Resumos
O espetacular progresso das neurociências e o intenso processo de popularização, via mídia, de imagens e informações que associam a atividade cerebral a praticamente todos os aspectos da vida produzem, no imaginário social, crescente percepção do cérebro como detentor das propriedades e autor das ações que definem o que é ser alguém. Nesse contexto sociocultural, aumenta o interesse pela neuroascese, isto é, discursos e práticas a respeito de como agir sobre o cérebro para maximizar sua performance. Com o objetivo de traçar alguns elementos da história da ascese cerebral, resgatam-se momentos históricos do século XIX em que práticas neuroascéticas eram comuns. O artigo problematiza a continuidade dessas práticas na atualidade, levando em conta os diferentes contextos socioculturais e históricos nos quais se originam.
neurociências; subjetividade; neurocultura; neuroascese; sujeito cerebral
The spectacular progress of the neurosciences, as well as the intense process of popularization by the media of images and information that associate cerebral activity with practically every aspect of life, have produced a growing perception of the brain as the site and agent of all the properties and actions that define us as human beings. Today's socio-cultural context has seen increased interest in 'neuroascese', that is, discourses and practices aimed at maximizing brain performance. Tracing elements of the history of 'brain ascese' back to historical moments of the nineteenth century in which neuroascetic practices were commonplace, the article examines their continued use today, taking into account the social, cultural, and historical contexts in which they originated.
neurosciences; subjectivity; neuroculture; neuroascese; cerebral subject
ANÁLISE
Francisco Ortega
Professor do Instituto de Medicina Social. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social - UERJ. Rua São Francisco Xavier, 524, pavilhão João Lyra Filho, 7º andar, blocos D e E - 20550-900 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil. fjortega2@gmail.com
RESUMO
O espetacular progresso das neurociências e o intenso processo de popularização, via mídia, de imagens e informações que associam a atividade cerebral a praticamente todos os aspectos da vida produzem, no imaginário social, crescente percepção do cérebro como detentor das propriedades e autor das ações que definem o que é ser alguém. Nesse contexto sociocultural, aumenta o interesse pela neuroascese, isto é, discursos e práticas a respeito de como agir sobre o cérebro para maximizar sua performance. Com o objetivo de traçar alguns elementos da história da ascese cerebral, resgatam-se momentos históricos do século XIX em que práticas neuroascéticas eram comuns. O artigo problematiza a continuidade dessas práticas na atualidade, levando em conta os diferentes contextos socioculturais e históricos nos quais se originam.
Palavras-chave: neurociências; subjetividade; neurocultura; neuroascese; sujeito cerebral.
ABSTRACT
The spectacular progress of the neurosciences, as well as the intense process of popularization by the media of images and information that associate cerebral activity with practically every aspect of life, have produced a growing perception of the brain as the site and agent of all the properties and actions that define us as human beings. Today's socio-cultural context has seen increased interest in 'neuroascese', that is, discourses and practices aimed at maximizing brain performance. Tracing elements of the history of 'brain ascese' back to historical moments of the nineteenth century in which neuroascetic practices were commonplace, the article examines their continued use today, taking into account the social, cultural, and historical contexts in which they originated.
Keywords: neurosciences; subjectivity; neuroculture; neuroascese; cerebral subject.
Nas últimas décadas o cérebro vem-se tornando, mais do que órgão, um ator social. O espetacular progresso das neurociências e o intenso processo de popularização, via mídia, de imagens e informações que associam a atividade cerebral a praticamente todos os aspectos da vida produzem, no imaginário social, uma crescente percepção do cérebro como detentor das propriedades e autor das ações que definem o que é ser alguém. O órgão responde cada vez mais por tudo aquilo que outrora nos acostumamos a atribuir à pessoa, ao indivíduo, ao sujeito. Inteiro ou em partes, o cérebro tornou-se o único órgão verda-deiramente indispensável para a existência do self e para definir a individualidade. A expressão 'sujeito cerebral' resume adequadamente a redução da pessoa ao órgão, a crença de que a essência do ser humano se encontra no cérebro (Ehrenberg, 2004; Ortega, Vidal, 2007; Vidal, 2009).
O impacto sociocultural das neurociências propicia a aparição de práticas de si cerebrais, as neuroasceses, isto é, discursos e práticas referentes a modos de agir sobre o cérebro para maximizar sua performance.1 Nesse contexto vem aparecendo um crescente mercado de (neuro)produtos que incluem: best-sellers de autoajuda cerebral prometendo desenvolver determinadas regiões do cérebro, o que permitiria desde aumentar o desempenho do raciocínio e da memória, combater depressão, ansiedade, adicções e compulsões diversas, até melhorar o desempenho sexual, atingir a felicidade ou estabelecer contato direto com Deus; softwares e programas de fitness cerebral para computador que constituem verdadeiras academias para o cérebro (brain gyms), vitaminas e todo tipo de suportes alimentares e psicofármacos para aprimorar o funcionamento cerebral (Singer, 21 nov. 2005). Esses elementos constituem importantes ferramentas na constituição do sujeito cerebral.
As práticas cerebrais do self têm, todavia, uma longa história. O objetivo deste artigo é traçar alguns elementos dessa história resgatando momentos históricos do século XIX em que práticas neuroascéticas eram comuns. Temas e motivos recorrentes da neuroascese contemporânea remontam ao século XIX, e muitos dos exercícios sugeridos no século retrasado, bem como prescrições de vida saudável e seus efeitos sobre o cérebro, reaparecem nas prescrições de nossos dias.
A análise comparativa não pode ser reduzida ao nível do embasamento científico das diferentes práticas. Não se trata de afirmar que hoje conseguimos provar sua eficácia científica, ao passo que no século XIX elas estavam mais próximas da charlatanice e do chamado pseudocientificismo.
Genealogia da neuroascese
Embora fascinante, a história da neuroascese está ainda por ser escrita. Este artigo constitui uma aproximação pioneira desse campo. Percorrer essa história nos remete, como veremos, ao processo de popularização do saber neurocientífico, à interface entre ciência e cultura popular e à dificuldade de estabelecer fronteiras entre conhecimento científico e senso comum, de demarcar a ciência do chamado âmbito pseudocientífico.
Nas práticas de neuroascese, o cérebro aparece como objeto científico e cultural, facetas que se misturam e confundem constantemente. A permanente circulação entre elas impossi-bilita destilar o objeto científico puro de sua elaboração cultural. O científico já é cultural desde o início. A distinção entre ambos não é intrínseca, refletindo apenas a ideologia dos neurocientistas, que procedem como se existisse um objeto científico puro, o cérebro em sua dimensão anatomofuncional, protegido, no laboratório, das interferências sociocul-turais. A genealogia da ascese cerebral permite problematizar a dimensão cultural da prática científica: as práticas de neuroascese revelam a dimensão científico-cultural do cérebro, o qual, desde o século XIX, carrega os mais diversos significados morais, sociais, econômicos, políticos e teológicos (Hagner, 2004; Harrington, 1987). Entre os exemplos dessa ressignificação ético-moral e política do cérebro vale mencionar a busca da inscrição neural de criminalidade, genialidade ou loucura, que se estende desde a antropologia física e racial oitocentista - defensora dos aspectos neurais para justificar hierarquias e diferenças sociais e raciais - até o escrutínio dos cérebros de Lênin, Einstein ou da terrorista alemã da Facção do Exército Vermelho (RAF, na sigla em alemão), Ulrike Meinhof, na procura da genialidade ou da propensão para o terror. Desde então, quer na 'estrutura ideal' ou nas 'diferenças naturais', vêm sendo procuradas, no cérebro, justificativas científicas para classificar, hierarquizar e normalizar os indivíduos ou, mais recentemente, para a defesa do direito à diferença, no caso dos movimentos de neurodiversidade (Ortega, 2008b).
Vejamos a seguir alguns capítulos relevantes da história da neuroascese no século XIX. Nesse contexto, o uso do termo capítulo não deve ser entendido no sentido de sucessão cronológica, já que os diferentes capítulos por vezes se superpõem temporalmente, mas como momento socio-histórico de intensa problematização da neuroascese. Tratei de escolher alguns deles que me parecem especialmente relevantes e significativos, sem pretensão de esgotar a longa e complexa história do fenômeno.
O primeiro se insere na história do cérebro duplo (double brain), no século XIX, tal como pesquisado pela historiadora Anne Harrington (1987) e analisado em seu livro seminal sobre o tema, Medicine, mind and the double brain, sobretudo quanto a suas aplicações socioeducativas.
Durante boa parte do século retrasado acreditava-se que cada indivíduo possuía dois cérebros conscientes, funcionalmente idênticos. Daí a expressão cérebro duplo. Para alguns autores da época, diversas patologias mentais se explicavam a partir do funcionamento independente ou desarmônico dos dois 'cérebros'. A história do cérebro duplo no século XIX deve ser dividida em duas épocas, sendo o ponto de corte a descoberta, feita por Paul Broca (1824-1880) na década de 1860, da localização da faculdade da linguagem no hemis-fério esquerdo, abrindo caminho para a assimetria cerebral e a formulação de dicotomias entre os dois hemisférios (Broca, 1861).2
Fala-se então de épocas pré e pós-Broca. Na primeira, acreditava-se que os dois hemisférios cerebrais eram funcionalmente idênticos e trabalhavam em harmonia. Os frenologistas, por exemplo, supunham que as 'faculdades' frenológicas existiam em duplicado, uma em cada hemisfério, e que cada cérebro podia funcionar como um órgão completo da mente. Assim, o frenologista escocês, Hewett Watson (1804-1881) pensava que "a suposta ação individual dos hemisférios" poderia ajudar a "explicar estados mentais ou da consciência que há tempos intrigam os metafísicos"3 (Watson, 1836, p.611). Também Henry Holland (1788-1873)4, médico da rainha Victoria que publicou, em 1840, "On the brain as a double organ", era da opinião de que a loucura provinha da ação independente e incongruente dos hemisférios, "um tendendo a corrigir as percepções, emoções, volições e aberrações do outro" (Holland, 1852, p.185).
Para os objetivos deste texto, a primeira figura da dualidade do cérebro na época pré-Broca que interessa particularmente é Arthur Wigan (1785-1847), clínico de Brighton que, em 1844, publicou A new view of insanity: the duality of the mind proved by the structure, functions, and diseases of the brain & by the phenomena of mental derangement, and shown to be essential to moral responsibility. O livro foi dedicado a Henry Holland, que, segundo Wigan (1844), teria descrito pioneiramente o cérebro duplo, embora não tenha levado a ideia às últimas consequências. Wigan esperou mais de duas décadas para publicá-lo, só se decidindo após a leitura de "On man's power over himself to prevent or control insanity", do reverendo John Barlow (1845), que observava: "um cérebro fortalecido pelo exercício racional ... é menos provável de ser atacado pela doença; porém, se acontecer, a perturbação mental pode ocorrer, mas não a insanidade daninha, e, assim, a maior parte do mal é removida" (p.311).
The duality of the mind se insere no contexto da medicina britânica das décadas de 1830 e 1840, que estabelecia relação entre loucura e ação descoordenada e assimétrica dos dois 'cérebros'.5 Wigan (1844) concebia os hemisférios cerebrais como órgãos inteiros e distintos, sendo cada um completo e individual, isto é, dois cérebros capazes de exercer volições independentes e opostas. Na saúde, um cérebro governa o outro, mas na doença os dois seguem caminhos independentes. São vontades separadas, em oposição. A cura aconteceria quando "são apresentados ao cérebro sadio motivos que o encorajem a exercitar e fortalecer seu controle sobre o cérebro doente" (p.22). O poder do cérebro poderia ser indefinidamente potencializado mediante "exercício e cultivo moral" (p.22), "educação bem-administrada (well-managed)", capaz de "estabelecer e confirmar o poder de concentrar as energias dos dois cérebros sobre um assunto simultaneamente, ou seja, de fazer que ambos os cérebros realizem igual sequência de pensamentos" (p.23).
Em várias partes da obra encontramos a ênfase no exercício e no cultivo do cérebro para aumentar seu poder. Trata-se de tarefa e habilidade pedagógicas e morais, que exigem autocontrole e dedicação constante. Os termos educação, autocontrole e exercício aparecem repetidamente na ascese cerebral proposta por Wigan (1985). O cérebro deve estar atento, vigilante: um hemisfério deve exercer a função de "sentinela" (p.52, 298) sobre o outro, pois "autocomplacência" (self-indulgence), "excesso" ou "educação negligenciada" (p.207-208) podem fazer fracassar a pedagogia cerebral. Treinar e aperfeiçoar o cérebro representam responsabilidade moral, constituindo a "grande tarefa do homem" (p.295). Trata-se de um programa de autoaperfeiçoamento cerebral que, segundo Wigan, deveria ser absorvido nos sistemas educativos, no tratamento dos alienados e na reforma do sistema penal. Nesse contexto, em textos ulteriores à publicação de The duality of the mind, Wigan (citado em Winslow, 1849, p.500) aparece preocupado com "crimes da juventude sem motivo aparente", que seriam explicados por "congestão cerebral". A solução estaria na pedagogia cerebral, isto é, "disciplina moral e intelectual apropriada" guiada por "frenologia racional". Ele confiava tanto em seu programa neuroascético, que sugeria considerar, na hora de julgar um criminoso, o fato de ter sido ou não submetido à educação cerebral (p.510).
Não devemos esquecer o contexto da medicina britânica e do alienismo na época em que Wigan escreve, quando a jurisdição da medicina sobre a loucura era ameaçada por abordagens não médicas com base no tratamento moral. A introdução desse tipo de terapia na virada para o século XIX, efetivada por Philippe Pinel (1745-1826), Jean-Étienne Dominique Esquirol (1772-1840) e William Tuke (1732-1822), entre outros, teve impacto imediato no interesse e no controle dos alienados atingidos pela medicina britânica de finais do século XVIII (Bynum, 1974; Jacyna, 1982; Scull, 1993; Cooter, 1976). O tratamento moral enfatizava os fatores psicológicos na causação da insanidade, supondo-se que, se era psicologicamente provocada, assim deveria ser tratada. A alienação mental aparecia como defeito moral curável mediante a introdução de hábitos de autocontrole. Em Traité sur l'aliénation, de 1801, Pinel negligencia a causação orgânica ou cerebral da insanidade: "Essa espécie de instituição moral dos alienados, própria a assegurar o restabelecimento da razão, supõe que no maior número de casos não haja lesão orgânica do cérebro, nem do crânio" (p.5).
O papel político das teorias fisicalistas torna-se evidente se considerarmos que a fixação na causação orgânica da loucura não correspondia à observação empírica (em contraposição ao empiricismo arguído por Pinel e outros autores para defender a superioridade do tratamento moral sobre o médico). Existia dupla ruptura entre as correlações clínicas e patológicas e entre a patologia e a terapêutica, pois não se encontrava nenhuma lesão significativa no cérebro ou crânio dos alienados, no exame post-mortem, da mesma maneira que diversas modificações orgânicas reveladas pela autópsia de cérebros e crânios de lunáticos também se mostravam no de pessoas falecidas em completa sanidade mental. Não havia, portanto, nenhuma razão empírica que justificasse a crença de que transtornos psiquiátricos fossem doenças cerebrais. Por outro lado, as técnicas terapêuticas aplicadas apontavam pouca conexão com as teorias patológicas defendidas, sendo oriundas do tratamento tradicional dos alienistas, que visavam mais tranquilizar o paciente do que efetivar a cura. Nesse contexto de perda de legitimidade da medicina sobre o tratamento da doença mental, o interesse por teorias fisicalistas da loucura que ressurgiram nas décadas de 1810 e 1820 e que continuariam dando as cartas na psiquiatria vitoriana ao longo do século XIX, desempenhou papel político fundamental na tentativa da psiquiatria britânica de recuperar a hegemonia sobre a insanidade (Jacyna, 1982). A feliz frase do historiador Charles Rosenberg (2006, p.414) "a legitimidade social pressupõe a identidade somática" exprime a crescente busca da causalidade somática e a insistência em considerar a insanidade 'doença do cérebro'. A neuroascese proposta por Wigan em The duality of the mind, com ênfase na educação, no autocontrole e no exercício do cérebro, era atraente para a psiquiatria britânica da época porque legitimava o tratamento moral ao reformatá-lo em termos neurológicos.
A segunda figura a destacar, na genealogia da ascese cerebral na tradição do cérebro duplo, é Charles-Édouard Brown-Séquard (1817-1894), sucessor de Claude Bernard no Collège de France. Se Wigan pertenceu à época da descoberta de Broca referente à assimetria cerebral, Brown-Séquard escreveu em período posterior a Broca, isto é, depois da localização da faculdade da linguagem no hemisfério esquerdo (Aminoff, 1993, 2000; Harrington, 1987; Clarke, 1987).
Brown-Séquard (1874a, 1874b, 1890), o principal defensor de Wigan na segunda metade do século XIX, estava especialmente interessado nas possíveis aplicações de sua teoria na educação: a possibilidade de 'educar' ambos os hemisférios. Apesar de aceitar a diferença funcional dos hemisférios, Brown-Séquard não acreditava que ela se devesse a diferenças estruturais inatas aos hemisférios, tratando-se antes de uma falha no sistema educativo: "Acreditamos que se deva a um defeito em nossa educação o fato de que metade de nosso cérebro seja desenvolvida para determinadas coisas e metade, para outras" (1874b, p.10). Em seu entendimento, a questão era clara: "Se temos dois cérebros, por que não educar ambos?" (p.1). O projeto neuroeducativo visava desenvolver ambos os hemisférios: "Se as crianças assim fossem treinadas, teríamos uma raça mais robusta, mental e fisicamente" (1874a, p.333). A ação sobre o cérebro seria a forma de aumentar sua eficácia, bem como seu tamanho: "Qualquer órgão usado para uma determinada função se desenvolve... o órgão o demonstra em seu tamanho ... . A ação é um meio para aumentar o tamanho" (1874b, p.15-16). Os exercícios que ele propunha para desenvolver o cérebro são basicamente de natureza motora, já que a ação dos dois lados do corpo, em especial das mãos, possibilitaria o exercício de ambos os hemisférios: "Tentem fazer toda criança exercitar, o mais cedo possível, os dois lados do corpo por igual - usá-los alternadamente. Durante um dia ou uma semana, usará um braço para certas tarefas, como escrever, cortar carne ou colocar na boca garfo ou colher, ou qualquer outra para a qual ambos os pés ou mãos possam ser empregados" (p.20).
Contemporâneo de Brown-Séquard, o médico e reformador da educação Edward Seguin (1812-1880) publicou, em 1875, Report on education, relatório apresentado na Exposição de Viena de 1873, na qual servia como agente de educação especial. O relatório apresenta um método educacional que enfatiza a base neurológica e fisiológica da aprendizagem, resultado de longa experiência e da observação de numerosos sistemas de ensino e de educação especial na França e nos Estados Unidos. Para Seguin (1880, p.34), a movimentação do lado esquerdo do corpo produz maior atividade do hemisfério direito do cérebro, o que "induz operações mentais iguais ou substitutivas para ambos os hemisférios, mediante as quais o aprendizado e a reflexão constantes podem ser atingidos". Até o final do século, apareceram outras vozes favoráveis à educação das duas mãos e, consequentemente, dos dois hemisférios cerebrais (Hollis, 1875; Lundie, 1896; Ireland, 1880).
O programa neuroeducativo de Brown-Séquard e de seus contemporâneos antecipou o movimento de ambidestrismo do início do século XX. Em 1900 James Liberty Tadd (1854-1917), diretor da escola pública de arte industrial de Filadélfia, propunha, em New methods in education, um programa neuroascético que permitiria aperfeiçoar os dois hemisférios cerebrais com base no ensino ambidestro:
Se trabalho com a mão direita, uso o lado esquerdo do cérebro. De fato, exercito o centro especial do cérebro em cada movimento consciente do que faço e, em cada mudança de movimento, aciono algum outro centro. Se, ao realizar qualquer dessas ações com energia e precisão, colaboro no desenvolvimento do centro correspondente, estou aperfeiçoando o organismo cerebral, construindo para mim uma fábrica mental melhor e mais simétrica (Tadd, 1900, p.48).
Em 1903 John Jackson, professor de gramática em Belfast, fundou a British Ambidextral Culture Society, cujos objetivos foram descritos no tratado Ambidexterity or, two-handedness and two-brainedness: an argument for natural development and rational education (Jackson, 1905), embora suas ideias sobre ambidesteridade se refiram à década de 1890. Nele, Jackson remete à tradição do cérebro duplo de Holland e especialmente de Wigan, na época pré-Broca, e de Brown-Séquard, já na época pós-Broca, e reporta-se também a Liberty Tadd (Harris, 1980, 1985a, 1985b; Harrington, 1987; Ornstein, 1997). Seu objetivo era propor um sistema neuroeducativo que levasse em conta o aperfeiçoamento dos dois hemisférios. Citando Hollis (1875, p.281), membro da sociedade, Jackson (1905, p.103-104) afirmava que as gerações futuras "devem utilizar ao máximo cada linha cúbica da substância cerebral, e isso só pode ser feito por um sistema educativo que imponha igual preeminência a ambos os lados do cérebro em todas as operações intelectuais". O princípio era simples: exercitando as duas mãos, "as células motoras do lado dominante do cérebro são estimuladas, fortalecidas e desenvolvidas" (p.84). Como resultado, a capacidade do cérebro poderia ser duplicada, viabilizando a realização simultânea de atividades independentes: "Se for solicitado, uma das mãos escreverá uma carta original, e a outra tocará piano; uma se ocupará de escrever fonografia, e a outra de fazer um desenho a nanquim" (p.225). Jackson pensava de fato que o treinamento de dois hemisférios cerebrais não só aumentaria o potencial do cérebro, como também levaria à formação de centros da linguagem no direito, prevenindo afasias e hemiplegias. Na década seguinte, diversos autores na Inglaterra e na França acreditaram fornecer evidências a favor do ambidestrismo para o tratamento de afasias e diferentes danos cerebrais, bem como das diversas vantagens educativas do ensino ambidestro (Armaingaud, 1919; Macnaughton-Jones, 1914; Kipiani, 1913). A educação das duas mãos e, portanto, dos dois cérebros aumentaria o poder mental e preveniria danos cerebrais futuros.
O movimento ambidestro foi, todavia, fortemente criticado desde o início por figuras como George Gould (1907) - médico de Filadélfia e editor da American Medicine, que debateu diretamente com John Jackson - e James Crichton-Browne (1907). O argumento principal desses autores era a preeminência da mão direita e do hemisfério esquerdo, ressaltada por Paul Broca como fruto do processo evolucionário. Propor o ambidestrismo seria ir contra o curso da evolução. Para citar apenas uma das diversas vozes dissonantes, vejamos a observação lapidar com que Crichton-Browne finaliza seu artigo Dexterity and the bend sinister, de 1907: "Quando as duas mãos forem capazes de escrever simultaneamente sobre dois assuntos diferentes, devem levar a uma ampliação enorme de nossos já enormes asilos para loucos" (p.652). O fato de um médico eminente como sir Crichton-Browne se interessar em rebater as teses de John Jackson, meros dois anos após a publicação do livro, confirma a importância que as ideias ambidestristas tiveram para autores tão ilustres como Brown-Séquard e outros.
Apesar do interesse que o movimento ambidestro levantou por varias décadas, o isola-mento progressivo de Jackson da opinião científica sobre ambidesteridade e especialização hemisférica, o aumento das críticas contra o movimento e o descaso de professores e educadores por seus métodos contribuíram para que, por volta de 1920, os ideais de ambidestrismo e a educação dos dois hemisférios cerebrais fossem marginalizados (Harris, 1980, 1985a).
O segundo capítulo que abordo, na genealogia da neuroascese no século XIX, é o programa de ascese cerebral da frenologia. Tal como aconteceu com relação aos postulados de Wigan, a frenologia representou, para alienistas ingleses da primeira metade do século XIX, uma forma de legitimar o humanismo e utilitarismo do tratamento moral (que questionava a presença dos médicos nos asilos), dotando-o de credibilidade científica (Bynum, 1974; Cooter, 1976, 1984; Jacyna, 1982). O tratamento moral obtinha assim um estatuto científico, pois a frenologia "por meio do cérebro, conduziu a mente e a psicologia integralmente ao domínio da medicina somática, da mesma maneira como, na psiquiatria, tinha conduzido o cérebro ao domínio da psicologia" (Cooter, 1976, p.141). O sucesso da terapia frenológica evidenciava-se no benefício psicológico e na resultante hipertrofia das áreas estimuladas do cérebro.
O tratamento moral, para os frenologistas, tem lugar no esquema mecaniscista do cérebro, dividido em órgãos ou faculdades que funcionavam como os músculos: a ação dos órgãos perturbados seria suspensa mobilizando outros órgãos. O projeto sócio e neuroeducativo dos frenólogos consistia em treinar, redirecionar e fortalecer órgãos mentais específicos. De acordo com esse projeto, um ambiente particular e agradável estimularia o cérebro a trabalhar em outras direções. A saúde mental residiria no exercício diário de todos os órgãos mentais. Tanto a inatividade como o exercício exagerado de qualquer órgão mental poderia levar à insanidade. As escolas deveriam encorajar virtudes como sobriedade, moderação, castidade e autoaperfeiçoamento. A fisiologia moral e a fisiologia cerebral apareciam interrelacionadas com os valores da sociedade vitoriana. Munidos com a ascese frenológica, os indivíduos poderiam cultivar e aprimorar suas propensões consideradas socialmente desejáveis e, ao mesmo tempo, inibir seus vícios e inclinações perniciosas - o que, sem dúvida, está na raiz de seu enorme sucesso, ao se adequar perfeitamente ao ideal vitoriano de autoconhecimento, autocontrole e autoaperfeiçoamento (Clarke, Jacyna, 1987; De Giustino, 1975; Cooter, 1984). Para o frenólogo americano Samuel Roberts Wells (citado em Stern, 1971, p.201) a frenologia seria "a câmara através da qual podemos olhar para nós mesmos". A frenologia canalizava ansiedades e oferecia diretrizes quanto ao modo como os indivíduos deveriam conduzir suas vidas. Era a panaceia universal para os males que os afligiam na sociedade vitoriana: no cérebro residem as respostas práticas às mais diversas questões, desde como desenvolver talentos pessoais; em quem confiar e em quem não confiar; como educar crianças; questões de educação sexual e até a escolha de cônjuge ou dos melhores empregados.6 Cada aspecto da vida social e pessoal dos indivíduos poderia ser abordado frenologicamente.
Nos Estados Unidos, o credo frenológico identificou-se com o próprio ideal da sociedade americana oitocentista, com ênfase na reforma mediante o autoconhecimento e a dimensão de liberdade de escolha implícita na ascese cerebral. "Somos livres para escolher o rumo que seguiremos - declaravam os irmãos Fowler - e nossos corpos, nossos cérebros e nossas peculiaridades se adaptam com facilidade e indicam claramente a vida que vivemos e o caráter que formamos". Se os órgãos cerebrais podem ser "aumentados ou diminuídos" não só em crianças, mas também em adultos, então "o homem não é obrigado a carregar todos os seus excessos, defeitos e faltas até o túmulo". A ascese cerebral atinge uma dimensão moral e um dever cívico que alcança o paroxismo quando os Fowler (citados em Stern, 1971, p.34, 35) exortam a "frenologizar nossa nação", cuja "população deveria tornar-se toda frenologista".
A frenologia teve grande impacto especificamente no campo da educação, com seus programas neuroeducativos. Os principais frenólogos britânicos, George Combe (1788-1858) e seu irmão Andrew Combe (1797-1847), tornaram-se importantes reformadores do sistema educativo. The constitution of man considered in relation to external objects, de George Combe (1828), foi usado como livro de texto em numerosas escolas britânicas desde 1835, e o nova-iorquino Journal of Education (citado em van Wyhe, 2004, p.183; Stern, 1971) indicava sua leitura para todo estudante e professor, já que "as ideias de valor inestimável salvariam muitos jovens promissores de morte prematura". Trata-se de um dos grandes clássicos do século XIX, que em 1860 já havia vendido trezentos mil exemplares (os primeiros dois mil apenas dez dias após sua publicação), superando amplamente grandes best-sellers, como The origins of species, de Darwin, com seus cinquenta mil exemplares vendidos até o final do século, podendo-se comparar, em sucesso, com os 258.000 exemplares vendidos por Self-help, de Samuel Smiles, entre 1859, ano de sua publicação, e 1905.
George Combe é o principal responsável pela transformação da teoria organológica do cérebro em veículo cientificamente respeitável de ideias acerca da vida social e sua organização (Cooter, 1984; van Wyhe, 2004). Em sua opinião, os órgãos cerebrais deveriam ser treinados e exercitados como os músculos: "a melhor maneira de aumentar a força e a energia de qualquer órgão ou função é exercitá-lo de maneira regular e judiciosa, segundo as leis de sua constituição". Como resultado, "quando os órgãos cerebrais são afetados da maneira adequada, uma influência nervosa benigna e vivificante permeia a estrutura, e todas as funções do corpo são realizadas com crescente prazer e sucesso" (Combe, 1828, p.115, 117-118). O exercício de determinados órgãos cerebrais faria aumentar seu tamanho. Andrew Combe (1837, p.417) observou que "mesmo na idade madura o tamanho dos órgãos individuais do cérebro pode ser aumentado mediante o exercício adequado das faculdades correspondentes", e James Deville (1841) ofereceu numerosos exemplos que detalham o aumento de até meia polegada em determinados órgãos cerebrais, em decorrência da educação e do treinamento moral. Desse modo, a frenologia representou uma eficaz filosofia da educação, que colocava o cérebro no centro do processo de aprendizagem. Nesse contexto, mente débil seria aquela cujas faculdades não são exercitadas, pois a mente alerta precisa de exercício, tanto quanto o corpo.
Convém não esquecer que, na frenologia, o cérebro é o órgão da mente (Gall, 1798, van Wyhe, 2002). O naturalismo frenológico foi incorporado aos currículos escolares ingleses e desenvolveram-se projetos de aperfeiçoamento cerebral visando à educação das classes populares. O secretário da Dundee Mechanics' Phrenological Society, por exemplo, supunha que a frenologia traria benefícios à educação de crianças, tornando-as úteis ao restringir as propensões, alimentar os sentimentos elevados e treinar as faculdades da juventude (Cooter, 1984). Muitos livros foram publicados sobre o tema entre 1830 e 1850, cabendo destacar Principles of physiology applied to the preservation of health, and to the improvement of physical and medical education, de Andrew Combe (1834); The utility of the knowledge of nature considered; with reference to the introduction of the physical sciences into the general education of the youth, de Brayley (1831); The philosophy of education, with its practical application to a system and plan of popular education as a national object, de Simpson (1834, 1836, 1943); Scott's popular and scientific lectures, the origin & formation of man; or what is man anatomically, physiologically, and phrenologically considered?, de Scott (c.1859).7
Um dos benefícios mais significativos creditados à frenologia foi sua importância na manutenção da boa saúde, dando lugar a uma avalancha de literatura frenofisiológica. A tarefa fundamental dessa literatura, como se depreende do livro de Andrew Combe (1834) Principles of physiology applied to the preservation of health, era tornar públicas as leis naturais da saúde e a necessidade de lhes obedecer para atingir harmonia e felicidade. Mostrava, por exemplo, os efeitos do álcool ou da depravação sexual sobre o cérebro, oferecendo motivos racionais para a temperança e moderação. Consequentemente, a boa saúde passava pelo conhecimento e pela aprendizagem das leis orgânicas que governam corpo e cérebro. O aumento das epidemias entre 1820 e 1860 na Inglaterra, especialmente a cólera, como consequência do crescimento da população urbana constituía o contexto dessa admonição à saúde. Para os irmãos Combe, esse problema de saúde pública estava ligado ao desconhe-cimento da população acerca das leis naturais que governam o corpo e o cérebro. Como consequência, e de maneira análoga ao que ocorre na cultura contemporânea, os indivíduos eram responsabilizados por sua saúde (Cooter, 1984; van Wyhe, 2004). A literatura frenofisiológica coloca em relevo uma questão recorrente na história da neuroascese e em numerosas prescrições da ascese cerebral de nossos dias. Se, por um lado, as diferentes práticas e prescrições visam, em última instância, o aperfeiçoamento cerebral, quando observamos aquelas que incluem dietas, exercícios físicos e vida saudável em geral, percebemos que elas se voltam para o corpo como um todo e não apenas para o cérebro. Os autores, entretanto, insistem em afirmar que é o cérebro que está sendo treinado.
Entre esses autores destaca-se, como grande contribuinte da popularização dessa literatura frenofisiológica, Sylvester Graham (1794-1851), um dos fundadores dos movimentos de alimentação natural nos EUA, que se opunha à vida na cidade e à industrialização, reiterando as virtudes da vida tradicional e agrícola (Nissenbaum, 1980; Shryock, 1931; Sokolow, 1983; Winter, 2000). Dos exemplos mais significativos, vale mencionar o apelo para o consumo do pão feito em casa, rejeitando o que era fabricado com farinha refinada pela nascente indústria panificadora. A qualidade do pão refletiria o caráter moral da família. O autodisciplinamento e autocontrole presentes na dieta saudável e nas regras higiênicas constituiriam atos de excelência moral (Gusfield, 1992). A boa saúde e o bom caráter caminhariam lado a lado, e, portanto, aperfeiçoando sua saúde, o indivíduo aprimoraria suas potencialidades morais e vice-versa.
As esferas moral e médica são equiparadas - tópico comum no século XIX. Em Lectures on the science of human life (Graham, 1839), no qual aparecem numerosas referências à frenologia, Graham credita The costitution of man, de George Combe, como o livro que mais provocou o interesse popular pela fisiologia (Cooter, 1984). Amigo e colaborador dos irmãos Fowler, célebres frenólogos americanos, Graham tentou conquistá-los com argumentos frenológicos para a dieta vegetariana, que enfraqueceria o órgão da destrutividade (destructiveness) e fortaleceria o da benevolência (benevolence) (Colbert, 1998; Davies, 1955; Stern, 1971). Foi entre os adventistas do sétimo dia que o grahamismo encontrou forte ressonância. Após ter tomado conhecimento do projeto de Graham, Ellen White, uma das profetisas do movimento adventista, teve uma visão em que Deus lhe teria revelado que as leis higiênicas deveriam ser cumpridas com tanta seriedade quanto os Dez Mandamentos (Fuller, 1989).
Um dos principais seguidores de Graham e protegido de Ellen White foi o médico adventista John Harvey Kellog (1852-1943), prolífico escritor que continuou a cruzada da alimentação natural e da pureza sexual dos grahamitas, além de ter inventado os corn flakes (Carson, 1957). No capítulo 23, "How to keep the brain and the nerves healthy", de seu First book in physiology and hygiene, Kellog (1887) delineia um programa neuroascético que visa exercitar o cérebro como se faz com os músculos:
Devemos exercitar o cérebro. O que fazemos quando queremos fortalecer os músculos? Fazemos com que trabalhem arduamente todos os dias, não? O exercício aumenta-os e os fortalece. Algo semelhante ocorre com nossos cérebros. Se nos empenhamos no estudo e aprendemos bem as lições, nossos cérebros se fortalecem, e o estudo torna-se fácil. Se, porém, estudamos pouco, e não aprendemos as lições integralmente, então o estudo não traz muito benefício a nossos cérebros (p.126).
Não só o cérebro, no entanto, deve ser trabalhado: exercícios físicos, dieta equilibrada e sono reparador são necessários para fortalecê-lo. Kellog também registra o efeito de toxinas, álcool e drogas sobre o cérebro. Todos esses aspectos de seu programa de ascese cerebral reaparecem ipsis litteris em muitos best-sellers de autoajuda cerebral de nossa época, como veremos.
O padrão frenofisiológico teve importância fundamental na formação do movimento Self-Help, que constitui o terceiro capítulo da genealogia da neuroascese no século XIX, em que me detenho. A obra de George e Andrew Combe foi crucial nesse sentido, ao invocar a responsabilidade e o aperfeiçoamento pessoal (físico e cerebral) mediante a educação e o autocontrole (van Wyhe, 2004). Tópicos essenciais da frenologia, tais como racionalismo, leis naturais, educação, saúde, higiene, autoconhecimento e autoformação contribuíram para a elaboração da ideia de autoajuda. Antes do best-seller Self-help (1859), que se tornaria a bíblia do movimento Self-Help no século XIX, Samuel Smiles (1812-1904) publicara, em 1837, seu primeiro livro, The physical education of the young, que representava, segundo o autor, "um complemento ou apêndice útil aos trabalhos do dr. Combe" (citado em Cooter, 1984, p.178; ver também Travers, 1977). Vale mencionar que Smiles enviou um exemplar a George Combe buscando a promoção de sua obra. De fato, a ênfase no autodesenvolvimento e autocultivo das diferentes faculdades mediante o exercício faz parte do credo básico da frenologia e é tema constante da moral vitoriana.
No final do século XIX, a dimensão da autoajuda e da ética do autoaperfeiçoamento torna-se, para a frenologia, mais importante do que a das reformas sociais que a carac-terizaram nas primeiras décadas do século (Cooter, 1984). A frenologia acompanhou o crescimento de self-healing e outras formas de medicina popular alternativa e heterodoxa que representavam uma forma de dissensão do sistema médico, em época na qual o establishment médico britânico tinha promulgado o Medical Act (agosto de 1858), para distinguir os praticantes da medicina considerados qualificados para exercê-la. Essa situação é descrita pelo médico e ex-frenologista Daniel Noble em 1853, quando observa, em Elements of psychological medicine, como números referentes à frenologia engrossam as fileiras da medicina alternativa e do espiritismo: "Uns se tornaram apóstolos ou adeptos da cura da água (water cure), outros da clarividência e das profecias mesméricas; alguns da homeopatia; e, acredito, houve quem se tenha convertido ao espiritismo!" (citado em Cooter, 1984, p.265). De fato, especialmente na segunda metade do século, cresceu o interesse da frenologia pela medicina heterodoxa, o espiritismo e o âmbito do oculto, sem entretanto perder-se a dimensão de autoajuda. Sobretudo nos Estados Unidos, ela degenera para o oculto e o paranormal, como se depreende, por exemplo, dos livros editados pela família Fowler, dedicados a transferência do pensamento, telepatia, fenômenos paranormais, quiromancia, grafologia, karma, reencarnação, corpo astral e áreas afins (Stern, 1971; Fuller, 1989).
O historiador Wouter Hanegraaf (1998) refere-se à "psicologização do esoterismo" para refletir acerca do impacto da psicologia na tradição esotérica ocidental, no século XIX, na base de formação dos diversos movimentos New Age, especialmente nos Estados Unidos. Nesse contexto, é de especial interesse o movimento chamado de New Thought ou Mind Cure (Braden, 1963; Fuller, 1982, 1989, 2001; Taylor, 1999), que recupera diversos insights do ideário do Self-Help de Samuel Smiles. Por volta de 1890, o New Thought gerou dúzias de livros que misturavam a espiritualidade metafísica com exercícios de autoajuda.
Bom exemplo dessa tendência é Frank Haddock (1853-1915), influente e prolixo autor de livros referentes ao Self-Help e ao New Thought, mais conhecido pela série The Power Book Library, que inclui Power of will: a practical companion book for unfoldment of the powers of mind (1907); Power for success through culture of vibrant magnetism (1910); The personal atmosphere: ten studies in poise and power (1908); Practical psychology: an advanced manual in the science of mental development (1915); Business power: a practical manual in financial ability and commercial leadership (1916); Culture of courage: a practical companion book for unfoldment of fearless personality (1916); e Creative personality (1916). Esses títulos e outros ainda mais eloquentes, como How to use new thought in home life: a key to happy and efficient living for husband, wife and children (1915) e Making money: how to grow success (1929), ambos de Elizabeth Jones Towne, ou How to get what you want (1917), de Orison Swett Marden, transformaram a Mind Cure ou New Thought em ideologia superficial, capaz de oferecer soluções rápidas e fáceis para os problemas da vida doméstica, das relações interpessoais e da esfera dos negócios (Fuller, 1982, 2001).
Phineas Quimby (1802-1866), um dos pioneiros do Mental Healing, criador da Mental Cure ou Mind Cure e pai de diversas self-help psychologies, sofreu forte influência do mesmerista francês Charles Poyen, que, em 1838, iniciou na Nova Inglaterra uma tournée proselitista. Começando como mesmerista, Quimby afastou-se gradualmente do magnetismo animal ao afirmar que ideias ou crenças equivocadas, e não o fluido magnético, são responsáveis pelos transtornos físicos e mentais. A doença seria apenas a direção incorreta da mente, e a cura implicaria mudança no sistema de crenças do paciente. Por volta de 1865, Quimby já tinha tratado mais de doze mil doentes acometidos de males que iam da tuberculose ao câncer, passando pela neurastenia e a histeria (Taylor, 1999).
Apesar de numerosos insights do que se viria a chamar de New Thought constituírem desdobramento direto das teorias de Quimby, o principal precursor do movimento foi Warren Felt Evans (1817-1889), pastor metodista que, após ser curado por Quimby, tornou-se seu principal discípulo. O movimento, todavia, só se concretizaria após a morte de Evans, sem dúvida o autor mais interessante, no contexto da Mind Cure e do New Thought, para os objetivos de uma genealogia das práticas de si cerebrais. Em títulos como Mental cure (1869), Mental medicine (1874), The divine law of cure (1881), Esoteric christianity and mental therapeutics (1886), The primitive mind cure (1885) era apresentada sua doutrina, segundo a qual seria possível obter energia divina curadora mediante o contato com os recantos mais profundos da mente inconsciente, cujos poderes curativos corresponderiam ao kerygma da Igreja cristã primitiva. Os princípios da Mind Cure constituem uma atualização dos ensinamentos metafísicos de Jesus Cristo e seus apóstolos. O sistema do Mental Healing de Quimby, que não deixou nenhum escrito significativo, foi transformado por Evans em uma Weltanschauung particular, resultante da combinação de diversos elementos: uma certa tradição idealista, que remonta aos vedas indianos e para a qual só existe o pensamento, o misticismo de origem transcendentalista e swedenborgiano, a tradição panteísta e interpretações gnósticas e ocultas do cristianismo (Fuller, 1989, 2000, 2001; Teahan, 1979). Na tradição de Quimby e da filosofia do Self-Help, Evans responsabilizava os indivíduos por sua situação física e mental. A única razão de pensarmos que as situações externas exercem poder sobre nós seria nossa crença de que assim o é. Os pensamentos poderiam transformar qualquer situação do mundo real. Esse ideário de Evans e do New Thought seria recuperado pelos movimentos New Age que proliferaram no século XX (Hanegraaf, 1998).
Em relação à neuroascese, Evans retomou diversos princípios da frenologia e do freno-magnetismo, acreditando que o toque da mão aumentaria a ação do órgão cerebral correspondente. "Toque o órgão que queira excitar ou qualquer parte do cérebro cuja atividade queira aumentar - escreve Evans (1874, p.74) - e calmamente deseje ou sugira que se sinta feliz ou calmo, ou forte, ou esperançoso, de acordo com o que cada caso requerer, e obterá os efeitos decorrentes de inculcar o estado mental apropriado". Sirva como exemplo a prescrição neurascética para indivíduos propensos ao desânimo e ao desespero: "Fixe a atenção na parte do cérebro que corresponde ao órgão da esperança e, se for necessário, coloque seu dedo sobre ele, e uma alegre claridade iluminará sua escuridão" (p.75).
Evans acreditava que um hemisfério cerebral controlava a função intelectual e volitiva, e o outro, a involuntária. Este último seria o conduto psíquico utilizado quando a mente se volta para si mesma e descobre seu self imortal. Aqui, na vida pré-consciente da alma, os dois hemisférios estão harmonicamente unidos, restaurando "a relação apropriada da mente com as potentes forças ativas do universo", como Evans (1874, citado em Fuller, 1982, p.149) registrou em Mental medicine. É necessário todo um processo de reprogramação cerebral e mental para a substituição de crenças negativas por positivas. Esses elementos da neuroascese de Evans reaparecem em numerosas prescrições da neuroascese contemporânea, às quais me remeto brevemente, para concluir.
Conclusão: práticas de si cerebrais na contemporaneidade
Na atualidade reencontramos muitas das práticas neuroascéticas do século retrasado, como mostra a enxurrada de publicações de ginástica cerebral ou neuróbica a lotar as prateleiras das livrarias. As práticas do self cerebrais, ou neuroascese, isto é, práticas de como agir sobre o cérebro para aperfeiçoar seu funcionamento, que aparecem nos best-sellers de autoajuda possuem, como este artigo tenta mostrar, história longa. Encontramos, no nível dessas práticas de si, ou seja, da (neuro)ascese, certas continuidades entre as neuroascéticas oitocentistas e sua reaparição contemporânea, apesar de significativas descontinuidades nos contextos socioculturais e na finalidade dos exercícios. Trata-se, com frequência, dos mesmos exercícios, da mesma dietética cerebral, de maneiras semelhantes de potencializar a performance cerebral, embora com finalidades diversas. É surpreendente que muitas das novas 'descobertas' neuroascéticas existam há mais de 150 anos. Em ambos os casos, as práticas neuroascéticas redundam na formação de selves objetivos, na autoconstituição objetiva (objective self-fashioning), para usar a expressão do antropólogo Joseph Dumit (2004) quando se refere ao processo de formação de um self objetivo, isto é, uma categoria de pessoa desenvolvida mediante conhecimento expert. Trata-se de processo duplo: por um lado, a ciência produz fatos que definem objetivamente quem somos; por outro, os indivíduos formam seus próprios modelos de self a partir dos fatos científicos.
No entanto, para não cair em anacronismos e postular continuidade direta (o que, sem dúvida, seria ingênuo), é necessário guardar a devida distância entre os dois momentos históricos e levar em consideração os diferentes fatores na formação de selves objetivos a partir da segunda metade do século XX, que não existiam na época dos frenologistas e dos movimentos Self-Help e New Thought, tais como o papel desempenhado pela mídia, as tecnologias de visualização médica, o programa 'forte' das neurociências e a indústria de psicofármacos (Rose, 2007; Ehrenberg, 2004; Healy, 2002). Tampouco podemos esquecer que, diferentemente do século XIX, vive-se hoje em uma cultura somática, na qual as formas de subjetivação corporais (da neuroquímica à cirúrgica) ocupam cada vez mais o lugar de formas internalistas e intimistas de construção e descrição de si, próprias de culturas mais psicológicas (Costa, 2004; Ortega 2008a; Rose, 2007). Isso faz uma grande diferença e cria um contexto cultural propício para a constituição de neuroidentidades.
Tópico importante da autoajuda tradicional que reencontramos na ascese cerebral contemporânea é a ideia da mente dividida e em luta - sendo uma parte dela insubmissa, devendo ser controlada ou subutilizada -, que remete à tradição do cérebro duplo de Wigan e outros. Na época pós-Broca, o hemisfério esquerdo era considerado superior, por ser responsável pelas atividades intelectuais e civilizadas, predominando em homens brancos europeus. Já o hemisfério direito era preponderante em mulheres, criminosos, índios, negros, loucos e homossexuais (Harrington, 1987). Os best-sellers de autoajuda cerebral reproduzem e exploram o boom do cérebro direito, que tem lugar a partir dos anos 60, no contexto da contracultura e das pesquisas sobre o cérebro dividido (split-brain) de Bogen, Gazzaniga e Sperry, entre outros (Blakeslee, 1980; Gazzaniga, Bogen, Sperry, 1962; Harris, 1980, 1985a; Harrington, 1987; Sperry, 1965). Nessa conjuntura, o célebre neurofisiologista norte-americano e especialista em split-brain Joseph Bogen (1971, 1985) resgatou a figura de Arthur Wigan e foi responsável por uma nova edição de The duality of mind, além de denominar sua perspectiva neowiganism.
Boa parte dos best-sellers de autoajuda cerebral embarca na esteira da reabilitação do hemisfério direito. Marco importante nessa tendência foi a publicação, em 1972, do clássico e repetidamente citado The psychology of consciousness, por Robert Ornstein, para quem o racionalismo e tecnificismo da sociedade ocidental, com sua ênfase na lógica e na linguagem, patente no predomínio do hemisfério esquerdo, teriam reprimido as tendências holísticas e místicas do hemisfério direito, mais próximo do pensamento oriental. O mercado de autoajuda foi então inundado por uma enxurrada de títulos que ligavam o hemisfério direito aos mais bizarros fenômenos, desde a tipificação de artistas, músicos, políticos e ditadores segundo sua 'orientação' cerebral, até a sexualidade tântrica, a capacidade mediúnica e outras atividades paranormais próprias do cérebro direito (Capacchione, 2001; Ehrenwald, 1984).
Especialmente na pedagogia, aparece desde finais dos anos 60 uma moda neuroeducativa que insistia nas inúmeras vantagens escolares do treinamento do cérebro direito, repudiando o sistema educativo tradicional, baseado no hemisfério esquerdo (Edwards, 1979; Gainer, Gainer, 1977; Hermann, 1981; Hunter, 1976). Os novos neuroeducadores propunham um "equilíbrio hemisférico no currículo" que compensasse os excessos da educação baseada no hemisfério esquerdo (e seus fracassos pedagógicos):
Os estudantes que não acham a escola muito empolgante talvez possuam orientação cerebral esquerda. Para eles, muitas tarefas pensadas para o cérebro esquerdo não fazem sentido. Existem evidências de que os pobres, nas grandes cidades, tendem a possuir orientação cerebral direita, enquanto indivíduos de classe média são mais orientados pelo hemisfério esquerdo. Se isso for verdade, está explicado por que muitos pobres nas cidades não têm sucesso na escola e por que consideram irrelevantes muitas tarefas nela exigidas (Ornstein, 1997, p.92).
Esses projetos reproduzem a cruzada educacional e muitos dos pressupostos de Brown-Séquard e da Ambidextral Culture Society. Sem dúvida, as evidências neuropsicológicas atuais são mais avançadas do que as do início do século XX. Porém, no contexto de uma genealogia das práticas de si cerebrais, por importante que seja a tarefa, não se trata de separar o joio do trigo, as evidências científicas da charlatanice e das afirmações e propostas disparatadas. Mais relevante é mostrar como as práticas neuroascéticas reproduzem a lógica do sujeito cerebral e da autoajuda tradicional com roupagem cientificista. No nível das práticas de si, muitos motivos são recuperados tanto da tradição neuroeducativa da frenologia e do cérebro duplo como da tradição da autoajuda que remonta a Samuel Smiles e aos irmãos Combe. É notável como muitas das recomendações sobre os exercícios cerebrais e a importância do exercício físico, da dieta equilibrada e do efeito de álcool, drogas e outras toxinas no cérebro, presentes nos programas neuroascéticos dos best-sellers contemporâneos, repetem autores oitocentistas como John Harvey Kellog em First book in physiology and hygiene. Os contextos socioculturais e a finalidade das práticas são, no entanto, diferentes. No final do século XIX, o cérebro 'azeitado' de Kellog remete a uma situação de debilitação e deslegitimação das regras sociais e da ordem moral, estando o corpo físico, social e político fora de controle e só recuperável por vontade individual e práticas bio e neuroascéticas. A ascese cerebral visava recuperar a retidão moral e garantir a ordem sociomoral, erodida pela perda da legitimidade da autoridade tradicional (Gusfield, 1992). Hoje, em contrapartida, a ideologia do sujeito cerebral não pretende restaurar ou legitimar formas tradicionais de autoridade, mas sim inserir-se nas demandas da maximização da performance corporal da cultura somática e da biossociabilidade. Apesar das descontinuidades dos contextos socioculturais e diferenças entre os objetivos dessas práticas, no nível das práticas de si, isto é, da (neuro)ascese, existem, entretanto, semelhanças assombrosas: prá-ticas, exercícios, prescrições são em muitos casos literalmente os mesmos, como foi assinalado.
Concluindo, parece-me importante frisar que não podemos reduzir o surgimento e a popularização das práticas de neuroascese aqui descritas aos avanços dos conhecimentos neurofisiológicos, especialmente da plasticidade cerebral, pois estaríamos a negligenciar o papel da ontologia do sujeito cerebral e da neurossociabilidade - e da cultura somática da biossociabilidade, em um sentido mais amplo. Trata-se de formas de subjetivação, isto é, de relações consigo e com os outros como sujeitos cerebrais. As práticas neuroascéticas são as ferramentas que o sujeito cerebral dispõe para essa 'constituição de um si objetivo' e externalizado. Acredito que é no contexto da neurocultura e do sujeito cerebral que as práticas de neuroascese atingem sua inteligibilidade.
NOTAS
Recebido para publicação em setembro de 2008.
Aprovado para publicação em março de 2009.
Referências bibliográficas
- AMINOFF, Michael J. Brown-Séquard: selected contributions of a nineteenth-century neuroscientist. The Neuroscientist, New Haven, v.6, n.1, p.60-65. 2000.
- AMINOFF, Michael J. Brown-Sequard: a visionary of science. New York: Raven Press. 1993.
- ARMAINGAUD. De l'opportunité actuelle d'un appel de l'Académie de Médecine à la population et au Gouvernement en faveur de l'éducation et de l'utilisation égales des deux mains. Bulletin de L'Academie de Médecine, Paris, n.81, p.151-156. 1919.
- BARLOW, John. On man´s power over himself to prevent or control insanity. American Journal of Insanity, Utica, n.1, p.289-319. 1845.
- BERRY, Diana. Holland, sir Henry, first baronet (1788-1873). In: Oxford dictionary of national biography Oxford: Oxford University Press. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1093/ref:odnb/13525 Acesso em: 15 jan. 2007. 2004.
- BLAKESLEE, Thomas. The right brain: a new understanding of the unconscious mind and its creative powers. London: The Macmillan Press. 1980.
- BOGEN, Joseph E. Neowiganism. In: Smith, W. Lynn (Org.). Drugs, development and cerebral function Springfield: C. C. Thomas. p.358-361. 1971.
- BOGEN, Joseph E. Foreword. In: Wigan, Arthur L. The duality of the mind Malibu: J. Simon. 1.ed., 1844. p.IX-XV. 1985.
- BRADEN, Charles S. Spirits in rebellion: the rise and development of new thought. Dallas: Southern Methodist University Press. 1963.
- BROCA, Paul. Remarques sur le siège de la faculté du langage articulé, suivies d'une observation d'aphémie (perte de la parole). Bulletin de la Société Anatomique, Paris, n.6, p.330-357. 1861.
- BROWN-SÉQUARD, Charles-Édouard. Have we two brains or one? The Forum, n.9, p.627-643. 1890.
- BROWN-SÉQUARD, Charles-Édouard. The brain power of man: has he two brains or has he one? Cincinnati Lancet and Observer, Cincinnati, n.17, p.330-333. 1874a.
- BROWN-SÉQUARD, Charles-Édouard. The Toner Lectures: lecture II - Dual character of the brain. Smithsonian Miscellaneous Collections, Washington D.C., n. 15, p.1-21. 1874b.
- BYNUM, William F. Rationales for therapy in British psychiatry: 1780-1835. Medical History, London, v.18, n.4, p.317-334. 1974.
- CAPACCHIONE, Lucia. The power of your other hand: a course in channeling the inner wisdom of the right brain. Franklin Lakes: New Page Books. 2001.
- CARSON, Gerald. Cornflakes crusade New York: Reinhart. 1957.
- CLARKE, Basil. Arthur Wigan and the duality of mind Cambridge: Cambridge Univesity Press. 1987.
- CLARKE, Edwin; JACYNA, Stephen. Nineteenth century origins of neuroscientific concepts Berkeley: University of California Press. 1987.
- COLBERT, Charles. A measure of perfection: phrenology and the fine arts in America Chapel Hill: The University of North Carolina Press. 1998.
- COMBE, Andrew. Remarks on the possibility of increasing the development of the cerebral organs by adequate exercise of the mental faculties. Phrenological Journal, Edinburgh, n.10, p.414-426. 1837.
- COMBE, Andrew. Principles of physiology applied to the preservation of health and to the development of physical education Edinburgh: Green and Longman. 1834.
- COMBE, George. The constitution of man considered in relation to external objects Edinburgh: Mclachlan & Stewardt and John Anderson Jun. 1836.
- COOTER, Roger. The cultural meaning of popular science: phrenology and the organisation of consent in 19th-century Britain. Cambridge: Cambridge University Press. 1984.
- COOTER, Roger. Phrenology and British alienists, c.1825-1845. Medical History, London, v.20, n.2, p.1-21, 135-151. 1976.
- COSTA, Jurandir Freire. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond. 2004.
- CRICHTON-BROWNE, James. Dexterity and the bend sinister. Proceedings of the Royal Institution of Great Britain, London, n.18, p.623-652. 1907.
- DAVIES, John D. Phrenology fad and science: a 19th-century American crusade. New Haven: Yale University Press. 1955.
- DE GIUSTINO, David. Conquest of mind, phrenology and victorian social thought London: Croom Helm. 1975.
- DEVILLE, James. Account of a number of cases in which a change had been produced on the form of the head by education and moral training. Phrenological Journal, Edinburgh, n.14, p.32-38. 1841.
- DUMIT, Joseph. Picturing personhood: brain scans and biomedical identity. Princeton: Princeton University Press. 2004.
- EDWARDS, Betty. Drawing on the right side of the brain Los Angeles: J.P. Tarcher. 1979.
- EHRENBERG, Alain. Le sujet cerebral. Esprit, Paris, n.309, p.130-155. 2004.
- EHRENWALD, Jan. Anatomy of genius: split brains and global minds. New York: Human Sciences Press. 1984.
- EVANS, Warren Felt. Mental medicine: a theoretical and practical treatise on mental psychology. 3.ed. Boston: Carter & Pettee. 1874.
- FOUCAULT, Michel. L' usage des plaisirs Paris: Gallimard. 1984a.
- FOUCAULT, Michel. Le souci de soi Paris: Gallimard. 1984b.
- FULLER, Robert C. Spiritual, but not religious: understanding unchurched America. New York: Oxford University Press. 2001.
- FULLER, Robert C. Evans, Warren Felt. In: American National Biography Online Oxford: Oxford University Press. Disponível em: http://www.anb.org/articles/08/08-01869.html Acesso em: 7 dez 2006. 2000.
- FULLER, Robert C. Alternative medicine and American religious life New York: Oxford University Press. 1989.
- FULLER, Robert C. Mesmerism and the American cure of souls Philadelphia: University of Pennsylvania Press. 1982.
- GAINER, Ruth Straus; GAINER, Harold. Educating both halves of the brain: fact or fancy? Art Education, Reston, v.30, n.5, p.20-22. 1977.
- GALL, Franz Joseph. Schreiben über seinen bereits geendigten Prodromus über die Verrichtungen des Gehirns der Menschen und der Thiere, an Herrn Jos. Fr. von Retzer. Der neue Teutsche Merkur, Weimar, bd.3, p.311-332. 1798.
- GAZZANIGA, Michael S.; BOGEN, Joseph. E.; SPERRY, Robert W. Some functional effects of sectioning the cerebral commissures in man. Proceedings of the Nacional Academy of Sciences, Washington DC, n.48, p.1765-1769. 1962.
- GOULD, George M. The origin of right-handedness. The Boston Medical and Surgical Journal, Boston, n.157, p.597-601. 1907.
- GRAHAM, Sylvester. Lectures on the science of human life 2 v. Boston: Marsh, Capen, Lyon & Webb. 1839.
- GUSFIELD, Joseph R. Nature's body and the metaphors of food. In: Lamont, Michèle; Fournier, Marcel (Org.). Cultivating differences: symbolic boundaries and the making of inequality. Chicago: The University of Chicago Press. p.75-103. 1992.
- HAGNER, Michael. Geniale Gehirne: zur Geschichte der Elitenhirnforschung Berlin: Wallstein. 2004.
- HANEGRAAF, Wouter. New Age religion and western culture: esotericism in the mirror of secular thought. Albany: State University of New York Press. 1998.
- HARRINGTON, Anne. Mind, medicine and the double brain: a study in nineteenth-century thought. Princeton: Princeton University Press. 1987.
- HARRIS, Lauren J. Teaching the right brain: historical perspective on a contemporary educational fad. In: Best, Catherine T. (Org.). Hemispheric function and collaboration in the child New York: Academic Press. p.231-274. 1985a.
- HARRIS, Lauren J. The ambidextral culture society and the 'duality of mind' (commentary on A. Harrington, "Nineteenth century ideas on hemisphere differences on 'duality of mind'"). The Behavioral and Brain Sciences, n.8, p.639-640. 1985b.
- HARRIS, Lauren J. Left-handedness: early theories, facts, and fancies. In: Herron, Jeannine (Org.). Neuropsychology of left-handedness New York: Academic Press. p.3-78. 1980.
- HEALY, David. The creation of psychopharmacology Cambridge: Harvard University Press. 2002.
- HERMANN, Ned. The creative brain. Training and Development Journal, Saskatchewan, n.35, p.11-16. 1981.
- HOLLAND, Henry. On the brain as a double organ. In: Holland, Henry. Chapters on mental physiology London: Longman, Brown, Green & Longmans. 1.ed., 1840. 1852.
- HOLLIS, W. Lopsided generations. Journal of Anatomy and Physiology, London, n.9, p.263-271. 1875.
- HUNTER, Madeleine. Right-brained kids in left-brained schools. Today's Education, v.65, n.4, p.45-48. 1976.
- IRELAND, William W. Notes on left-handedness. Brain, n.3, p.207-214. 1880.
- JACKSON, John. Ambidexterity or two-handedness and two-brainedness: an argument for natural development and rational education. London: Kegan Paul, Trench, Trübner & Co. 1905.
- JACYNA, Stephen. Somatic theories of mind and the interests of medicine in Britain, 1850-1879. Medical History, London, v.26, n.3, p.233-258. 1982.
- KELLOGG, John Harvey. First book in physiology and hygiene New York, Cincinnati, Chicago: Harper & Brothers. 1887.
- KIPIANI, Varia. Ambidextrie (étude expérimentale et critique). Archives Internationales de Neurologie, n.1, p.158-165. 1913.
- LUNDIE, R.A. Left-handedness. Chambers' Journal of Popular Literature, Science and Arts, London, n.73, p.9-12. 1896.
- MACNAUGHTON-JONES, Henry. Ambidexterity and mental culture London: William Heinemann. 1914.
- MARTIN, Luther H. et al. Technologies of the self: a seminar with Michel Foucault. London: Tavistock. 1988.
- NISSENBAUM, Stephen. Sex, diet and debility in Jacksonian America: Sylvester Graham and Health Reform. Westport: Greenwood. 1980.
- ORNSTEIN, Robert E. The right mind: making sense of the hemispheres. New York: Harcourt Brace and Company. 1997.
- ORNSTEIN, Robert E. The psychology of consciousness New York: Harcourt, Brace, Jovanovich. 1972.
- ORTEGA, Francisco. O corpo incerto: corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond. 2008a.
- ORTEGA, Francisco. O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Mana, Rio de Janeiro, v.14, p.477-509. 2008b.
- ORTEGA, Francisco. Amizade e estética da existência em Foucault Rio de Janeiro: Graal. 1999.
- ORTEGA, Francisco; VIDAL, Fernando. Mapping the cerebral subject in contemporary culture. Reciis - Electronic Journal of Communication Information & Innovation in Health, Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.255-259. 2007.
- PINEL, Philippe. Traité medico-philosophique sur l'aliénation mentale, ou la manie Paris: Richard, Caille et Ravier. 1801.
- RIESE, Walter. The early history of aphasia. Bulletin of the History of Medicine, Baltimore, n.23, p.322-334. 1947.
- ROSE, Nikolas. The politics of life itself: biomedicine, power and subjectivity in the twenty-first century. Princeton: Princeton University Press. 2007.
- ROSENBERG, Charles, E. Contested boundaries: psychiatry, disease, and diagnosis. Perspectives in Biology and Medicine, Chicago, v.49, n.3, p.407-424. 2006.
- SCHILLER, Francis. Paul Broca: founder of French anthropology - explorer of the brain. Oxford: Oxford University Press. 1992.
- SCULL, Andrew. The most solitary of afflictions: madness and society in Britain, 1700-1900. New Haven: Yale University Press. 1993.
- SEGUIN, Edward. Report on education 2.ed. Milwaukee: Doerflinger Book & Publishing Co. 1880.
- SHRYOCK, Richard H. Sylvester Graham and the popular health movement, 1830-1870. Mississippi Valley Historical Review, Bloomington, n.18, p.172-183. 1931.
- SINGER, Emily. Exercising the brain: innovative training software could turn back the clock on aging brains. Technology Review, Cambridge. Disponível em: http://www.technologyreview. com/InfoTech-Software/wtr_15914,300,p1.html Acesso em: 1 jun. 2006. 21 nov. 2005.
- SMILES, Samuel. Self-help: with illustrations of character and conduct. London: John Murray. 1859.
- SOKOLOW, Jayme A. Eros and modernization: Sylvester Graham, health reform and the origins of victorian sexuality in America. London: Associated Universities Press. 1983.
- SPERRY, Robert W. Brain bissection and mechanism of consciousness. In: Eccles, John (Org.). Brain mechanisms and conscious experience New York: Springer Verlag. p.298-313. 1965.
- STERN, Madeleine B. Heads and headlines: the phrenological fowlers. Norman: University of Oklahoma Press. 1971.
- TADD, James Liberty. New methods in education London: Sampson Low, Marston & Co. 1900.
- TAYLOR, Eugen. Shadow culture: psychology and spirituality in America. Washington, DC: Counterpoint. 1999.
- TEAHAN, John. Warren Felt Evans and mental healing: romantic idealism and practical mysticism in nineteenth-century America. Church History, New Haven, v.48, n.1, p.63-80. 1979.
- TOMLINSON, Stephen. Head masters: phrenology, secular education, and nineteenth-century social thought. Tuscaloosa: University of Alabama Press. 2005.
- TRAVERS, Tim H. Samuel Smiles and the origins of 'self-help': reform and the New Enlightenment. Albion, n.9, p.161-187. 1977.
- VAN WYHE, John. Phrenology and the origins of victorian scientific naturalism: science, technology and culture, 1700-1945. Aldershot: Ashgate. 2004.
- VAN WYHE, John. The authority of human nature: the Schädellehre of Franz Joseph Gall. British Journal for the History of Science, London, n.35, p.17-42. 2002.
- VIDAL, Fernando. Brainhood, anthropological figure of modernity. History of the Human Sciences, Los Angeles, v.22, n.1, p.5-36. 2009.
- WATSON, Hewett. What is the use of the double brain. The Phrenological Journal and Miscellany, London, n.9, p.608-611. 1836.
- WIGAN, Arthur L. A new view of insanity: the duality of the mind proved by the structure, functions and diseases of the brain & by the phenomena of mental derangement and shown to be essential to moral responsibility. Ed. facsimilar da ed. de 1844 (London, Longman, Brown, Green, and Longmans). Malibu: Joseph Simon. 1985.
- WINSLOW, Forbes. The unpublished manuscripts of the late Alfred Wigan. The Journal of Psychological Medicine and Mental Pathology, London, n.2, p.497-514. 1849.
- WINTER, Thomas. Graham, Sylvester. In: American National Biography Online Oxford: Oxford University Press. Disponível em: http://www.anb.org/articles/15/15-00283.html Acesso em: 7 dez. 2006. 2000.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Set 2009 -
Data do Fascículo
Set 2009
Histórico
-
Recebido
Set 2008 -
Aceito
Mar 2009