Resumos
Apresenta-se aqui, em língua portuguesa, o tratado mais antigo que o Ocidente nos legou acerca da oftalmologia, "Sobre a visão" ou em latim De uisu, com um estudo introdutório que tem por fim situá-lo na história da medicina, sem, contudo, abdicar da demonstração das dificuldades filológicas que o texto encerra.
textos hipocráticos; oftalmologia antiga; medicina antiga; doença e etnia
We present here in Portuguese the oldest treatise that the West has bequeathed us about ophthalmology and eyesight in general, namely "On vision" or De uisu in Latin, with an introductory study that seeks to situate its place in the history of medicine, without, however, failing to dwell on the philological difficulties that the text contains.
Hippocratic texts; ancient ophthalmology; ancient medicine; disease and ethnicity
FONTES
De uisu: o mais antigo tratado supérstite de oftalmologia do Ocidente
De uisu: the oldest surviving treatise on ophthalmology in the West
Henrique Cairus
Professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Horácio Macedo, 2151/ sala F326 . 21941-917 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil. hcairus@ufrj.br
RESUMO
Apresenta-se aqui, em língua portuguesa, o tratado mais antigo que o Ocidente nos legou acerca da oftalmologia, "Sobre a visão" ou em latim De uisu, com um estudo introdutório que tem por fim situá-lo na história da medicina, sem, contudo, abdicar da demonstração das dificuldades filológicas que o texto encerra.
Palavras-chave: textos hipocráticos; oftalmologia antiga; medicina antiga; doença e etnia.
ABSTRACT
We present here in Portuguese the oldest treatise that the West has bequeathed us about ophthalmology and eyesight in general, namely "On vision" or De uisu in Latin, with an introductory study that seeks to situate its place in the history of medicine, without, however, failing to dwell on the philological difficulties that the text contains.
Keywords: Hippocratic texts; ancient ophthalmology, ancient medicine, disease and ethnicity.
O que proponho aqui como tema sempre passou à margem dos estudos hipocráticos; não por falta de interesse no assunto, mas por carência documental. Por isso, começarei pelo que creio que se pode chamar de história de uma quase ausência, plena, ela própria, de ausências e lacunas, as inevitáveis e as que ainda não pude preencher, por falta de engenho ou de arte.
Nosso corpus é, à primeira vista, um minúsculo tratado hipocrático, intitulado Περὶ ὄψιος (Sobre a visão, ou em latim De uisu), um opúsculo que não ocupa, o texto em si, mais do que seis páginas na histórica edição de Émile Littré (1861).
O que atraiu os primeiros historiadores da medicina para o tratado foi o fato de ele ser o mais antigo texto do que chamamos de oftalmologia. Em um primeiro momento, apenas essa peculiaridade lhe garantiu algum valor.
O próprio Émile Littré (1861), no penúltimo volume de sua edição do Corpus hippocraticum, delega o estudo desse tratado ao ilustre oftalmologista e entomólogo Frédéric Jules Sichel (1802-1868). Littré, de fato, é responsável pela ainda hoje mais completa e erudita edição do Corpus hippocraticum, feita com um esmero inigualável, em dez volumes e com índices impecáveis. Esse savant francês, discípulo dissidente de Auguste Comte, cuidou da edição de todos os textos legados pela Antiguidade sob o nome de Hipócrates, independentemente da autoria ou da data de composição, com exceção de um: o tratado De uisu (Sobre a visão).
Littré (1861, p.122) adverte o leitor com uma nota de rodapé:
O doutor Sichel desejou, na minha edição de Hipócrates, encarregar-se do livro Περὶ ὄψιος, revisando o texto, traduzindo-o e comentando-o. Agradeço-lhe, assim, por associar seu trabalho ao meu. O leitor, que aqui nada perderá em relação ao conhecimento do grego, ganhará, em relação à história e à doutrina, tudo o que um mestre da oftalmologia pode dar.1
Mesmo aqui, onde Littré recorre ao maître da oftalmologia, ele parece estar preocupado em assinalar o seu cuidado historiográfico, que creio ter sido desenvolvido em seu debate bibliográfico com Charles Daremberg, autor de outra edição de Hipócrates e da obra La médecine: histoire et doctrines (1865).
Esse cuidado historiográfico, contudo, não encontra o mesmo esmero por parte de Sichel, que evidentemente está longe de compreender os escrúpulos teóricos de Littré.
Comentando o capítulo sétimo do tratado Περὶ ὄψιος, por exemplo, Sichel (Littré, 1861) afirma haver uma confusão, por parte dos antigos, entre os termos νυκταλωπία (nictalopia) e ἡμεραλωπία (hemeralopia), que, no entanto, não têm ocorrência no Corpus hippocraticum. Parece-me, antes, ser uma preocupação de corrigir a nomenclatura de seu tempo, tomando a do tratado por modelo.
A datação do Περὶ ὄψιος é incerta. Alguns o consideram do final do século V a.C. ou do começo do século IV a.C.; há ainda os que o datam de período bem posterior. De qualquer forma, o tratado não está referido na lista de Erotiano, nem é citado ou comentado por Galeno; o que o encobre em uma misteriosa névoa.
Littré, em 1839, escrupulosamente classifica-o apenas como um tratado do Corpus hippocraticum que não se encontra referido pelos antigos. Não nega nem sua relevância potencial nem sua 'dignidade' hipocrática. Jouanna, em 1992, limita-se a dizer que, além dos que o vêm como um texto do século V ou IV a.C., alguns o consideram um tratado tardio.
Além do tamanho diminuto do tratado Περὶ ὄψιος ou do que restou dele, quem o pesquisa tem de lidar com um texto cujo grau de corrupção é tanto que é preciso reconhecer que sobre ele há mais dúvidas do que certezas.
Não fosse Sichel estar convencido de seu caráter fundador - ao menos para a oftalmologia - , possivelmente nosso tratado nem lograsse figurar numa edição do Corpus hippocraticum. Sichel vai além: nota-lhe uma assombrosa 'modernidade'; porquanto, segundo o maître da oftalmologia, descreve a granulação da pálpebra e sua terapia, o que se julgava uma descoberta recente à época de Littré e Sichel. Em outras palavras, o tratado tem valor em primeiro lugar porque antecipa em vários séculos uma descoberta que todos julgavam recente. Esse é o valor 'doutrinal', mas o valor histórico é logo explicado: "o estilo e o dialeto fazem reconhecer, nessas páginas mutiladas e desfiguradas, um autor da grande escola dos Asclepíades, e talvez um membro dessa família" (Littré, 1861, p.123).
O primeiro estudioso a dar importância a esse tratado, no entanto, foi Espônio (Iacobus Sponius), que, no final do século XVII, contestou a canônica edição hipocrática de Gerônimo Mercurial (Hieronymus Mercurialis), de 1584, que considerava o tratado De uisu completamente indigno de qualquer atenção.2
A argumentação de Espônio tinha seu ponto máximo na referência que o tratado Περὶ παθῶν faz a um tratado sobre a visão, mas Fabrício, em sua edição de 1791 (citado em Kühn, 1825), contesta:
Liber hinc de oculorum affectionibus, quem auctor libri Περὶ παθῶν se scripturum promiserat, hic de visu non est, quem Galenus non novit, neque Erotianus. Fragmentum alius libri esse videtur, et absque plurimo ordine scriptum.3
Kühn, o histórico editor de Galeno, faz, em 1825, eco às palavras de Fabrício. Já Sichel (Littré, 1861) discorda de Fabrício e concorda com Espônio: esse é mesmo o tratado prometido pelo autor do Περὶ παθῶν.
O quinto capítulo do tratado Περὶ παθῶν - dedicado ao pólipo nasal - termina da seguinte maneira: Ταῦτα μὲν ὅσα ἀπὸ τῆς κεφαλῆς φύεται νουσήματα, πλὴν ὀφθαλμῶν· ταῦτα δὲ ἰδίως γεγράψεται.
Pesa contra Espônio o fato de o tratado Περὶ παθῶν ser assaz humoral4 para que possa fazer referência a um tratado tão pouco humoral, como o Περὶ ὄψιος. Por outro lado, para além das práticas catárticas - geralmente eméticas - que condizem com a teoria humoral, o Περὶ παθῶν apregoa terapias de incisão que de fato fazem lembrar as prescrições do Περὶ ὄψιος (ou vice-versa).
Sichel não tinha dúvidas: os dois tratados têm o mesmo autor. E, apesar dessa certeza, não aceita cegamente um escólio de Galeno, segundo o qual o autor do tratado Περὶ παθῶν é Pólibo, o genro de Hipócrates, o autor inconteste do Περὶ φύσιος ἀνθρώπου. Escrupulosamente Sichel rejeita o axioma do escoliasta que assim diz: Τοῦτο δὲ ὁ Γαληνὸς τοῦ Πολύβου λέγει εἶναι (Kühn XVI, p.3). É preciso aqui louvar o decoro filológico de Sichel e de Littré. Muitos naquela época, como agora, não teriam resistido a aceitar essa honrosa autoria, ainda que fosse difícil explicar o que teria acontecido com a complexidade da teoria humoral de Pólibo.
A névoa filológica que envolve o Περὶ ὄψιος torna-se mais espessa quando se depara com o enigmático título que o manuscrito que a Biblioteca Laurentiana, de Florença, guarda do tratado, e no qual se lê, no códice 27 (Pluteus 74):
Τοῦ αὐτοῦ περὶ ὄψιος, λόγος κε΄ (Do mesmo De uisu, discurso 25)
Ejusdem de visu liber XXV. Incipit Αἱ ὄψιες et desinit ποιέεσθαι.
(Do mesmo De uisu, livro 25. Começa com Αἱ ὄψιες e termina com ποιέεσθαι).
É uma indicação inquietante, inspiradora, apenas isso. Os outros 24 livros anteriores, se existem, continuam perdidos. E o que temos é esse pequeno tratado e um título misterioso achado num catálogo, instigando a imaginação. A Atlântida oftalmológica.
Outro indício de tratado perdido é uma versão árabe de um tratado atribuído a Hipócrates. Desse longo texto médico, temos, além de dois manuscritos, o segundo, um códex da versão em árabe datado de 1630, e o primeiro, notadamente mais antigo.
Em 1853, a pedido de Daremberg, Coxe entregou a Sichel e Littré cópia parcial desses manuscritos. Embora Sichel não os tenha considerado 'hipocráticos', não deixou de registrar o seu sumário, "para que o leitor [pudesse] partilhar da opinião de que se trata simplesmente de um tratado árabe sobre as doenças dos olhos". Lendo o sumário ali apresentado, nota-se, ao contrário, que se trata de uma valiosíssima fonte de informações sobre o pensamento hipocrático acerca da visão - talvez um texto baseado no perdido tratado sobre a visão - ou, em outra hipótese, do pensamento árabe sobre Hipócrates.
O tratado - ou o que sobreviveu dele - é, sem dúvida, breve. Dos nove capítulos que o compõem não há nenhum que se dedique à descrição do olho ou da visão. O primeiro sintagma é αἱ ὄψιες αἱ διεφθαρμέναι (as vistas que se deterioram), o que direciona, desde as primeiras palavras, o texto para a patologia. Mas essa patologia é o azulado dos olhos, que, se escuro, é incurável e sobrevém de forma rápida, mas, se da cor do mar, a patologia chega devagar, e os olhos διαφθείρονται (que se deterioram). Esse verbo tão expressivo é compreendido por Sichel como "perder o seu aspecto normal", o que indica certa recusa do sentido de degradação que o verbo de fato tem. Tal recusa parece-me natural, uma vez que iniciar o tratado com uma patologia que nada mais é do que o azulado dos olhos não deve atender nem à expectativa da doutrina nem à da história.
O azul do mar nos olhos é incurável, mas o progresso da doença pode ser estancado com a κάθαρσις da cabeça e a cauterização das veias.
A cor azul que fica entre o escuro (κυανῖτις) e a cor do mar (θαλασσοειδής) é uma doença que, se acomete os muito novos, a idade a purga por si. Quanto aos mais velhos de olhos dessa cor, aparentemente há uma lacuna no texto, repetida em todos os manuscritos e edições consultados por Sichel, e a solução proposta pelas edições, inclusive pela de Sichel, é a de interpretar a lacuna como a falta de algo intercalado, o que resulta na seguinte leitura: ἢν δὲ πρεσβυτέρῳ ἐόντι γίγνωνται ἐτέων ἑπτὰ, ... βέλτιον ὁρῇ (se, no entanto, ocorre ao mais velho do que sete anos, ... ele vê melhor).
Para adotar essa solução, creio que seria preciso entender esse "melhor" como "melhor do que aqueles que desenvolvem a doença antes".
E quais são as consequências dessa doença dos olhos azuis? O tratado explica: o paciente vê objetos muito grandes e brilhantes, mesmo de longe, mas sem conseguir distingui-los nitidamente, e vê também o objeto que ele aproxima muito dos olhos, mas nada mais. O autor conclui o capítulo dos olhos azuis dizendo que, independentemente do tom de azul, é preciso purgar a cabeça e cauterizá-la, mas não é necessário tirar sangue.
Nos indivíduos jovens, de ambos os sexos, a cor dos olhos podia ser corrigida pela cauterização e pela escarnificação, se necessário. Mas a correção da cor dos olhos tem o objetivo único de curar o que o tratado chama de ὄμμα ἐν τοῖσιν ὀφθαλμοῖσι, a visão dos olhos, o que me parece ser uma expressão ambígua.
A insistência na terapêutica da cauterização e a frequência relativamente baixa da kátharsis, ou da 'purificação' leva a crer que o tratado seja mesmo tardio, mas o dialeto faz essa tese claudicar. O jônico, ali, parece tão espontâneo quanto 'hipocrático'. O capítulo 3, em especial, é uma detalhada descrição do processo de cauterização do vestíbulo ocular.
Os outros capítulos oferecem um pequeno catálogo de algumas doenças dos olhos, sempre seguidas de sua terapêutica: granulações das pálpebras, granulações sarcomatosas, oftalmias com erosão (úlceras oftálmicas?), fotofobia, amaurose (que deve ser tratada com trepanação), oftalmia epidêmica.
Esse último é sem dúvida o mais hipocrático dos capítulos, pois caracteriza a doença pelo tempo e privilegia a purgação e a dieta como terapia. Além disso, é claro e explicativo. Naturalmente destoa dos outros, como do capítulo sétimo, por exemplo, dedicado à nictalopia, que identificamos com a fotofobia. A cura para esse mal é a aplicação de ventosas no pescoço. Tantas quantas couberem. Depois, deve-se comer uma ou duas vezes um fígado de boi. Cru, o mais inteiro possível, mergulhado no mel.
A definição de νυκταλωπία pode ser tomada do tratado Prorrético (2,33), que lhe dedica um capítulo muito mais explicativo e claro do que o De uisu. O autor do Prorrético começa assim seu pequeno discurso sobre a νυκταλωπία: οἱ δὲ τῆς νυκτὸς ὁρῶντες, οὓς δὴ νυκτάλωπας καλέομεν, οὗτοι ἁλίσκονται ὑπὸ τοῦ νοσήματος νέοι (os que vêem de noite, aos quais chamamos de nictalopes, esses são tomados pela doença [ainda] jovens). Assim como o De uisu, o Prorrético relaciona a nictalopia com a lágrima.
Podem-se diferenciar dois tipos de enfermidades dos olhos no tratado: as enfermidades da ὄψις e as enfermidades do ὄμμα ἐν τοῖσι ὀφθαλμοῖσι, as doenças do olho e as da visão.
O fato de as doenças se encontrarem em trecho tão lacunoso parece evidenciar que o que temos é mesmo uma pequena parte de um grande tratado. O que se pode perceber desse pequeno trecho, dois dos nove capítulos de que dispomos, é que essas doenças são descritas pelo que se vê delas, de forma mimetizada ou por símiles, como no raro adjetivo θαλασσοειδής, olhos como o mar.
Se nos agarrarmos à promessa do Prorrético II e à informação da Biblioteca Laurentiana, talvez encontrássemos aí uma explicação para tanta incoerência no tratamento que o Corpus hippocraticum dá aos olhos.
De fato, o tratado Περὶ τέχνης [De arte] dedica boa parte de seu discurso epidítico à argumentação acerca do valor dos δῆλα (i.e., daquilo que é evidente), a partir dos quais se constroem os ἄδηλα (ou seja, as coisas que não são evidentes), como, no livro VI da República de Platão, os ὁρατά (as coisas visíveis), responsáveis pela formação da dóxa, são passo fundamental para a construção dos νοητὰ ἀόρατα (literalmente, das coisas invisíveis inteligíveis), formadores da ἐπιστήμη (num contexto em que essa epistéme deve ser entendida como o conhecimento). No tratado hipocrático Περὶ τέχνης, contudo, há nos δῆλα um potencial de verdade com o qual não creio que Platão concordaria.
Ainda que o adjetivo δῆλος não se refira exclusivamente à visão, mas sim a todos os sentidos, sua primeira acepção aponta para uma soberania da áisthesis visual em relação aos outros sentidos.
Para além da linguagem comum em que a ideia de saber é expressa pelo pretérito perfeito do verbo 'ver', o próprio tratado Περὶ τέχνης termina assim: τὴν πίστιν τῷ πλήθει, ἐξ ὧν ἂν ἴδωσιν, οἰκειοτέρην ἡγεύμενοι ἢ ἐξ ὧν ἂν ἀκούσωσιν (a fé do público que provém do que veem é mais íntima do que a que provém do que ouvem).
Esse adágio é considerado um tópos discursivo, talvez característico de preleções públicas, e, de fato, o encontramos, com formato um tanto diverso, em outros autores, mas essencialmente o mesmo. Podemos ver expresso o mesmo pensamento no fragmento DK 101 de Heráclito, citado por Políbio (XII, 27), que considera que os principais ὄργανα (ferramentas, instrumentos) são a audição e a visão, mas imediatamente fundamenta uma ressalva, citando o heraclítico: ὀφθαλμοὶ γὰρ τῶν ὤτων ἀκριβέστεροι μάρτυρες (os olhos são, de fato, testemunhos mais exatos do que os ouvidos). Heródoto, autor da mais longa apódexis historíes (ἀπόδεξις ἱστορίης), no famoso episódio em que Candaules insiste que Giges veja a sua mulher nua, justifica a insistência com esse tópos, talvez em uma de suas formas mais tradicionais: ὦτα γὰρ τυγχάνει ἀνθρώποισιν ἐόντα ἀπιστότερα ὀφθαλμῶν (acontece de os ouvidos serem, de fato, menos confiáveis, para os homens, do que os olhos).
Em Tucídides, a mesma ideia se repete, mas a palavra é ὄψις. No livro I de sua Guerra do Peloponeso, quando os atenienses querem menosprezar os argumentos que os lacedemônios embasam em fatos para eles muito antigos, perguntam: καὶ τὰ μὲν πάνυ παλαιὰ τί δεῖ λέγειν, ὧν ἀκοαὶ μᾶλλον λόγων μάρτυρες ἢ ὄψις τῶν ἀκουσομένων (por que se devem evocar fatos muito antigos dos quais são testemunhas mais as audições dos discursos do que a visão dos que nos ouvem? (Tucídides, I, 73, 1). A partir dessa pergunta, tudo o que recebeu a numeração de capítulo 73 procura aplicar a máxima ao caso do discurso dos espartanos.
Com todas essas evidências de que não só o dito, mas também a ideia de hegemonia do olhar sobre os outros sentidos, especialmente sobre a audição, foi um autor da Antiguidade tardia, o orador Dion de Prusa (ou Dion Crisóstomo, c.40-c.120), o único a assinalar o caráter paremíaco do dito: καὶ δὴ τὸ λεγόμενον, ὡς ἔστιν ἀκοῆς πιστότερα ὄμματα, ἀληθὲς ἴσως (de fato, o dito segundo o qual "os olhos são mais confiáveis do que a audição" é igualmente verdadeiro) (XII, 71).
A primazia da visão sobre os demais sentidos não condiz, é claro, com a dimensão e com a extensão do único tratado hipocrático dedicado ao olho, sobretudo se considerarmos a parte nele dedicada à visão. Se reunirmos todas as informações, descrições e prescrições relacionadas ao tema espalhadas pelo Corpus hippocraticum, seguramente teremos um volume de dados muito maior do que os contidos nesse tratado.
Uma vez que o Περὶ ὄψιος não é nem dietético nem farmacológico nem epidítico nem ético, mas sim um manual de procedimentos de manobras, torna-se difícil localizá-lo no tempo e no espaço. Uma certa dietética do último capítulo, com a recomendação da ingestão do fígado bovino, poderia levar-nos a crer que se trata de um texto de um autor com alguma familiaridade com a Escola de Cós, mas a frequência das prescrições de manobras, especialmente de manobras cirúrgicas, fazem-me pensar numa medicina tardia, contra a qual pesam o estilo e o dialeto. Note-se, por exemplo, θαλασσοειδής em vez de θαλασσώδης, entre outras marcas fundamentais para a datação, mas que colidem com a tendência cirúrgica do tratado.
O tratado De uisu - ou o que nos restou dele - , por menor que seja, continua a ser uma peça intrigante com informações ocultas sob cada palavra, sob cada silêncio. Seu estilo, tão diferente dos demais tratados do Corpus hippocraticum, sugere que aceitemos ser ele o que diz o documento da Biblioteca Laurentiana: o vigésimo quinto livro de uma obra sobre a visão. E, ainda assim, é o único documento que a Antiguidade grega nos legou exclusivamente sobre um tema que lhe é tão caro: o olhar.
Sobre a visão (De uisu)5
1. As vistas que se deterioram tornam-se, por si mesmas, azuladas e assim ficam de repente, não há cura específica. As vistas que tomaram o aspecto do mar desde quando [a pessoa era] pequena deterioram-se em longo tempo, e frequentemente o outro olho longo tempo depois se deteriora. A esses [males], é preciso purgar6 a cabeça e queimar as veias, e, se são tratados desde o princípio desses [males], o mal não avança para o pior. As que ficam entre as vistas azuladas e aquelas com aspecto de mar, se ocorrem no que é jovem, estacionam quando este fica mais velho. Se ocorre, contudo, àquele que é mais velho do que a idade de sete anos, este vê melhor. Vê coisas grandes e luminosas, e que estejam na sua frente, mas não as vê claramente, e o que quer que se lhe coloquem muito próximo dos olhos, isso, mas nada senão isso.
2. Quanto à visão nos olhos7, a vista estando sã nas pessoas mais novas, sejam elas mulheres, sejam homens, de nada vale fazer o que quer seja, até que o corpo ainda não tenha crescido [tudo]. Enquanto, porém, ainda não cresceu, observando o olho, [é preciso] tornar mais leve a pálpebra, escarificando, se achares ainda necessário, e cauterizando por dentro, mas com [instrumentos] não quentes demais.8
3. ......9 Em seguida, sentando-se, ao alongar as coxas, numa cadeira, sobre a qual se apoia com as mãos, que se o segure pelo meio [do corpo]. Em seguida, [devem-se] assinalar as veias dorsais e observar as de trás. Em seguida, [deve-se] queimar com ferro espesso e esquentar lentamente, a fim de que, ao queimar, não jorre sangue. Que o sangue seja tirado antes, se parecer oportuno. Deve-se queimar para trás, em direção ao osso. Em seguida, colocando dentro [do ponto queimado] uma esponja embebida em azeite, deve-se queimar mais profundamente, mas não tão profundamente que atinja o próprio osso. Se a esponja aderir ao cautério, deve-se queimar profundamente colocando-se por dentro outra esponja mais engordurada. Em seguida, colocar sobre as escaras o arum10 [embebido] em mel. Quando queimares ao lado ou através de uma veia, ao cair a escara, a veia se estende da mesma forma [que antes] e pulsa e parece cheia, e bate quando o [sangue] flui a partir de baixo. Se a parte de baixo for atravessada pela cauterização, tudo terá menos consequências.11 É preciso queimar novamente, se não tiveres queimado [suficientemente] na primeira vez. As esponjas devem queimar fortemente por dentro, sobretudo perto das veias de fluxo. As escaras, principalmente as estorricadas, soltam-se rapidamente. As cicatrizes de queimaduras perto dos ossos tornam-se mais belas. Quando as feridas se tornam sãs, novamente [as veias] pulsam, se elevam, avermelham-se mais do que outra [parte] e parecem como que saltadas, até que o tempo sobrevenha. Igualmente quando se cauteriza a cabeça, o peito e outra parte qualquer do corpo.
4. Quando escarificares as pálpebras do olho, deves escarificar (depois queimar), enrolando em torno de um fuso uma lã de Mileto12, felpuda13 e pura, protegendo a 'coroa'14 do olho e não queimando por entre a cartilagem. O sinal de que não é necessária a escarnificação é quando já não sai mais sangue rutilante, mas um ikhor15 sanguinolento ou aquoso. É preciso, então, esfregar fortemente com algum dos remédios líquidos em que haja a flor do cobre.16 Depois da escarnificação e da cauterização, quando as escaras caírem e as feridas estiverem limpas e brotarem, é preciso cortar com um corte através da região parietal. Quando, porém, o sangue para de escorrer, é preciso untar com o remédio [ainda] ensanguentado. Depois de feito isso, como [depois de] todas as ações, deve-se purificar a cabeça.
5. Quando as pálpebras são mais espessas do que o natural, procedendo à ressecção da parte inferior da carne, corte as partes mais fáceis [de ser cortadas], e, depois, é preciso cauterizar com instrumentos não muito quentes, protegendo a natureza dos pelos, ou cobrir finamente com a flor [do cobre] cozida. Quando cair a escara, devem-se curar as partes restantes.
6. Quando as pálpebras têm sarna17 e coceira, tendo macerado um pouco de flor de cobre com um pedaço de pedra, esfregando-o em seguida em suas pálpebras, deve-se macerar a escama de cobre o mais finamente [possível]. Em seguida, derramando-lhe suco de uvas verdes filtrado e esfregando-o18 suavemente, derramando o resto de dentro de um [vaso] de cobre vermelho, deve-se esfregar superficialmente um pouco, até que tenha a consistência de uma papa.19 Em seguida, quando secar, deve-se usá-lo esfregando suavemente.
7. Remédio para a nictalopia: que se beba o elatério20, que se purgue a cabeça, tendo feito o máximo de incisões e pressionado o pescoço pelo maior tempo possível. Depois de algum tempo, é preciso dar para (a pessoa) tomar21 um fígado bovino cru, o maior possível, mergulhado no mel uma ou duas vezes.
8. Se [ocorrer] a alguém que, os olhos sendo saudáveis, a vista se perca, nessa pessoa é preciso proceder a um corte na região parietal, esfolar, trepanar o osso, e curar, evacuando a hidropisia. E assim [as pessoas] se tornam sãs.
9. Na oftalmia anual e epidêmica, é útil a purgação da cabeça e do baixo ventre. E, se o corpo [da pessoa] permitir, a retirada de sangue é útil para algumas [doenças] desse tipo, bem como as ventosas nas veias. A comida: pouco pão; a bebida: água. Deve deitar-se em lugar escuro, afastado da fumaça, do fogo e das outras coisas reluzentes, de lado, às vezes do lado direito, outras vezes do lado esquerdo. Não se deve umedecer a cabeça, pois isso não é útil.22 Cataplasma não é útil na [lesão] indolor que não for interna, como [o é] na fluxão persistente. Nos inchaços indolores e depois dos medicamentos adstringentes besuntados para dor, quando a dor cessar depois da unção do remédio, então é útil aplicar os cataplasmas que te parecerem mais úteis. Não é útil que [a pessoa] olhe fixamente por muito tempo, pois isso provoca lacrimação, não podendo o olho suportar estar diante de nada rutilante; mas não deve fechar [os olhos] por muito tempo, sobretudo se houver uma fluxão quente, pois a lágrima retida esquenta [o olho]. Mas, tendo fluxão, é útil fazer unção com um medicamento seco.
Fim do Sobre a visão
ΠΕΡΙ ΟΨΙΟΣ
1. Αἱ ὄψιες αἱ διεφθαρμέναι, αὐτόματοι μὲν κυανίτιδες γιγνόμεναι, ἐξαπίνης γίνονται, καὶ ἐπειδὰν γένωνται, οὐκ ἔστιν ἴησις τοιαύτη. Αἱ δὲ θαλασσοειδέες γιγνόμεναι, κατὰ μικρὸν ἐν πολλῷ χρόνῳ διαφθείρονται, καὶ πολλάκις ὁ ἕτερος ὀφθαλμὸς ἐν πολλῷ χρόνῳ ὕστερον διεφθάρη. Τουτέου δὲ χρὴ καθαίρειν τὴν κεφαλὴν καὶ καίειν τὰς φλέβας· κἢν ἀρχόμενος θεραπευθῇ ταῦτα, ἵσταται τὸ κακὸν καὶ οὐ χωρέει ἐπὶ τὸ φαυλότερον. Αἱ δὲ μεταξὺ τῆς τε κυανίτιδος καὶ τῆς θαλασσοειδοῦς, ἢν μὲν νέῳ ἐόντι γένωνται, πρεσβυτέρῳ γενομένῳ καθίστανται· ἢν δὲ πρεσβυτέρῳ ἐόντι γίγνωνται ἐτέων ἑπτὰ, .... βέλτιον ὁρῇ· τὰ μεγάλα δὲ πάνυ καὶ λαμπρὰ, καὶ ἀπὸ πρόσθεν, ὁρῇ μὲν, σαφῶς δὲ οὐ, καὶ ὅ τι23 ἂν πάνυ πρὸς ἑωυτὸν τὸν ὀφθαλμὸν προσθῇ, καὶ τοῦτο, ἄλλο δὲ οὐδέν. Ξυμφέρει δὲ τουτέῳ κάθαρσίς τε καὶ καῦσις τῆς κεφαλῆς· αἷμα δὲ τουτέοισιν οὐ ξυμφέρει ἀφιέναι, οὔτε τῇ κυανίτιδι, οὔτε τῇ θαλασσοειδεῖ.
2. Καὶ τὸ ὄμμα ἐν τοῖσιν ὀφθαλμοῖσι, τῆς ὄψιος ὑγιέος οὔσης τῶν νεωτέρων ἀνθρώπων, ἤν τε θήλεια ᾖ ἤν τ' ἄρσην, οὐκ ἂν ὠφελείης ποιέων οὐθὲν, ἕως ἂν αὔξηται τὸ σῶμα ἔτι. Ὅταν δὲ μηκέτι αὐξάνηται, αὐτέῳ τῷ ὀφθαλμῷ σκεψάμενος τὰ βλέφαρα λεπτύνειν, ξύων, ἢν δοκέῃ προσδέεσθαι, καὶ ἐπικαίων ἔνδοθεν μὴ διαφανέσιν.
3. .... Ἔπειτα ἀναδήσας, τὰ σκέλεα ἐκτείνας, δίφρον ὑποθεὶς ἐφ' οὗ24 στηρίζηται τῇσι χερσί· μέσον δέ τις ἐχέτω. Ἔπειτα διασημήνασθαι τὰς νωτιαίας φλέβας, σκοπεῖν δὲ ὄπισθεν. Ἔπειτα καίειν παχέσι σιδηρίοισι καὶ ἡσυχίῃ διαθερμαίνειν, ὅκως ἂν μὴ ῥαγῇ αἷμα καίοντι· προαφιέναι δὲ τοῦ αἵματος, ἢν δοκέῃ καιρὸς εἶναι. Καίειν δὲ πρὸς τὸ ὀστέον ὄπισθεν. Ἔπειτα ἐνθεὶς σπόγγον ἠλαιωμένον ἐγκατακαίειν, πλὴν τοῦ πάνυ πρὸς αὐτῷ τῷ ὀστέῳ· ἢν δὲ προσδέχηται τῷ καυστηρίῳ τὸ σπόγγιον, ἕτερον λιπαρώτερον ἐνθεὶς ἐγκατακαίειν. Ἔπειτα τοῦ ἄρου ἐν μέλιτι δεύων, ἐντιθέναι τῇσιν ἐσχάρῃσιν. Ὅταν δὲ φλέβα παρακαύσῃς ἢ διακαύσῃς, ἐπειδὰν ἐκπέσῃ ἐσχάρη, ὁμοίως τέταται ἡ φλὲψ καὶ πεφύσηται καὶ πλήρης φαίνεται, καὶ σφύζει ὅτε κάτωθεν τὸ ἐπιῤῥέον· ἢν δὲ διακεκαυμένος ᾖ ὁ κάτωθεν, ταῦτα πάντα ἧσσον πάσχει. Διακαίειν δὲ χρὴ αὖθις, ἢν μὴ τὸ πρῶτον διακαύσῃς· τά τε σπόγγια χρὴ ἰσχυρῶς ἐγκατακαίειν, πρὸς τῆς ῥεούσης φλεβὸς μᾶλλον. Αἱ ἐσχάραι αἱ μᾶλλον ὀπτηθεῖσαι τάχει ἐκπίπτουσιν. Αἱ καιόμεναι οὖλαι πρὸς τὸ ὀστέον καλλίονες γίνονται. Ἐπειδὰν δὲ τὰ ἕλκεα ὑγιέα γίνονται, αὖθις ἀναφυσῶνται καὶ ἐπαίρονται, καὶ ἐρυθραί εἰσι παρὰ τὸ ἄλλο, καὶ ὥσπερ ἀναιρησόμεναι φαίνονται, ἕως ἂν χρόνος ἐπιγένηται· καὶ κεφαλῆς καυθείσης καὶ στήθεος, ὁμοίως δὲ καὶ παντὶ τῷ σώματι ὅκου ἂν καυθῇ.
4. Ὅταν δὲ ξύῃς βλέφαρα ὀφθαλμοῦ, ξύειν [εἶτα καίειν] εἰρίῳ Μιλησίῳ, οὔλῳ, καθαρῷ, περὶ ἄτρακτον περιειλῶν, αὐτὴν τὴν στεφάνην τοῦ ὀφθαλμοῦ φυλασσόμενος, μὴ διακαύσῃς πρὸς τὸν χόνδρον. Σημεῖον δὲ ὅταν ἀπόχρῃ τῆς ξύσιος, οὐκ ἔτι λαμπρὸν αἷμα ἐξέρχεται, ἀλλὰ ἰχὼρ αἱματώδης ἢ ὑδατώδης. Τότε δὲ χρή τινι τῶν ὑγρῶν φαρμάκων, ὅκου ἄνθος ἐστὶ χαλκοῦ, τουτέῳ ἀνατρῖψαι. Ὕστερον δὲ τὸ τῆς ξύσιος καὶ τὸ τῆς καύσιος, ὅταν αἱ ἐσχάραι ἐκπέσωσι καὶ κεκαθαρμένα ᾖ τὰ ἕλκεα καὶ βλαστάνῃ, τάμνειν τομὴν διὰ τοῦ βρέγματος. Ὅταν δὲ τὸ αἷμα ἀποῤῥυῇ, χρὴ διαχρίειν τῳ ἐναίμῳ φαρμάκῳ. Ὕστερον δὲ τουτέου ἔργον καὶ πάντων τὴν κεφαλὴν καθῆραι.
5. Τὰ βλέφαρα τὰ παχύτερα τῆς φύσιος, τὸ κάτω ἀποταμὼν τὴν σάρκα ὁκόσην εὐμαρέστατα δύνῃ, ὕστερον δὲ τὸ βλέφαρον ἐπικαῦσαι μὴ διαφανέσι, φυλασσόμενος τὴν φύσιν τῶν τριχῶν, ἢ τῷ ἄνθει ὀπτῷ λεπτῷ προστεῖλαι. Ὅταν δὲ ἀποπέσῃ ἡ ἐσχάρα, ἰητρεύειν τὰ λοιπά.
6. Ὁκόταν δὲ βλέφαρα ψωριᾷ καὶ κνησμὸς ἔχῃ, ἄνθος χαλκοῦ βώλιον πρὸς ἀκόνην τρίψας, ἔπειτα τὸ βλέφαρον ἀποτρίψας αὐτέου, καὶ τότε τὴν φολίδα τοῦ χαλκοῦ τρίβειν ὡς λεπτοτάτην· ἔπειτα χυλὸν ὄμφακος διηθημένον παραχέας καὶ τρίψας λεῖον, τὸ δὲ λοιπὸν ἐν χαλκῷ ἐρυθρῷ παραχέων, κατ' ὀλίγον ἀνατρίβειν, ἕως ἂν πάχος γένηται ὡς μυττωτός· ἔπειτα, ἐπειδὰν ξηρανθῇ, τρίψας λεῖον χρῆσθαι.
7. Νυκτάλωπος φάρμακον· πινέτω ἐλατήριον, καὶ τὴν κεφαλὴν καθαιρέσθω, καὶ κατασχάσας25 τὸν αὐχένα ὡς μάλιστα, πιέσας πλεῖστον χρόνον. Ἐπανιεὶς δὲ διδόναι ἐν μέλιτι βάπτων ἧπαρ βοὸς ὠμὸν καταπιεῖν μέγιστον ὡς ἂν δύνηται, ἓν ἢ δύο.
8. Ἤν τινι οἱ ὀφθαλμοὶ ὑγιέες ἐόντες διαφθείροιεν τὴν ὄψιν, τουτέῳ χρὴ ταμόντα κατὰ τὸ βρέγμα, ἐπαναδείραντα, ἐκπρίσαντα τὸ ὀστέον, ἀφελόντα τὸν ὕδρωπα, ἰῆσθαι· καὶ οὕτως ὑγιέες γίνονται.
9. Ὀφθαλμίης τῆς ἐπετείου καὶ ἐπιδημίου ξυμφέρει κάθαρσις κεφαλῆς καὶ τῆς κάτω κοιλίης· καὶ εἰ ἔχοι τὸ σῶμα, αἵματος ἀφαίρεσις ξυμφέρει πρὸς ἔνια τῶν τοιούτων ἀλγημάτων, καὶ σικύαι κατὰ τὰς φλέβας. Σῖτος ὀλίγος ἄρτος, καὶ ὕδατος πόσις. Κατακεῖσθαι δὲ ἐν σκότῳ, ἀπό τε καπνοῦ καὶ πυρὸς καὶ τῶν ἄλλων λαμπρῶν, πλαγίων, ἄλλοτε ἐπὶ τὰ δεξιὰ, ἄλλοτε ἐπ' ἀριστερά. Μὴ τέγγειν τὴν κεφαλὴν, ἐπειδὰν οὐ ξυμφέρει. Κατάπλασμα ὀδύνης μὴ ἐνεούσης, ἀλλ' ὡς ῥεύματος ἐπέχοντος, οὐ συμφέρει. Οἰδημάτων ἀνωδύνων καὶ μετὰ τὰ δριμέα φάρμακα τῆς ὀδύνης ἐπαλειφόμενα, ἐπειδὰν ἥ τε ὀδύνη παύσηται καὶ διαχωρισθῇ μετὰ τὴν ἐσάλειψιν τοῦ φαρμάκου, τότε συμφέρει καταπλάσσειν τῶν καταπλασμάτων ὅ τι ἄν σοι δοκέῃ ξυμφέρειν. Οὐδὲ διαβλέπειν ξυμφέρει πουλὺν χρόνον, δάκρυον γὰρ προκαλέεται, οὐ δυνάμενος ὁ ὀφθαλμὸς πονέειν πρὸς τὰ λαμπρά· ἀλλ' οὐδὲ ξυμμύειν πουλὺν χρόνον, ἢν ἔχῃ ῥεῦμα θερμὸν μάλιστα· θερμαίνει γὰρ τὸ δάκρυον ἰσχόμενον. Ῥεύματος δὲ μὴ ἔχοντος, μετά γέ του ξηροῦ τὴν ὑπάλειψιν ξυμφέρει ποιέεσθαι.
TΕΛΟΣ ΤΩΝ ΠΕΡΙ ΟΨΙΩΝ
NOTAS
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
27 Jul 2012 -
Data do Fascículo
Jun 2012