Resumo
Se a necropolítica, segundo Achille Mbembe, envolve “formas contemporâneas de subjugação da vida aos poderes da morte”, a necropoética, como aqui proposta, envolve a interrupção poética e gestual da necropolítica. Tomando como ponto de partida um gesto que simula o ato de matar, pergunto que tipo de antropologia e modo de escrever estariam implicados se nós nos alinhássemos imaginativamente com aquele e outros gestos similares, na medida em que esses atravessam limiares temporais, contextuais e intertextuais - incluindo aqueles entre a vida e a morte - e as histórias racializadas que ali emergem. A abordagem contrafabulatória assumida aqui, ao opor os subtextos poéticos (negros) das iterações desse gesto aos vários modos de discurso - etnográfico (parte I), histórico (parte II), e antropológico (parte III) - que os capturam, busca assim interromper performaticamente a presunção de uma linguagem neutra através da qual a necropolítica se faz passar por uma continuação da história de sempre.
Palavras-chave:
performance; necropolítica; escrita; interrupção