Open-access As árvores do cerrado no Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil

Trees of the cerrado in the Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Minas Gerais State, Brazil

RESUMO

O presente estudo apresenta levantamento florístico das árvores do remanescente de cerrado. No total foram registradas 63 espécies pertencentes a 46 gêneros de 26 famílias. As mais representadas foram Fabaceae (16 spp.) e Vochysiaceae (seis spp.). Bowdichia virgilioides Kunth é considerada como quase ameaçada, e Caryocar brasiliense Cambess. é protegida pela legislação estadual. Das árvores amostradas 19% são endêmicas ao bioma (12 spp.). Apresentamos uma lista das espécies, chave de identificação e uma avaliação do status de conservação e endemismos das espécies encontradas. Devido a sua composição florística representativa do cerrado e a fim de garantir a conservação desse importante patrimônio genético, esse remanescente deve urgentemente a ser uma área protegida.

Palavras-chave: Angiospermas; inventário florístico; Triângulo Mineiro

ABSTRACT

We present a floristic survey of the trees in the stricto sensu cerrado remnant. In total, 63 species belonging to 46 genera of 26 families were registered. The most represented were Fabaceae (16 spp.) and Vochysiaceae (six spp.) Bowdichia virgilioides Kunth was considered near threatened, e Caryocar brasiliense Cambess. is protected by a state law. Of the registered trees, 19% are endemic to the biome (12 spp.). We present a list of species, identification key and an assessment of the conservation status and endemism of the species found. Due to its “cerrado” representative florist composition, and in order to ensure the conservation of this important genetic heritage, this cerrado remnant should urgently became a protected area again.

Keywords: Angiosperms; florist survey; Triangle Mineiro

Introdução

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ocupando 1.983.017 km2, o que representa cerca de 23% do território nacional (IBGE 2019). Este bioma está presente em todas as grandes regiões geográficas brasileiras, com maior expressão no Centro-Oeste, onde ocupa cerca de 56% da sua superfície (IBGE 2019). Com tamanha extensão, o Cerrado apresenta fitofisionomias que englobam formações savânicas, florestais e campestres (Ribeiro & Walter 2008), totalizando cerca de 12.338 espécies angiospermas, das quais 5.069 espécies são endêmicas a esse bioma (Flora do Brasil 2020), e mais de 100 espécies de árvores e arbustos características desse bioma (Ratter et al. 2003). Apesar desta rica composição florística e da variação fitofisionômica, esse bioma apresenta uma taxa de desmatamento maior que a Amazônia (Bolson 2018). Dentre as ameaças que resultam nessa taxa, as principais são a agricultura, como a monocultura da soja, e projetos de desenvolvimento e infraestrutura (Martinelli & Moraes 2013, Lopes et al. 2021). Apesar de ser um dos hotspots mundiais (Mittermier et al. 2004), um percentual ainda baixo de áreas de Cerrado está protegido, sendo 2,85% de proteção integral e 5,36% de uso sustentável, incluindo RPPNs (0,07%) (MMA 2020) e, segundo projeções, ocorrerá a perda dos 31-34% dos remascentes do Cerrado até 2050 (Strassburg et al. 2017).

Em 2020, a área desmatada de Cerrado foi de 7.340,10 km2 (INPE 2021). Situação similar de desmatamento do cerrado acontece no Estado de Minas Gerais (INPE 2021). Originalmente, com aproximadamente 54% de sua área pertencente ao bioma Cerrado (IBGE 2019), o Estado de Minas Gerais perdeu, entre 2001 a 2020, 45.461,25 km2 de cerrado (INPE 2021), sendo o terceiro Estado que mais desmatou o bioma (INPE 2021), ficando somente atrás dos Estados de Mato Grosso (46.781,95 km2) e Goiás (45.861,58 km2) (INPE 2021). As áreas restantes estão condenadas ao desaparecimento em pouco tempo (Strassburg et al. 2017).

Em relação à distribuição das áreas protegidas estaduais de Minas Gerais, a região do Triângulo Mineiro apresenta somente duas unidades de Proteção Integral: o Parque Estadual do Pau Furado e o Refúgio de Vida Silvestre Estadual dos Rios Tijuco e do Prata (IEF 2018). As demais unidades do Triângulo Mineiro pertencem ao grupo de “Uso Sustentável”, sendo a maioria inserida na categoria de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), com um total de nove unidades (IEF 2018). O município de Uberlândia, que contempla a maior cidade do Triângulo Mineiro, possui somente duas RPPNs criadas no âmbito estadual, a RPPN Cachoeira da Sucupira e a RPPN Reserva Britagem São Salvador (IEF 2018). No âmbito federal há a RPPN Reserva Ecológica do Panga, administrada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (IBAMA 1997).

Uma vez que no Triângulo Mineiro existem poucas unidades de conservação, o Clube Caça e Pesca Itororó (CCPIU), localizado na zona urbana do município de Uberlândia, Estado de Minas Gerais, propôs uma unidade de conservação para um fragmento de cerrado que foi reconhecido como Reserva Particular de Patrimônio Natural (IBAMA 1992). Entretanto, a portaria foi revogada pelo mesmo Instituto (IBAMA 2000), pela não averbação do termo de compromisso (IBAMA 1996), tornando área vulnerável à especulação imobiliária (Torres 2018), exceto pela área de proteção obrigatória, no caso a vereda e seu entorno (BRASIL 2012).

A área de cerrado do Clube Caça e Pesca Itororó é dividida em duas fitofisionomias principais da formação savânica, o cerrado sentido restrito e a vereda (Appolinario & Schiavini 2002). A vereda tem sido objeto de estudos da vegetação em termos florísticos (e.g. Araújo et al. 2002). Em relação ao cerrado sentido restrito, os estudos buscam descrever e analisar a estrutura da comunidade e também a composição florística das árvores (e.g. Appolinario & Schiavini 2002, Silva 2007), tendo sido realizados também tratamentos sistemáticos de algumas famílias de angiospermas: Melastomataceae (Bacci et al. 2016b) e Bignoniaceae (Duarte & Romero 2020).

O presente estudo tem como objetivo realizar o levantamento florístico das árvores no cerrado sentido restrito do Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Minas Gerais; apresentar uma chave de identificação das espécies; e indicar possíveis espécies ameaçadas e endemismos ocorrentes, contribuindo assim para a proposição de políticas de conservação da diversidade local.

Material e Métodos

Área de estudo - O Clube Caça e Pesca Itororó (18°59'S, 48°18'W) está situado 5 km a oeste do centro do município de Uberlândia, com uma área total de 640 hectares (Bacci et al. 2016b). No interior desse clube, existe uma área com 127 hectares de cerrado (figura 1), com duas fitofisionomias principais: cerrado sentido restrito e vereda (figura 2 a-b) (Appolinario & Schiavini 2002). O clima predominante na região, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw, ou seja, tropical com duas estações bem definidas, sendo os meses de dezembro e janeiro os mais chuvosos-estação úmida (300 mm), enquanto os meses junho, julho e agosto os menos chuvosos - estação seca (17 mm) (Rosa et al. 1991).

Figura 1.
Mapa de localização do Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil. a-b. vegetação nativa. c. cerrado sentido restrito (amarelo) e vereda (azul). Figure 1. Location map of the Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Minas Gerais State, Brazil. a-b. native vagetatio. c. stricto sensu cerrado (yellow), and vereda (blue).

Figura 2.
Principais fitofisionomias do Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil. a. sentido restrito. b. vereda. Estado de conservação das espécies ameaçadas encontradas no cerrado sentido restrito do Clube Caça e Pesca Itororó. Bowdichia virgilioides Kunth espécie quase ameaçada (NT). c. árvore decídua em plena floração. d. inflorescência; Caryocar brasiliense Cambess., espécie protegida de corte. e. ritidoma. f. flor (Fotos - e, f: Letícia Maria Souto Silva. c, d: Jimi Naoki Nakajima). Figure 2. Prevailing physiognomies in the Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Minas Gerais State, Brazil. a. stricto sensu cerrado. b. vereda. Conservation status of endangered species found in the cerrado in the strict sense of Clube Caça e Pesca Itororó. Bowdichia virgilioides Kunth near threatened species (NT). c. deciduous tree in full bloom. d. inflorescence; Caryocar brasiliense Cambess., a protected beef species. e. rhytidome.f. flower (Photos - e, f: Letícia Maria Souto Silva. c, d: Jimi Naoki Nakajima).

Coletas e estudo dos exemplares - As coletas foram feitas de indivíduos arbóreos lenhosos em estágio reprodutivo e que alcançaram, no mínimo, 2 metros de altura formando tronco único sem ramificação na base (Leitão Filho 1992). Para a coleta de espécimes foram realizadas nove expedições de 2018 a 2019, com duração de uma semana para cada expedição: sendo realizadas em 2018, quatro expedições na estação seca (abril, maio, junho e setembro) e três na estação chuvosa (outubro, novembro e dezembro); e em 2019, duas expedições na estação chuvosa (fevereiro e março).

Os exemplares férteis foram coletados, quando possível, com cinco ramos, devidamente herborizados, segundo as técnicas usuais (Fidalgo & Bononi 1984, Peixoto & Maia 2013) e incorporados no acervo do Herbarium Uberlandense (HUFU) da Universidade Federal de Uberlândia, Estado de Minas Gerais (tabela 1). Registros fotográficos das espécies no campo foram feitos para compor um guia (Silva et al. 2020). Para complementar o levantamento das espécies arbóreas também foram realizadas consultas aos espécimes do Clube Caça e Pesca Itororó que estão disponíveis nas plataformas provenientes do Herbário Virtual Reflora (https://reflora.jbrj.gov.br/reflora/herbarioVirtual/) e SpeciesLink (https://specieslink.net/). A grande maioria dos espécimes coletados anteriormente no Clube Caça e Pesca Itororó está depositada no acervo do Herbarium Uberlandense (HUFU).

Tabela 1.
Árvores do cerrado sentido restrito registradas no Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil. Table 1. Trees of the stricto sensu cerrado registered in the Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Minas Gerais State, Brazil.

A identificação das espécies ocorreu por meio da observação das características reprodutivas e vegetativas das plantas, utilizando-se um estereomicroscópio, e consulta a literatura especializada (Silva Júnior 2012, Souza et al. 2018), bem como estudo dos espécimes depositados no herbário HUFU (acrônimo segundo Thiers 2021, continuamente atualizado) e banco de imagens de herbários disponibilizados online. A terminologia morfológica para as características reprodutivas e vegetativas utilizada na chave de identificação foi baseada em Gonçalves & Lorenzi (2007).

O sistema de classificação adotado foi o APG IV (APG 2016), e para obtenção de informações sobre validade, sinonímia e grafia de nomes científicos foi consultado o banco da Flora do Brasil 2020 (Flora do Brasil 2020). Para determinar prováveis endemismos para o estado e para o bioma foi consultada a Flora do Brasil 2020 (Flora do Brasil 2020), e o reconhecimento das espécies ameaçadas seguiu a Portaria MMA Nº 443/2014 (MMA 2014). Informações complementares foram levantadas no Livro Vermelho da Flora do Brasil (Martinelli & Moraes 2013) e no Portal do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora 2021).

Resultados

No cerrado sentido restrito do Clube Caça e Pesca Itororó foram registradas 63 espécies arbóreas (tabela 1). Deste total, foram coletadas duas espécies que ainda não haviam sido coletadas para o Clube Caça e Pesca Itororó: Tachigali rubiginosa (Mart. ex Tul.) Oliveira-Filho (Fabaceae) e Luehea grandiflora Mart. & Zucc. (Malvaceae).

Os gêneros mais ricos foram: Miconia (Melastomataceae) e Qualea (Vochysiaceae), com quatro espécies cada; Aspidosperma (Apocynaceae), Byrsonima (Malpighiaceae), Handroanthus (Bignoniaceae), Kielmeyera (Calophyllaceae), Leptolobium (Fabaceae), Machaerium (Fabaceae), Ouratea (Ochnaceae), Pouteria (Sapotaceae), Stryphnodendron (Fabaceae), Tachigali (Fabaceae) e Vochysia (Vochysiaceae), com duas espécies cada (tabela 1).

As famílias mais ricas em número de espécies foram Fabaceae (16 spp.) e Vochysiaceae (seis spp.); e Apocynaceae, Melastomataceae e Myrtaceae (quatro spp. cada) (tabela 1) Essas cinco famílias contribuem com 54% das espécies levantadas. Oito famílias (25% do total) estão representadas por duas espécies cada: Asteraceae, Bignoniaceae, Calophyllaceae, Malpighiaceae, Malvaceae, Nyctaginaceae, Ochnaceae e Sapotaceae; enquanto que 13 famílias (21% do total) estão representadas por apenas uma espécie: Annonaceae, Araliaceae, Caryocaraceae, Celastraceae, Chrysobalanaceae, Erythroxylaceae, Lythraceae, Moraceae, Primulaceae, Proteaceae, Sapindaceae, Solanaceae e Styracaceae (tabela 1).

Em relação ao estado de conservação das espécies, Bowdichia virgilioides Kunth (Fabaceae) (figura 2 c-d), conhecida popularmente como sucupira-preta, está incluída na categoria quase ameaçada (NT). Outra espécie não citada nas listas oficiais de espécies ameaçadas, mas que merece destaque é Caryocar brasiliense Cambess. (Caryocaraceae) (figura 2 e-f). No Estado de Minas Gerais, essa espécie é protegida de corte (MINAS GERAIS 2012). Das 63 espécies registradas no presente estudo 12 (19%) são endêmicas ao bioma Cerrado.

Chave de identificação das árvores do cerrado sentido restrito no Clube Caça e Pesca Itororó, Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil

1. Plantas com folhas compostas

2. Folhas alternas

3. Folhas digitadas

4. Folha com face abaxial com tricomas esbranquiçados; corola amarelo-esverdeada .............................................................................................. Schefflera macrocarpa (Araliaceae)

4. Folha com face abaxial com tricomas negros; corola creme ............. Eriotheca gracilipes (Malvaceae)

3. Folhas pinadas ou bipinadas

5. Folhas pinadas

6. Flores papilionáceas

7. Corola branca

8. Ramos com lenticelas evidentes; folíolos lanceolados .......... Machaerium acutifolium (Fabaceae)

8. Ramos sem lenticelas evidentes; folíolos ovados .......... Machaerium opacum (Fabaceae)

7. Corola rosa ou roxa

9. Corola rosa

10. Folíolos com estipelas; cálice sem glândulas .................. Andira vermifuga (Fabaceae)

10. Folíolos sem estipelas; cálice com glândulas .............. Pterodon pubescens (Fabaceae)

9. Corola roxa

11. Folíolos sem manchas; flores sem máculas; fruto legume ........................................................................................ Bowdichia virgilioides (Fabaceae)

11. Folíolos ocasionalmente com manchas circulares, pretas, causadas por fungos; flores com máculas brancas; fruto sâmara ............................. Dalbergia miscolobium (Fabaceae)

6. Flores não papilionáceas

12. Corola amarela

13. Folíolos com pilosidade em ambas as faces; ovário hirsuto-ferrugíneo .................................................................................................. Tachigali aurea (Fabaceae)

13. Folíolos com pilosidade somente na face abaxial; ovário seríceo .......................................................................................... Tachigali rubiginosa (Fabaceae)

12. Corola branca

14. Folhas com pontuações translúcidas

15. Folhas bifolioladas .......................................... Hymenaea stigonocarpa (Fabaceae)

15. Folhas com mais de 2 folíolos ............................ Copaifera langsdorffii (Fabaceae)

14. Folha sem pontuações translúcidas

16. Raque com folíolo terminal atrofiado ............... Matayba guianensis (Sapindaceae)

16. Raque com folíolo terminal desenvolvido

17. Folíolos glabros; ovário glabro ......................... Leptolobium elegans (Fabaceae)

17. Folíolos pubescentes; ovário tomentoso ... Leptolobium dasycarpum (Fabaceae)

5. Folhas bipinadas

18. Folíolos com base da nervura central barbada unilateralmente na face abaxial

19. Frutos maduros túrgidos com sementes não salientes ............................................................................... Stryphnodendron adstringens (Fabaceae)

19. Frutos maduros subturgidos a planos-compressos com sementes salientes ............................................................................ Stryphnodendron rotundifolium (Fabaceae)

18. Folíolos pubescentes em ambas as faces

20. Folha com nervura terciária reticulada; corola alva, 10 estames alvos, ovário lanoso .......................................................................................... Plathymenia reticulata (Fabaceae)

20. Folha sem nervura terciária reticulada; corola creme, 5 estames marrons, ovário glabro ............................................................................................ Dimorphandra mollis (Fabaceae)

2. Folhas opostas

21. Folhas trifoliadas; androceu com mais de 20 estames .......... Caryocar brasiliense (Caryocaraceae)

21. Folhas digitadas, androceu com 4 estames

22. Folhas com tricomas não estrelados, margem dentada ..... Handroanthus ochraceus (Bignoniaceae)

22. Folhas sem tricomas estrelados, margem serrada ....... Handroanthus serratifolius (Bignoniaceae)

1. Plantas com folhas simples

23. Folhas opostas ou verticiladas

24. Folhas opostas

25. Folhas com nervuras broquidódromas e nervuras secundárias paralelas

26. Planta com látex; folha sem glândula no ápice; fruto carnoso, amarelo ..................................................................................... Hancornia speciosa (Apocynaceae)

26. Planta sem látex; folha com glândula no ápice; fruto seco, loculicida, castanho .............................................................................................. Lafoensia pacari (Lythraceae)

25. Folhas com nervuras acródromas ou broquidódromas sem nervuras secundárias paralelas

27. Folhas com nervuras acródromas

28. Folhas glabras ou com indumento aracnóide canescente na face abaxial

29. Folhas glabras; baga enegrecida ....................... Miconia ligustroides (Melastomataceae)

29. Folhas com indumento aracnóide canescente; baga verde .......................................................................... Miconia albicans (Melastomataceae)

28. Folhas com tricomas estrelados ou tricomas estrelado- furfuráceos na face abaxial

30. Folhas revestidas por tricomas-estrelados, ferrugíneos ...................................................................... Miconia rubiginosa (Melastomataceae)

30. Folhas revestidas por tricomas estrelados-furfuráceos, amarelados ..................................................................... Miconia leucocarpa (Melastomataceae)

27. Folhas com nervuras broquidódromas

31. Folhas com pontuações translúcidas

32. Folhas e ramos glabros .................................... Eugenia involucrata (Myrtaceae)

32. Folhas ou ramos com indumento

33. Pecíolo canaliculado; folha com ápice obtuso a agudo, base aguda, raro obtusa ................................................................... Myrcia guianensis (Myrtaceae)

33. Pecíolo não canaliculado; folha com ápice acuminado

34. Folhas com nervuras secundárias salientes na face abaxial ............................................................. Campomanesia pubescens (Myrtaceae)

34. Folhas sem nervuras secundárias salientes na face abaxial ............................................................. Blepharocalyx salicifolius (Myrtaceae)

31. Folhas sem pontuações translúcidas

35. Folhas com estípulas intrapeciolares

36. Folhas glabras, sésseis; corola rosa ...... Byrsonima coccolobifolia (Malpighiaceae)

36. Folhas com indumento na face abaxial, pecioladas; corola amarela ............................................................... Byrsonima pachyphylla (Malpighiaceae)

35. Folhas sem estípulas intrapeciolares

37. Folhas sem glândulas crateriformes na inserção do pecíolo

38. Folhas sésseis; flores com estames inclusos ....... Neea theifera (Nyctaginaceae)

38. Folhas pecioladas; flores com estames exsertos ............................................................... Guapira graciliflora (Nyctaginaceae)

37. Folhas com glândulas crateriformes na inserção do pecíolo

39. Corola roxa; superfície do fruto descamante ..................................................................... Qualea parviflora (Vochysiaceae)

39. Corola amarela ou branca; superfície do fruto não descamante

40. Ramos com casca descamante em placas; fruto com mais de 6 cm de comprimento ....................................... Qualea grandiflora (Vochysiaceae)

40. Ramos com casca não descamante em placas; fruto até 6 cm de comprimento

41. Folhas cartáceas, base obtusa ou arredondada .............................................................................. Qualea multiflora (Vochysiaceae)

41. Folhas coriáceas, base cordada ................ Qualea dichotoma (Vochysiaceae)

24. Folhas verticiladas

42. Folhas glabras, ápice emarginado, margem revoluta ........................................................................................ Vochysia tucanorum (Vochysiaceae)

42. Folhas com indumento cinamôneo nas folhas jovens a canescente nas folhas maduras, ápice retuso, margem não revoluta ............................. Vochysia cinnamomea (Vochysiaceae)

23. Folhas alternas

43. Folhas alternas dísticas

44. Margem das folhas serreada ou crenada, ovada, pecíolos flexíveis que dão aspecto pendente a folha .................................................................. Plenckia populnea (Celastraceae)

44. Margem das folhas inteira, oblonga ou lanceolada, pecíolos não flexíveis

45. Plantas com látex em toda planta; folha oblonga com estípulas, face adaxial esparso-pubescente, face abaxial pubescente ou levemente tomentosa .................................................................................... Brosimum gaudichaudii (Moraceae)

45. Plantas sem látex; folha lanceolada sem estípula, face adaxial esparso-serícea, face abaxial denso-tomentosa ................................................. Xylopia aromatica (Annonaceae)

43. Folhas alternas espiraladas

46. Plantas com látex

47. Folhas sésseis

48. Flores grandes, com tubo da corola com mais de 1,5 cm compr., corola branca fundida na base de cor amarelada; fruto do tipo folículo, curvo ............................................................................ Himatanthus obovatus (Apocynaceae)

48. Flores pequenas, com tubo da corola menor que 1 cm compr., corola totalmente branca; fruto do tipo folículo, achatado, piriforme ............... Aspidosperma tomentosum (Apocynaceae)

47. Folhas pecioladas

49. Folhas agrupadas no ápice dos ramos, corola verde pálida ou branca; fruto baga ou cápsula

50. Flores com corola branca; fruto do tipo cápsula ....................................................................... Kielmeyera coriacea (Calophyllaceae)

50. Flores com corola verde pálida; fruto do tipo baga

51. Frutos glabro, verde-jade ............................. Pouteria ramiflora (Sapotaceae)

51. Frutos piloso, alaranjado ..................................... Pouteria torta (Sapotaceae)

49. Folhas não agrupadas no ápice dos ramos, corola rosa ou branca, fruto cápsula ou folículo

52. Folhas oblongas; corola rosa; fruto cápsula ...................................................................................... Kielmeyera rubriflora (Calophyllaceae)

52. Folhas largo-elípticas; corola branca; fruto folículo .............................................................. Aspidosperma macrocarpon (Apocynaceae)

46. Plantas sem látex

53. Folhas com margem serreada, crenada ou lobada

54. Folhas trinérveas, ovadas; corola alva levemente creme ...................................................................................... Luehea grandiflora (Malvaceae)

54. Folhas peninérveas, elípticas ou oblongas; corola amarela, roxa ou sem corola

55. Folhas com nervação eucamptódroma

56. Folhas elípticas, pecioladas 3-4 mm compr; corola amarela, ovário com 6-8 carpelos ........................................................... Ouratea hexasperma (Ochnaceae)

56. Folhas oblongas, curto-pecioladas 1-2 mm compr; corola amarela, ovário com 5 carpelos .................................................. Ouratea spectabilis (Ochnaceae)

55. Folhas com nervação broquidódroma

57. Folhas glabras, que exalam odor de carne quando amassadas; sem corola; fruto folículo ......................................................... Roupala montana (Proteaceae)

57. Folhas com indumento estrelado, que exalam odor de tomate verde quando amassadas; corola roxa; fruto baga ................ Solanum lycocarpum (Solanaceae)

53. Folhas com margem inteira

58. Flores monoclamídeas, estilete lanuginoso; fruto drupa ................................................................................ Licania humilis (Chrysobalanaceae)

58. Flores diclamídeas, estilete não lanuginoso; fruto cipsela

59. Inflorescência em capítulo

60. Capítulos fundidos entre si em sinflorescência terminal nos ramos; brácteas involucrais persistentes ..................................... Eremanthus cinctus (Asteraceae)

60. Capítulos livres entre si em conflorescência axilar; brácteas involucrais caducas ..................................................... Piptocarpha rotundifolia (Asteraceae)

59. Outros tipos de inflorescências

61. Folhas com estípulas formando ramenta; fruto drupa, elipsóide, vermelho .......................................................... Erythroxylum suberosum (Erythroxylaceae)

61. Folhas sem estípulas, agrupadas ou não no ápice dos ramos; fruto drupa, globóide ou elipsóide

62. Folhas agrupadas nos ápices dos ramos; corola esverdeada, 5 estames brancos; fruto drupa, globóide, preto ......... Myrsine guianensis (Primulaceae)

62.Folhas não agrupadas nos ápices dos ramos; corola branca, 10 estames amarelos, drupa, elipsóide, esverdeado ........ Styrax ferrugineus (Styracaceae)

Discussão

O total de espécies arbóreas encontrado está dentro dos limites de riqueza de espécies arbóreas e arbustivas do cerrado, que apresenta número quase sempre inferior a 120 espécies (Ratter et al. 1997).

Em relação aos novos registros de espécies para o Clube Caça e Pesca, Tachigali rubiginosa (Fabaceae) é restrita ao Brasil, e já foi coletada no município de Uberlândia na bacia do rio Uberabinha (Coleta Hemsing & Dias 719 - HUFU), estando entre as espécies lenhosas características do bioma (Ratter et al. 2003). Luehea grandiflora (Malvaceae), por sua vez, é bem representada em coletas do município de Uberlândia, mas não em cerrado sentido restrito e sim para outras fitofisionomias da formação florestal, como, por exemplo, em mata decídua, mata semidecídua, mata ciliar e cerradão, como pode ser verificado no acervo do Herbarium Uberlandense (HUFU).

A comparação dos resultados do presente estudo com os de Appolinario & Schiavini (2002) indica que 44 espécies são comuns aos dois levantamentos e 24 espécies diferentes, que não foram registradas nesse estudo. Essa diferença pode ser associada aos métodos adotados por Appolinario & Schiavini (2002), nos quais a inclusão se deu pela circunferência mínima de 10 cm na base das árvores, não considerando a altura mínima de 2 metros, e nem com caule único, como no presente estudo. Dessa forma, em Appolinario & Schiavini (2002) foi registrada, por exemplo, Cabralea canjerana (Vell.) Mart. (Meliaceae), espécie comum no cerrado do Clube Caça e Pesca, mas com altura comumente inferior a 2 metros e com a presença de ramificações na base do tronco, se mostrando mais como arbusto ou subarbusto do que um indivíduo arbóreo.

A listagem aqui apresentada (tabela 1) inclui novos acréscimos de espécies para a flora arbórea do Clube Caça e Pesca em relação ao trabalho de Appolinario & Schiavini (2002): Xylopia aromatica (Lam.) Mart. (Annonaceae), Eremanthus cinctus Baker (Asteraceae), Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose (Bignoniaceae), Kielmeyera rubriflora Cambess. (Calophyllaceae) Tachigali aurea Tul., Tachigali rubiginosa (Mart. ex Tul.) Oliveira-Filho, Stryphnodendron rotundifolium Mart. (Fabaceae), Luehea grandiflora Mart. & Zucc. (Malvaceae), Miconia albicans (Sw.) Triana, Miconia rubiginosa (Bonpl.) DC., Miconia ligustroides (DC.) Naudin (Melastomataceae), Campomanesia pubescens (Mart. ex DC.) O.Berg, Eugenia involucrata DC. (Myrtaceae), Neea theifera Oerst, Guapira graciliflora (Mart. ex Schmidt) Lundell (Nyctaginaceae), Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze (Primulaceae), Matayba guianensis Aubl. (Sapindaceae), Solanum lycocarpum A.St.-Hil. (Solanaceae) e Qualea dichotoma (Mart.) Warm. (Vochysiaceae).

Todos os gêneros registrados no estudo para o Clube Caça e Pesca Itororó são bem representativos na flora do cerrado (Ratter et al. 2003). Além disso, Bridgewater et al. (2004), em seu trabalho com as espécies lenhosas dominantes da flora do cerrado, citam que Byrsonima (Malpighiaceae) é o gênero mais rico (cinco spp.), seguido por Aspidosperma (Apocynaceae), Kielmeyera (Calophyllaceae), Qualea e Vochysia (Vochysiaceae) com três espécies cada; e Handroanthus (Bignoniaceae), Machaerium (Fabaceae), Ouratea (Ochnaceae), Pouteria (Sapotaceae), Stryphnodendron e Tachigali (Fabaceae) com duas espécies cada. Todos estes gêneros foram amostrados no Clube Caça e Pesca Itororó com a mesma quantidade de espécies, ou ligeiramente inferior, demonstrando novamente a boa representatividade da flora desse cerrado estudado.

De acordo com dados da Flora do Brasil 2020, as famílias mais representativas no cerrado são: Fabaceae (1.283 spp.), Asteraceae (1.246 spp.), Poaceae (744 spp.), Orchidaceae (642 spp.), Melastomataceae (505 spp.), Euphorbiaceae (412 spp.), Rubiaceae (378 spp.), Malvaceae (349 spp.) e Myrtaceae (245 spp.). Essas nove famílias incluem mais de 50% espécies de Angiospermas nesse tipo de vegetação (Souza et al. 2018). Apesar destas famílias serem as mais ricas no Cerrado, a posição qualitativa entre elas pode mudar, dependendo dos critérios adotados nos diferentes estudos (Forzza et al. 2010, Souza et al. 2018) sendo importante destacar que esse levantamento considera outras formas de vidas, como as herbáceas, diferente do presente estudo que amostrou somente as árvores.

Bridgewater et al. (2004), ao apresentarem uma lista com as 121 espécies lenhosas dominantes da flora do cerrado, indicaram as dez famílias mais ricas: Fabaceae (23 spp.), Vochysiaceae (oito spp.), Malvaceae (seis spp.), Apocynaceae, Malpighiaceae e Rubiaceae (cinco spp.) e Anacardiaceae, Annonaceae, Bignoniaceae e Melastomataceae (quatro spp.). Neste sentido, o cerrado do Clube Caça e Pesca Itororó também possui uma boa representatividade das espécies arbóreas das famílias mais importantes que caracterizam esta fitofisionomia.

Especificamente em relação às Fabaceae, ao comparar os resultados de Bridgewater et al. (2004) com o presente estudo, foram encontradas 12 espécies em comum: Acosmium dasycarpum (Vog.) Yakovlev (=Leptolobium dasycarpum Vogel), Bowdichia virgilioides Kunth, Copaifera langsdorfii Desf., Dalbergia miscolobium Benth., Dimorphandra mollis Benth., Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne, Machaerium acutifolium Vogel, M. opacum Vogel, Plathymenia reticulata Benth., Pterodon pubescens Benth., Sclerolobium aureum (Tul.) Benth.(= Tachigali aurea Tul.) e Stryphnodendron adstringens (Mart.) Cov. Não foram encontradas, portanto, apenas quatro espécies lenhosas citadas por Bridgewater et al. (2004) indicando a alta representatividade desta família no cerrado estudado. Esta família também foi a mais rica (17 espécies) no trabalho realizado por Apolinário & Schiavini (2002) no cerrado sentido restrito do Clube Caça e Pesca.

Vochysiaceae foi a segunda família mais rica nesse estudo (seis spp.). Embora não possua um número expressivo de espécies, está entre as famílias mais características do bioma, com diversas espécies arbóreas que se destacam na paisagem (Souza et al. 2018). Appolinario & Schiavini (2002) registraram Vochysiaceae como a terceira família mais rica com cinco espécies, sendo Qualea spp. também o gênero mais rico. O sucesso dessa família na colonização dessa fitofisionomia provavelmente é atribuído à presença de espécies acumuladoras de alumínio (Felfili, & Silva-Júnior 1993). Haridasan (1982), ao estudar 30 espécies pertencentes a 17 famílias do Brasil Central, encontrou cinco espécies de Vochysiaceae (Qualea grandiflora Mart., Qualea multiflora Mart., Qualea parviflora Mart., Vochysia elliptica Mart. e Vochysia. thyrsoidea Pohl) com esse mecanismo de acúmulo de alumínio em suas folhas. Dessas cinco espécies, somente as Vochysia não foram inventariadas no Clube Caça e Pesca Itororó.

A riqueza de Melastomataceae no cerrado sentido restrito também foi citada por Aquino et al. (2013). Em Appolinario & Schiavini (2002) foi registrada somente Miconia pohliana Cogn. (=M. leucocarpa DC.) para o cerrado sentido restrito, enquanto no presente estudo foram levantadas quatro espécies para este gênero, que foi o mais rico. O gênero Miconia possui 276 espécies, sendo o quinto mais diverso da flora brasileira (Martinelli & Moraes 2013), além de possuir várias espécies acumuladoras de alumínio no cerrado (Haridasan 1982), o que pode explicar sua prevalência no cerrado. Melastomataceae é mais expressiva em outras fitofisionomias do Clube Caça e Pesca Itororó, como por exemplo na vereda (Araújo et al. 2002) e borda com o cerrado e campos sujos (Bacci et al. 2016b), e devido a grande relevância das Melastomataceae, um tratamento taxonômico da família foi realizado por Bacci et al. (2016b), além da publicação de um guia de campo (Bacci el al. 2016a).

Myrtaceae está entre as famílias com maior riqueza no cerrado, com aproximadamente 15 gêneros e 250 espécies (Souza et al. 2018). Os levantamentos florísticos realizados no cerrado sentido restrito em outras localidades comprovam essa riqueza (Felfili et al. 1992, Felfili et al. 2002, Costa et al. 2010). No município de Uberlândia, Costa & Araújo (2001), ao compararem a vegetação arbórea do cerradão e cerrado da Reserva do Panga, encontraram Myrtaceae como a terceira maior em número de espécies nestas duas comunidades vegetais (cinco spp.). Entretanto, nenhuma espécie foi comum para as duas áreas de cerrado (Costa & Araújo 2001). No trabalho de Appolinario & Schiavini (2002) a família foi a segunda mais rica, com oito espécies. Das quatro espécies levantadas no presente estudo, somente Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg e Myrcia guianensis (Aubl.) DC. foram comuns aos dois trabalhos.

Apocynaceae possui 38 gêneros e cerca de 180 espécies no cerrado (Souza et al. 2018). Appolinario & Schiavini (2002) encontraram quatro espécies, assim como no presente estudo: Aspidosperma macrocarpon Mart. & Zucc., A. tomentosum Mart., Hancornia speciosa Gomes e Himatanthus obovatus (Müll. Arg.) Woodson. Essas são típicas do cerrado sentido restrito (Bridgewater et al. 2004).

Finalmente, duas espécies pertencentes à família Asteraceae merecem destaque. Esta é uma das maiores famílias de Angiospermas do Brasil (Flora do Brasil 2020), estando bem representada nos levantamentos florísticos do cerrado, onde predominam as formações campestres, uma vez que a grande maioria é herbácea a arbustiva (Nakajima & Semir 2000). Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker e Eremanthus cinctus Baker. são as espécies arbóreas levantadas para o Clube Caça e Pesca Itororó, sendo que a primeira é exclusiva e característica dos cerrados brasileiros por sua ampla distribuição nesta fitofisionomia (Bridgewater et al. 2004), enquanto que E. cinctus era conhecida apenas para os cerrados do Mato Grosso, sendo a sua ocorrência no cerrado do Clube Caça e Pesca, o limite extremo leste de sua distribuição.

Quanto ao estado de conservação das espécies, no presente estudo foi levantada a ocorrência de Bowdichia virgilioides, uma espécie quase ameaçada, ou seja, espécie que no momento não se qualifica como ameaçada, mas está perto ou suscetível de ser qualificada em uma categoria de ameaça num futuro próximo (CNC Flora 2021). Das 63 espécies registradas no presente estudo, 12 (19%) são endêmicas ao bioma Cerrado, sendo elas: Aspidosperma tomentosum Mart., Caryocar brasiliense Cambess., Dalbergia miscolobium Benth., Eremanthus cinctus Baker, Kielmeyera rubriflora Cambess., Leptolobium elegans Vogel, Miconia leucocarpa DC., Ouratea hexasperma (A.St.-Hil.) Baill., Ouratea spectabilis (Mart.) Engl., Styrax ferrugineus Nees & Mart., Tachigali aurea Tul. e Tachigali rubiginosa (Mart. ex Tul.) Oliveira-Filho. Dessas, três tiveram o seu grau de extinção avaliado, sendo: A. tomentosum, C. brasiliense e O. spectabilis todas incluídas na categoria Pouco Preocupante (LC), e as demais encontram-se não avaliada quanto a ameaça (NE) (CNC Flora 2021).

Caryocar brasiliense, o pequi, é uma espécie protegida de corte pela legislação ambiental do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS 2012). Tanto B. virgilioides quanto C. brasiliense, são espécies citadas como ocorrentes em outras fitofisionomias savânicas do cerrado (Silva Júnior 2012), bem como características do cerrado s.s. (Bridgewater et al. 2004).

Considerações Finais

A flora arbórea do Clube Caça e Pesca Itororó, localizada no perímetro urbano do município de Uberlândia, é rica e representativa do cerrado s.s., o que reforça a sua relevância e seu caráter conservacionista. Políticas de gestão dessa flora devem se manter firmes e estáveis, pois a área de cerrado do Clube Caça e Pesca Itororó (CCPIU) pode ser considerada um dos últimos fragmentos vegetacionais desta fitofisionomia em Uberlândia, que vem sofrendo intensa pressão antrópica com a especulação imobiliária (Torres 2018). Apesar de anteriormente já ter sido reconhecida como Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), essa área não está protegida, pois a averbação da RPPN nunca ocorreu (IBAMA 1996). Sendo assim esse fragmento de cerrado, com toda a sua diversidade biológica, está seriamente comprometido por ações como o desmatamento, que é flexibilizado por não haver nenhuma política de proteção desse importante trecho de cerrado. É urgente que esse remanescente volte a ser considerado como uma área protegida, garantindo assim a sua conservação.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Uberlândia; à Profa. Dra. Rosana Romero, curdora do Herbarium Uberlandense (HUFU); ao Programa de Pós-Graduação em Botânica do Museu Nacional do Rio de Janeiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro); ao Laboratório de Palinologia Álvaro Xavier Moreira do Departamento de Botânica do Museu Nacional/UFRJ. Em especial às professoras Dra. Vania Gonçalves Lourenço Esteves e Dra. Cláudia Barbieri Ferreira Mendonça; ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas - Botânica Tropical da Universidade Federal Rural da Amazônia e Museu Paraense Emílio Goeldi. À Diretoria do Clube Caça e Pesca Itororó, pela permissão concedida para a realização deste trabalho; à Rielly Jivago Lima Nunes, pela elaboração do mapa. À Nilber Gonçalves da Silva, pela revisão do inglês. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES).

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  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado da primeira Autora.

Editado por

  • Editor Associado:
    Cláudia Baider

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

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