[Animaux] L’état inculte du nouveau monde affectoit non-soulement la température de l’air, mais les qualités mêmes de ses productions. Le principe de la vie sembloit y avoir moins de force & activité que dans l’ancien continent. [Quadrupedes] Malgré la vaste étendue de l’Amérique & variété de ses climats, les différentes especes d’animaux qui lui sont y sont proportionnellement en beaucoup plus petit nombre que dans les isles que quatre especes de quadrupes connus, dont le plus grand n’excédoit pas la grosseur d’un lapin. Il avoit une plus grand varieté sur le continent. Les individus de chaque espece ne pouvoient pas manquer de s’y multiplier extrêmement, parce qu’ils étoient peu tourmentés par les hommes qui n’étoient encore ni assez nombreux ni assez unis en société pour s’être rendus redoutables aux animaux; cependant le nombre des espèces distinctes ne peut être encore regardé que comme très petit. De deux cents especes différentes de quadrupes répandues sur la surface de la terre, on n’en trouva en Amérique qu’environ um tiers lorsqu’ele fut découverte [M. de Buffon, hist. nat. tome IX, p.86]. La nature étoit non-seulement moins féconde dans le nouveau monde, mais elle semble encore avoir été moin vigoureuse dans ses productions. Les quadrupedes qui appartiennent originairement à cette partie du globe paroissent être d’une race inférieure; ils ne sont ni aussi robustez ni aussi farouches que ceux de l’ancien continent. Il n’y en a aucun en Amérique qu’on puisse comparer à l’éléphant & au rhinocéros pour la grandeur, ni au lion ou au tigre pour la force & la ferocité. Le tapir du Brésil, le plus grand des quadrupedes du nouveau monde, est de la grosseur d’un veau de six mois. Le pumas & le juguars, les plus farouches des animaux carnaciers & auxquels les Européens ont donné mal à propos la dénomination de lions & de tigres, n’ont ni le courage intrépide des premiers ni la voracité cruelle des derniers [M. de Buffon, hist. nat. tom. IX, p.87. Margravii, hist. nat. Brasil, p.299]. Ils sont indolens & timides, peu redoutables pour l’homme, & ils s’enfuient souvent a la moindre apparence de résistance [M. de Buffon, hist. nat. p.13-203. Acosta, hist. lib. IV, c.34. Pisonis hist. p.6. Herrera, dec.4, lib. IV, c. I lib. X, c.13]. (ROBERTSON, 1777ROBERTSON, W. Histoire de l’Amérique. Tome Second. Paris: Panckoucke, 1777., p. 18-20). |
1ª [Observação] Observo também que o princípio da vida animal, exceptuada a dos insetos, não tem na América Meridional uma tão grande força e atividade como a da vida vegetal. Para qualquer destas províncias que se lance a vista, aonde o calor do sol, a umidade do clima e a fertilidade do terreno, por uma exuberância de vegetação, quase a maior parte das terras reduz a matas impenetráveis e cobertas de altos e grossos arvoredos, o que se vê é um país selvagem e sombrio, uma terra bruta abandonada a si mesma, porque toda a sua superfície está coberta de infinitas plantas, e estas, de todas as famílias. Donde era de esperar que, à imitação das matas do Antigo Continente, fossem também estas habitadas de grandes e ferozes animais, tais, por exemplo, como um elefante, um rinoceronte, um tigre e um leão. O que não é assim. 2ª [Observação] Porque, apesar de todos estes tão vastos abrigos e ainda mesmo de variedade que há de climas, nem os mamais na América Meridional são tantos, nem tão volumosos e robustos como aqueles acima, que são os do antigo hemisfério. Antes, parece que os mesmos quadrúpedes que originalmente pertencem a este, são de uma raça inferior, porque, em volume, o maior de todos é a anta e em vigor a onça. Nenhum outro animal se encontra, em quem se tema, nem a sua grandeza, nem a sua ferocidade. Ainda a que tem a onça, relativamente ao homem e fora do caso, ou do cio, ou da fome, não é tão resoluta e livre de temor, como a do tigre e a do leão. Ao que no Brasil chamam tigre, impropriamente lhe dão este nome. Os veados e os porcos monteses da Europa excedem aos destes países. Ultimamente, de quantas espécies de quadrúpedes povoavam a superfície do globo, observou De Buffon que apenas se achou a terça parte na América quando se descobriu [M. De Buffon. Hist. Nat., t.9º, p. 86]. (FERREIRA, 2003FERREIRA, A. R. Observações gerais e particulares sobre a classe dos mamais. In: SILVA, J. P. Viagem ao Brasil de Alexandre Rodrigues Ferreira II. V. III. Transcrição e comentários de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: Kapa Editorial, 2003. p. 9-158., p. 17-18). |