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O Gabinete de Curiosidades da Universidade de Coimbra: uma proposta museológica e científica

The Cabinet of Curiosities at the University of Coimbra: a museological and scientific initiative

Resumo

Os gabinetes de curiosidades constituem a origem do museu moderno. Na utopia da Wunderkammer existe a aspiração à convivência entre arte e ciência. Como docente do novo Curso de Philosofia Natural da Universidade de Coimbra (1772), Portugal contratou o naturalista italiano Domingos Vandelli, que transportou consigo uma coleção, com objetos do seu gabinete em Pádua, à qual anexou uma outra coleção, recolhida em Portugal (1764-1768), repositório ainda não tributário do paradigma naturalista de Lineu. É com fundamento na descrição dessas duas coleções que defendemos a relevante proposta – para a ciência e para a museologia – do Gabinete de Curiosidades do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, inaugurado em maio de 2022.

Colecionismo; Gabinete de curiosidades; História natural; Coleções universitárias; Universidade de Coimbra

Abstract

Cabinets of curiosities are the origin of modern museums. The utopia these Wunderkammer contain also includes aspirations for art and science to coexist. The Italian naturalist Domingos Vandelli was contracted as an instructor for the new course in natural philosophy at the University of Coimbra (1772), and brought objects from his own cabinet in Padua; he combined these with another collection mounted in Portugal (1764-1768), which did not yet conform to Linneus’s naturalistic paradigm. Based on descriptions of these two collections, we defend the important initiative underway at the Cabinet of Curiosities at the University of Coimbra’s Museum of Science, which was inaugurated in May 2022.

Collectionism; Cabinet of curiosities; Natural history; University collections; University of Coimbra

A 18 de maio de 2022 (Dia Internacional dos Museus), o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, contando com a presença do ministro da Cultura, inaugurou o Gabinete de Curiosidades, utilizando o espaço setecentista do antigo Colégio dos Jesuítas. Essa surpreendente iniciativa científica e museológica suscitou alguma controvérsia, defendendo os seus críticos que nunca terá existido em Coimbra tal prática colecionista, sendo que – segundo eles – a reforma universitária pombalina terá desde o seu início, em 1772, adotado nos equipamentos naturalistas – Jardim Botânico e Gabinete de História Natural – o paradigma lineano dos três reinos da natureza.

Ora, a nossa opinião é a de que sobram razões de ordem científica, no âmbito da história do colecionismo e da “ciência dos museus”, que justificam essa inovadora iniciativa. Uma incursão, ainda que fugaz, à génese do Gabinete de História Natural instalado na universidade a partir de 1772 permitirá compreender que este Gabinete de Curiosidades mais não propõe afinal do que uma interpretação histórica largamente documentada. Os gabinetes de curiosidades, que surgiram um pouco por toda a Europa no período renascentista, prolongando-se bem adentrado o século XIX, permitem ilustrar uma tendência cultural alimentada pelas elites e por instituições científicas na forma de academias e de universidades. Nem mesmo o racionalismo naturalista de matriz lineana, tornado paradigma imperante na segunda metade de Setecentos, logrará expulsar definitivamente o colecionismo de curiosidades e de maravilhas das novas narrativas científicas. Assistir-se-á, pelo contrário, à emergência de um período de transição no qual se fundem e interpenetram o colecionismo de curiosidades e as taxionomias e nomenclaturas que intentam ordenar e classificar a natureza. A proposta museológica que transporta esse Gabinete de Curiosidades, núcleo do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, é a de servir de preâmbulo e de complemento à exposição de longa duração patente no edifício fronteiro, o setecentista Laboratório Químico. Desse modo se cumpre o desígnio museológico de recuperar, para a história da ciência, o tempo mítico do olhar maravilhado, eclético de arte e natureza, revivido com inegável sedução cénica no novel Gabinete de Curiosidades ( Lugli, 1997LUGLI, Adalgisa. Le stanze delle meraviglie: “Wunderkammern”. Torino: Umberto Allemandi, 1997. ).

Nesta nota de pesquisa, os autores intentam divulgar o processo de contextualização dos gabinetes de curiosidades e de maravilhas na história da cultura europeia moderna (séculos XV-XVIII) – vistos como etapa da construção do pensamento científico – ( Schlosser, 2000SCHLOSSER, Julius von. Raccolte d’arte e di meraviglie del Tardo Rinascimento. Firenze: Sansoni, [1908] 2000. ), bem como o processo de instalação cénica de milhares de objetos das coleções universitárias, acumulados nas suas reservas ou nas suas exposições ( Peressut, 1997PERESSUT, Luca Basso (org.). Stanze della meraviglia: i musei della natura tra storia e progetto. Bologna: Clueb, 1997. ). Uma equipa pluridisciplinar, de museólogos, historiadores, conservadores-restauradores, designers e luminotécnicos, estabeleceu, durante dois anos, uma proposta interpretativa que cruza rigor científico e fruição estética, reflexão crítica e divertimento.

Intentando cumprir a obrigatória comparabilidade histórica e contextual desse tipo de iniciativas museológicas e científicas nos espaços da cultura ocidental, é possível documentar a permanência setecentista e oitocentista, ou a reconstituição contemporânea, de inúmeros gabinetes de curiosidade e de maravilhas ou, já em contexto lineano, de gabinetes de história natural setecentistas (como o pioneiro gabinete de Carlos III, no madrilenho Museo de Ciencias Naturales). Da nossa incursão presencial ou on-line , pudemos documentar a presença de diferentes propostas cénicas desse universo colecionista, no qual se filia o atual gabinete conimbricense, sobremaneira em Itália, França ou Alemanha (Daston, Park, 1998).

Génese cultural do olhar curioso e maravilhado

Os gabinetes de curiosidade e de maravilhas, de génese renascentista, constituem a origem do museu moderno e da permanência da própria ideia de recolha, vista como iniciativa projetual de um colecionador ( Pomian, 1987POMIAN, Kriysztof. Collectioneurs, amateurs et curieux, Paris, Venise: XVIe-XVIIIe siècle. Paris: Galimard, 1987. ; Jordan, 2017JORDAN, Annemarie. D. Catarina de Áustria: a rainha colecionadora. Lisboa: Temas e Debates, 2017. ).

Na utopia da Wunderkammer existe a aspiração à convivência entre arte e ciência, como dois elementos inseparáveis do conhecimento. A história do museu nasce dessa tipologia de gabinetes, lugar onde o estudioso da arte e da natureza acumula em seu redor um grande número de objetos a fim de, a seu modo, os poder analisar e catalogar. Por meio dos objetos, o colecionador cumpre a sua “obra”, não menos relevante do que a do artista ( Sonino, 1992SONINO, Analiza Scarpa. Cabinet d’amateur: le grande collezioni d’arte nei dipinti dal XVII al XIX secolo. Milano: Berenice, 1992. ).

No interior da utopia da Wunderkammer existe a permanente aspiração a um mundo sem fratura, com a arte e a ciência convivendo como dois elementos inseparáveis do conhecimento. Explorando esse mundo, emerge um contínuo e nunca ultrapassado desígnio do maravilhoso porque, afinal, maravilharmo-nos constituirá sempre a profunda motivação do saber, do prazer estético e da descoberta (Impey, Macgregor, 1985; Findlen, 1989FINDLEN, Paula. The museum: its classical etymology and Renaissance genealogy. Journal of the History of Collections, v.1, n.1, p.59-78, 1989. , 1996FINDLEN, Paula. Possessing nature: museums, collecting and scientific culture in Early Modern Italy. Berkley: California University Press, 1996. ).

O colecionismo barroco em Portugal

Em Portugal, na primeira metade do século XVIII, o colecionismo barroco interessava-se por obras de arte, medalhística e arqueologia. Também é possível documentar a aquisição de objetos da natureza e a permanência da cultura da curiosidade, o acumular desordenado de objetos maravilhosos: a naturalia et mirabilia .

A atração pelo universo da natureza é detectável entre os colecionadores joaninos (dom João V), tanto quanto entre os seus contemporâneos peninsulares e europeus, tipificando valores culturais e aspirações coletivas em trânsito (do Barroco às Luzes) e ilustrando a irrupção de interrogações científicas de tipo novo ( Dias, 1952DIAS, José Sebastião da Silva. Portugal e a cultura europeia, sécs. XVI a XVIII. Biblos, n.28, p.203-498, 1952. ).

Nessa primeira metade de Setecentos, porém, não estamos ainda em presença da gramática museológica enciclopedista e iluminista. Aqui, nesses pequenos gabinetes privados, impera a desordem, tão ao gosto maneirista, na exibição dos naturalia et artificialia . O ambiente da coleção, fruto de recolhas não especializadas, vive de uma grande ideia, de um grande e utópico desígnio – reconstituir o universo numa só sala. Microcosmo magicamente apartado da realidade, cujo centro físico imaginamos ocupado pelo próprio colecionador, tal como é pictoricamente representado em inúmeras alegorias de origem flamenga ou germânica ( Diderot, 1751DIDEROT, Denis. Cabinet d’histoire naturelle. In: Diderot, Denis; D´Alembert, Jean le Rond (dir.). Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Paris: Briasson, David, Le Breton, Durand, 1751. v.2, p.489-492. , 1765DIDEROT, Denis. Histoire naturelle. In: Diderot, Denis; D´Alembert, Jean le Rond (dir.). Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Paris: Briasson, David, Le Breton, Durand, 1765. v.8, p.225-230. ; Pomian, 1987POMIAN, Kriysztof. Collectioneurs, amateurs et curieux, Paris, Venise: XVIe-XVIIIe siècle. Paris: Galimard, 1987. ).

A aspiração à síntese, perseguida desde a Antiguidade, entre arte e natureza, conduz esses gabinetes de curiosidades (a Wunderkammer alemã, ou a camera di meraviglie e o studiolo italianos) ao entesouramento extravagante de objetos raros e monstruosos. A cultura da curiosidade revia neles as anomalias da natureza, explorando um efeito visual que exaltava o prodígio da criação ( Seba, 2005SEBA, Albertus. Cabinet of natural curiosities, 1734-1765. Koln: Taschen, 2005. ; Sardo, 1992SARDO, Eugenio Lo. Athanasius Kircher S.J. Il museo del mondo . Roma: Edizioni de Luca, XIX secolo. Milano: Berenice, 1992. ; Lugli, 1990LUGLI, Adalgisa. Naturalia et mirabilia: il collezionismo enciclopedico nelle “Wunderkamern” d’Europa. Milano: Mazzotta, 1990. ).

Novos equipamentos museológicos da reforma universitária

Em 1772, a refundação da universidade (expressão significativamente utilizada por Pombal) representou a consagração de uma nova cultura europeia em Portugal, cujos sinais mais visíveis foram a completa secularização do ensino ministrado, a revisão curricular da Faculdade de Medicina e a criação de duas novas faculdades, a de Matemática e a de Filosofia Natural. Seria no âmbito da introdução dos estudos naturais que se fundariam dois estabelecimentos museológicos universitários, o Museu de História Natural e o Jardim Botânico. É possível entrever, uma vez mais, a decisiva intervenção de estrangeiros e de estrangeirados, marcando os rumos intelectuais da República das Letras em Portugal, na produção de correntes de opinião, na ideação de projetos, na aceitação social das ideias ( Sarmento, 1735SARMENTO, Jacob de Castro. Materia medica: físico-histórico-mecânica. Reino mineral. Londres: [s.n.], 1735. ; Sanches, 1763SANCHES, António Nunes Ribeiro. Método para aprender e estudar a medicina, illustrado com os apontamentos para estabelecer-se uma universidade real na qual deviam aprender-se as ciências humanas de que necessita o estado civil e politico. Paris: [s.n.], 1763. ).

Nesse contexto, foi contratado o naturalista italiano Domingos Vandelli, o qual fundou e dirigiu o Jardim Botânico e o Gabinete de História Natural da Ajuda, estabelecimentos científicos que virão a desempenhar um papel axial nas “viagens filosóficas” a África e ao Brasil (1783-1792) ( Vandelli, 1795VANDELLI, Domingos. Relação da origem, e estado presente do Real Jardim Botânico, Laboratório Químico, Museu de História Natural, e Casa do Risco. Ministério do Reino, maço 444 (Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa). 1795. ; Miller, Reill, 1996).

A sua ligação, durante mais de quatro décadas, à fundação, instalação e direção dos museus de história natural e jardins botânicos da Ajuda (1768-1810) e de Coimbra (1772-1791) faz dele o mais importante cultor da “ciência dos museus” (uma sua expressão), em Portugal. A ele se devem a rede internacional de contatos científicos dos museus públicos com personalidades e instituições museológicas de toda a Europa; a colaboração especializada com o colecionismo privado obtendo, de alguns proprietários, a doação de gabinetes para incorporação nas coleções públicas; a autoria da parte dos estatutos da Faculdade de Filosofia Natural dedicada ao ensino da química e da história natural, incluindo a criação dos respectivos equipamentos museais; a formação académica, em Coimbra, e a preparação profissional, na Ajuda, dos naturalistas com missões ultramarinas; a autoria de compêndios universitários, de instruções aos viajantes naturalistas, e de dezenas de alvitres, memórias e relatórios, além de numerosa correspondência oficial, donde é possível extrair, se não um pensamento museológico teoricamente inovador, ao menos uma persistente reflexão, de caráter utilitarista, sobre os objetivos, as estratégias e as condicionantes da práxis, bem como propostas para a sua superação (Livro de Registo…, s.d.).

Coleções de Vandelli no ensino universitário de novos saberes

Domingos Vandelli foi um dos primeiros docentes do novo curso de filosofia natural da Universidade de Coimbra (1772), tendo transportado consigo uma coleção que tinha recolhido em Itália, com objetos e espécimes que constituíram o seu gabinete particular em Pádua. Durante sete anos, o jovem Vandelli empreendera viagens filosóficas às regiões centro e norte da Itália e aos mares Tirreno e Adriático, recolhendo produtos da natureza e sedimentando os conhecimentos científicos adquiridos no curso de medicina. Um inestimável documento, do punho de Vandelli, arquivado na Academia das Ciências de Lisboa, dá a conhecer o conteúdo desse “valiosíssimo repositório de curiosidades”, ainda não tributário do paradigma naturalista de Lineu, o qual virá a separar arte e ciência.

Em vão buscaríamos documento mais esclarecedor das linhas com que se tecia o eclectismo cultural das coleções setecentistas, exibindo, em paradoxal convívio, objetos de tão diversas tipologia e natureza disciplinar, do que as excelentes descrições museológicas do jovem Vandelli em peregrinação filosófica por alguns dos centros urbanos italianos de maior tradição e projeção intelectuais: Pádua, Bolonha, Pisa, Florença. Os espaços museais visitados e descritos pelo naturalista são sobretudo os que, pela sua vocação académica ou didática, albergavam dominantemente coleções científicas: o Instituto das Ciências de Bolonha e os museus universitários de História Natural de Pisa e de Pádua (Vandelli, 1759, s.d.a, s.d.b, s.d.c). Mesmo aqui, apesar do peso hegemónico dos produtos da natureza, é possível encontrar objetos tão díspares quanto múmias egípcias, roupas e utensílios de índios, ou pinturas renascentistas e estátuas de estética clássica (Laurens, Pomian, 1992).

É, no entanto, na visita a um dos lugares míticos do colecionismo artístico europeu, os Uffizi de Florença, que se revela em toda a sua dimensão um modelo cultural que aglutina saberes e exibe coleções destinados à especialização e à separação, num espaço físico e simbólico ainda unificador. Não será possível ignorar que o paduano, então com 24 anos, ao mergulhar nesse universo museal dele terá retirado as representações mentais com que haveria de orientar o seu colecionismo particular. Nesse contexto de formação intelectual, o simples enunciado dos objetos da coleção vandelliana mostra como satisfazem bem um gosto compósito; gosto que ele próprio equacionará mais tarde com palavras que refletem bem a vivência pessoal de um período de transição: “No passado século, e no princípio do presente havia muitos museus de medalhas, dos quais agora há poucos, e se preferem os da História Natural” (Vandelli, s.d.c).

Nessa sua coleção italiana e na que em Portugal recolheu entre 1764 e 1768, ambas transferidas para Coimbra, podemos referenciar a exibição de “monstros”, que Domingos Vandelli visivelmente valorizava no seu colecionismo inicial: “Caixa com feto humano monstruoso com duas cabeças; .... abortos humanos, ‘em aguardente’, um preto e dois brancos; um pinto e um gato com quatro pernas; um cão, em aguardente, com sete pernas” (Museu..., s.d.). Também, em 1781, o seu discípulo Alexandre Rodrigues Ferreira dava conta de que: “Outra utilidade q. consigo tras a indagaçaõ dos ninhos he o recolhimento dos partos monstruosos. No Real Jardim Botanico da Ajuda em Lisboa conserva-se huma gallinha de muntas pernas. Existe no poder de Julio Mattiazzi hum Caçaõ já grande com duas Cabeças: Outras duas cabeças tem no Gabinete de Coimbra hum Menino” (Ferreira, 1781).

Essa tendência – prisioneira ainda da afeição cénica pelo “maravilhoso”, tão característica das coleções de naturalia et mirabilia – não pode ser desligada, por outro lado, da sua formação médica em Pádua nos longínquos anos 1750. Em 1776, publicará mesmo em Coimbra um pequeno texto intitulado Dissertatio de monstris , descrevendo um par de gémeos humanos ligados pelo peito e chamando a atenção para a importância de se exibirem estes casos “anómalos” nos museus ( Vandelli, 1776VANDELLI, Domingos. Dissertatio de monstris. Coimbra: Real Oficina da Universidade, 1776. ).

No entanto, do ponto de vista museológico, a exibição de “degenerescências” foi sendo progressivamente abandonada, acompanhando uma concepção científica menos sensível às extravagâncias e mais preocupada com a busca da normalidade, regulada pelas leis da natureza. E será justamente dessa nova visão que um viajante francês se mostrará credor, demarcando-se da opção doutrinal setecentista subjacente à exibição pública de um tal armário no gabinete coimbrão:

Um armário é consagrado aos produtos incomuns, os quais apelidamos impropriamente de contra natura , como se fosse verosímil que a natureza subvertesse as suas leis para os produzir. Não conhecemos essas leis, apenas isso. Além dos fetos monstruosos, dos bezerros de duas cabeças, de galinhas de quatro patas, que se vêem por lá espalhados, reparei em peixes com duas cabeças, o que, sendo raro, não é mais surpreendente do que outras anomalias naturais ( Tollenare, 1971TOLLENARE, Louis-François de. Notes dominicales prises pendant un voyage en Portugal et au Brésil en 1816, 1817 et 1818. t.1. Paris: PUF, 1971. , p.184-186). 1 1 No original: “Une armoire est consacrée aux produits de ces générations extrordinaires que l’on appele si improprement contre nature, comme s’il était vraisemblable que la nature renverse ses lois pour les produire. Nous ne connessons pas ces lois, et voilà tout. Après les foetus monstrueux, les veaux à deux têtes, les poulets à quatre pattes que l’on voit partout, j’ai remarqué des poissons à deux têtes, ce qui est rare à voir sans être plus étonnant que les autres anomalies naturelles”.

Rupturas e permanências: paradigmas científicos e museológicos em trânsito

É com fundamento na descrição dessas coleções matriciais que defendemos a relevante proposta interpretativa – para a ciência e para a museologia – do Gabinete de Curiosidades do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Porque, na verdade, a adoção do cânone lineano, com a utilização de uma taxonomia e de uma nomenclatura tributárias do Sistema Naturae propostas pelo botânico sueco, pressupõe um período de transição – que em Portugal ter-se-á prolongado durante as décadas de 1750 a 1780 – no qual os colecionadores e os naturalistas circulam ainda entre as interpretações da velha ciência normal (agora tornada extraordinária) e as da novel ciência normal (até então ciência extraordinária) ( Puerto Sarmiento, 1988PUERTO SARMIENTO, Francisco Javier. La ilusión quebrada: botánica, sanidad y política científica en la España ilustrada. Madrid: Serbal; CSIC, 1988. ).

Por toda a Europa abundam os casos de gabinetes setecentistas (e até oitocentistas!) que abrigam num mesmo espaço objetos do mundo maravilhado lado a lado com cenografias arrumadas com o critério organizador de um sonhado “Teatro da natureza” ( Laissus, 1986LAISSUS, Yves. Les cabinets d’histoire naturelle. In: Taton, René (dir.). Enseignement et diffusion des sciences en France au dix-huitième siècle. Paris: Hermann, 1986. p.659-712. ).

Para se entender bem essa transitoriedade de conceitos e de paradigmas que tolhe, ainda hoje, tantos pesquisadores envolvidos na história da ciência, seria esclarecedor consultar a obra do naturalista francês Désallier d’ Argenville (1780)ARGENVILLE, Desallier d’. Conchyologie, ou histoire naturelle des coquilles de mer, d’eau douce, terrestres et fossiles. Paris: Guillaume de Bure, 1780. . Quase ao dobrar de Setecentos, em capítulo de obra erudita dedicada à conquiliologia, o autor reflete sobre a evolução da sua própria sensibilidade, a qual nos primeiros anos do século XVIII era ainda tributária da desordem cenográfica e do hibridismo tipológico dos objetos, e que aqui aparece a anunciar a boa nova de um gosto redentor, adotando igualmente as obras da natureza exibidas com método sistemático numa “nova cena”.

Museus, património museológico e produção do conhecimento

A Universidade de Cambridge convocou, em 2017, um encontro internacional no qual se propôs discutir não os modos como se iniciam as coleções técnico-científicas (instrumentos laboratoriais, amostras, espécimes animais ou vegetais, documentação experimental, materiais pedagógicos, mobiliário etc.), mas antes como e por que razão elas definham e se extinguem. Os diversos contributos foram, entretanto, reunidos num volume significativamente intitulado How collections end: objects, meaning and loss in laboratories and museums (Jardine, Kowal, Bangham, 2019). Esses estudos reúnem ideias da história da ciência e da tecnologia e procuram explicar as razões por que algumas dessas coleções em laboratórios e em museus têm vindo a conhecer diminuição, extravio, dispersão, destruição, reaproveitamento, absorção ou repatriamento. As universidades que ao longo de décadas ou de séculos acumularam acervos, artísticos e científicos, reflexo de uma intensa atividade pedagógica e investigativa, mas também como destinatárias privilegiadas de doações, confrontam-se hoje com desafios que as obrigam a decisões estratégicas no que respeita à utilização de espaços nos campi , ao financiamento dos seus equipamentos museais e ao recrutamento de profissionais. A já citada Universidade de Cambridge apresenta uma solução em linha com essa filosofia reticular, encontrando-se porém num patamar já não apenas projetual mas organicamente estruturado, agregando desde 2012 um consórcio de oito espaços museológicos (Museu de Arte Fitzwilliam, Museu de Arqueologia e Antropologia, Museu de Arqueologia Clássica, Museu de Investigação Polar, Museu Sedgwick de Ciências da Terra, Museu Whipple de História da Ciência, Kettle’s Yard e Museu Universitário de Zoologia), todos concentrados na sua apertada malha urbana, contemplando uma loja única para venda de produtos e de informação turística, linha de divulgação on-line , além da concentração de serviços técnicos e administrativos num único edifício. Esse modelo permite encarar com otimismo o futuro da relação a estabelecer entre as coleções históricas universitárias e a produção contemporânea de conhecimento científico. Esse património museológico fica assim disponível não apenas para a exibição pública – retomando de resto uma tradição de visitação turística bem documentada em testemunhos de viajantes setecentistas e oitocentistas – como vem a ser crescentemente objeto de estudo e investigação, densificando os estudos de história das ideias científicas. No caso das universidades fundadas em períodos históricos mais recuados, o seu património revela-se ainda enriquecido com equipamentos, iluministas ou românticos, como sejam: jardins botânicos, laboratórios químicos, observatórios astronómicos, teatros anatómicos ou bibliotecas. Também o design e a arquitetura contemporâneos têm vindo a oferecer novos espaços de atratividade em muitos campi , acrescentando ao património universitário do novo milénio valências artísticas, científicas e turísticas.

A interpretação contemporânea de um Gabinete de Curiosidades: o caso de Coimbra

O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra desde há quatro anos (2018-2022) que se encontra a reorganizar a sua estrutura expositiva, tendo para tal criado um plano diretor, no qual as salas destinadas a serem visitadas pelo público estão a ser preparadas.

O Museu da Ciência, do ponto de vista institucional, não depende de qualquer departamento universitário e é cientificamente autónomo. Para a tarefa de supervisão histórica, convidou João Brigola, docente da Universidade de Évora, cujos contributos nessa área do conhecimento se encontram referenciados no elenco bibliográfico (ver Brigola, 2003, 2019; Brigola et al., 2008BRIGOLA, João et al. O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli. Rio de Janeiro: Dantes, 2008. ; Ceríaco, Brigola, Oliveira, 2011).

Como o texto que apresentamos explica, a decisão de propor uma interpretação de um Gabinete de Curiosidades é uma opção museológica atendível, já que a coleção de curiosidades e de maravilhas de Domingos Vandelli constitui, é sabido, o primeiro material pedagógico dos cursos de filosofia natural oriundos da reforma pombalina (1772).

Essa opção possibilitou, com o viés interdisciplinar, apresentar uma pequena amostra do imenso acervo do museu, permitindo que a museografia capte a atenção e o entusiasmo de públicos nem sempre motivados para essas temáticas. Foram realizadas já várias visitas a grupos de professores para conhecimento e preparação de visitas. Durante o ano escolar 2022-2023 estão planeados vários conjuntos de visitas escolares, pré-universitárias, de molde a permitir afinar a sua duração e conteúdo. Outra tipologia de público que foi particularmente tratada diz respeito aos turistas, tendo sido realizadas várias sessões com os principais operadores turísticos.

A exposição que o Museu de Ciência apresenta no seu Gabinete de Curiosidades não pretende reconstruir nenhum gabinete de curiosidades que alguma vez tenha existido em qualquer parte de mundo. Pretende ser um “acumular desordenado” de objetos maravilhosos. Como qualquer museu moderno essa opção resulta do equilíbrio entre a historicidade e a modernidade conceptual, permitindo-lhe propor exposições transversais a vários ramos da ciência, como “Os segredos da luz e da matéria” e simultaneamente ter um gabinete de ensino da física, o qual mantém quase integralmente a exposição das peças como provavelmente estariam no século XVIII.

A exposição procura criar o ambiente e captar o espírito que esses espaços possuíam, de forma a libertar, nos visitantes de todas as idades, a curiosidade nata que o ser humano possui. A vontade de conhecer e saber mais é desafiada e incentivada nesse espaço.

Aproveitando uma sala revestida com cerca de cinquenta armários de finais do século XIX, a exposição reúne alguns milhares de objetos que, em grande parte, nunca tinham sido expostos, aqui e agora organizados com um critério acentuadamente artístico.

Pretende ser uma “janela” para o vasto espólio que a Universidade de Coimbra foi acumulando nos últimos 250 anos e que, em grande medida, por nunca ter passado da esfera íntima do investigador para o usufruto público, se foi degradando e tornado desinteressante como objeto de estudo.

A função museológica dos objetos apresentados, a sua força plástica, e muitas vezes a sua origem e funcionalidade desconhecidas do visitante fazem renascer a força vital do conhecimento, a curiosidade.

A consciência e o conhecimento da essência do que foram os gabinetes de curiosidades são publicamente assumidos quando frontalmente se afirma que o que se apresenta é uma interpretação, não caindo na tentação fácil de procurar reconstituir as coleções vandelianas.

A instalação desse gabinete procurou recolocar o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra no caminho da inovação museográfica, utilizando a luz como instrumento decisivo para realçar a espetacularidade dos objetos expostos.

Toda a parte central da sala se apresenta livre de objetos, podendo ter futuramente múltiplas utilizações. As visitas têm uma organização induzida pela alternância da iluminação dos armários: é esta que guiará o visitante no percurso a seguir.

A sala pretende ser um desafio ao visitante para descobrir a exposição de longa duração do Museu da Ciência, em que a organização e a informação sobre as peças são apresentadas de uma forma mais clássica.

A proposta cénica patente nesse Gabinete de Curiosidades induz o visitante a olhar para um qualquer museu com espírito crítico, usando da liberdade de aceitar, ou não, qualquer proposta museológica histórica, ou outra, parada no tempo por inépcia ou egocentrismo ( Wittlin, 1949WITTLIN, Alma S. The museum: its history and its tasks in education. London: Routledge and Kegan Paul, 1949. ).

As bases da interpretação: suportes da exposição

A sala

A materialização da nossa interpretação do Gabinete de Curiosidades teve como base estruturante e diferenciadora a existência de uma sala do Museu da Ciência com cerca de 200m 2 .

O mobiliário oitocentista, de alguma nobreza, construído em madeira de castanho, ocupava três das quatro paredes das salas, criando de imediato as bases de uma atmosfera envolvente a 360º, tão comum nos gabinetes de curiosidades do século XVIII. Foi fácil e consensual entre a equipa de projeto a decisão de recuperar os armários de topo da parede, atualmente ausentes, voltando a assumir a sua plenitude original.

Simultaneamente, as dimensões e profundidade dos armários (cerca de 2m de altura e 30cm de profundidade) constituíram desde logo uma limitação imperativa à dimensão das peças a selecionar dentro do universo potencial constituído pelo espólio do museu.

Como era habitual nessa tipologia de espaços, a existência de peças suspensas a partir do teto era determinante. Foi facilmente resolvida com a criação de uma grelha assente no topo dos armários.

Figura 1
: Gabinete de Curiosidades do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Coimbra)

Os objetos

A seleção dos objetos a incluir no gabinete foi definida tendo por base os milhares de possibilidades existentes no museu e na própria universidade.

Procurou-se selecionar espólio que nunca tivesse sido mostrado ao público nas últimas dezenas de anos nem fosse original do século XX.

Não houve nunca a ideia de enquadrar e expor esses objetos com sincronia cronológica, porque nunca esteve em causa a realização de uma reconstituição histórica.

As duas grandes tipologias de objetos foram a animalia e a artificialia ¸ estando a primeira quantitativamente mais representada devido à riqueza da coleção no acervo do Museu da Ciência.

Grande parte desses objetos foi desenhada para se avaliarem as suas potencialidades estéticas e a sua harmonia como conjunto.

Algumas das linhas mais comuns nos gabinetes de curiosidades foram mantidas, tendo sido selecionados objetos que as materializam, como anomalias e monstruosidades, animais e humanas, crocodilos, besoares, presa helicoidal de narval (o mítico corno de unicórnio), animais embalsamados, conservados em meio líquido ou desidratados, minerais, fósseis, juntamente com moedas, máscaras e amuletos etc.

Figura 2
: Gabinete de Curiosidades do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Coimbra)

Organização espacial dos objetos

A exposição e visualização dos armários é fortemente condicionada pelo sistema e programas de iluminação que contribuem decisivamente para a perceção que os visitantes vão tendo da exposição. Esse complexo sistema tem um papel central na materialização do ambiente sensorial que procuramos recriar.

Em todo o gabinete há uma busca permanente de fugir à classificação lineana, procurando evitar relações lógicas entre objetos selecionados de forma a induzir a ideia de uma acumulação diacrónica.

Foram definidas quatro grandes áreas para organização dos objetos a apresentar.

A primeira a ser observada pelo visitante é minimal, dando destaque a um ou dois objetos.

O segundo setor é constituído por seis armários de fundo cinza onde a organização dos objetos é pouco elaborada, muito no espírito dos gabinetes italianos mais antigos do século XVII.

O terceiro setor contempla cerca de vinte armários de fundo verde-água que, apesar de não serem faustosos como os gabinetes austro-húngaros e germânicos do século XVIII, contrastam com o resto da exposição, pelo fato de a elaboração plástica da exposição ostentar uma componente artística mais evidente.

A existência de um entrepiso superior, de acesso público indisponível, devido à vibração da estrutura, foi aproveitada para recriar o armazém do colecionador, permitindo com muita facilidade ao visitante imaginar a dinâmica desses espaços na sua matriz original.

As peças suspensas do teto completam a envolvência total, reforçando o caráter imersivo do espaço.

Figura 3
: Gabinete de Curiosidades do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Coimbra)

A iluminação

O sistema de iluminação é a componente contemporânea dessa exposição.

Foi criado de uma forma dinâmica, de molde a reforçar o caráter introspetivo do espaço, fazendo realçar ou ocultar os objetos visando manter vivo o ambiente de descoberta.

Existem dez programas diferentes de iluminação que são selecionados em função da natureza da visita.

A intensidade e a cor da iluminação variam de forma programada, permitindo que o visitante, observando os armários em momentos diferentes, tenha uma elevada probabilidade de poder observar o conjunto do acervo e detalhes diferentes da visita anterior.

O denominador comum a todos os programas é que alternância da luz convida o visitante a conhecer os diversos setores apresentados, sendo a afirmação “segue a luz” a primeira instrução com que é recebido.

Figura 4
: Gabinete de Curiosidades do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Coimbra)

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NOTAS

  • 1
    No original: “Une armoire est consacrée aux produits de ces générations extrordinaires que l’on appele si improprement contre nature, comme s’il était vraisemblable que la nature renverse ses lois pour les produire. Nous ne connessons pas ces lois, et voilà tout. Après les foetus monstrueux, les veaux à deux têtes, les poulets à quatre pattes que l’on voit partout, j’ai remarqué des poissons à deux têtes, ce qui est rare à voir sans être plus étonnant que les autres anomalies naturelles”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    28 Jul 2022
  • Aceito
    08 Dez 2022
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