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Amazônia de mistérios e descobertas: Parintins a grande surpresa

Amazon of mysteries and discoveries: Parintins, the big surprise

I M A G E N S

Amazônia de mistérios e descobertas, Parintins a grande surpresa

Amazon of mysteries and discoveries — Parintins, the big surprise

Abro os olhos, o coração e os sentidos, diante de tanta criatividade, gente bonita, simpática e acolhedora. Em Parintins todo mundo está sempre em forma: não há ônibus, as distâncias planas são percorridas a pé, de bicicleta ou de moto.

Fiz três viagens ao Amazonas para participar do festival, chegando antes para conhecer o lugar, acompanhar os preparativos, em clima de aquecimento para as três noites de apresentação do boi-bumbá. Nos quartéis-generais, grandes galpões, armam-se as alegorias e são feitas as fantasias. Na viagem de barco, de Manaus a Parintins, aprendo alguns passos, escuto as toadas e as primeiras das muitas estórias.

Na ilha de Tupinambarana, apaixono-me pelo que encontro. Tomo partido não de um nem de outro boi, mas do Boi, figura mítica, o último guardião da floresta. Viajo na cor, no movimento, no ritmo, na música. Interpreto o que vejo, procuro tornar mais azul o Caprichoso, mais vermelho o Garantido, mais dramática e esplendorosa a grande festa.

Desfruto a oportunidade ímpar de fotografar o ato da criação artística, o sonho projetado, encenado, vívido e emocionante. Nas tribos, na galera, as pessoas dançam de corpo e alma, tocam o sublime, exaltam os sentidos. Descobrem suas origens, dão vida nova a antigos rituais. Pesquisam as lendas, põem em cena cobras-grandes, onças, mapinguaris, araras gigantes, anhangás, seres reais e fantásticos.

Extasio-me com os fogos de artifício, surpreendo-me com deus Tupã surgindo por trás da arquibancada, o pajé na contraluz, as luzes de mercúrio do bumbódromo apagadas, a galera toda com rosas vermelhas acesas nas mãos. Uso a grande angular, opero em altíssima sensibilidade, jamais o flash, para não quebrar a mágica.

De repente, deparo-me a sós com o boi no meio da arena, posso retratá-lo em toda a sua majestade, contorno de luz na corcova, resplandecendo no escuro.

Vejo a cobra-grande de olhos flamejantes como faróis poderosos, a lua cheia logo acima, junto-as no mesmo fotograma, imagem futurista. O enorme pássaro azul levando no dorso a rainha do folclore, voando no céu amazônico, provoca-me um arrepio, a fotografia parece-me presente dos céus. Surpresa atrás de surpresa, o espetáculo é mágico, fruto da criatividade arrojada e sem limites do povo de Parintins.

Quero agradecer a quem primeiro me falou dessa festa extraordinária, Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, parceira na exposição recém-realizada na Organização das Nações Unidas (ONU), Amazon Ritual; à Funarte e ao Museu do Folclore Edison Carneiro, instituições que apoiaram o projeto em diversas fases.

A todos os artistas do boi, a toda a gente de Parintins, obrigada.

Loris Machado

Fotógrafa, cientista social


Igreja de São Benedito enfeitada para a festa
Lenda Amazônica, do Caprichoso
Boi do Garantido durante preparativos para as três noites do festival.
Ritual do Pajé e Tupã
Bicicleta de torcedor do Garantido
Pajé Velho
O Caprichoso sobressai na escuridão
Conjunto do boi: Mãe Catirina, Pai Francisco, levantador de toadas, apresentador, amo do boi
Porta-estandarte do Garantido e cobra-grande
Sinhazinha florida encanta a galera
Dinossauro e marujada de guerra
Tribos apresentam-se no Bumbódromo
Ritual do Pajé
Rainha do folclore, do Caprichoso
Cobra grande futurista de olhos flamejantes
Ritual Weaperiá

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2000
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