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Sobre a semântica de “juntos” no português brasileiro: tipologia e investigação preliminar* * Este artigo é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), processo nº 2023/03663-2.

On the Semantics of “juntos” in Brazilian Portuguese: Typology and Preliminary Investigation

RESUMO:

Neste artigo, realizaremos uma investigação preliminar sobre a expressão ‘juntos’, que ainda não conta com uma descrição no português brasileiro (PB). Para empreender este estudo, nosso primeiro passo será demonstrar, por meio de testes linguísticos, as interpretações que o termo pode ter em sentenças do PB e oferecer uma tipologia semântica. Na segunda etapa deste artigo, apresentaremos duas teorias propostas para o item together, que pode ser entendido como a contraparte do 'juntos' na língua inglesa, e investigaremos se essas teorias dão conta dos dados apresentados para a expressão no PB. Por fim, apresentaremos uma primeira descrição teórica para o ‘juntos’ no PB, com base na hipótese de que a função deste item é a de efetuar uma soma de entidades. Na Conclusão, retomaremos o caminho percorrido e as principais conclusões, além de citar brevemente outras questões sobre o item 'junto(s)' que merecem nossa investigação.

PALAVRAS-CHAVE:
Juntos; Antidistributividade; Soma; Semântica.

ABSTRACT:

In this paper, we offer a preliminary investigation of the expression ‘juntos’ in Brazilian Portuguese (BP), which does not yet have a detailed description. In order to do so, our first step is to present, using linguistic tests, the different interpretations that this expression has in BP, and to propose a first semantic typology. After doing that, we present and evaluate two theories proposed for the item together, which can be understood as the counterpart of ‘juntos’ in English. We investigate whether these theories can account for the data presented for the expression in BP. Finally, we propose a preliminary theoretical description for 'juntos' in BP, based on the hypothesis that the role of this item is to create a (mereological) sum of entities. In the Conclusion, we present our main conclusions, and some remaining issues concerning the item 'junto(s)' in BP.

KEYWORDS:
Juntos; Anti-distributivity; Sum; Semantics.

Introdução

A expressão ‘juntos’ no português brasileiro (PB) ainda não conta com uma descrição linguística aprofundada, principalmente dentro de uma abordagem formal do significado, que leve em conta suas características semânticas, sintáticas e morfológicas.

Nos dicionários do português, por exemplo, é possível encontrar o termo ‘junto’ - em princípio, uma versão superficialmente singular de ‘juntos’ - classificado em diferentes categorias gramaticais. O dicionário Aulete Digital (2023JUNTO. In: Aulete Digital. Rio de Janeiro: Lexicon Editora Digital, 2023. Disponível em: https://aulete.com.br/junto . Acesso em: 04 out. 2023.
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) classifica a expressão ‘junto’ como pertencente à classe dos adjetivos, isto é, das palavras que “expressam as qualidades ou características dos seres” (Cegalla, 2008CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. 48. ed. [S. l.]: Companhia Editora Nacional, 2008., p. 159). Neste mesmo dicionário, a palavra ‘junto’ também está classificada como advérbio, que, por definição, são palavras que modificam o sentido dos verbos, dos adjetivos e dos próprios advérbios (Cegalla, 2008CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. 48. ed. [S. l.]: Companhia Editora Nacional, 2008., p. 259). Outros dicionários também classificam o termo tanto como adjetivo quanto como advérbio, como é o caso Michaelis: Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa (2023JUNTO. In: Michaelis: Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2023. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/junto/ . Acesso em: 04 out. 2023.
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) e do Dicio, Dicionário Online de Português (2023JUNTO. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2023. Disponível em: https://www.dicio.com.br/junto/ . Acesso em: 04 out. 2023.
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).

As diferentes classificações gramaticais dadas a esse item podem ser resultado do fato de ‘junto’ possuir diversas interpretações, e poder atuar tanto no domínio nominal quanto no verbal. Como hipótese, as várias interpretações possibilitadas por ‘junto’ e suas variações, como ‘juntas’, ‘juntos’, ‘juntinho’, etc., derivam de um mesmo e único significado nuclear deste item; porém, para chegar a tal significado é necessário primeiramente investigar suas possibilidades de interpretação, bem como suas propriedades em comum e como essas interpretações estão relacionadas.

Sendo assim, o objetivo do presente texto é apresentar uma tipologia semântica das interpretações de ‘juntos’, bem como testes e contextos linguísticos que permitam isolar e identificar tais interpretações - esses serão os objetivos da primeira seção deste artigo. Nesta seção, também traremos algumas questões sobre a morfossintaxe do item que merecem estudos aprofundados. Feito isso, na segunda seção, apresentaremos algumas análises propostas para a contraparte em inglês da expressão ‘juntos’, o item together. Na sequência, buscaremos traçar uma primeira descrição teórica de ‘juntos’ e suas variações. Por fim, na Conclusão, retomaremos o caminho aqui feito, os principais resultados alcançados e alguns dos problemas em aberto.

Antes de começar, contudo, é importante apontarmos que, mesmo sendo relacionados, os itens ‘junto’ e ‘juntos’, como veremos, apresentam comportamentos diferentes, e nosso foco aqui será na forma ‘juntos’. Na Conclusão, voltaremos à questão da relação entre as formas.

Sobre as interpretações de ‘juntos’

Ao propor uma análise para o item together, uma contraparte de ‘juntos’ em inglês, Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.) apresenta ao menos cinco diferentes interpretações possíveis para esse item, que o autor nomeia como interpretação espacial (1), temporal (2), ação coordenada (3), acompanhamento social (4) e montagem2 1 Em inglês, assembly. (5). Já Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), em seu estudo The Semantics of Together, afirma que existem, no inglês, ao menos quatro interpretações diferentes para a expressão together em domínio adverbial: ação coletiva (6), ação coordenada (7), proximidade espaço-temporal (8) e proximidade temporal (9).

1)John and Mary sat together.

“John e Mary sentaram juntos.”

2)John and Mary stood up together.

“John e Mary levantaram juntos.”

3)John and Mary work together.

“John e Mary trabalham juntos”

4)John and Mary went out together.

“John e Mary saíram juntos.”

5)John put the bicycle together.

“John montou a bicicleta.”

6)The men lifted the piano together.

“Os homens levantaram o piano juntos.”

7)John and Mary climbed the mountain together.

“John e Mary escalaram a montanha juntos.”

8)John and Mary sat on the bench together.

“John e Mary sentaram no banco juntos.”

9)John and Mary took the exam together.

“John e Mary fizeram a prova juntos”

As interpretações propostas pelos autores coincidem, com exceção da interpretação de montagem, que Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) não considera, e que também não encontramos em PB3 2 Talvez seja possível encontrar essa interpretação em alguns usos do verbo ‘juntar’, mas esse tema não será explorado neste artigo. . Além disso, com exceção de (5), como as traduções sugerem, encontramos essas mesmas interpretações no PB, ainda que, como veremos, com outras denominações.

Nesse artigo, exploraremos as interpretações de ‘juntos’ no PB e suas variações, e proporemos uma primeira sistematização. Como já mencionamos, é possível encontrar a expressão ‘juntos’ tanto no domínio nominal quanto como no domínio verbal, como pode ser visto nos exemplos (10) e (11) abaixo:

10)João e Maria juntos ganham R$ 50.000,00 por ano4 3 Podemos identificar essas interpretações através, por exemplo, de um teste clivagem. Aplicado ao exemplo (9), termos “É João e Maria juntos que ganham R$ 50.000,00 por ano”. .

11)João e Maria foram para a praia juntos.

Além disso, para cada uma dessas ocorrências, nota-se que o termo ‘juntos’ pode apresentar diferentes interpretações possíveis, que abordaremos na sequência e que se relacionam com os exemplos (1)-(9) acima.

O ‘junto’ no domínio nominal e no domínio verbal

Ao modificar os sintagmas nominais da sentença, a expressão ‘juntos’ parece exercer o papel de prevenir a leitura distributiva do predicado, isto é, impede que o predicado seja interpretado como uma ação individual desempenhada por cada um dos indivíduos referidos. A mesma característica também existe para o termo together, como indicam os trabalhos de Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.) e Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.). Assim, podemos dizer, em consonância com o que Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) apresenta, retomando as ideias de Bennett (1974BENNETT, Michael Ruisdale. Some extensions of a montague fragment of english. 1974. Tese (Doutorado) - University of California, Los Angeles, 1974.), Hoeksema (1983HOEKSEMA, Jack. Plurality and conjunction. In: MEULEN, Alice G. B. (ed.). Studies in model theoretic semantics. Dordrecht: Foris Publications, 1983. p. 63-84.), Schwarzschild (1992SCHWARZSCHILD, Roger. Collectivity: Syntax and semantics of TOGETHER. In: DECKER, Paul; STOKHOF, Martin (ed.). Proceedings of the 8th Amsterdam Colloquium. Amsterdã, 1992. p. 23., 1994SCHWARZSCHILD, Roger. Plurals, presuppositions and the sources of distributivity. Natural Language Semantics, v. 2, n. 3, p. 201-248, 1994. ), e outros, que o ‘juntos’, modificando um sintagma nominal, possui um caráter antidistributivo, ou seja, força uma leitura estritamente coletiva do predicado justamente porque resulta numa unidade formada pelos participantes do evento, que acabam sendo interpretados como uma única entidade.

O exemplo (12) pode tanto ter uma interpretação distributiva (cada um dos sujeitos pesa 120 quilos) quanto coletiva (juntos, os dois sujeitos pesam 120 quilos); porém, a mesma estrutura combinada com a expressão ‘juntos’, como em (13), tem apenas a interpretação coletiva - mais uma vez, é por isso que podemos dizer que ‘juntos’ é antidistributivo:

12)João e Maria pesam 120 quilos.

13)João e Maria juntos pesam 120 quilos.

A abordagem dos autores citados por Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), em geral tomada como ponto de partida para as análises, pode ser resumida na estratégia de dizer que ‘juntos’ corresponde a algo como o expresso abaixo (exemplo adaptado de Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 292):

14)[NP juntos VP] = 1 → ∀d(d < [NP] → ¬ d ∈ [VP])

De acordo com o que temos em (14), seguindo a proposta de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) para together, uma sentença que seja composta sintaticamente por um sintagma nominal (NP), pelo item ‘juntos’ e por um sintagma verbal (VP) só será verdadeira (=1) se para todo (∀) indivíduo (d) em que o indivíduo faz parte do NP (d < [NP]), então (→) esse indivíduo não (¬) pertence (∈) ao VP. Em outras palavras, segundo tal formulação, o termo ‘juntos’ nessa posição sintática não permitiria que nenhum elemento do NP realizasse de modo individual (i.e., sozinho) o que está expresso no VP, o que, por sua vez, resultaria em seu caráter antidistributivo. Contudo, como mostraremos adiante, existem alguns casos em que o ‘juntos’, assim como a expressão together, desafiam essa descrição simples.

Por sua vez, uma interpretação adverbial de ‘juntos’ envolve modificar a interpretação do evento denotado pelo verbo da sentença de que faz parte. Sendo assim, podemos investigar as sentenças em que o ‘juntos’ atua no domínio verbal, assim como fazem Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.) e Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) para a expressão together, a partir da noção de eventos5 4 Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, sugere uma comparação sistemática entre sentenças contendo predicados coletivos, distributivos e ambíguos com e sem a presença de ‘juntos’. De fato, esta é uma tarefa importante à qual dedicaremos um outro trabalho; no presente texto, nossa intenção, num viés mais semasiológico, é entender as possibilidades de interpretação de ‘juntos’. .

Numa abordagem Davidsoniana de eventos, eles podem ser tomados como sendo mais um argumento de um predicado verbal eventivo. Assim, um predicado como ‘correr’ teria não um, mas sim dois argumentos: quem corre e o próprio evento (cf.Davidson, 1980DAVIDSON, Donald. The logical form of action sentences. Essays on actions and events. Oxford: Clarendon Press, 1980. , entre inúmeros outros; cf. Wachowicz, 2000WACHOWICZ, Teresa Cristina. Uma fundamentação da noção de evento para a lingüística. Revista Letras, Curitiba, v. 54, p. 143-160, jul./dez. 2000. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/18680 . Acesso em: 4 out. 2023
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). Com isso em mente, tomemos a sentença (15) abaixo. Nessa abordagem, temos o seguinte: há um evento e (neste caso, “ir para Campinas”), tal que João fez e e Maria fez e, e ambos fizeram isso juntos.

15) João e Maria foram para Campinas juntos.

Assim, neste exemplo, temos um único evento, realizado simultaneamente por ambos os participantes. Nos estudos sobre a expressão together no inglês é possível encontrar algumas formulações que tentam dar conta dessa propriedade que o item apresenta em domínio verbal. Uma dessas foi proposta por McCawley (1968MCCAWLEY, James. The role of semantics in a grammar. In: BACH, Emmon; HARMS, Robert T. (ed.). Universals in linguistic theory. New York: Holt, Rihehart and Winston, 1968. p. 125-170.) e retomada por Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.). Nela, o termo together, e, neste caso, a expressão ‘juntos’, forçaria o quantificador sobre eventos (∃e) a ter escopo amplo. Assim, para dar conta de uma sentença como (15), teríamos a seguinte formulação semântica (adaptada de Lasershon, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 274):

16)(∃e) (∀x ∈ {j, m}) ir-para-Campinas’(x, e)

Em prosa: há um evento de ir para Campinas, e todos os participantes do evento fazem parte do conjunto formado por João e Maria. É importante notar que a fórmula acima é bastante simplificada e não traz, por exemplo, indicação do papel temático dos participantes.

Em uma sentença como (17), por sua vez, o que temos, se pensarmos na abordagem Davidsoniana, é a seguinte descrição lógica: há um evento e (“ir para Campinas”), tal que João fez e e Maria fez e. Neste caso, apesar de ser possível que se interprete a ação da sentença como tendo sido realizada de forma coletiva, também é possível interpretá-la como dois eventos individuais em que João foi para Campinas e Maria foi para Campinas.

17)João e Maria foram para Campinas.

Sendo assim, além da formulação em (16), a sentença (17) poderia ser representada formalmente da seguinte forma (adaptada de Lasershon, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 274):

18)(∀x ∈ {j, m}) (∃e) ir-para-Campinas’(x, e)

Em prosa, de modo simplificado: para cada participante, João e Maria, há um evento de ir para Campinas.

Como podemos notar, na formulação em (18) há uma inversão na relação de escopo dos quantificadores existencial (∃) e universal (∀) se comparada com (16), o que resulta em uma interpretação distributiva, ou seja, com múltiplos eventos que envolvem os indivíduos separadamente (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 275).

Assim como ocorreu com a formulação apresentada anteriormente para a expressão together em domínio nominal, a proposta da formulação em (16) parece, segundo Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.), não dar conta de todas as ocorrências do termo em inglês. Logo, por hipótese, também é possível que tal proposta não seja satisfatória para descrever a expressão ‘juntos’ em domínio adverbial. Essa questão, no entanto, será retomada mais adiante, quanto aplicarmos sua teoria aos dados.

Os ‘juntos’ do PB

Na sequência, apresentaremos as interpretações de ‘juntos’ no PB que serão alvo de nossa investigação e que, como já adiantamos, não são adequadamente descritas pelas fórmulas que vimos acima6 5 Algumas dessas interpretações podem também ser encontradas no trabalho de Gomes (2006). .

Interpretação de combinação de elementos

A primeira das interpretações para a expressão ‘juntos’ que analisaremos é aquela que podemos chamar de “interpretação de combinação de elementos”. Neste tipo de interpretação, o papel de ‘juntos’ é resultar na formação de um novo elemento que envolve a combinação da referência dos itens sobre os quais predica.

Ao analisar o exemplo (19), podemos notar que (i) o termo ‘juntos’ combina (a denotação de) os substantivos ‘vinagre’ e ‘vinho’, e que (ii) o predicado ‘ter um gosto ruim’ se aplica apenas ao resultado da combinação desses dois elementos; em outras palavras, podemos dizer que o gosto ruim só pode ser sentido através da mistura entre os sabores do vinagre e do vinho.

19)O vinagre e o vinho juntos têm um gosto ruim.

O papel antidistributivo da expressão fica evidente quando contrastamos (19) com sua versão sem ‘juntos’, como abaixo:

(19a) O vinagre e o vinho têm um gosto ruim.

Diferentemente do exemplo (19), em que compreendemos somente que é a mistura, ou seja, a combinação dos dois elementos (vinagre e vinho), que possui um gosto ruim, no caso de (19a) também é possível interpretar a sentença de forma distributiva, como explicitado na paráfrase em (19b).

(19b) O vinho tem um gosto ruim e o vinagre tem um gosto ruim.

A interpretação de combinação de elementos também pode ser apreendida na sentença (20) abaixo:

20)A água sanitária e a amônia juntas podem causar infecções.

Assim como no exemplo em (19), em (20) a expressão ‘juntos’ agrupa os elementos “água sanitária” e “amônia”, e é o resultado da combinação que “pode causar infecções”. Além disso, assim como visto em (19a) e em (19b), remover a expressão ‘juntos’ na sentença em (20) pode fazer com que, além da interpretação coletiva, a sentença seja entendida de maneira distributiva.

(20a) A água sanitária e a amônia podem causar infecções.

(20b) A água sanitária pode causar infecções e a amônia pode causar infecções.

Interpretação de cooperação

A expressão ‘juntos’ também pode estar relacionada a uma “interpretação de cooperação”. A sentença (21) abaixo exemplifica este tipo de leitura:

21)João e Maria juntos resolveram o problema7 6 Seria possível também a construção “João e Maria resolveram o problema juntos”, com ‘juntos’ numa posição adverbial. Essa estrutura pode receber também uma interpretação temporal (cf. seção “Interpretação temporal”). Na seção “Nota sobre a sintaxe e a morfologia de ‘junto’”, discorremos brevemente sobre propriedades morfossintáticas de ‘junto’, mas elas não serão o foco deste trabalho. .

Nesse caso, continuamos a ter um mesmo evento (ou seja, o efeito antidistributivo ainda está presente), mas não podemos mais falar em combinação de elementos, por exemplo8 7 A classe acional dos predicados em jogo certamente contribui, composicionalmente, para as interpretações resultantes de ‘juntos’; porém, nenhuma nova interpretação deverá ser encontrada, ou seja, encontraremos sempre as interpretações aqui identificadas, ainda que, por exemplo, um certo tipo de interpretação seja mais tipicamente encontrada para atividades devido a suas propriedades ou traços acionais. Identificar e descrever a estrutura composicional entre classes acionais e a interpretação resultante de sua combinação com ‘juntos’ é certamente um trabalho importante e relevante, mas foge do nosso foco aqui que é descrever as interpretações possíveis para ‘junto’. O mesmo vale, mutatis mutandis, para os papéis temáticos envolvidos nas expressões nominais que completam os predicados verbais analisados. Agradecemos a um parecerista anônimos por nos chamar a atenção para esses pontos. . O que temos em (21) é uma situação em que os participantes do evento, de modo coletivo e cooperativo, solucionaram o problema. É importante notar que isso não é o mesmo que temos em (19), quando podemos falar de um composto novo, resultado da combinação de outros elementos.

Para casos como o de (21), o papel de ‘juntos’ é, simplificadamente, aumentar a quantidade de participantes para um dado evento, que desempenham o mesmo papel temático. Assim, em (21), João e Maria, como uma única entidade, são agentes do evento reportado.

Podemos também notar padrões de acarretamento ligados ao ‘juntos’ na interpretação cooperação; assim, vemos que (21) não acarreta (21a) nem (21b), o que significa que, na leitura relevante aqui, o evento de resolver o problema só pode ter sido realizado de forma cooperativa (coletiva) por João e Maria:

(21a) João resolveu o problema.

(21b) Maria resolveu o problema.

É importante destacar ainda que não são todos os predicados que possuem uma interpretação relacionada a um evento que funcionam em uma sentença em que a expressão ‘juntos’ ocorre antes do verbo. Casos, por exemplo, em que haja uma leitura temporal do predicado, não parecem ser possíveis com o ‘juntos’ precedendo o verbo, a não ser em cenários bastante elaborados e com pausas na pronúncia9 8 Voltaremos a esse tema na Conclusão. :

22)#João e Maria juntos se levantaram10 9 A estrutura “João e Maria se levantaram juntos” é claramente preferível, mas nesse caso, assim como apontamos para (21), a interpretação é temporal. .

Da mesma forma, sentenças que tenham uma interpretação espaço-temporal do predicado também não parecem permitir que a expressão ‘juntos’ esteja em uma posição anterior ao verbo, como pode ser visto em (23):

23)#João e Maria juntos estão parados no corredor.

Nos parece, então, que a ocorrência do item ‘juntos’ na interpretação cooperativa se dá, estritamente, apenas para sentenças cujo predicado esteja relacionado a um evento em que haja uma interpretação na qual os agentes podem dividir/compartilhar um papel temático11 10 Pode ser o caso que isso ocorra com predicados coletivos, mas essa é uma questão para investigações futuras. . Isso fica mais claro se pensarmos num cenário possível para (22) em que João e Maria se ajudaram mutuamente a se levantar mutuamente.

Interpretação de mensuração

Outra das interpretações possíveis para a expressão ‘juntos’ é a que denominaremos como “interpretação de mensuração”. Neste tipo de interpretação, não temos, como visto nas subseções anteriores, a criação de uma nova entidade a partir da combinação de duas outras entidades nem a coparticipação dos sujeitos em um determinado evento, mas sim uma mensuração ou uma medida, numérica ou não, que envolve os participantes, como pode ser visto na sentença abaixo:

24)João e Maria juntos ganham R$ 5.000,00 por mês.

O que temos nesta sentença é uma somatória dos valores individuais recebidos mensalmente por João e Maria, sendo que estes valores, juntos, totalizam R$ 5.000,00. Dessa forma, podemos dizer então que, neste tipo de interpretação, a função da expressão ‘juntos’ é a de (i) demonstrar que cada um dos participantes da sentença possui uma medida numérica (seja em termos de salário ou de peso, como em (13), por exemplo) e que (ii) é apenas a partir da soma dessas medidas que é possível chegar a uma interpretação coletiva, isto é, de caráter antidistributivo, do predicado (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 295).

Podemos atestar essa afirmação ao analisarmos a mesma sentença, porém, desta vez, sem a expressão ‘juntos’, como em (24a), que pode receber uma leitura distributiva, isto é, em que cada um dos sujeitos recebe, mensalmente, o valor de R$ 5.000,00, como em (24b):

(24a) João e Maria ganham R$ 5.000,00 por mês.

(24b) João ganha R$ 5.000,00 por mês e Maria ganha R$ 5.000 por mês.

Cabe destacar ainda que quando se trata de uma interpretação que leva em conta uma mensuração, não é necessário que o predicado especifique uma medida numérica em particular, podendo, ao invés disso, expressar apenas a propriedade de mensuração relevante (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 299); essa situação pode ser exemplificada por (25):

25)João e Maria juntos ganharam muitos presentes.

Em (25), mesmo que não haja uma medida numérica representativa da quantidade de presentes que João e Maria ganharam, ainda assim é possível interpretar o predicado como tendo uma propriedade de mensuração, uma vez que “há uma entidade que surge [...] no decorrer de um processo de transformação” (Gomes, 2006GOMES, Ana Paula Quadros. Todos juntos: um estudo do papel da flutuação de todos nas relações informacionais da sentença. Revista do GEL/Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, Araraquara, v. 3, p. 83-106, 2006., p. 87). Além disso, da mesma forma que no exemplo (24), aqui também o termo ‘juntos’ tem como função garantir uma leitura antidistributiva desse predicado. Assim, ao retirarmos essa expressão, como visto em (25a) estaremos, novamente, diante de uma sentença que pode ser interpretada de maneira coletiva, como em (25) e também de maneira distributiva (25b).

(25a) João e Maria ganharam muitos presentes.

(25b) João ganhou muitos presentes e Maria ganhou muitos presentes12 11 Conforme sugeriu um parecerista anônimo, é relevante controlar se os predicados verbais combinados com ‘juntos’ são preferencialmente coletivos, distributivos ou ambíguos, como, respectivamente, em (i) “João e Maria (se) deram as mãos juntos”; (ii) “João e Maria sorriram juntos”; (iii) “João e Maria viajaram juntos”. Conforme argumentaremos mais adiante, a mais abstrata das interpretações de ‘juntos’ é a temporal e é justamente nela que encontramos (ii), que deveria ser ruim com ‘juntos’ - o resultado é aceitável na interpretação de que João e Maria sorriram ao mesmo tempo, conforme é nossa previsão. A sentença (i) é aceitável, porém pode ser redundante para alguns falantes, o que também é esperado, e, se for esse o caso, a interpretação de ‘juntos’ também será a temporal. Finalmente, para (iii) temos uma interpretação espaço-temporal ou espacial, conforme prevemos. .

Interpretação espaço-temporal

A quarta interpretação que ‘juntos’ pode ter é a que denominaremos de “interpretação espaço-temporal”. Nela, o evento da sentença ocorre ao mesmo tempo para todos os participantes e, além disso, a ação descrita pelo evento é realizada em um espaço, seja ele físico ou abstrato, que é comum aos agentes do evento.

Um exemplo deste tipo de interpretação pode ser visto na sentença (26) abaixo:

26)João e Maria moram juntos.

Nesta sentença, o evento “morar junto” aciona duas leituras que são indissociáveis entre si. A primeira delas é uma interpretação espacial, uma vez que, se João e Maria moram juntos, isso indica que eles ocupam o mesmo espaço. Além disso, a sentença em (26) também evoca uma interpretação temporal, pois, se João e Maria moram juntos, significa que João mora em um local e, ao mesmo tempo, Maria também mora neste local - ou seja, com (26) temos que João e Maria moram simultaneamente no mesmo local. Sendo assim, podemos dizer que se trata de uma sentença com uma interpretação espaço-temporal.

Outro exemplo desse tipo de interpretação é a sentença em (27):

27) e Maria passaram as férias juntos.

Da mesma forma que em (26), neste exemplo, “passar as férias juntos” também pode ser interpretado como espaço-temporal, visto que aciona tanto uma leitura espacial da sentença, isto é, João e Maria passaram as férias no mesmo lugar, quanto uma interpretação temporal, em que João e Maria estavam de férias ao mesmo tempo.

Assim como as interpretações que foram apresentadas anteriormente, a interpretação espaço-temporal do item ‘juntos’ também parece ter uma característica antidistributiva que lhe é intrínseca. No entanto, neste caso, a propriedade da antidistributividade está relacionada ao evento em si, e não mais aos participantes expressos pelos sintagmas nominais. Em outras palavras, podemos dizer que, nesta interpretação, a contribuição semântica do item ‘juntos’ é indicar que se trata de um evento que ocupa um único tempo e um único espaço (contextualmente relevante), e do qual participam diferentes agentes.

A sentença (28) abaixo pode ser usada para exemplificar a expressão da antidistributividade em uma sentença com o ‘juntos’ que possui uma interpretação espaço-temporal:

28)João e Maria sentaram juntos no ônibus.

Neste exemplo, o evento “sentar juntos” é realizado por diferentes participantes, isto é, João e Maria, ou seja, há um evento de sentar que tem João como participante e um outro evento que tem Maria como participante. O ponto importante aqui é que há uma contiguidade tanto temporal quanto espacial entre esses eventos, ou seja, ao dizer que João e Maria sentaram juntos, queremos dizer que, em um determinado período de tempo, os dois participantes compartilharam o mesmo espaço (contextualmente relevante).

Olhemos agora para esta mesma sentença, mas, desta vez, sem que o termo ‘juntos’ a modifique. A interpretação que se pode ter desta sentença não parece ser a mesma que tínhamos anteriormente: uma sentença como (28a) pode ser interpretada como sendo sobre eventos separados no espaço para cada um dos participantes, como em (28b). Nesse caso, para a ação expressa pelo verbo ‘sentar’, existe um evento em que João se sentou em algum lugar (no ônibus) e outro em que Maria se sentou em algum lugar (no ônibus). Esses eventos, porém, não estão, necessariamente, relacionados a um espaço comum.

(28a) João e Maria sentaram no ônibus.

(28b) João sentou em algum lugar (no ônibus) e Maria sentou em algum lugar (no ônibus).

Interpretação temporal

A última interpretação possível para a expressão ‘juntos’ é a que chamaremos de “interpretação temporal” (ou “interpretação de simultaneidade”) e que pode ser definida como dois eventos distintos em que cada um dos participantes realiza a ação de forma independente do outro, ou seja, sem estar no mesmo espaço que o outro, mas o fazem no mesmo instante.

A sentença (29) é um exemplo que pode ser lido a partir de uma interpretação temporal:

29)João e Maria saíram de casa juntos.

Além da interpretação de que João e Maria juntos saíram de casa, ou seja, de um único evento no qual os dois desempenham um mesmo papel, (29) também pode ser interpretada como se referindo a dois eventos distintos, separados no espaço, em que João sai de sua casa e Maria da casa dela, mas ambos fazem isso num mesmo instante.

Podemos observar, também, que, assim como a leitura espaço-temporal apresentada anteriormente, essa interpretação do item ‘juntos’ também parece possuir uma característica de antidistributividade. No caso da sentença em (29), a propriedade coletiva do termo se aplica ao tempo dos eventos, e assim os eventos não se distribuem no tempo, mesmo envolvendo participantes e espaços distintos. Em uma sentença como (29a), por exemplo, poderíamos compreender, além do que é expresso em (29), algo como (29b), em que não há simultaneidade entre os eventos:

(29a) João e Maria saíram de casa.

(29b) João saiu de casa em um certo momento e Maria saiu de casa em outro momento.

Utilizar as expressões “ao mesmo tempo” ou “no mesmo instante”, é, inclusive, um dos testes que podem ser usados em uma sentença que contenha o termo ‘juntos’ como um modificador adverbial para identificar se se trata de uma sentença que tenha uma interpretação temporal. Pensemos novamente no exemplo (29): ao substituirmos o item ‘juntos’ pela expressão “ao mesmo tempo”, a interpretação relevante aqui se mantém, como em (30):

30)João e Maria saíram de casa ao mesmo tempo.

Também podemos aplicar este teste a outras sentenças, como no exemplo (31) abaixo:

31)João e Maria receberam o pagamento juntos13 12 Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, chama a atenção para o contraste entre (i) “João e Maria saíram de casa junto(s) ao mesmo tempo” e (ii) ?“João e Maria receberam o pagamento junto(s) ao mesmo tempo”. A nosso ver, (i) é aceitável e (ii) é estranha, e as razões para tanto, segundo nossa análise, são as seguintes: para o caso de (i), a sentença “João e Maria saíram de casa junto(s)” pode ter uma leitura espaço-temporal (mesma casa e mesmo tempo) ou temporal (casas diferentes, mesmo tempo); porém, a sentença “João e Maria saíram de casa junto(s) ao mesmo tempo” tem somente a interpretação espaço-temporal, ou seja, ‘juntos’ aqui versa sobre espaço e tempo, e ‘ao mesmo tempo’ versa sobre tempo, e por isso a sentença pode soar redundante, mas não é difícil imaginarmos um cenário em que ela é aceitável para perguntas específicas, por exemplo, de modo que ‘juntos’ se aplique mais ao espaço e ‘ao mesmo tempo’, ao tempo. Para o caso de (ii), ‘receber o pagamento’, em geral, não envolve necessariamente espaço, portanto a interpretação proeminente, e talvez a única disponível, seja a temporal, e, por conta disso, acrescentar ‘ao mesmo tempo’ gera uma redundância, e a sentença resulta estranha. Como podemos ver, há fatores pragmáticos que determinam as possibilidades de interpretação, mas, como veremos, a interpretação temporal (por ser a mais abstrata), caso ‘juntos’ seja aceitável, estará sempre presente. .

Se a expressão ‘juntos’ for substituída por uma construção como “no mesmo instante”, a sentença continuará tendo o mesmo tipo de interpretação, ou seja, uma interpretação temporal em que existem dois eventos, em que (i) João recebeu seu pagamento e (ii) Maria recebeu seu pagamento e que esses dois eventos ocorreram ao mesmo tempo.

32)João e Maria receberam o pagamento no mesmo instante.

Podemos usar o mesmo raciocínio, retomando uma variação do exemplo (21), para mostrar que ele tanto pode ter uma interpretação cooperativa quanto (espaço-)temporal:

(21’) João e Maria resolveram o problema juntos.

(21’a) João resolveu o problema com a Maria. - Interpretação cooperativa

(21’b) João e Maria resolveram o problema ao mesmo tempo. - Interpretação (espaço) temporal

É importante também notar que se (21’a) é verdadeira, ela não acarreta que João resolveu o problema nem que Maria resolveu o problema, como vimos anteriormente; por sua vez, (21’b) acarreta que João resolveu o problema e que Maria resolveu o problema, e que os dois fizeram isso num mesmo tempo. Esse tipo de teste permite distinguir as interpretações relevantes de cooperação e de simultaneidade.

Antes de elaborar uma análise para as interpretações apresentadas aqui, é importante discorrer sobre a sintaxe e a morfologia de ‘juntos’, ainda que não seja o foco deste artigo.

Nota sobre a sintaxe e a morfologia de ‘junto’

Com base nas sentenças apresentadas nas seções anteriores, podemos perceber que o item ‘juntos’ é capaz de modificar tanto nomes em posição sintática de sujeito quanto verbos. Além dessas ocorrências, ‘junto’ também pode ocorrer em posição de objeto, como abaixo:

33)João conversou com Pedro e Maria juntos. - espaço-temporal

34)João bebeu água e vinho juntos. - combinação

35)João viu Pedro e Maria juntos. - (espaço-)temporal

As interpretações resultantes, contudo, como é esperado, se enquadram nas possibilidades que apresentamos acima. Ou seja, a variação sintática de ‘juntos’ pode ter como consequência diferentes escopos e interpretações, mas dentro das possibilidades já aventadas. Por isso, em (33), ‘juntos’ tem uma interpretação espaço-temporal, uma interpretação de composição em (34), e uma interpretação espaço-temporal ou temporal em (35).

Além disso, como apontamos brevemente nas seções “Interpretação de cooperação” e “Interpretação temporal”, é possível mover o termo ‘juntos’ para outras posições sintáticas da sentença. Nestes casos, é possível que a interpretação da sentença mude, mas, ainda assim, a nova leitura ainda estará dentro do escopo das cinco interpretações possíveis para o item.

Além do que apontamos no exemplo (21), podemos exemplificar esse fenômeno tomando como base a sentença (34). Nela, é possível alterar a posição sintática do item ‘juntos’, como em (34a); o resultado de tal alteração é uma leitura temporal, i.e. João bebeu ao mesmo tempo água e vinho14 13 Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, propôs a abordagem de algumas considerações sobre as diferentes posições sintáticas em que o item ‘junto’ pode ocorrer e quais são as mudanças decorrentes desse processo. Ainda que não seja esse o foco do artigo, acatamos tal sugestão, com vistas a apresentar aos leitores um breve exemplo desse fenômeno. .

(34a) João bebeu juntos água e vinho - Interpretação temporal

Não nos parece, porém, que a posição sintática de ‘juntos’ pode ser alterada em todas as sentenças em que ocorre. No exemplo (33), para citar um caso, não é possível que mudemos a posição em que o termo aparece sem tornar a sentença agramatical ou estranha.

O que fica evidente ao analisarmos essas questões é que não parece possível apontar uma função sintática específica para o ‘juntos’ no PB. Isso porque, como vimos, o item pode ocorrer em diferentes posições sintáticas e modificar diferentes itens a depender de sua distribuição15 14 Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, sugeriu que, ainda que o foco do artigo esteja na semântica do item ‘juntos’, é importante mostrar que, em uma análise sintática, apontar a função da expressão não é uma tarefa simples. .

O item ‘junto’ também apresenta outras características interessantes, como, por exemplo, a distinção entre forma singular e plural. Os exemplos (36) e (37) abaixo apresentam a mesma estrutura e os mesmos itens lexicais, mas enquanto em (36) o evento é modificado pelo item ‘junto’ em sua forma singular, o exemplo (37) é modificado pela forma flexionada no plural, e, por sua vez, as duas sentenças parecem ter interpretações diferentes. Em (36), a sentença pode ser interpretada de forma temporal, ou seja, em que existem dois eventos que ocorrem ao mesmo tempo, mas não necessariamente no mesmo espaço, como, por exemplo, em uma situação em que João e Maria saíram de lugares diferentes, mas fizeram isso ao mesmo tempo. Já o exemplo (37) parece ter uma interpretação com traços espaço-temporais, isto é, em que João e Maria, além de compartilharem o mesmo tempo, compartilharam também o mesmo espaço, i.e. João e Maria foram a um encontro um com o outro.

36)João e Maria saíram juntos.

37)João e Maria saíram junto.

Ainda sobre a distinção entre ‘juntos’ e ‘junto’, uma sentença como “O sofá está/fica junto/*juntos da parede” aceita apenas a forma ‘junto’, e o resultado é uma interpretação eminentemente espacial. Porém, notamos que tal interpretação cabe na descrição que oferecemos para essa interpretação, lembrando que podemos ter uma interpretação exclusivamente temporal (i.e., que envolve participantes que estão em lugares diferentes), mas sempre que temos uma interpretação espacial, ela também será temporal, ou seja, dois indivíduos estão (relevantemente) num mesmo espaço (contíguo) se isso ocorrer num mesmo tempo.

Como adiantamos, não exploraremos a fundo as variações morfossintáticas de ‘junto’, apenas notaremos essas possibilidades, e o fato de que, seja qual for a configuração morfossintática, a interpretação resultante será uma das que apontamos nas seções anteriores. Uma exploração desse tópico ficará para trabalhos futuros.

Propriedades das interpretações de ‘juntos’

Vimos, até aqui, que existem pelo menos cinco interpretações diferentes para sentenças modificadas pelo item ‘juntos’. Apesar de todas elas terem uma característica em comum, a saber, a antidistributividade, cada uma das interpretações apresentadas possui propriedades semânticas particulares que as distinguem umas das outras. A interpretação de combinação, por exemplo, tem como característica principal a criação de uma nova entidade a partir da combinação de dois elementos distintos. A interpretação espaço-temporal, por sua vez, apresenta uma relação de contiguidade no espaço e no tempo em que o evento se realiza.

Com base nas descrições e nos exemplos apresentados, sistematizamos, na Quadro 1 abaixo, as principais características semânticas das diferentes interpretações.

Quadro 1.
Propriedades das interpretações do item ‘juntos’

Análises prévias

Para além das análises sintetizadas nas fórmulas apresentadas nos exemplos (14) e (16), existem duas outras propostas de análise semântica mais robustas para a contraparte em inglês da expressão ‘juntos’, o item together, sobre as quais falaremos a seguir. Primeiramente, porém, falaremos brevemente sobre os motivos que fazem com que as propostas apresentadas anteriormente, e retomadas abaixo, não funcionem para o together nem para o ‘juntos’ no PB.

(14’) [NP junto VP] = 1 → ∀d(d < [NP] → ¬ d ∈ [VP])

(16’) (∃e) (∀x ∈ {j, m}) ir-para-Campinas’(x, e)

Ao falar sobre a formulação apresentada em (14), Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 292, tradução nossa16 15 “One such problem is that such an analysis does not provide a way of accounting for adverbial together” (Moltmann, 2004, p. 292). ) afirma que “um dos problemas é que tal análise não fornece uma maneira de contabilizar o together adverbial”. Isso porque, em tal formulação, o papel do together é o de modificar os SNs que ocorrem em posição de sujeito e atribuir-lhes a propriedade da antidistributividade. No PB, tal proposta também não dá conta de explicar adequadamente o item ‘juntos’, uma vez que, assim como no inglês, ele também pode modificar eventos e não apenas sintagmas nominais. Além disso, essa formulação não parece dar conta de sintagmas nominais que ocorrem na posição de objeto como ocorre em certas sentenças do PB, como visto nos exemplos (33)-(35).

Por sua vez, a formulação apresentada em (16) também não parece funcionar para todas as ocorrências do together, pois esse tipo de análise não oferece os resultados corretos quando há diferenças semânticas como as apresentadas nas sentenças abaixo (exemplos tirados de Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 276), em que a alteração na posição sintática do termo faz com que também haja mudanças nas interpretações resultantes:

John and Mary together moved all the sofas.

“John e Mary juntos moveram todos os sofás.”

John and Mary moved all the sofas together.

“John e Mary moveram todos os sofás juntos.”

Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 275, tradução nossa17 16 “[...] a situation where John moved some of the sofas and Mary moved the rest” (Lasersohn, 1998, p. 275). ) afirma que, enquanto a sentença em (38) pode ser interpretada como “uma situação em que John moveu alguns dos sofás e Mary moveu o resto”, (39), por sua vez, é “mais naturalmente interpretada como significando que John e Mary contornaram cada sofá e os moveram de maneira coletiva” (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 275, tradução nossa18 17 “[...] more naturally interpreted as meaning that John and Mary went around to each sofa and moved it collectively” (Lasersohn, 1998, p. 275). ).

Como no PB também é possível que o ‘juntos’ ocupe as mesmas posições sintáticas que a expressão together nos casos (38) e (39), ainda que com interpretações diferentes19 18 No PB, a sentença em (38) parece possuir uma interpretação de cooperação. A sentença (39), por outro lado, pode ser interpretada a partir de uma leitura espaço-temporal. , podemos concluir que a formulação em (16) também não seria satisfatória para descrever esse item.

Dado que essas propostas iniciais não dão conta dos dados, apresentaremos as alternativas de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) e Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.) para o together.

Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 289-290, tradução nossa20 19 “[…] inducing a cumulative numerical measurement of the group together relates to” (Moltmann, 2004, p. 289 - 290). ), propõe que, em domínio adnominal, a função desempenhada pelo item together seria a de “induzir a uma mensuração numérico-cumulativa do grupo com o qual o termo se relaciona”. Em outras palavras, em uma sentença em que o termo together modifique o sintagma nominal, a expressão não tem a função de prevenir que o predicado possa ser interpretado de forma distributiva, como é proposto na formulação (14), uma vez que, como demonstra a autora, o termo pode se comportar de forma diferente do que é esperado de um marcador antidistributivo, já que não funciona com todo e qualquer predicado que permita, a princípio, tanto uma leitura coletiva quanto distributiva, e, quando funciona, nem sempre há a leitura coletiva que se espera da expressão (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 294). Esse fato pode ser demonstrado por together não poder se combinar com predicados que, em princípio, permitam uma leitura coletiva ou uma distributiva (exemplos tirados de Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 294):

40)* John and Mary together were carrying the box.

“João e Maria juntos estavam carregando a caixa.”

41)* John and Mary together are writing an article.

“João e Maria juntos estão escrevendo um artigo.”

Para a autora, o efeito antidistributivo que notamos para o together nas seções acima não pode ser a base do funcionamento desse item, justamente devido aos exemplos (40) e (41) do inglês21 20 É importante notar que, ao traduzir as sentenças (40) e (41) para o PB, não compartilhamos da intuição de Moltmann (2004), ou seja, para nós as versões de (40) e (41) do PB são aceitáveis, ainda que sejam melhores com ‘juntos’ movido para uma posição pós-verbal. Isso, obviamente, não invalida a possibilidade de que a interpretação antidistributiva seja resultado de alguma outra característica semântica de ‘juntos’, apenas mostra que esse argumento, em princípio, não parece se sustentar para o PB. . Além disso, together adnominal “também é possível em certos predicados que permitem apenas uma leitura coletiva” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 294, tradução nossa22 21 “[...] is possible also with certain predicates that only have a collective reading” (Moltmann, 2004, p. 294). ). Ou seja, a interpretação antidistributiva deve ser o resultado de alguma outra propriedade semântica de together e, como mostraremos na seção seguinte, o mesmo se aplica para o ‘juntos’.

Dessa forma, a função do item, segundo a autora, seria, na verdade, a de promover uma mensuração que leve em conta as medidas expressas para cada um dos participantes da sentença (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 295) ou, em outras palavras, a de ser “um quantificador que reforça a leitura [...] de medição do predicado” (Gomes, 2006GOMES, Ana Paula Quadros. Todos juntos: um estudo do papel da flutuação de todos nas relações informacionais da sentença. Revista do GEL/Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, Araraquara, v. 3, p. 83-106, 2006., p. 85). Sendo assim, em uma sentença como (42) (exemplo tirado de Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 289), together desempenha dois papéis, que são (i) implicar que John e Mary têm pesos individuais e (ii) indicar que é a soma dos pesos de John e Mary que resulta em 200 libras.

42)John and Mary together weigh 200 pounds.

“John e Mary juntos pesam 200 libras.”

Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 296) propõe a seguinte formulação lógica para o together adnominal:

43) Para uma função de medida aditiva f com a estrutura (D, \/), para um conjunto de entidades D, para a estrutura (R, +), para um conjunto de números reais R, para qualquer mundo w e tempo t, e entidades dD e nR, <d, n, f> ∈ TOGETHERw,t sse f(d) = n.23 22 No original: “For an additive measurement function f from the structure (D, \/), for a set of entities D, to the structure (R, +), for a set of real numbers R, for any world w and time t, and entities d ∈ D and n ∈ R, <d, n, f> ∈ TOGETHERw,t iff f(d) = n.”.

Nessa formulação, existe uma função de medida aditiva24 23 Segundo Moltmann (2004), que, por sua vez, retoma Krifka (1990), uma função de medida aditiva f é aquela que se aplica a entidades que não se sobrepõem. Este tipo de função pode ser definido através da seguinte fórmula, em que ∘ explicita a relação de sobreposição (mereológica): (i) uma função de medida f é aditiva se e somente se ¬ x ∘ y & f(x) = n & f(y) = m → f(x ∨ y) = n + m Ou seja, uma função de medida é aditiva se, e somente se, ao se aplicar a duas entidades x e y que não sobrepõem e que medem n e m respectivamente, o resultado de f aplicado a x e y será n+m. f, um conjunto de indivíduos D e os números reais R e a operação de soma (+), de modo que para um dado mundo w e tempo t qualquer, para toda entidade d que pertence a D, e para toda entidade de mensuração n que pertence a R, os elementos d, n e f estão na relação expressa por together se e somente se a função de medida f aplicada à entidade em d resulta em n.

Sendo assim, a sentença (42) pode ser descrita, segundo Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 296), a partir da fórmula lógica em (44), na qual o primeiro conjunto apresenta o significado da sentença sem a presença da expressão together (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 296). Já o segundo conjunto “representa a contribuição semântica que é específica do together” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 296, tradução nossa25 24 “[...] represents the specific semantic of together” (Moltmann, 2004, p. 296). ). Sendo assim, o que está expresso em (44) é que John e Mary pesam 200 libras, seja de forma coletiva ou individual e que a soma do peso de John e do peso de Mary equivale a 200 libras (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 296).

44)weigh 200 pounds (j \/ m) & together (j \/ m, 200, 𝜆x[weigh (x)])

A vantagem da descrição proposta por Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), se comparada àquela em (14), que toma como base as ideias de Bennett (1974BENNETT, Michael Ruisdale. Some extensions of a montague fragment of english. 1974. Tese (Doutorado) - University of California, Los Angeles, 1974.), Hoeksema (1983HOEKSEMA, Jack. Plurality and conjunction. In: MEULEN, Alice G. B. (ed.). Studies in model theoretic semantics. Dordrecht: Foris Publications, 1983. p. 63-84.), Schwarzschild (1992SCHWARZSCHILD, Roger. Collectivity: Syntax and semantics of TOGETHER. In: DECKER, Paul; STOKHOF, Martin (ed.). Proceedings of the 8th Amsterdam Colloquium. Amsterdã, 1992. p. 23., 1994SCHWARZSCHILD, Roger. Plurals, presuppositions and the sources of distributivity. Natural Language Semantics, v. 2, n. 3, p. 201-248, 1994. ) e outros, é que, com algumas modificações, ela também pode ser usada para descrever o funcionamento do together em domínio adverbial. Isso porque, para a autora, “quando ocorre em posição adverbial, together tem o mesmo significado lexical que tem em posição adnominal, mas possui argumentos diferentes” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 310, tradução nossa26 25 “When occurring in adverbial position, together has the same lexical meaning it has in adnominal position, but it will take different arguments” (Moltmann, 2004, p. 310). ), pois, enquanto em domínio adnominal a função do together é a de explicitar que a soma das medidas dos membros do grupo (com relação a algo) produz a noção de mensuração expressa pelo predicado, em posição adverbial o termo é responsável por especificar que “a soma de um evento composto por subeventos nos quais os membros do grupo contribuem deve ser um todo integrado.” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 311, tradução nossa27 26 “[...] the sum event composed of the subevents that the members contribute must be an integrated whole” (Moltmann, 2004, p. 311). ).

A partir disso, Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 311), propõe a seguinte formulação, que retoma aquela em (43), mas realiza algumas alterações, para dar conta do funcionamento do together em domínio adverbial:

45)Para um função de medida aditiva intensional f com a estrutura (D, \/), para um conjunto de entidades D, para uma estrutura (R, +), para um conjunto de objetos R, para qualquer propriedade S de objetos em R, para qualquer mundo w e tempo t, e qualquer entidade dD, <d, f, S> ∈ TOGETHERw,t iff f(d) ∈ S w,t.28 27 No original: “For an intensional additive measure function f from the structure (D, \/), for a set of entities D, to the structure (R, +), for a set of real numbers R, for a property S of real numbers, for any world w and time t, and any object d ∈ D, <d, f, S> ∈ TOGETHERw,t iff f(d) ∈ S w,t.”.

Essa proposta envolve uma função de medida aditiva intensional29 28 De acordo com Moltmann (2004, p. 311), baseada na tradição davidsoniana, a função de medida aditiva intensional f é um dos argumentos de together e tem como papel mapear entidades para os subeventos dos quais elas são agentes e que, por sua vez, formam um evento que pode ser entendido como um todo integrado. A necessidade de “intensionalizar” a função de medida tem a ver com capturar propriedades aspectuais e temporais dos eventos. f, um conjunto de indivíduos D, um conjunto de objetos R, e uma propriedade S sobre R, de modo que para um dado mundo w e tempo t qualquer, e para toda entidade d que pertence a D, os elementos <d, f, S> pertencem à relação denotada por together se a medida f aplicada a d pertence à propriedade S de R. Ou seja, para que os indivíduos se combinem com together, eles devem ser medidos segundo alguma propriedade.

Não nos parece, no entanto, que a abordagem de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) possa ser aplicada à expressão ‘juntos’ no PB. A formulação em (43) que busca dar conta do together em domínio adnominal funcionaria, quando se trata do item ‘juntos’, apenas para a interpretação de mensuração que, assim como visto no exemplo (42) no inglês, tem como característica principal a somatória de medidas individuais cujo resultado só pode ser interpretado coletivamente. As interpretações de combinação e de cooperação, que, por sua vez, não possuem essa propriedade, não são capturadas por essa formulação.

O mesmo ocorre para a formulação em (45), que explicita o funcionamento do together quando em domínio adverbial. Apesar de satisfazer as interpretações propostas por Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), que foram apresentadas no início deste artigo, nos exemplos (6)-(9), tal proposta não parece ser capaz de capturar as interpretações do ‘juntos’ no PB, uma vez que, diferentemente da propriedade que a autora propõe para as leituras adverbiais de together no inglês, nenhuma das interpretações do PB possui a propriedade de somar diferentes subeventos em que cada um dos participantes contribui, criando, assim, um único evento que se comporta como um todo integrado. Parece-nos, porém, que tal formulação seria capaz de dar conta da interpretação de cooperação que o ‘juntos’ pode ter, já que tal interpretação tem como principal característica a união dos participantes da ação para que esta seja realizada coletivamente; ainda assim, teríamos que considerar que “João e Maria resolveram o problema juntos” envolve (sub)eventos somados que resultam num único evento, e talvez a interpretação mais natural para uma sentença como essa é a de que os participantes atuaram em conjunto por todos os (sub)eventos relevantes, e não que haja subeventos ligados exclusivamente a um outro participante. Além disso, a interpretação que envolve simultaneidade temporal entre dois eventos distintos, como em “João e Maria saíram juntos” (cada um de sua casa, mas ao mesmo tempo), também não é capturada pela proposta de Moltmann (2004)30 29 De fato, Moltmann (2004, p. 314-314) reconhece a dificuldade em unificar as interpretações de together, e propõe modificações em sua proposta, mas sem abrir mão de que há uma medida associada à somatória realizada por together. A nosso ver, sua saída ainda não dá conta de explicar os usos de combinação, mesmo aproximando tal interpretação, como sugere a autora, de uma interpretação adverbial. .

Diferentemente de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) e de sua proposta de mensuração, Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.), sugere que a melhor forma de descrever o together é com base na noção de estrutura e composição de eventos. Mas, ao invés de uma formulação baseada em escopo como a que foi apresentada inicialmente em (16) e (18), o autor parte para uma proposta de caráter mais complexo e que seria capaz de dar conta de mais ocorrências da expressão. Para isso, ele apresenta a seguinte formulação (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286)31 30 É importante notar que, na fórmula em (46), “P g ” se refere à restrição de P a subgrupos de g, como definido a seguir: x ∈ P g (e) sse x ⊆ g & x ∈ P(e). :

46)together’ = 𝜆P𝜆e𝜆g[P(e)(g) & ∀e’, e’’e [[∃xP(e’)(x) & ∃x P(e’’)(x)] → P g (e’) ∘ P g (e’’)]]

Para Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.), o que faz com que a formulação em (46) seja mais eficiente para descrever as propriedades de together é o fato de que ela busca definir a expressão a partir da noção de sobreposição de eventos, através da qual seria possível “entendermos que dois conjuntos se sobrepõem se, e somente se, eles tiverem uma intersecção que não é vazia” (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286, tradução nossa32 31 “[...] we understand two sets to overlap iff they have a non-empty intersection” (Lasersohn, 1998, p. 286). ). Assim, o que a formulação expressa no exemplo (46) sugere é que

um grupo g junto tem a propriedade P em um evento e se, e somente se, g possuir P em e, e em quaisquer duas partes e’, e’’ de g nas quais alguma coisa possui a propriedade P, os subgrupos de g que têm P em e’ se sobrepõem aos subgrupos de g que têm P em e’’ (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286, tradução nossa33 32 “A group g together has property P in eventuality e iff g has P in e, and in any two parts e', e" of e in which something has property P, the subgroups of g which have P in e' overlap the subgroups of g that have P in e"” (Lasersohn, 1998, p. 286). ).

Dessa maneira, além de dar conta dos mesmos casos que a proposta em (16) e de sentenças como (38), esta formulação, baseada no conceito de estrutura de eventos, também seria capaz de dar conta de sentenças com uma complexidade semântica maior, como é o caso do exemplo abaixo (exemplo tirado de Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286):

47)John and Mary together lifted between two and four pianos.

“John e Mary juntos ergueram entre dois e quatro pianos.”

Nesta sentença, de acordo com Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286-287), em ambas as partes de e, a saber, e’ e e’’, o grupo formado por John e Mary faz parte do conjunto que levanta entre dois e quatro pianos, o que faz com que as duas partes (e’ e e’’) se sobreponham e façam com que a sentença seja verdadeira ao considerar o evento de levantar entre dois e quatro pianos.

No PB, essa proposta também não parece dar conta de todas as interpretações do item ‘juntos’ que vimos. Mais uma vez, as interpretações de combinação, de contiguidade espaço-temporal e simultaneidade não podem ser capturadas por uma formulação como (46).

Uma vez que as teorias de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) e Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.) não parecem satisfatórias para lidar com a expressão ‘juntos’, é importante buscar uma proposta que funcione para pelo menos descrever o comportamento desse item em PB. Sendo assim, nos dedicaremos, na seção seguinte, a construir uma proposta inicial que dê conta de explicar o comportamento do ‘juntos’ no português brasileiro.

Uma proposta para o termo ‘juntos’

Considerando os dados do PB e as intuições por trás das análises de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) e Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.), que são, respectivamente, mensuração e sobreposição de eventos, uma ideia aparentemente interessante e simples para lidar com ‘juntos’ é pensar que ele efetua algum tipo de soma de entidades, que resulta num grupo, uma intuição encontrada também em Gomes (2006GOMES, Ana Paula Quadros. Todos juntos: um estudo do papel da flutuação de todos nas relações informacionais da sentença. Revista do GEL/Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, Araraquara, v. 3, p. 83-106, 2006., p. 86), ao afirmar que ‘junto(s)’ “nos obriga a interpretar o resultado como fruto da soma das contribuições das entidades reunidas”. Na verdade, podemos considerar inclusive que a ideia de somatória e formação de grupos, como definiremos aqui, é abrangente o suficiente para capturar casos como sobreposição e mensuração conjunta, e também para lidar com a interpretação antidistributiva comumente associada ao item ‘juntos’; a antidistributividade seria, na verdade, não o núcleo de significado de ‘juntos’, mas o resultado de aplicar o predicado somente à soma (ou grupo) resultante da aplicação de ‘juntos’.

Essa hipótese parece funcionar, como veremos ao longo desta seção, tanto para as interpretações que lidam com entidades concretas, reais, quanto para leituras que tratam de dimensões mais abstratas. Além disso, em todos estes casos, podemos dizer que o produto obtido pela soma (combinação), justaposição ou simultaneidade (indo do caso mais concreto para o mais abstrato) de dois ou mais elementos é sempre um todo integrado. A soma que consideramos aqui tem inspiração na soma mereológica em que diferentes indivíduos são somados para resultar num único indivíduo numa dada dimensão. Em resumo, a ideia é que “A e B juntos” resulta (i) num grupo formado por A+B de modo que fazem parte de uma entidade que resulta da combinação de A e B (interpretação de combinação), ou (ii) num evento em que A e B participam cooperativamente (ou seja, sem A e B não temos o evento, que é a interpretação de cooperação), ou (iii) num valor somente alcançado mediante a soma de uma medida associada a A e B (mensuração), ou (iv) numa localização l (num tempo t) na qual se encontra a soma da localização de A e de B, ou (v) num momento de tempo t no qual se encontra a soma dos tempos de dois eventos em que participam A e B. Vejamos isso com mais detalhes abaixo.

Pensemos na primeira interpretação apresentada neste artigo, a saber, a interpretação de combinação de elementos. Nela, o termo ‘juntos’ é responsável por combinar duas ou mais entidades que resultam em uma terceira entidade, diferentes das duas primeiras, e é sobre a denotação desse resultado que o predicado principal da sentença atua. Ou seja, em uma sentença como aquela apresentada no exemplo (20), que retomamos aqui, o predicado “podem causar infecções” não atua sobre cada uma das entidades da sentença, a água sanitária e a amônia, mas sim sobre o produto que resulta da junção destes dois elementos.

(20) A água sanitária e a amônia juntas podem causar infecções.

A segunda interpretação possível, que chamamos de interpretação de cooperação, também parece funcionar de acordo com nossa hipótese de que o item ‘juntos’realiza uma soma ou junção de entidades. Neste caso, o que é somado é a participação dos membros que realizam o evento, fazendo com que a sentença seja interpretada coletivamente. Podemos dizer, então, que no exemplo (21), que reproduzimos abaixo, a ação de “resolver o problema juntos” só é possível a partir da junção da participação de João e da participação de Maria para a resolução do problema; esse fato é atestado pelos padrões de inferência que exploramos na seção “Interpretação de cooperação”.

(21) João e Maria juntos resolveram o problema.

A interpretação de mensuração, por sua vez, é aquela que melhor exemplifica a propriedade de soma que o item ‘juntos’ parece ter. Isso porque, como dissemos anteriormente, neste tipo de interpretação, é apenas a partir da soma das medidas externas dos participantes da sentença que pode atuar o predicado principal da sentença. Assim, em um exemplo como (24), que aqui retomamos, só podemos interpretar o predicado “ganham R$ 5.000,00 por mês”, se considerarmos que João tem um salário x e Maria tem um salário y e que é a soma desses dois valores que resulta em R$ 5.000,00.

(24) João e Maria juntos ganham R$ 5.000,00 por mês.

Da mesma forma, se pensarmos em uma sentença como (25), em que não há uma medida numérica representativa, também encontraremos a propriedade de soma da expressão ‘juntos’. Isso porque no predicado “ganharam muitos presentes”, só podemos compreender que João e Maria ganharam uma grande quantidade de presentes pois há uma soma, uma junção, entre o número de presentes ganho por João e o número ganho por Maria.

(25) João e Maria juntos ganharam muitos presentes.

A interpretação de contiguidade espaço-temporal, exemplificada pela sentença (26) repetida abaixo, também pode ser entendida como uma soma. No caso, somamos estágios de indivíduos localizados espaço-temporalmente; assim, uma paráfrase para (26) seria algo como: durante o tempo t, o espaço l1 ocupado por João é contíguo ao espaço l2 ocupado por Maria.

(26) João e Maria moram juntos.

Note que nesse caso, temos uma interpretação bem mais abstrata do que no caso dos exemplos (20) e (24), pois aqui a soma não envolve indivíduos ou valores numa escala, mas sim posições no espaço num dado tempo. O resultado, contudo, é similar, pois os espaços ocupados por João e Maria, num certo tempo, ao morarem juntos, se somam e consideramos um único espaço resultante.

A interpretação de simultaneidade temporal é um passo a mais nesse caminho de abstração, pois agora não se leva em conta o espaço, mas apenas o tempo, como pode ser ilustrado por (29), repetida abaixo:

(29) João e Maria saíram de casa juntos.

O raciocínio por trás de (29), segundo uma ideia de soma, é o seguinte: temos dois eventos distintos, que envolvem participantes e localizações distintas, e não envolvem escala; sendo assim, como ‘juntos’ pode atuar e efetuar uma soma? A única possibilidade é atuar sobre o tempo dos eventos, e a operação de soma aqui se dá sobre o tempo de realização dos eventos - como eles não são contíguos, a soma possível se dá como sobreposição, ou seja, os eventos são somados num mesmo tempo, e assim interpretamos que eles ocorrem simultaneamente.

Em resumo, nossa proposta é que soma (mereológica) é a função básica de ‘juntos’, que resulta num grupo (i.e., dois ou mais indivíduos relacionados por alguma propriedade, como fazer parte de algo (um objeto ou um evento) ou dividir uma localização e/ou um tempo), que se manifesta em diferentes dimensões indo do concreto (físico) para o abstrato: quando não podemos literalmente compor ou somar, fazemos essa composição ou soma em dimensões mais abstratas, como a participação num evento (cooperação), a soma de dimensões externas (peso, salário), a soma/justaposição espaço-temporal, e por fim a justaposição estritamente temporal34 33 A intuição de que ‘junto’ (e together) envolve soma e diferentes entidades como argumento também se encontra, como mencionamos, em Moltmann (2004) e Gomes (2006), porém, nossa contribuição, entre outras coisas, associa essas diferentes entidades a uma escala de abstração, identificando por ela o significado básico de ‘junto’. .

Essa ideia não só dá conta dos exemplos apresentados, mas também, como notamos, pode embasar as intuições de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) e Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.), além da intuição de antidistributividade: ‘juntos’ resulta numa soma e é sobre ela que falamos, por isso não podemos distribuir um predicado pelos indivíduos que participam da soma. Por exemplo, a sentença (48) abaixo não é verdade se Pedro viu apenas o João ou apenas a Maria sair, mas sim se Pedro viu ambos saírem, e essas saídas se deram simultaneamente:

48)Pedro viu João e Maria saíram juntos35 34 Estamos desconsiderando aqui uma interpretação espacial, que é também possível. .

Conclusão

A investigação preliminar que empreendemos neste artigo trouxe à luz algumas características sobre o item ‘juntos’ que ainda não haviam sido estudadas e que merecem aprofundamento.

Nossa primeira evidência foi a de que, no português brasileiro, a expressão ‘juntos’ parece ter, ao menos, cinco interpretações possíveis, cada qual com suas propriedades particulares. Além disso, em todas as leituras que o termo pode ter no PB, a característica antidistributiva, que é característica do item, está presente.

Vimos também que existem casos, como o apresentado no exemplo (22) para a interpretação de cooperação, em que certas sentenças com o item ‘juntos’ só parecem funcionar quando fazem parte de um contexto bastante elaborado e quando sua pronúncia é feita de forma bastante específica para que se encaixem em uma determinada interpretação. Apesar de não ser o foco deste estudo, tal característica merece ser investigada com mais atenção em trabalhos futuros.

Outra contribuição deste texto foi argumentar que as formulações propostas por autores que investigaram a contraparte do item no inglês, a saber, o termo together, não parecem funcionar para o item ‘juntos’ no PB. Tanto a abordagem de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), baseada em um conceito de mensuração, quanto a de Lasersohn (1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292.), que propõe uma análise pautada na sobreposição de eventos, não dão conta de todas as interpretações do item ‘juntos’, trazendo à tona, então, a necessidade de pensar em uma outra forma de analisar o termo.

Dessa maneira, elaboramos uma primeira hipótese para explicar o termo ‘juntos’, que se fundamenta na ideia de que a expressão efetua uma soma entre entidades nas sentenças que são modificadas pelo item. Além de dar conta de todas as interpretações apresentadas durante o artigo, tal proposta também parece abranger o caráter antidistributivo ligado ao item.

Ainda existem, porém, muitas questões que carecem de investigação no que diz respeito ao item ‘junto(s)’, como uma análise aprofundada de suas características morfológicas e sintáticas, que aqui foram brevemente abordadas, a análise de propriedades pragmáticas que influenciam na decisão sobre uma interpretação ser, por exemplo, espaço-temporal ou temporal, e também a construção de uma formalização para sua contribuição. Apesar das questões em aberto necessárias para produzir uma análise mais robusta do termo, acreditamos que o presente trabalho traga uma contribuição importante para a investigação de ‘juntos’ no PB.

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    » https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/18680
  • *
    Este artigo é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), processo nº 2023/03663-2.
  • 1
    Em inglês, assembly.
  • 2
    Talvez seja possível encontrar essa interpretação em alguns usos do verbo ‘juntar’, mas esse tema não será explorado neste artigo.
  • 3
    Podemos identificar essas interpretações através, por exemplo, de um teste clivagem. Aplicado ao exemplo (9), termos “É João e Maria juntos que ganham R$ 50.000,00 por ano”.
  • 4
    Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, sugere uma comparação sistemática entre sentenças contendo predicados coletivos, distributivos e ambíguos com e sem a presença de ‘juntos’. De fato, esta é uma tarefa importante à qual dedicaremos um outro trabalho; no presente texto, nossa intenção, num viés mais semasiológico, é entender as possibilidades de interpretação de ‘juntos’.
  • 5
    Algumas dessas interpretações podem também ser encontradas no trabalho de Gomes (2006GOMES, Ana Paula Quadros. Todos juntos: um estudo do papel da flutuação de todos nas relações informacionais da sentença. Revista do GEL/Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, Araraquara, v. 3, p. 83-106, 2006.).
  • 6
    Seria possível também a construção “João e Maria resolveram o problema juntos”, com ‘juntos’ numa posição adverbial. Essa estrutura pode receber também uma interpretação temporal (cf. seção “Interpretação temporal”). Na seção “Nota sobre a sintaxe e a morfologia de ‘junto’”, discorremos brevemente sobre propriedades morfossintáticas de ‘junto’, mas elas não serão o foco deste trabalho.
  • 7
    A classe acional dos predicados em jogo certamente contribui, composicionalmente, para as interpretações resultantes de ‘juntos’; porém, nenhuma nova interpretação deverá ser encontrada, ou seja, encontraremos sempre as interpretações aqui identificadas, ainda que, por exemplo, um certo tipo de interpretação seja mais tipicamente encontrada para atividades devido a suas propriedades ou traços acionais. Identificar e descrever a estrutura composicional entre classes acionais e a interpretação resultante de sua combinação com ‘juntos’ é certamente um trabalho importante e relevante, mas foge do nosso foco aqui que é descrever as interpretações possíveis para ‘junto’. O mesmo vale, mutatis mutandis, para os papéis temáticos envolvidos nas expressões nominais que completam os predicados verbais analisados. Agradecemos a um parecerista anônimos por nos chamar a atenção para esses pontos.
  • 8
    Voltaremos a esse tema na Conclusão.
  • 9
    A estrutura “João e Maria se levantaram juntos” é claramente preferível, mas nesse caso, assim como apontamos para (21), a interpretação é temporal.
  • 10
    Pode ser o caso que isso ocorra com predicados coletivos, mas essa é uma questão para investigações futuras.
  • 11
    Conforme sugeriu um parecerista anônimo, é relevante controlar se os predicados verbais combinados com ‘juntos’ são preferencialmente coletivos, distributivos ou ambíguos, como, respectivamente, em (i) “João e Maria (se) deram as mãos juntos”; (ii) “João e Maria sorriram juntos”; (iii) “João e Maria viajaram juntos”. Conforme argumentaremos mais adiante, a mais abstrata das interpretações de ‘juntos’ é a temporal e é justamente nela que encontramos (ii), que deveria ser ruim com ‘juntos’ - o resultado é aceitável na interpretação de que João e Maria sorriram ao mesmo tempo, conforme é nossa previsão. A sentença (i) é aceitável, porém pode ser redundante para alguns falantes, o que também é esperado, e, se for esse o caso, a interpretação de ‘juntos’ também será a temporal. Finalmente, para (iii) temos uma interpretação espaço-temporal ou espacial, conforme prevemos.
  • 12
    Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, chama a atenção para o contraste entre (i) “João e Maria saíram de casa junto(s) ao mesmo tempo” e (ii) ?“João e Maria receberam o pagamento junto(s) ao mesmo tempo”. A nosso ver, (i) é aceitável e (ii) é estranha, e as razões para tanto, segundo nossa análise, são as seguintes: para o caso de (i), a sentença “João e Maria saíram de casa junto(s)” pode ter uma leitura espaço-temporal (mesma casa e mesmo tempo) ou temporal (casas diferentes, mesmo tempo); porém, a sentença “João e Maria saíram de casa junto(s) ao mesmo tempo” tem somente a interpretação espaço-temporal, ou seja, ‘juntos’ aqui versa sobre espaço e tempo, e ‘ao mesmo tempo’ versa sobre tempo, e por isso a sentença pode soar redundante, mas não é difícil imaginarmos um cenário em que ela é aceitável para perguntas específicas, por exemplo, de modo que ‘juntos’ se aplique mais ao espaço e ‘ao mesmo tempo’, ao tempo. Para o caso de (ii), ‘receber o pagamento’, em geral, não envolve necessariamente espaço, portanto a interpretação proeminente, e talvez a única disponível, seja a temporal, e, por conta disso, acrescentar ‘ao mesmo tempo’ gera uma redundância, e a sentença resulta estranha. Como podemos ver, há fatores pragmáticos que determinam as possibilidades de interpretação, mas, como veremos, a interpretação temporal (por ser a mais abstrata), caso ‘juntos’ seja aceitável, estará sempre presente.
  • 13
    Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, propôs a abordagem de algumas considerações sobre as diferentes posições sintáticas em que o item ‘junto’ pode ocorrer e quais são as mudanças decorrentes desse processo. Ainda que não seja esse o foco do artigo, acatamos tal sugestão, com vistas a apresentar aos leitores um breve exemplo desse fenômeno.
  • 14
    Um parecerista anônimo, a quem agradecemos, sugeriu que, ainda que o foco do artigo esteja na semântica do item ‘juntos’, é importante mostrar que, em uma análise sintática, apontar a função da expressão não é uma tarefa simples.
  • 15
    “One such problem is that such an analysis does not provide a way of accounting for adverbial together” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 292).
  • 16
    “[...] a situation where John moved some of the sofas and Mary moved the rest” (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 275).
  • 17
    “[...] more naturally interpreted as meaning that John and Mary went around to each sofa and moved it collectively” (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 275).
  • 18
    No PB, a sentença em (38) parece possuir uma interpretação de cooperação. A sentença (39), por outro lado, pode ser interpretada a partir de uma leitura espaço-temporal.
  • 19
    “[…] inducing a cumulative numerical measurement of the group together relates to” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 289 - 290).
  • 20
    É importante notar que, ao traduzir as sentenças (40) e (41) para o PB, não compartilhamos da intuição de Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), ou seja, para nós as versões de (40) e (41) do PB são aceitáveis, ainda que sejam melhores com ‘juntos’ movido para uma posição pós-verbal. Isso, obviamente, não invalida a possibilidade de que a interpretação antidistributiva seja resultado de alguma outra característica semântica de ‘juntos’, apenas mostra que esse argumento, em princípio, não parece se sustentar para o PB.
  • 21
    “[...] is possible also with certain predicates that only have a collective reading” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 294).
  • 22
    No original: “For an additive measurement function f from the structure (D, \/), for a set of entities D, to the structure (R, +), for a set of real numbers R, for any world w and time t, and entities dD and nR, <d, n, f> ∈ TOGETHERw,t iff f(d) = n.”.
  • 23
    Segundo Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.), que, por sua vez, retoma Krifka (1990), uma função de medida aditiva f é aquela que se aplica a entidades que não se sobrepõem. Este tipo de função pode ser definido através da seguinte fórmula, em que ∘ explicita a relação de sobreposição (mereológica): (i) uma função de medida f é aditiva se e somente se ¬ xy & f(x) = n & f(y) = mf(xy) = n + m Ou seja, uma função de medida é aditiva se, e somente se, ao se aplicar a duas entidades x e y que não sobrepõem e que medem n e m respectivamente, o resultado de f aplicado a x e y será n+m.
  • 24
    “[...] represents the specific semantic of together” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 296).
  • 25
    “When occurring in adverbial position, together has the same lexical meaning it has in adnominal position, but it will take different arguments” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 310).
  • 26
    “[...] the sum event composed of the subevents that the members contribute must be an integrated whole” (Moltmann, 2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 311).
  • 27
    No original: “For an intensional additive measure function f from the structure (D, \/), for a set of entities D, to the structure (R, +), for a set of real numbers R, for a property S of real numbers, for any world w and time t, and any object dD, <d, f, S> ∈ TOGETHERw,t iff f(d) ∈ S w,t.”.
  • 28
    De acordo com Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 311), baseada na tradição davidsoniana, a função de medida aditiva intensional f é um dos argumentos de together e tem como papel mapear entidades para os subeventos dos quais elas são agentes e que, por sua vez, formam um evento que pode ser entendido como um todo integrado. A necessidade de “intensionalizar” a função de medida tem a ver com capturar propriedades aspectuais e temporais dos eventos.
  • 29
    De fato, Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004., p. 314-314) reconhece a dificuldade em unificar as interpretações de together, e propõe modificações em sua proposta, mas sem abrir mão de que há uma medida associada à somatória realizada por together. A nosso ver, sua saída ainda não dá conta de explicar os usos de combinação, mesmo aproximando tal interpretação, como sugere a autora, de uma interpretação adverbial.
  • 30
    É importante notar que, na fórmula em (46), “P g ” se refere à restrição de P a subgrupos de g, como definido a seguir: xP g (e) sse xg & xP(e).
  • 31
    “[...] we understand two sets to overlap iff they have a non-empty intersection” (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286).
  • 32
    “A group g together has property P in eventuality e iff g has P in e, and in any two parts e', e" of e in which something has property P, the subgroups of g which have P in e' overlap the subgroups of g that have P in e"” (Lasersohn, 1998LASERSOHN, Peter. Events in the semantics of collectivizing adverbials. In: ROTHSTEIN, Susan (ed.). Events and Grammar: Studies in linguistics and philosophy. Dordrecht: Springer, 1998. v. 70, p. 273-292., p. 286).
  • 33
    A intuição de que ‘junto’ (e together) envolve soma e diferentes entidades como argumento também se encontra, como mencionamos, em Moltmann (2004MOLTMANN, Friederike. The semantics of together. Natural Language Semantics, v. 12, n. 4, p. 289-318, 2004.) e Gomes (2006GOMES, Ana Paula Quadros. Todos juntos: um estudo do papel da flutuação de todos nas relações informacionais da sentença. Revista do GEL/Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, Araraquara, v. 3, p. 83-106, 2006.), porém, nossa contribuição, entre outras coisas, associa essas diferentes entidades a uma escala de abstração, identificando por ela o significado básico de ‘junto’.
  • 34
    Estamos desconsiderando aqui uma interpretação espacial, que é também possível.

Editado por

Editora-chefe dos Estudos de Linguagem:

Bethania Mariani

Editores convidados:

Brenda Laca Luciana Sanchez-Mendes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2024

Histórico

  • Recebido
    04 Dez 2023
  • Aceito
    05 Fev 2024
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