RESUMO
Ao propor que as ações da primeira mulher foram o gatilho para que a humanidade caísse em desgraça perante Deus, o que gerou visões pejorativas e misóginas do papel da mulher na sociedade, a narrativa bíblica de Adão e Eva tornou-se um dos textos mais influentes na história das mulheres no ocidente. A autoridade do texto bíblico de Gênesis para ditar o status quo das mulheres tem sido frequentemente questionada ao longo dos séculos, mas foi com o advento do Feminismo que o movimento da reescrita da Bíblia se intensificou. Este artigo examina os modos pelos quais, ao fazer uso de estratégias próprias à fantasia na literatura, o conto de Ursula Le Guin, “She unnames them”, reescreve o texto bíblico. A narrativa confere protagonismo a Eva que, por meio da iniciativa contestadora de desnomear, cria uma conexão significativa entre ela e os animais que povoam o Jardim do Éden. O objetivo específico é explorar as articulações entre feminismo, pós-colonialismo e ecocrítica no conto de Le Guin, ligando a estratégia da reescrita contestadora ao ecofeminismo, por meio das conclusões de Val Plumwood sobre binarismo, como também à ecocrítica pós-colonial, com o conceito de “consciência planetária eurocentrada” de Mary Louise Pratt, entre outras teorias que ajudam a explicar as relações de poder entre as esferas humanas e não humanas.
Palavras-chave:
Ecofeminismo; Ecocrítica Pós-colonial; Ursula Le Guin; “She unnames them”; Reescrita