I M A G E N S
Só rindo da saúde
A humorous look at health care
É comum ouvirmos a frase: "Rir é o melhor remédio."
Provavelmente, Manuel José de Araújo Porto Alegre também ouviu, pois foi ele quem publicou a primeira charge na imprensa brasileira, dando início à utilização de uma das mais temidas formas de comunicação impressa.
O humor pode até ser entendido como meio de satisfazer a necessidade de alegria. Mas, sem dúvida, ele é uma severa disciplina de pensamento, pois é dele que surge o riso que ataca os atos e defeitos do homem. Aí entra o importante papel do artista, um amante da perfeição, portanto, um eterno inconformado.
O poder da caricatura está ligado à necessidade de satisfazer uma demanda editorial que requer comentário gráfico da atualidade.
Algumas publicações desempenharam papel ativo na vida brasileira em fins do século passado e início do atual. Podemos citar Semana Ilustrada, Vida Fluminense, Revista da Semana, O Malho, Tagarela, Tico-tico, Careta, Fon-Fon, entre outras. Em suas páginas desfilaram grandes nomes que fizeram a história do humor no Brasil. Manuel José de Araújo Porto Alegre, Angelo Agostini, Henrique Fleiuss, Leonidas, J. Carlos, K. Lixto, Raul Pederneiras, Luiz Sá foram alguns desses artistas.
O sanitarista Oswaldo Cruz, então diretor da Saúde Pública, foi considerado autoritário em suas medidas, pela população e pela imprensa, com as campanhas contra a varíola, a peste e a febre amarela. As revistas ilustradas não o perdoaram, fustigando-o com o traço mordaz dos chargistas.
Só rindo da saúde' é uma crítica impiedosa à precariedade da saúde pública no Brasil. A realidade nua e crua dela está bem à vista, sob os olhares negligentes das autoridades.
A Fiocruz, uma instituição comprometida com o ensino, a produção e a pesquisa científica, não poderia se abster de participar de campanhas que visam esclarecer, denunciar e levar à discussão temas historicamente ligados a sua esfera de ação.
Foi com esse pensamento que a Coordenadoria de Comunicação Social da instituição passou a promover Só Rindo da Saúde', uma exposição de humor itinerante, que busca levar para perto do povo a crítica ao quadro crítico da nossa saúde, através do traço que ridiculariza, que provoca o riso, sem, contudo, deixar de suscitar a reflexão.
Manoel Caetano Mayrink
Cartunista, curador da exposição
Os mesmos músculos
Todo humorista brasileiro já ouviu a pergunta mais de uma vez, de uma forma ou de outra: como é possível fazer humor num país como este, numa hora como esta? Às vezes a pergunta tem o tom de elogio só vocês mesmos, para nos fazer rir desta situação e às vezes tem o som irado de uma cobrança: vocês não se dão conta de onde estão, não? Assim o humorista tem que escolher entre várias caras para usar: a de um herói do distanciamento que consegue manter a razão e a graça apesar de tudo, a de bobo necessário, a do inconsciente flagrado dando uma gargalhada no velório.
De certa maneira, as três caras servem. O humorista é um herói da resistência, como demonstrou durante nosso regime de generais. Mesmo quando não podia ser abertamente crítico, o humor brasileiro (principalmente o gráfico) manteve viva uma idéia de irreverência que nos ajudou na travessia. Não se podia dizer que o general estava nu, mas se podia fazer fiu-fiu quando ele passava e fingir que tinha sido o vizinho. Não por acaso, a grande revelação do cartunismo brasileiro desta época foi o Henfil, no Pasquim. Ele fazia uma coisa paradoxal, humor fino de criança malcriada, que diz pum na frente das visitas. Foi o melhor exemplo de humor como travessura, que manteve o regime militar, senão alerta ao seu próprio ridículo, pelo menos desconfiado. Com a abertura e a permissão para dizer tudo, o desafio para o cartunista passou a ser o senso de medida. Mas esta deve ser uma preocupação menor, tanto para o chargista quanto para o homem público que ele alveja. Entre o exagero e a omissão, o humorista deve sempre escolher o exagero, mesmo com o risco de magoar.
E são bobos necessários também, por que não? O humor inconseqüente pode existir sem que o humorista seja chamado de alienado, se é que alguém ainda use o termo. Principalmente porque num país como o Brasil o humor nunca é completamente apolítico, mesmo que ele tente. A comédia de costumes será sempre um retrato de costumes marcados pela desigualdade e pelo anseio social e até a deliberação de não ser político acaba sendo uma opção política. E se o humor pode existir apenas para divertir ou atrair pela sua engenhosidade ou inteligência, ninguém deve deixar de fazê-lo só para não parecer que está sendo cúmplice de uma desconversa. A única inconseqüência inadmissível num humorista é não provocar riso.
Finalmente antes que todos se virem para quem deu a gargalhada no velório e peçam comedimento e respeito, é melhor saber que tipo de gargalhada foi. Certas situações são tão dramáticas e tristes que só rindo. Certamente a saúde no Brasil chegou a uma situação que permite apenas dois tipos de comentário: palavrão ou riso. As duas reações comportam graduações que vão da mobilização indignada ao desespero terminal, de um lado, e da sutil ironia à gargalhada de cair da cadeira, do outro. A gargalhada não é sinal de desrespeito, insensibilidade, bebedeira ou loucura, é apenas o choro com outra trilha sonora. Rimos e choramos com os mesmos músculos, o riso, no caso, só parece uma forma mais socialmente aproveitável de indignação. O riso provoca, enquanto o choro pede piedade. E, mesmo, não daria para fazer uma exposição de humor com soluços.
Luís Fernando Veríssimo
Jornalista e escritor
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Adail José de Paula nasceu em 1930 em Registro (SP). Jornalista, cartunista, começou a publicar em 1948 nos semanários humorísticos O Governador e A Marmita, de São Paulo. No Rio de Janeiro, iniciou suas atividades no Diário de Notícias em 1957. Colaborou em vários jornais e revistas, tais como O Cruzeiro, Cartum JS (suplemento humorístico do Jornal dos Sports), Correio da Manhã, Pasquim e O Dia. Atualmente colabora no Jornal Espírita.
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Luiz Agner nasceu no Rio de Janeiro em 1959. Começou a desenhar profissionalmente aos 16 anos no semanário alternativo Pasquim. Estudou na Escola de Desenho Industrial (ESDI). Publicou seus cartuns no Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, Rede Globo, SBT e TV Manchete. Foi premiado no I Salão Carioca de Humor. Participou de diversas exposições no gênero dentro e fora do país.
Na Internet mantém um site de charges intitulado Cartum netiuorque, aberto à colaboração de cartunistas simpatizantes.
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Sérgio Jaguaribe, o Jaguar, carioca, 66 anos, começou sua carreira em 1957, na revista Manchete. Colaborou na Tribuna da Imprensa, ocupou o cargo de editor de humor na revista Senhor e foi chargista de Última Hora. Um dos fundadores do Pasquim, onde trabalhou do primeiro ao último número, ilustrou todos os livros de Stanislaw Ponte Preta e as anedotas do Pasquim, de Ziraldo.
Atualmente é chargista de O Dia, mantém uma seção (Inverdades & Mentiras) na revista Sexy, faz vinhetas para a TV Globo e é colaborador em várias revistas. Recebeu, em 1998, o prêmio Líbero Badaró, na categoria charge, pela revista Caros Amigos. É o único chargista que produziu, sem interrupção, desde 1957 até hoje, num período de 41 anos. Nesse tempo, fez aproximadamente vinte mil desenhos, dos quais, segundo diz, não guardou nenhum.
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Herminio Macedo Castelo Branco nasceu em Fortaleza (CE) em 1944. Formado em direito, é jornalista, cartunista, ilustrador, artista plástico e programador visual. Publicou as obras No Words (cartuns), O pequeno planeta perdido (em parceria com Ziraldo), Poeminos e Minha vã filosofia (poesia e pensamentos), Os Peixes (monografia).
Lançou a revista de humor O Almanaque Mino. Foi premiado em vários salões internacionais.
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Nelatir Rebés Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão (RS) em 1950. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Correio do Povo, Coojornal, Pasquim e O Estado de S. Paulo. Foi premiado mais de uma vez no Salão Yomiur Shimbum do Japão. Recebeu prêmios nos salões de humor de Montreal e Piracicaba.
Criador do personagem gaúcho típico Macanudo Taurinho Fagundes, publicou vários livros.
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Publicou os livros Pacto no tucupi (charges, 1981), Swing, suor e lábias (cartuns eróticos, 1988), Biratan verde de raiva (cartuns ecológicos, 1991), entre outros.
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Ferreth nasceu em Natal (RN) em 16 de março de 1951. Começou a publicar seus cartuns na década de 1970 no Pasquim. Desde então tem colaborado em jornais e revistas do país. Publicou a tira Dimenor nos jornais O Dia e O Povo, de São Paulo. Desenhou vinhetas para a Globo e foi premiado em diversos salões nacionais.
Atualmente trabalha para o jornal Extra.
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Publicou os livros Quebra-nós (1984) e 365 dias de humor (1994) e organizou Dez + dez, a natureza se defende (1992), com a participação de cartunistas russos e brasileiros.
Atualmente é colaborador do Cartoonist & Writers Syndicate dos Estados Unidos, programador visual, ilustrador e cartunista de publicações sobre ciência e saúde da Fiocruz.
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Lailson de Holanda Cavalcanti nasceu em Recife (PE) no dia 26 de dezembro de 1952, teve trabalhos publicados no Pasquim, Jornal da Semana, Jornal da Cidade e nas revistas Mad e KYX-93. Trabalha no Diário de Pernambuco.
Entre seus diversos prêmios, figuram os do Salão de Humor de Montreal (1983, 1985).
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Premiado no X Salão Carioca de Humor e na Mostra Maranhense de Humor98, participou de salões internacionais da Itália, Croácia, Israel, Cuba e Holanda.
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"Espetáculo para breve nas ruas desta cidade. Oswaldo Cruz, o Napoleão da seringa e lanceta, à frente das suas forças obrigatórias, será recebido e manifestado com denodo pela população. O interessante dos combates deixará a perder de vista o das batalhas de flores e o da guerra russo-japonesa. E veremos no fim da festa que será o vacinador à força!..." Leonidas, Guerra vaccubi-obrigateza, O Malho, 29.10.1904, em Oswaldo Cruz Monumenta Historica, tomo I, A incompreensão de uma época, Oswaldo Cruz e a caricatura, tomo I, p. cxxix.
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O terror dos ratos e dos mosquitos, Bambino, Oswaldo Cruz Monumenta Historica, A incompreensão de uma época, Oswaldo Cruz e a Caricatura, tomo I, p. ccxxxii.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
19 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Jun 2000