência de 16 exemplares do impresso de 1497 distribuídos em 14 instituições (dados de 2021) 9 9 Entre colchetes se informa a cota na instituição detentora do exemplar, a partir de dado obtido em seu respectivo catálogo online. : Polônia ( Kórnik, Poska Akademia Nauk [Inc.F.155]; Portugal ( Coimbra, Universidade de Coimbra [RB-20-14]; Espanha ( León, Colegiata de San Isidoro; Madrid, Biblioteca Nacional (2 exs.) [INC/908 e INC/2086], Universidad Complutense [BH INC FL-118]; Montserrat, Abadia [Inc. 4º 63]; Santander, Menéndez Pelayo; Santiago de Compostela, Universidad [Res 19746]; Sevilha, Colombina [81-1-8]; Toledo, Castilla-La Mancha [Inc. 288]; Zaragoza, Universidad [I 204-1]; Reino Unido ( Londres, British Library [IB.52404]; Estados Unidos ( Nova Iorque, Hispanic Society (2 exs.); San Marino, Huntington [Rare Books 85216].

Convém ainda assinalar que a coletânea de textos presentes no impresso sevilhano de 1497 foi objeto de uma segunda edição realizada em 1528, também em Sevilha, mas já por Jakob Kronberger. A principal diferença foi a exclusão apenas do último texto, de Isaac de Nínive. No entanto, a versão abreviada da tradução da obra desse autor, presente como sexta unidade textual no terceiro texto, foi mantida. A exclusão talvez tenha sido motivada pela intenção de deixar no volume apenas obras consideradas, pelo editor, como de Boaventura, ainda que não o fossem de fato.

Hipóteses de trabalho

A discussão sobre as fontes da versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive do impresso sevilhano de 1497 deve partir naturalmente da reflexão sobre a própria estrutura textual do incunábulo.

Como a versão abreviada em questão aparece após excertos da obra Tractatus de vita spirituali de Vicente Ferrer, formando com eles uma unidade (o tratado intitulado no impresso como Breve información, com seis capítulos), a primeira hipótese que pode ser aventada é a de que a fonte para a versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive estaria no mesmo testemunho em que estava a fonte para a versão espanhola dos excertos da obra de Vicente Ferrer. Trata-se, portanto, de uma hipótese baseada na questão da contiguidade material, que é um dos fatores que propicia a incorporação de textos de um dado autor na tradição de textos de outro autor ( Cambraia, 2018CAMBRAIA, César Nardelli. Do Isaac de João Cassiano ao Isaac de Nínive: processos de incorporação textual na tradição latina. Classica: Revista Brasileira de Estudos Clássicos, Rio de Janeiro, v. 31, p. 113-128, 2018. Disponível em: https://revista.classica.org.br/classica/article/download/704/673 . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://revista.classica.org.br/classica...
). Curiosamente, o trecho da obra de Isaac em questão já tinha sido fruto de processo semelhante: Miller (1984MILLER, Daniel (Tr.) The ascetical homilies of St. Isaac the Syrian. Boston (Mass.): The Holy Transfiguration Monastery, 1984., p. XCI) defendeu que, como um capítulo da obra de João de Dalyata se seguiria à obra de Isaac em um testemunho em siríaco (tal como ocorre no cód. Vat. Syr. 125), esse capítulo passou a ser considerado parte da obra de Isaac na tradição grega e assim continuou nas tradições subsequentes (latina e românicas).

Ao analisar a versão espanhola do Tractatus de vita spirituali de Ferrer presente no impresso de 1497, Baraut (1959BARAUT, Cebrià. Fragmentos de una versión castellana cuatrocentista del «Tractatus de vita spirituali» de San Vicente Ferrer. Analecta Sacra Tarraconensia, Barcelona, v. 32, p. 213-228, 1959. Disponível em: http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/sites/default/files/public/analecta/ast_32/ast_32_213.pdf . Acesso em: 30 mai. 2023.
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, p. 217) considerou que não era possível determinar se o compilador do impresso dispunha de uma tradução completa ou apenas parcial desse tratado, sendo esta a primeira versão conhecida nessa língua românica, uma vez que a edição em espanhol patrocinada pelo Cardeal Cisneros foi impressa em Alcalá de Henares apenas em 1510. Esses dados apontam, portanto, para a hipótese de que a possível fonte com o Tractatus de vita spirituali e, possivelmente, com a obra de Isaac estaria em latim, que era a língua original do referido tratado. O próprio Baraut (1959BARAUT, Cebrià. Fragmentos de una versión castellana cuatrocentista del «Tractatus de vita spirituali» de San Vicente Ferrer. Analecta Sacra Tarraconensia, Barcelona, v. 32, p. 213-228, 1959. Disponível em: http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/sites/default/files/public/analecta/ast_32/ast_32_213.pdf . Acesso em: 30 mai. 2023.
http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/si...
, p. 217) já havia assinalado que as duas traduções espanholas da obra de Isaac do impresso de 1497 ( a abreviada, nos ff. 116v-117r, e a principal, nos ff. 127v-162v ( eram distintas: como o compilador do impresso não retirou o excerto da versão abreviada da tradução do texto de Isaac da tradução principal do mesmo impresso, é bem provável que cada uma delas esteja vinculada a uma via de transmissão diferente, deixando invariavelmente marcas linguísticas e textuais ( Cambraia, 2023CAMBRAIA, César Nardelli. As marcas das vias de transmissão dos textos: um estudo de caso. FlorAção: Revista de Crítica Textual, Niterói, v. 2, n.1, p. 4-31, 2023b. Disponível em: https://periodicos.uff.br/criticatextual/article/view/58469 . Acesso em: 22 fev. 2024.
https://periodicos.uff.br/criticatextual...
b). Cambraia (2010CAMBRAIA, César Nardelli. Dulceça, dulçor, dulçura e dulcidom: um estudo de caso de variantes derivacionais no português medieval. Estudos de Linguistica Galega, v. 2, p. 37-56, 2010. Disponível em: https://revistas.usc.gal/index.php/elg/article/view/1507 . Acesso em: 30 mai. 2023.
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; 2017CAMBRAIA, César Nardelli. Livro de Isaac: edição crítica da tradução medieval portuguesa da obra de Isaac de Nínive. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2017.) e Cambraia e Avellar (2017CAMBRAIA, César Nardelli; AVELLAR, Júlia Batista Castilho de. Um ensaio de estemática: tradição ibero-românica da obra de Isaac de Nínive. Revista da ABRALIN, Curitiba, v. 16, n. 1, p. 15-36, 2017. Disponível em: https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1306/1229 . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://revista.abralin.org/index.php/ab...
) defenderam a hipótese de que a tradução principal teria tido como fonte uma tradução catalã e os dados aqui considerados apontam para a hipótese de que a versão abreviada da tradução teria tido como fonte uma tradução latina.

No presente estudo, pretende-se explorar e discutir, portanto, essas duas hipóteses para a fonte versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac: (a) a da contiguidade material e (b) a da fonte latina.

Avaliação da hipótese da contiguidade material

Segundo Kaepelli e Panella (1993KAEPELLI, Thomas; PANELLA, Emilio. Scriptores ordinis praedicatorum medii aevi. Roma: Instituto Storico Domenicano, 1993. V. IV: T-Z., p. 470), o Tractatus de vita spirituali de Ferrer foi preservado em 20 manuscritos referentes aos sécs. XV e XVI, aos quais se pode acrescentar aqui mais um listado ao final (aqui identificados por números entre colchetes em negrito para facilitar a referência): [ 01] Bamberg, Staatl. Bibl., Theol. 232 (Q.V.74) (a. 1455), f. 87-105; [ 02] Basel, Univ. Bibl., A.VIII.8 (a. 1428), f. 72v-89v; [ 03] Basel, Univ. Bibl., A.X.129 (a. 1438), f. 270-281v; [ 04] Basel, Univ. Bibl., E.V.40, n. 2 (xv), f. 1-29; [ 05] Coimbra, Univ. Bibl., 1406 (xv), n. 3.; [ 06] Cremona, Bibl. Govern. 44 (xv), f. 72r (fragm.); [ 07] Deventer, Athen.-Bibl., 111 D 11 KL (xvi-xvii), ff. 53r(261r)-68r(276r); [ 08] Firenze, Bibl. Naz. II.XI.18 (xv); [ 09] Frankfurt a. M., Stadt- u. Univ. Bibl., Praed. 97 (a. 1499), f. 143-162v; [ 10] Frankfurt a. M., Stadt- u. Univ. Bibl., Praed. 180 (a. 1487-8), f. 104-121v; [ 11] Hall in Tirol, Franziskanerkl. I.102 (a. 1457), f. 171v-193v; [ 12] Köln, Hist. Archiv d. Stadt, GB 8° 94 (a. 1465 e), f. 73-113; [ 13] Liège, Bibl. Univ., 358 (xv), p. 166-178; [ 14] München, Bayer. Staatsbibl., Clm 15222 (xv), f. 2-56; [ 15] München, Bayer. Staatsbibl., Clm 18594 (xv), f. 49-69; [ 16] Napoli, Bibl. Naz., VII.G.49 (xv2), f. 61, 66v-72v (fragm.); [ 17] Vaticano, lat. 2935 (xv), f. 24v-37v; [ 18] Vaticano, lat. 7708 (xv), f. 141-157v (137-153v) (incompl.); [ 19] Wroclaw, Bibl. Uniw., LO.6 (xv), f. 226-243; [ 20] Wroclaw, Bibl. Uniw., nova acq. (1948) K.N.714 (xv), f. 288-300; e [ 21] Madrid, Bib. Nac., 4546, f. 1r-34r (XVI), f. 1-34. De 4 desses 21 testemunhos, não foi possível acessar informação: cf. itens 04, 05, 11 e 17. Em relação aos 17 demais 10 10 Consideram-se na análise testemunhos dos sécs. XV e XVI (datados ou datáveis mesmo de depois de 1497), porque poderiam ser cópias de testemunhos perdidos mais antigos. , pode-se conhecer seu conteúdo por descrição e/ou por fac-símile. Em nenhum desses 17, há a presença da obra de Isaac de Nínive, o que, portanto, não permite confirmar a hipótese da contiguidade material.

Passando aos impressos da obra de Ferrer, Brettle (1924BRETTLE, Sigismund. San Vicente Ferrer und sein literarischer Nachlass. Münster: Verlag der Aschendorffschen Verlagsbuchhandlung, 1924. Disponível em: https://archive.org/details/MN5150ucmf_8 . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://archive.org/details/MN5150ucmf_8...
, p. 124-125) referencia 12 edições publicadas com o texto latino entre os sécs. XV e XVI, às quais Kaeppelli e Panella (1993) acrescentam duas (a de 1554 e a de 1586): Magdeburg, 1493; Venezia, 1500, 1505; Köln, 1510; Paris, 1510, 1549; Louvain, 1554; Lyon, 1556; Venezia, 1573; Lyon, 1585, 1586; Valencia, 1585, 1591 e 1599. Desses 14 impressos, só foi possível acessar informação de 3 (Magdeburg, 1493; Venezia, 1500; e Köln, 1510): em nenhum deles consta a obra de Isaac de Nínive. Novamente os dados não permitiram confirmar a hipótese da contiguidade material.

Como visto, a análise de testemunhos manuscritos e impressos realizada aqui, ainda que parcial, já que são raros os impressos disponíveis, não permitiu confirmar a hipótese de que a fonte para a versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive deveria estar no mesmo testemunho em que estava a fonte para a versão espanhola dos excertos da obra de Vicente Ferrer. Deve-se assinalar, no entanto, que a ausência de evidência positiva não equivale à existência de evidência negativa: não ter sido encontrado testemunho supérstite com a presença simultânea da obra de Ferrer e de Isaac não exclui necessariamente a possibilidade de que um tal testemunho tenha existido. Muitos foram os testemunhos que se perderam no curso do tempo e um testemunho com tal configuração pode ser sido um desses.

A hipótese de contiguidade material não foi confirmada, mas certamente continua sendo pertinente para avaliações futuras, quando se ampliar o acesso aos registros supérstites da obra de Ferrer. Essa pertinência fica ainda mais sustentável considerando a existência do impresso que foi publicado em Brescia, em 17 de dezembro de 1495, por Bernardino Misinta para Ângelo Britânico 11 11 Fac-símile do exemplar da Biblioteca Municipal de Lyon de cota Rés Inc 1107 disponível em: https://numelyo.bm-lyon.fr/f_view/BML:BML_00GOO0100137001100486989/IMG00000006. , no qual estão presentes simultaneamente (a) o De exterioris et interioris hominis compositione, de Davi de Augsburg (ff. ar2a- b3vb) 12 12 Apresentado no impresso como “De interiori homine siue alias de triplici statu religiosorum: incipientium videlicet profitientium et perfectorum: et primo de informatione nouitiorum” e incorretamente atribuído a Boaventura (f. a2ra). , (b) o Soliloquium sive dialogus hominis et animae, de Boaventura (ff. n8rb- q5rb) 13 13 Apresentado no impresso como “De quattuor mentalibus exercitijs” e corretamente atribuído a Boaventura (f. n8rb). e (c) o Lignum vite, de Boaventura (ff. dd6va- ee7rb) 14 14 Apresentado no impresso como “De Jesu Christi vita” e corretamente atribuído a Boaventura (f. dd6va). , ou seja, exatamente três dos seis textos que fazem parte do impresso sevilhano de 1497 (publicado apenas dois anos após o de Brescia), e na mesma ordem do impresso de 1497. A averiguação da relação genética entre essas duas edições (a de 1495 com os textos em latim e a de 1497 com os textos em espanhol) é questão a ser examinada futuramente, já que exige uma detalhada colação entre os textos de cada uma delas, o que ultrapassa os objetivos deste estudo, voltado para o texto de Isaac. Esse impresso de 1495 atesta, no entanto, como três dos textos do impresso de 1497 já circulavam juntos, muito provavelmente por serem todos atribuídos a Boaventura (mas nem todos os textos atribuídos a ele estavam sempre juntos seja em manuscritos sejam em impressos da época).

Avaliação da hipótese da fonte latina

Como mencionado, Baraut (1959BARAUT, Cebrià. Fragmentos de una versión castellana cuatrocentista del «Tractatus de vita spirituali» de San Vicente Ferrer. Analecta Sacra Tarraconensia, Barcelona, v. 32, p. 213-228, 1959. Disponível em: http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/sites/default/files/public/analecta/ast_32/ast_32_213.pdf . Acesso em: 30 mai. 2023.
http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/si...
, p. 217) já havia assinalado que as duas traduções espanholas da obra de Isaac do impresso de 1497 ( a abreviada nos ff. 116v-117r e a principal nos ff. 127v-162v ( eram distintas, logo a abreviada não é reprodução de trechos da principal. Então qual terá sido a fonte para a versão abreviada?

Em fins do séc. XV, a obra de Isaac, escrita originalmente em siríaco, já apresentava traduções para o grego, o latim, o italiano, o francês, o catalão, o espanhol e o português. Para se ter uma ideia de como se relacionam essas traduções, apresenta-se aqui a transcrição ( Excerto 1) de um trecho delas (itálicos nossos) 15 15 As transcrições apresentadas no corpo neste trabalho foram objeto de regularização gráfica para tornar a leitura mais fluente. A edição paleográfica no anexo, no entanto, mantém as grafias da época. :

Excerto 1

Um exame atento do conjunto de dados acima permite tirar algumas conclusões sobre a versão abreviada da tradução espanhola. A presença de locução verbal em quatro casos ( vulles trencar/quieras romper/quieras quebrantar/queiras atalhar) evidencia que esses registros não foram fonte para a versão abreviada, que apresenta forma simples ( atages), como no grego ( ἐκκόψῃς) e no latim ( precindas). Também não o foi a versão italiana, que apresenta infinitivo ( rompere), enquanto a versão abreviada mantém o subjuntivo com valor de imperativo. O vínculo evidente entre a versão abreviada e o texto latino fica claro pela presença da forma espanhola prudente naquela (cf. sábio e prudente), lexicalmente relacionada à forma latina prudens neste. Os dados deste primeiro excerto apontam nitidamente para uma fonte latina para a versão abreviada. Essa relação também pode ser constatada pelo seguinte conjunto de dados ( Excerto 2) (itálicos nossos):

Excerto 2

Novamente é possível ver como a versão abreviada apresenta forma simples ( desnudes) e lexicalmente vinculada ao texto latino ( denudes), por oposição aos registros com locução ( vulles descobrir/quieras descubrir/quieras descubrir/queiras descobrir nem demostrar), com forma lexicalmente distinta ( descubras) ou flexão diferente ( iscoprire).

Embora esteja claro o vínculo da versão abreviada com o texto latino, constata-se semelhança eventual entre ela e a tradução espanhola impressa em 1489, como se pode notar pelos dados abaixo ( Excerto 3):

Excerto 3

Uma análise deste terceiro excerto mostra uma interessante semelhança entre a versão abreviada e a tradução espanhola impressa em 1489, uma vez que, para o latim sederit (“sentar-se”), existe em ambas a inovação comiere. Além disso, para a forma latina annue (“acena”), os dois registros apresentam tradução mais particular ( combida ... con senyales/faz ... señas) do que os demais.

Sendo assim, parece prudente que, para a compreensão da gênese da versão abreviada do impresso de 1497, sejam contemplados não apenas os testemunhos latinos mas também a tradução impressa em 1489.

Em função da existência de estudo prévio contemplando especificamente o último capítulo da obra de Isaac em 54 testemunhos latinos ( Cambraia, 2023CAMBRAIA, César Nardelli. As marcas das vias de transmissão dos textos: um estudo de caso. FlorAção: Revista de Crítica Textual, Niterói, v. 2, n.1, p. 4-31, 2023b. Disponível em: https://periodicos.uff.br/criticatextual/article/view/58469 . Acesso em: 22 fev. 2024.
https://periodicos.uff.br/criticatextual...
a) 23 23 Para a lista completa desses 54 testemunhos, cf. Cambraia (2023a, p. 238-240). , apenas esse capítulo será considerado inicialmente.

Deve-se salientar ainda que a versão abreviada sevilhana, embora abarque o final do penúltimo capítulo e o último capítulo da obra de Isaac, é duplamente abreviada: primeiramente, porque contém apenas essas duas unidades textuais, mas também porque mesmo essas duas unidades estão abreviadas, ou seja, há diversas omissões de frases inteiras na versão abreviada em questão. Tal consideração é importante, porque não há, portanto, tanto material para análise, sendo necessário dar grande atenção ao pouco que há disponível.

Considerando as variantes textuais presentes na obra de Isaac de Nínive dos 54 testemunhos latinos avaliados, foi possível identificar aquele que tem maior compatibilidade com o texto da versão abreviada da tradução espanhola, como se pode ver a seguir (Excerto 4 e 5):

Excerto 4

Excerto 5

No excerto 4, pode-se constatar que, enquanto o impresso de Barcelona de 1497 e o de Zaragoza de 1489 apresentam formas equiparáveis entre si (cf. motiones = movimientos), que são compatíveis com a presente na tradução grega ( cf. αὕτη γὰρ σβέννυσιν ἐκ τῆς καρδίας τὰς νοερὰς κινήσεις τὰς ἐκ Θεοῦ φυομένας (Theodokis, 1770, p. 51) (, já a forma da versão abreviada sevilhana é compatível com a de um ramo 25 25 Para uma representação bastante aproximativa da relação genética entre os 54 testemunhos da tradição latina, cf. Cambraia (2023a, p. 247). do qual faz parte o cód. 996 da Biblioteca Mazarina da Paris (cf. intentiones = intenciones). No conjunto dos 54 testemunhos latinos examinados, apenas quatro têm a variante inovadora intentiones (cód. 996, Bibl. Maz., Paris; cód. 733, Yale Univ. Beinecke Libr., New Haven; cód. 307, Bibl. Nac., Madri; e cód. Mar. F. 228, Bibl. Acad. Ciênc. Polon., Gdańsk).

Tendo em vista o que a variante intenciones da versão abreviada da tradução espanhola permitiu conhecer, decidiu-se verificar complementarmente a estrutura dos quatro códices já referidos que apresentam a variante latina correspondente. Curiosamente, constatou-se que o cód. 307 de Madri 26 26 A ausência de referência a esse testemunho com a obra de Ferrer nos registros de Kaeppelli e Panella (1993) deve decorrer do fato de, no próprio catálogo de manuscritos da Biblioteca Nacional da Espanha, esse texto do códice não ter sua autoria informada ( Biblioteca Nacional, 1953, v. I, p. 226). apresenta parte do Tractatus de vita spirituali de Ferrer após a obra de Isaac entre os ff. 131r-133r: trata-se do cap. 13, iniciado por Quid mihi multum placet de hoc ( Sicard, 1870SICARD, Joannes Dominicus. Speculum fratrum praedicatorum. 2. ed. Paris: Frates Possielgue, 1870. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=4nztaaaacaaj . Acesso em: 30 mai. 2023.
https://books.google.com.br/books?id=4nz...
, p. 122-127). O referido cap. 13 da obra de Ferrer, no entanto, não está dentre os que aparecem em espanhol no impresso sevilhano de 1497 (neste, há a tradução dos caps. 1-5, 12 e 16) e o texto de Isaac no cód. 307 apresenta omissão de trechos para os quais há a tradução no espanhol: esses dois fatos evidenciam que o cód. 307 não foi a fonte para o impresso sevilhano de 1497. No entanto, a estrutura desse códice, com a presença simultânea da obra de Isaac e de Ferrer, reforça a pertinência da hipótese da contiguidade material, embora não a confirme diretamente.

No excerto 5, vê-se novamente o vínculo entre os impressos de 1489 e 1497 (cf. honor, virtut y gloria = honor, virtus et gloria), com a inovação de adição de virtut/virtus, terceiro elemento sem correspondente no texto grego ( cf. αὐτῷ ἡ δόξα, καὶ τò κράτος εἰς τoὺς αἰῶνας (Theodokis, 1770, p. 51) (, por oposição ao cód. 996 de Paris, que apresenta também apresenta apenas dois elementos ( honor et gloria). Dos quatro testemunhos citados com a já referida inovação referente a intentiones, apenas dois apresentam forma compatível com o grego neste segundo caso (cód. 996, Paris; e cód. 733, New Haven), pois o cód. 307 de Madrid apresenta laus, gloria et honor; e o cód. Mar. F. 228 de Gdańsk apresenta laus et gloria.

Em síntese, os dados confirmaram a hipótese da fonte latina para a versão abreviada da tradução espanhola de 1497. Apurou-se não apenas que ela deriva efetivamente de um modelo latino, mas também que esse modelo pertence a um ramo de que fazem parte os cód. 996 de Paris e o cód. 733 de New Haven. Nenhum desses dois, no entanto, terá sido o modelo para a versão abreviada: o primeiro é datado de 1516, sendo cronologicamente posterior ao impresso sevilhano de 1497; e, ao segundo, falta o trecho Sputum coram aliquo non proicias, presente no impresso sevilhano (cf. No eches de tu boca alguna cosa delante de otro, f. 116va25-26).

Em relação ao cód. 733 de New Haven não há muita informação disponível sobre sua história: no catalogo online 27 27 Disponível em: http://brbl-dl.library.yale.edu/vufind/Record/3446523. da instituição detentora, consta que é do séc. XV, de origem italiana e contém basicamente 15 textos de autores como Pseudo-Bernardo de Claraval, Isaac Sírio, Efraem Sírio, Bernardo de Claraval, Cesário, Antonino Florentino, Martino Bracarense, João de Gales, Boécio, Hugo de Folieto e Jerônimo. Já quanto ao cód. 996 de Paris, existem dados mais substantivos: no catálogo online da base Calames 28 28 Disponível em: http://www.calames.abes.fr/pub/mazarine.aspx#details?id=MAZA14327. , informa-se ter sido copiado pelo frei Jean Nicolay do convento franciscano dos Cordeliers de Troyes (no nordeste da França) no ano de 1519 e compõe-se de 54 textos de autores como João de Boaventura, Ambrósio, Anselmo Cantuarense, Bernardo de Claraval e Jerônimo. É de grande relevância salientar que, nesse códice franciscano, consta não apenas a obra de Isaac (ff. 163r-164v) como também o Lignum Vite de Boaventura (ff. 1r-13r) e parte do De exterioris et interioris hominis compositione de Davi de Augsburg (ff. 89r-95r) 29 29 Identificado no cód. 996 de Paris como Viginti passus sive formula novitiorum sancti Bonaventure de informatione spiritualis vite ac virtute et profectu religiosorum, atribuído, como se vê, a Boaventura. Trata-se da segunda parte da obra de Augsburg, cujo incipt é Si vis in spiritu proficere (Augusta, 1899, p. 36). , três dos presentes no impresso sevilhano de 1497. Parece claro, portanto, que a versão abreviada da tradução espanhola de 1497 tem seu modelo latino muito provavelmente ligado ao modelo (direto ou indireto) do cód. 996 de Paris 30 30 Convém assinalar que, assim como no impresso sevilhano de 1497, o texto de Isaac é apresentado como um tractatus no cód. 996 de Paris. . Esse modelo pode ter alguma relação mais próxima com o já mencionado impresso de Brescia de 1495, com duas das obras de Boaventura e uma de Ausgburg, mas sem a obra de Isaac.

Por fim, resta examinar o papel da versão espanhola impressa em 1489 na constituição da versão abreviada da tradução espanhola de 1497. Embora se tenha constatado semelhança eventual entre elas, é bastante nítido que se vinculam a tradições latinas diferentes, como se vê abaixo ( Excerto 6):

Excerto 6

No excerto 6, é possível ver como, por lado, a tradução espanhola impressa em 1489 se vincula ao ramo da versão latina do impresso de 1497 (cf. en todo las ten en olvido = habeas totaliter oblivionem earum), embora naturalmente esta não possa ter sido fonte para aquela por razões cronológicas, e como, por outro lado, a versão abreviada sevilhana não se vincula a esse ramo, tomando-se aqui como exemplo as formas do cód. 996 de Paris (cf. fuye encontrarte con ellas = fuge obviationem earum). Considerando as formas presentes na tradução grega, é possível ver que as variantes dos impressos latino de 1497 e espanhol de 1489 acima referidas são inovações desse ramo: cf. Ἀπò δ ὲ Kανονικῶν ἀπέχου, ὡς ἀπò πυρòς, καὶ ὡς ἀπò παγίδος διαβόλου, ἔκ τε τῆς ἀπαντήσεως αὐτῶν καὶ συνομιλίας καὶ θέας (Theodokis, 1770, p. 49) 31 31 A semelhança formal entre obviationem e oblivionem evidencia que esta variação emergiu na tradição latina. .

No que diz respeito especificamente às semelhanças eventuais, considerando-se não apenas o capítulo final da obra de Isaac da versão abreviada, mas todo seu conteúdo, é possível verificar apenas quatro delas entre as duas traduções espanholas, como se vê abaixo ( Quadro 1):

Quadro 1 -
Comparação entre formas semelhantes

O fato de serem tão poucos os casos de semelhança eventual sugere que se trata de inovações poligenéticas, não sendo, portanto, evidências inequívocas de relação de dependência entre as traduções examinadas (no caso em questão, de contaminação na tradução espanhola da versão abreviada a partir da tradução espanhola impressa em 1489). O exame de cada um desses casos permite aventar hipóteses específicas.

No caso de surgere, a expressão com a combinação dos verbos nascer e levantar é possível de ser encontrada no espanhol mesmo de hoje em dia 32 32 Cf. “esto significa nacer y levantar líderes que transformen la sociedad” ( Cañas, 2021). , o que sugere que a combinação fosse uma expressão semicristalizada (já que há inversão entre os dois testemunhos analisados). Trata-se, ademais, de combinação que lembra o trecho bíblico surge et ambula (João 5:8). Logo, a presença de nascer e levantar/levantar ... e nascer nas duas traduções seria um caso de recurso a expressão semicristalizada com inspiração bíblica.

Já no caso de sederit, a recorrência de comiere nas duas traduções pode ser explicada a partir de dois aspectos: (a) influência do entorno, já que a forma em questão ocorre em um período em cujo final já havia esse verbo na versão latina (cf. ut comedat nos dados do excerto 3) ( assim, a tradução de sederit como comiere seria por influência de comedat no mesmo período; e (b) influência de um esquema cognitivo, já que a prática cultural de realizar as refeições assentado propiciaria a tradução de sederit como comiere.

No caso de annue, a semelhança é muito sutil, porque a base verbal é diferente entre as traduções ( combida na de 1489 e faz na de 1497). Então, parece mais provável que a semelhança decorra de adequação cultural: se havia voto de silêncio na comunidades religiosas, logo a comunicação incluiria necessariamente uso de sinais, por isso a tradução fez referência a sinais.

Por fim, o caso da inovação simultânea com a adição de siempre parece ser um caso de reforço condicionado contextualmente: o trecho latino Ubicumque inventus fueris, minorem te ipsum existima et servum fratrum tuorum (Impr., Barcelona, a. 1497, f. 145v1-3) apresenta o item ubicumque (“onde quer que”), que é universalizante do ponto de vista espacial, e essa universalização teria sido projetada para a esfera temporal, por isso, a adição de siempre em ambas as traduções: cf. Donde quiere que te fallares, siempre menor y siervo de tus hermanos te juzga (Impr., [Zaragoza], a. 1489, f. t7r14-16) e Donde quier que te acaescieres siempre te cuenta por menor e siervo de todos hermanos e compañeros (Impr., Sevilha, 1497 [versão abreviada], f. 116va15-17).

Considerações finais

Este estudo teve como objetivo discutir a questão das fontes da versão abreviada da tradução espanhola obra de Isaac de Nínive presente no impresso sevilhano de 1497. Foram consideradas duas hipóteses: a da contiguidade material (a fonte para a versão abreviada estaria no mesmo testemunho em que estava a fonte para a versão espanhola dos excertos da obra de Vicente Ferrer, também presente no impresso sevilhano de 1497) e a da fonte latina (a fonte com a obra de Isaac estaria em latim). A análise de testemunhos supérstites da obra de Vicente Ferrer dos sécs. XV e XVI (manuscritos e impressos) não permitiu confirmar a hipótese da contiguidade material, embora se tenha obtido nova evidência de pertinência da hipótese. A análise de diversos testemunhos da tradição da obra de Isaac de Nínive (em grego, latim, italiano, francês, espanhol, catalão e português) permitiu não apenas confirmar a hipótese da fonte latina, como também evidenciou que ela está fortemente vinculada ao ramo do cód. 996 da Biblioteca Mazarina de Paris, de origem franciscana, embora este não tenha sido seu modelo.

Deve-se salientar aqui que os dados apurados neste estudo estão diretamente relacionados aos testemunhos a que se teve acesso na colação. No caso específico da tradição latina da obra de Isaac de Nínive, embora se saiba da existência de 105 manuscritos e 13 edições impressas ( Cambraia, 2014CAMBRAIA, César Nardelli. Livro de Isaac (cód. 50-2-15 da BN): caminhos percorridos. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 133-34, p. 15-35, 2014. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/402630/per402630_2013-2014_133-134.pdf . Acesso em: 30 mai. 2023.
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; 2020CAMBRAIA, César Nardelli. Fragmenta latina operis Isaaci Ninivitae. Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, v. 22, n. esp, p. 11-32, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.V22iespecialp11-32 . Acesso: 30 mai. 2023.
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), só se teve acesso até o presente a 47 manuscritos e só se trabalhou com 7 edições impressas. Apesar de ser possível vir-se a descobrir com mais precisão a fonte latina para a versão espanhola (quiçá, o próprio manuscrito com o texto latino!), deve-se ter em mente que a numerosidade dos testemunhos manuscritos supérstites com a tradução latina da obra de Isaac traz consigo uma alta probabilidade de terem existido muitos outros testemunhos que foram destruídos no curso da transmissão da obra e que terão sido os modelos para os supérstites, ou seja, de ter havido muitos testemunhos interpostos ( Cambraia, 2005CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martin Fontes, 2005.).

Como não foi possível confirmar a hipótese da contiguidade material na fonte para explicar a presença simultânea da obra de Ferrer e de Isaac no impresso sevilhano (apesar da evidência de sua pertinência atestada pelo cód. 307 de Madri), a questão fica a espera de novas hipóteses explicativas. É fato que todas as obras do impresso sevilhano se circunscrevem em uma mesma temática: a vida monacal (por isso o título Forma novitiorum, ou seja, “Formação dos noviços”). Embora cada uma delas apresente aspectos doutrinários particulares, todas elas contêm orientações mais pragmáticas para a conduta daqueles que optaram pela vida ascética nos moldes monacais. Essa orientação para aspectos mais pragmáticos explicaria a opção pela parte final da obra de Isaac na versão abreviada: é justamente nela que aparecem recomendações muito práticas, como a de não interromper interlocutor, de não responder de forma imprudente e de ficar calado (cf. excerto 1 na seção anterior); a de não se desvestir na frente de outros (cf. excerto 2); a de não conversar na hora da refeição (cf. excerto 3); e a de não ficar na presença de monjas (cf. excerto 6). É muito curioso que seja justamente essa parte final uma das partes mais difundidas da obra de Isaac (há vários testemunhos latinos apenas com ela): como já se disse antes aqui, ela mesma não é de autoria do próprio Isaac de Nínive, mas sim de João de Dalyata, a qual já aparece incorporada com a nova atribuição autoral a Isaac na própria tradição grega.

Referências

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  • CAMBRAIA, César Nardelli. Do catalão ao espanhol: a tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive do cód. a.II.13 da Real Biblioteca do Mosteiro de São Lorenzo do Escorial. Caligrama: Revista de Estudos Românicos, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, p. 7-26, 2021. DOI: DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2238-3824.26.1.7-26 Acesso em: 30 mai. 2023.
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  • CAMBRAIA, César Nardelli. Filogenia transdisciplinar: crítica textual, computação e genética. In: COELHO, Sueli Maria; CAMBRAIA, César Nardelli (org.) Sic itur ad astra: estudos de língua e de literatura latina em homenagem ao professor Johnny José Mafra. Campinas: Mercado de Letras, 2023a. p. 227-259. Disponível em: https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-mway.php?codid=807 Acesso em: 30 mai. 2023.
    » https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-mway.php?codid=807
  • CAMBRAIA, César Nardelli. As marcas das vias de transmissão dos textos: um estudo de caso. FlorAção: Revista de Crítica Textual, Niterói, v. 2, n.1, p. 4-31, 2023b. Disponível em: https://periodicos.uff.br/criticatextual/article/view/58469 Acesso em: 22 fev. 2024.
    » https://periodicos.uff.br/criticatextual/article/view/58469
  • CAMBRAIA, César Nardelli; AVELLAR, Júlia Batista Castilho de. Um ensaio de estemática: tradição ibero-românica da obra de Isaac de Nínive. Revista da ABRALIN, Curitiba, v. 16, n. 1, p. 15-36, 2017. Disponível em: https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1306/1229 Acesso em: 30 mai. 2023.
    » https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1306/1229
  • CAÑAS, Juan Pablo Diaz El Paro debe parar. Valores Cristianos, Bogotá, 15 de maio de 2021. Disponível em: https://valorescristianos.co/el-paro-debe-parar Acesso em: 30 mai. 2023.
    » https://valorescristianos.co/el-paro-debe-parar
  • CISNEROS, García Jiménez de. Obras completas Edição de Cipriano Baraut. Montserrat: Abadia, 1965. Vol. I - Introducción e índices, Vol. II - Texto (Scripta et Documenta, 15 e 16).
  • HAEBLER, Konrad. The early printers of Spain and Portugal London: Bibliographical Society, 1897. Disponível em: https://archive.org/details/cu31924029499021. Acesso em: 30 mai. 2023.
  • KAEPELLI, Thomas; PANELLA, Emilio. Scriptores ordinis praedicatorum medii aevi Roma: Instituto Storico Domenicano, 1993. V. IV: T-Z.
  • MELO, Teresa Cristina Alves de. «Livre d’Isaac Abbé de Syrie» (cód. lat. 14891 da BNF): edição e glossário. 2010. 371 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) ( Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/ALDR-8D4NB5 Acesso em: 30 mai. 2023.
    » http://hdl.handle.net/1843/ALDR-8D4NB5
  • MIGNE, Jacques-Paul. Patrologiae cursus completus: series graeca prior. Paris: Ed. de l’Auteur; 1865. T. 86, p. 1. Disponível em: http://books.google.com/books?id=sppyaaaamaaj Acesso: 30 mai. 2023.
    » http://books.google.com/books?id=sppyaaaamaaj
  • MILLER, Daniel (Tr.) The ascetical homilies of St. Isaac the Syrian Boston (Mass.): The Holy Transfiguration Monastery, 1984.
  • SICARD, Joannes Dominicus. Speculum fratrum praedicatorum 2. ed. Paris: Frates Possielgue, 1870. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=4nztaaaacaaj Acesso em: 30 mai. 2023.
    » https://books.google.com.br/books?id=4nztaaaacaaj
  • TENORIO, Nicolás. Algunas noticias de Meinardo Ungut y Lanzalao Polono. Revista de Archivos, Bibliotecas y Museos, Madrid, v. 5, n. 8-9, p. 633-638, 1901. Disponível em: https://hemerotecadigital.bne.es/hd/es/viewer?id=38821690-cf11-4bac-a990-b0e6996c0bf2&page=1 Acesso em: 30 mai. 2023.
    » https://hemerotecadigital.bne.es/hd/es/viewer?id=38821690-cf11-4bac-a990-b0e6996c0bf2&page=1
  • THEOTOKIS, N. (Ed.). Του οσίου πατρός ημών Ισαάκ επισκόπου Νινευί του σύρου τα ευρεθέντα ασκητικά [...]. Εν Λειψία της Σαξονίας: Εν τη Τυπογραφία του Βρεϊτκοπφ, 1770. Disponível em: https://catalogue.nlg.gr/record/b.360848 Acesso em: 30 mai. 2023.
    » https://catalogue.nlg.gr/record/b.360848
  • VILAÇA, Cynthia Elias de Leles. «Libro dell´Abate Isaac di Siria» (cód. ricc. 1489 da BRF): edição e confronto com a edição princeps de 1500. 2008. 418 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) ( Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/airr-7dgq5h Acesso em: 30 mai. 2023.
    » http://hdl.handle.net/1843/airr-7dgq5h
  • 1
    As transcrições do impresso de 1497 neste estudo foram feitas a partir do exemplar da Biblioteca Nacional da Espanha de cota INC/908 (disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000137334).
  • 2
    Cebrià Baraut Obiols (1917-2003), monje beneditino e historiador, deu reiteradas contribuições para o conhecimento da tradição espanhola da obra de Isaac de Nínive: identificou e publicou o fragmento do Tractatus de vita spirituali de Vicente Ferrer presente no impresso sevilhano de 1497, que contém duas das traduções espanholas da obra de Isaac ( Baraut, 1959BARAUT, Cebrià. Fragmentos de una versión castellana cuatrocentista del «Tractatus de vita spirituali» de San Vicente Ferrer. Analecta Sacra Tarraconensia, Barcelona, v. 32, p. 213-228, 1959. Disponível em: http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/sites/default/files/public/analecta/ast_32/ast_32_213.pdf . Acesso em: 30 mai. 2023.
    http://www.icatm.net/bibliotecabalmes/si...
    ); apresentou argumentação sólida para demonstrar que uma outra tradução espanhola, feita por Bernardo Boil e presente em um impresso de 1489, foi na verdade publicada em Zaragoza, na oficina de Juan Hurus ( Baraut, 1962BARAUT, Cebrià. En torno al lugar donde fue impresa la traducción castellana del Isaac “De religione” de Bernardo Boil. Gutenberg-Jahrbuch, Mainz, v. 37, p. 171-178, 1962.); e, por fim, também foi quem deu a saber que o manuscrito com a tradução espanhola de Boil, cuja descoberta pelo Rev. Melquíades Andrés já havia noticiado ( Baraut, 1962BARAUT, Cebrià. En torno al lugar donde fue impresa la traducción castellana del Isaac “De religione” de Bernardo Boil. Gutenberg-Jahrbuch, Mainz, v. 37, p. 171-178, 1962., p. 174), se encontrava na Biblioteca do Palácio Real de Madrid, sob a cota Cód. II/795 ( Cisneros, 1965CISNEROS, García Jiménez de. Obras completas. Edição de Cipriano Baraut. Montserrat: Abadia, 1965. Vol. I - Introducción e índices, Vol. II - Texto (Scripta et Documenta, 15 e 16)., v. 1, p. 16).
  • 3
    Incipit na versão latina: Primo semper debes considerare, ad quid veneris ad Religionem... ( AUGUSTA, 1899AUGUSTA, David ab. De exterioris et interioris hominis compositione secundum triplicem statum incipientium, proficientium et perfectorum. Claras Aquas (Quaracchi): Typographia Eiusdem Colegii, 1899. Disponível em: https://archive.org/details/deexterioriseti00davigoog . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://archive.org/details/deexterioris...
    , p. 3)
  • 4
    Incipit na versão latina: Flecto genua mea ad Patrem Domini nostri Iesu Christi ... ( Bonaventura, 1898BONAVENTURA, Saint Cardina. Doctoris Seraphici S. Bonaventurae S. R. E. Episcopi Cardinalis Opera Omnia. Claras Aquas (Quaracchi): Typographia Colegii S. Bonaventurae, 1898. T. VIII. Disponível em: https://archive.org/details/doctorisseraphic08bona . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://archive.org/details/doctorissera...
    , t. 8, p. 28)
  • 5
    Incipit na versão latina: Ponam in hoc tractatu tantummodo documenta salubria... ( Sicard, 1870SICARD, Joannes Dominicus. Speculum fratrum praedicatorum. 2. ed. Paris: Frates Possielgue, 1870. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=4nztaaaacaaj . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://books.google.com.br/books?id=4nz...
    , p. 74)
  • 6
    Incipit na versão latina: Christus confixus sum cruci... ( Bonaventura, 1898BONAVENTURA, Saint Cardina. Doctoris Seraphici S. Bonaventurae S. R. E. Episcopi Cardinalis Opera Omnia. Claras Aquas (Quaracchi): Typographia Colegii S. Bonaventurae, 1898. T. VIII. Disponível em: https://archive.org/details/doctorisseraphic08bona . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://archive.org/details/doctorissera...
    , t. 8, p. 67)
  • 7
    Apresenta-se no anexo uma edição paleográfica da versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive no impresso sevilhano, por se tratar de versão ainda inédita.
  • 8
    Disponível em: https://data.cerl.org/istc/id00102370.
  • 9
    Entre colchetes se informa a cota na instituição detentora do exemplar, a partir de dado obtido em seu respectivo catálogo online.
  • 10
    Consideram-se na análise testemunhos dos sécs. XV e XVI (datados ou datáveis mesmo de depois de 1497), porque poderiam ser cópias de testemunhos perdidos mais antigos.
  • 11
    Fac-símile do exemplar da Biblioteca Municipal de Lyon de cota Rés Inc 1107 disponível em: https://numelyo.bm-lyon.fr/f_view/BML:BML_00GOO0100137001100486989/IMG00000006.
  • 12
    Apresentado no impresso como “De interiori homine siue alias de triplici statu religiosorum: incipientium videlicet profitientium et perfectorum: et primo de informatione nouitiorum” e incorretamente atribuído a Boaventura (f. a2ra).
  • 13
    Apresentado no impresso como “De quattuor mentalibus exercitijs” e corretamente atribuído a Boaventura (f. n8rb).
  • 14
    Apresentado no impresso como “De Jesu Christi vita” e corretamente atribuído a Boaventura (f. dd6va).
  • 15
    As transcrições apresentadas no corpo neste trabalho foram objeto de regularização gráfica para tornar a leitura mais fluente. A edição paleográfica no anexo, no entanto, mantém as grafias da época.
  • 16
    As transcrições do impresso de Barcelona foram feitas a partir do exemplar de cota 11-III-44 da Biblioteca da Catalunha (disponível em: https://mdc.csuc.cat/digital/collection/incunableBC/id/13685).
  • 17
    Ms.: comment.
  • 18
    Ms: sauja.
  • 19
    Ms.: las palabras (com s final cancelado pelo copista nos dois itens).
  • 20
    As transcrições do impresso de Zaragoza foram feitas a partir do exemplar de cota Inc 502 da Biblioteca Nacional da Espanha (disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000176551).
  • 21
    As transcrições do impresso de Sevilha foram feitas a partir do exemplar de cota Inc 908 da Biblioteca Nacional da Espanha (disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000137334).
  • 22
    No impresso está callador por callado e, indicando erro de leitura da nota tironiana (abreviatura para e) como a letra r com forma redonda.
  • 23
    Para a lista completa desses 54 testemunhos, cf. Cambraia (2023aCAMBRAIA, César Nardelli. Filogenia transdisciplinar: crítica textual, computação e genética. In: COELHO, Sueli Maria; CAMBRAIA, César Nardelli (org.) Sic itur ad astra: estudos de língua e de literatura latina em homenagem ao professor Johnny José Mafra. Campinas: Mercado de Letras, 2023a. p. 227-259. Disponível em: https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-mway.php?codid=807 . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://www.mercado-de-letras.com.br/liv...
    , p. 238-240).
  • 24
    Impr.: autĉ.
  • 25
    Para uma representação bastante aproximativa da relação genética entre os 54 testemunhos da tradição latina, cf. Cambraia (2023aCAMBRAIA, César Nardelli. Filogenia transdisciplinar: crítica textual, computação e genética. In: COELHO, Sueli Maria; CAMBRAIA, César Nardelli (org.) Sic itur ad astra: estudos de língua e de literatura latina em homenagem ao professor Johnny José Mafra. Campinas: Mercado de Letras, 2023a. p. 227-259. Disponível em: https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-mway.php?codid=807 . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://www.mercado-de-letras.com.br/liv...
    , p. 247).
  • 26
    A ausência de referência a esse testemunho com a obra de Ferrer nos registros de Kaeppelli e Panella (1993) deve decorrer do fato de, no próprio catálogo de manuscritos da Biblioteca Nacional da Espanha, esse texto do códice não ter sua autoria informada ( Biblioteca Nacional, 1953BIBLIOTECA NACIONAL. Inventario general de manuscritos de la Biblioteca Nacional. Madrid: Biblioteca National, 1953. V. 1. Disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000166854 . Acesso em: 30 mai. 2023.
    http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0...
    , v. I, p. 226).
  • 27
    Disponível em: http://brbl-dl.library.yale.edu/vufind/Record/3446523.
  • 28
    Disponível em: http://www.calames.abes.fr/pub/mazarine.aspx#details?id=MAZA14327.
  • 29
    Identificado no cód. 996 de Paris como Viginti passus sive formula novitiorum sancti Bonaventure de informatione spiritualis vite ac virtute et profectu religiosorum, atribuído, como se vê, a Boaventura. Trata-se da segunda parte da obra de Augsburg, cujo incipt é Si vis in spiritu proficere (Augusta, 1899, p. 36).
  • 30
    Convém assinalar que, assim como no impresso sevilhano de 1497, o texto de Isaac é apresentado como um tractatus no cód. 996 de Paris.
  • 31
    A semelhança formal entre obviationem e oblivionem evidencia que esta variação emergiu na tradição latina.
  • 32
    Cf. “esto significa nacer y levantar líderes que transformen la sociedad” ( Cañas, 2021CAÑAS, Juan Pablo Diaz El Paro debe parar. Valores Cristianos, Bogotá, 15 de maio de 2021. Disponível em: https://valorescristianos.co/el-paro-debe-parar . Acesso em: 30 mai. 2023.
    https://valorescristianos.co/el-paro-deb...
    ).
  • 33
    Especificamente no caso da nota tironiana, que repesenta conjunção coordenativa, optou-se pelo desenvolvimento como e, pois é forma mais recorrente dessa conjunção quando não abreviada (7 ocs., todas como maiúscula), embora haja também y (1 oc., como minúscula).
  • 34
    Primeira linha com letras maiores do que do resto do texto.
  • 35
    S capitular filigranado.
  • 36
    guarda por guardar.
  • 37
    callador por callado e.
  • 38
    quanto por quando.
  • 39
    alaguno por aalguno.
  • 40
    quier por quien.
  • 41
    ver ala por vera la.

Anexo

Edição paleográfica da versão abreviada da tradução espanhola da obra de Isaac de Nínive no impresso sevilhano de 1497

Normas de edição

Transcrição paleográfica sem regularização gráfica, exceto no caso de alógrafos; desenvolvimento de abreviaturas 33 33 Especificamente no caso da nota tironiana, que repesenta conjunção coordenativa, optou-se pelo desenvolvimento como e, pois é forma mais recorrente dessa conjunção quando não abreviada (7 ocs., todas como maiúscula), embora haja também y (1 oc., como minúscula). ; marcação de translineação com barra reta; indicação de mudança de fólio entre colchetes em itálico; registro de lapsos de composição tipográfica em nota (sem correção no próprio texto).

Transcrição

[ f. 116ra] ¶ Capitulo. vi. vna bue- 34 34 Primeira linha com letras maiores do que do resto do texto. |na doctrina que deue guardar el religio=|so en su vida segun q ue enseña el abad ysac | de siria. | SEgun 35 35 S capitular filigranado. que dixeron los san=|tos padres que enel anima | vana gloriosa tornan arre=|beuir los vicios que prime|rame nte ouieran sido sujetos | e mortificados: e assi como vna pequeña | nuue cubre el cerco del sol. assi vna peque|ña tristeza cobija el anima e le quita la | claridad que antes tenia. Qua ndo te quisi|eres llegar a dios con todo tu coraçon de|muestra primerame nte el tu trabajo enlas | cosas te mporales: ca deste nasce el principio | dela co nuersacion. e mucho se allega el co|raçon a dios qua ndo le es quitada la nece=|sidad e ha paciencia: e el señor leuanta de | aqui fundame nto de humildad. Jte m pie nsa | aquel comienço delas tinieblas del a ni ma vi|ene por la ociosidad e tinieblas sobre tini|eblas nascen enel a ni ma por las muchas fa=|blas: e lo primero es ocasion delo segu ndo | e lo segu ndo como de cabo enge ndralo pri=|mero. e las muchas palabras sin mesu=|ra aun q ue sean p rouechosas faze n entenebre=|çer al a ni ma e es abiltada por la muchedu m=|bre delas palabras. como q uier q ue el su apa|rejo sea sie mpre en temor. La ceguedad d el | a ni ma nasce dela desordenada co nuersacion: | e guardar enla co nuersacion mesura e tie m=|pos ordenados alu mbra ala volu ntad e arri|edra toda co nfusion. La paz del coraçon | nasce por la buena ordenacion: e la lu mbre | del coraçon nasce dela paz e dela lu mbre d el | coraço n: e dela paz nasce enla volu ntad vn | ayre limpio q ue es la caridad. e segu n la ca=|ridad se llega el coraço n ala sabiduria diui|nal: e segun q ue se va llega ndo aesta sabidu=|ria assi rescibe gr acia d el señor dios: e enla ca|ridad delos p roximos es dada al coraçon | llaue delos dones diuinales. e segun que | el coraçon se va desatando dela grosedad | [ f. 116rb] corporal e carnal assi le es abierta la pu=|erta del conoscimie nto verdadero. O qua nto es loable el amor del p roximo si el su cuydado no nos arriedra del amor de dios e quanto es fermosa la fabla sp iritual de nues=|tros hermanos si podemos co n ella guar|dar la deuocion e fabla d e dios. Pues bue na | cosa es non caer so color de buena obra o | de buena fabla. La vision d elos seglares | trae confusion al anima que por amor de | dios la fuye e la esquiva la continua fab=|la delos hermanos sp irituales no es prove=|chosa. quando comiença en ti a leuantar|se e nascer el hombre sp iritual en todas las cosas tienes mortificacion: e sirue la tu a|nima en gozo por la gracia del tu criador | que ensi siente e no se puede n pacificar los | tus pensamie ntos por el amor del tu cora=|çon. e quando el mundo comiença a leua n|tarse en tu coraçon luego es amuchigua=|da la ocupacion d ela tu voluntad e la prudencia seglar desordenada. esto es q ue naçe n | en ti vicios e passio nes q ue les apareja tal | ocupacion. e qua ndo estos son co ncebidos | fazen se enteros pecados e matan al ho m=|bre. Otrosi la ociosidad e folgança. son p er|dicion del a ni ma e mas la empescen q ue essos | mesmos d emonios Si acostu mbras al cuer|po flaco trabaiar sobre su virtud e poder | escuresce se el a ni ma dela claridad entrañal. e vistese de una co nfusio n: mas si al cuerpo | fuerte dieres folga nça e ociosidad toda malicia se acaba enel a ni ma q ue de ntro mora: qua ndo el a ni ma se embriaga conel gozo diuinal | por la su experie ncia e por la alegria de di|os: luego se faze el cuerpo no sentible a to|da tribulacion: e aun q ue sea enfermo sufre | assi doblada carga: e non lo siento: emp ero | esto es qua ndo el a ni ma esta enlos deleytes d el | dicho gozo. Si pudieres guarda 36 36 guarda por guardar. a tu len=|gua entraras en este gozo del spiritu: mas cree me hermano q ue si la tu lengua te ven=|ciere nunca podras salir de ceguedad e ti|niebras dela voluntad. quando quisieres | amonestar algun bien a alguno primero | [ f. 116va] le da alguna co nsolacion e folgança corpo=|ral e honrrable co n palabras ociosas: mas | mucho necessarias co ntentarse con las ve|stiduras viles segun la necessidad de cu=|erpo e el tu manjar sea tal que sustente el | cuerpo e no sirua ala gulosia. E deues de tomar poco de cada vn manjar e an=|dar repoyando esto e escoge ndo aquello o|tro por fenchir el vientre: no andes co n los | ojos cerveguellea ndo de alla e de aca mas | ten los siempre honestos e baxos. no ata=|ges la palabra de aquel q ue fabla contigo: | porq ue no respondas como non sabio mas | assy como sabio e prudente sey callador 37 37 callador por callado e. escucha: donde quier q ue te acaescieres siem|pre te cue nta por menor. e sieruo de todos | hermanos e co mpañeros: no desnudes nin|gun mie mbro de tu cuerpo delante de algu|na p ersona: ni te allegues al cuerpo de otro | o el de otro al tuyo sin gran necessidad e | causa razonable e guarda te d ela vana co n|fiança assi como dela muerte. Sey te mpla=|dame nte ordenado en ti mesmo: porq ue no se | parta de ti el angel q ue te guarda e no pier|das la virtud q ue de antes tenias: no eches | de tu boca alguna cosa dela nte de otro: e si | te viniere tose estando ala mesa buelue la | cabeça atras: e asi tose como honesto e d e|uoto sieruo de dios: e no estiendas la ma=|no desuergonçada e presumptuosamente | para tomar alguna cosa delo q ue esta ade=|lante de los otros. E si comiere co ntigo al=|gun estraño faz le señas vna o dos vezes | que coma e q uanto 38 38 quanto por quando. te asentares ala mesa pon | te honesta e ordenadame nte: e no co n arre=|batamie nto e desasosiego. Qua ndo te vinie|re algun vostezo cubre la boca por q ue non | seas visto: e las tales aspiracio nes e voste|zos si son retenidos ellos passan. Si en=|trares enla cela de tu mayor: o de tu ami=|go no seas curioso escodriñando lo q ue tie=|ne de ntro: e no andes por las celas delos o|tros si no fuere co n necessidad. Ca el q ue ene|stas cosas se ocupa ageno es d el habito de | [ f. 116vb] monje. Qua ndo entrares ala cela de tu her|mano: abre mansa me nte la puerta: e en se=|mejable manera la cierra: e no entres alaguno 39 39 alaguno por aalguno. subito: e arrebatadame nte mas lla-|ma p rimero ala puerta: e qua ndo te respo ndi|eren entra: e no seas aquexoso por entrar | si non te costriñere necessidad: sey siempre | obediente a todos: saluo alos avarientos: e amadores delas cosas mandanales: o a|los seglares e a estos nos los sigas porque | no sea enti fecha alguna cosa endiablada | E el tu tratar con todos sea manso. E aca|ta a todos con te mplança e honestad: e no finchas tus ojos del acatamie nto de algu na | cosa mayorme nte si es de mugeres. Quan|do fueres por alguna parte no passes de=|lante el que es mayor que tu. E si tu com|pañero qua ndo se partiere de ti tardare al|gun poco esperale: e el que assi no lo faze | no es cuerdo. E el que fuere sano sirua ale|greme nte al q ue fuere enfermo. No seas lige|ro en rep rehe nder los pecados agenos: | mas conosçe ati mesmo por culpable en todas | las cosas assi como quier 40 40 quier por quien. esta aparejado | acaer en todo pecado: no te escuses de fa=|zer con toda humildad los oficios baxos | e viles: e no te rias desonestame nte abrien|do la boca: e si fueres costreñido a fablar | con alguna muger: abaxa los tus ojos de | su vista. Fuye dela mo njas como del fu=|ego: o como del lazo del demonio: fuye en|contrar te con ellas: o fablar con ellas por| que no se ensuzie el tu coraçon dela suzie=|dad delos pecados. E aun q ue sea n tus her=|manas segun la carne: assi fuye dellas co=|mo de estrañas: no descubras los tus mi|sterios a alguno: nin descubras tus bata=|llas e obras a quie n no deues. Qua ndo oui|eres de salir ala necessidad natural sal te m=|pradame nte e vergonçasame nte: e assi lo a=|caba como aquel aquien guarda el angel | mejor te seria comer venino mortal que es|tar solo co n la muger e comer conella aun|que sea tu parienta. No porfies con algu|[ f. 117ra]no por alguna cosa: no contiendas ni ba=|rages: ni mientas: ni jures por algu na jura | desprecia ati mesmo: porque no despreci=|es alos otros: sufre las injurias: empero | tu no injuries a ninguno. Ca mejor es q ue | dexes perder todas las cosas temporales | que no que dexes corromper alguna cosa | del anima. No entres en juyzio con algu|no mas sy fueres conde mnado: aun que no | lo merezcas soporta. Non ames para tu | anima alguna cosa seglar e obecesce a-|los principes e señores. Empero non te a|yuntes: nin te allegues aellos: pon estudio en alcançar el olio dela piedad e miseri-|cordia: e guarda te en todas las cosas: en especial del mucho fablar. Ca esto a|mata enel coraçon las buenas intencio-|nes que salen de dios. Fuye de morar | con los perlados dela yglesia: assy como | del leon. E non te allegues alos yrosos: e | alos conte nciosos: porque el tu coraçon no | se fincha de saña: e sea dada a tu anima | oscuridad de error. ¶ No mores conel | que es soberuio: porque no seas fecho co|mo el e se parta dela tu anima la obra d el | spiritu sancto: e aparezca en ti morada a|los vicios y pecados. ¶ O hombre sy es=|tas disposiciones e consejos guardares | poniendo e guardando ati mesmo en me|ditaciones e pensamientos de dios: e en | verdad d e vida: ver ala 41 41 ver ala por vera la. tu anima ensi mes|ma la claridad de Jesu christo: e por jamas | nunca te entenebreceras. Al qual sea ho|nor e gloria por siempre sin fin Amen. | Hec Jsaac de siria. Explicit liber informacionum. | Deo gratias

Editado por

Editor-chefe dos Estudos de Literatura

Silvio Renato Jorge

Editores convidados

Manoel Mourivaldo Santiago
Ceila Maria Ferreira Batista

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2024

Histórico

  • Recebido
    01 Maio 2023
  • Aceito
    27 Jun 2023
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