RESUMO
(Dinâmica da comunidade de aves nos ambientes costeiros da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo, Brasil). Este estudo examina a dinâmica da comunidade de aves nos ambientes costeiros da Ilha do Cardoso, SP, considerando variáveis ambientais, sazonais e geográficas. Destaca-se a relevância das zonas de praia como ecossistemas únicos, onde as aves desempenham papéis fundamentais. Ao preencher lacunas na pesquisa sobre a avifauna local, oferece uma visão abrangente da comunidade de aves e suas variações sazonais nas praias, contribuindo para a compreensão e conservação desses ecossistemas. O estudo descreve várias espécies de aves presentes, enfatizando migrações sazonais e interações ecológicas complexas, enriquecendo a complexidade ecológica do ambiente. Destaca-se a importância das praias da Ilha do Cardoso para reprodução, alimentação e migração das aves, bem como as adaptações fisiológicas e comportamentais dessas aves diante dos desafios ambientais. Conclui-se ressaltando a notável diversidade de espécies na ilha, influenciada por fatores como clima e eventos migratórios, e destacando a importância da plasticidade comportamental e evolutiva das aves de praia diante das mudanças ambientais.
Palavras-chave: ambiente; conservação; dinâmica; ecologia; migrantes
ABSTRACT
(Dynamics of the bird community in the coastal environments of Ilha do Cardoso, São Paulo State, Brazil). This study examines the dynamics of the bird community in the coastal environments of Ilha do Cardoso, SP, considering environmental, seasonal, and geographical variables. The relevance of beach zones as unique ecosystems, where birds play fundamental roles, is highlighted. By filling gaps in local avifauna research, it provides a comprehensive view of the bird community and its seasonal variations on beaches, contributing to the understanding and conservation of these ecosystems. The study describes various bird species present, emphasizing seasonal migrations and complex ecological interactions, enriching the ecological complexity of the environment. The importance of Ilha do Cardoso’s beaches for bird reproduction, feeding, and migration is emphasized, as well as the physiological and behavioral adaptations of these birds to environmental challenges. It is concluded by highlighting the remarkable diversity of species on the island, influenced by factors such as climate and migratory events, and emphasizing the importance of behavioral and evolutionary plasticity of beach birds in the face of environmental changes.
Keywords: conservation; dynamics; ecology; environments; migrants
Introdução
Este artigo aborda a dinâmica da comunidade de aves em ambientes costeiros da Ilha do Cardoso, no Estado de São Paulo, considerando fatores ambientais, sazonais e geográficos. Com base na abordagem de McWhinter & Beaver (1977), a composição da comunidade de aves é analisada em relação a migrantes, aves reprodutoras e residentes, considerando sua presença ao longo do ano. Exploramos a formação da avifauna local, compreendendo as espécies que partem, chegam e aquelas permanentemente presentes, destacando as implicações das perturbações antrópicas na redistribuição espacial para alimentação e reprodução (Barbieri & Paes 2008).
Ao examinar as mudanças nas populações e comunidades de aves ao longo do tempo, enfatizamos sempre a necessidade de distinguir dinâmicas biológicas reais de métodos de amostragem ou ruídos na coleta de dados (Wiens 1997, Barbieri & Pinna 2007). Além disso, apresentamos uma perspectiva alternativa que interpreta essas variações como evidências de um equilíbrio dinâmico, onde as flutuações nos níveis de recursos são acompanhadas por ajustes comportamentais, distribucionais ou demográficos de curto prazo (Cody 1981).
As zonas de praia representam ecossistemas únicos, onde aves marinhas, costeiras e migratórias desempenham papéis fundamentais na manutenção do equilíbrio ecológico (Barbieri et al. 2013). Os estudos sobre esses grupos de aves em São Paulo, especialmente na costa sul e nas praias e manguezais da Ilha do Cardoso em particular, são escassos. Apesar de áreas como as praias do Marujá, com aproximadamente 18 km, e Itacuruçá, com cerca de 10 km de extensão, serem designadas como áreas de proteção ambiental, por estarem localizadas no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, a ausência de pesquisas sobre a composição de espécies, uso de habitat e variações sazonais na população de aves é evidente. Este artigo tem como objetivo preencher essa lacuna, oferecendo uma descrição abrangente da comunidade de aves nas praias de areia da Ilha do Cardoso.
Materiais e métodos
Para conhecer a comunidade de aves da Ilha do Cardoso foram realizadas saídas de campo no total de 40. Além disso, para uma melhor abrangência da ocorrência das espécies, a busca pelos registros incluiu as áreas de Cananéia, Ilha Comprida, Ilha do Cardoso e Estação Ecológica dos Tupiniquins, todas no litoral sul de São Paulo. Além de artigos com registro das espécies da baía de Trapandé. Neste estudo, para efeitos didáticos, selecionamos dois ambientes com presença mais significativa das aves: Praia arenosa e Manguezais.
O Ambiente praial da Ilha do Cardoso
A Ilha do Cardoso, localizada no Estado de São Paulo, Brasil, apresenta um ambiente costeiro singular e diversificado, caracterizado por suas praias que contornam sua extensão. A formação destas praias é resultado de uma interação complexa entre processos geológicos, climáticos e o dinamismo marinho.
Origens Geológicas - A gênese das praias da Ilha do Cardoso remonta a processos geológicos antigos, onde movimentos tectónicos moldaram a topografia da região. A influência de atividades vulcânicas e ação erosiva ao longo de milênios contribuíram para a formação de extensas faixas de areia que se estendem ao longo da costa da ilha.
Diversidade Topográfica - Uma característica notável dessas praias é a diversidade topográfica resultante de diferentes tipos de sedimentos e variações nas condições geográficas. Desde extensas planícies de areia até formações rochosas isoladas, as praias da Ilha do Cardoso oferecem um cenário heterogêneo que proporciona habitats distintos para a fauna e flora locais.
Influência Climática - O clima tropical da região exerce uma influência significativa na dinâmica das praias. As estações do ano, com seus padrões distintos de chuvas e ventos, desempenham um papel crucial na modelagem contínua desses ambientes costeiros. Variações sazonais afetam a erosão e deposição de sedimentos, contribuindo para a constante transformação morfológica das praias.
Ecossistema Único - A diversidade biológica presente nas praias da Ilha do Cardoso reflete a complexidade ambiental. Desde aves marinhas até tartarugas, a fauna encontra nas praias uma fonte vital de alimentação, reprodução e descanso. As diferentes características topográficas oferecem nichos ecológicos específicos, resultando em uma rica variedade de vida selvagem
As aves que podem ser observadas nas praias do Marujá e Itacuruçá
Dados provenientes de registros de espécimes e observações em áreas próximas à Ilha do Cardoso, como Ilha Comprida e Baía de Trapandé e na própria Ilha, apontam para uma menor abundância da maioria das espécies de aves de praia e costeiras durante a migração para o norte (Barbieri & Paes 2008, Numao & Barbieri 2011, Roselli & Barbieri 2022, Barbieri & Esparza 2023). Este fenômeno destaca a importância das dinâmicas migratórias na ecologia dessas aves.
Na Ilha do Cardoso, treze espécies de gaivotas e trintaréis revelam uma intricada teia de interações ecológicas nas praias, contribuindo para a riqueza ambiental do local. Quatro dessas espécies se destacam como as mais abundantes e variáveis, apresentando nuances numéricas, a saber: Larus dominicanus, Thalasseus acuflavidus, T. maximus e Sterna hirundinacea. A escolha cuidadosa dessas aves para nidificação em ilhas próximas à Ilha do Cardoso é um fator crucial para a vitalidade do ecossistema costeiro, enfatizando a estreita relação entre reprodução e preservação ambiental.
Em contraste, outras quatro espécies, Sterna hirundo, Sterna trudeaui, Sternula superciliaris e Larus maculipennis, embora menos numerosas, não encontraram condições propícias para nidificação nas imediações da Ilha do Cardoso. Destaca-se a Sterna hirundo, migrante do hemisfério norte, que exibe variações sazonais marcantes ao longo dos anos, permanecendo como uma presença rara e intrigante. A complexidade ecológica dessas praias é ainda mais enriquecida pelo contraste entre as espécies migratórias do hemisfério sul e norte, ressaltando a diversidade e a dinâmica únicas desse ecossistema.
Outras duas espécies, Leucophaeus pipixcan e Chroicocephalus cirrocephalus, são consideradas raras e demandam esforço amostral significativo para serem observadas. Esse desafio de detecção destaca a necessidade de abordagens meticulosas em estudos ecológicos. O contraste entre as espécies migratórias dos hemisférios sul e norte não apenas enriquece, mas também desafia nossa compreensão da ecologia dessas praias costeiras.
A família Charadriidae revela uma notável frequência mensal com as espécies Charadrius collaris, Charadrius semipalmatus e Vanellus chilensis, sublinhando sua significativa importância e contínua adaptação ao ambiente costeiro. Em perfeita sintonia com os ritmos sazonais, Pluvialis dominica, Pluvialis squatarola, Charadrius falklandicus e Charadrius modestus florescem com maior abundância durante a primavera, evidenciando uma interação dinâmica e evolutiva com os padrões climáticos.
Dentro da família Scolopacidae, observa-se uma diversidade funcional notável entre as quinze espécies, como Limosa haemastica, Numenius phaeopus, Actitis macularius, Tringa melanolenca, Tringaflavipes, Arenaria interpres, Bartramia longicauda, Calidris canutus, Calidris alba, Calidrispusilla, Calidris fuscicolis, Calidris melanotus, Tryngites subruficollis e Phalaropus tricolor. A primavera, caracterizada pelo influxo de aves provenientes de suas áreas de reprodução, testemunha um notável aumento nas populações, revelando uma intrínseca conexão entre a reprodução e a exploração desses habitats costeiros.
Durante os meses de junho, julho e agosto, uma movimentação sincronizada de aves em sua jornada migratória em direção ao Hemisfério Norte é evidenciada. A grande maioria das aves de praia deixa a Ilha do Cardoso até o final de junho, resultando em uma presença mais esporádica de diversas espécies durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Notavelmente, alguns indivíduos de Charadrius semipalmatus desviam desse padrão, optando por permanecer durante o inverno, todos exibindo plumagem imatura. Esses padrões sazonais e comportamentais destacam a notável interação entre ecologia e evolução no contexto das aves costeiras da Ilha do Cardoso.
Dentre as espécies de Suliformes registradas - Sula leucogaster, Nannopterum brasilianum e Fregata magnificens - a população de Nannopterum brasilianum revela um distinto ciclo sazonal. Este se caracteriza por um aumento durante o verão (dezembro, janeiro e fevereiro) e uma diminuição no inverno (junho, julho e agosto), indicando uma resposta adaptativa tanto evolutiva quanto ecológica. Entretanto, sua presença constante em grande número nos manguezais do estuário Cananéia-Iguape-Ilha Comprida ao longo do ano sugere movimentos locais ou regionais, revelando um fator adicional de complexidade à sua dinâmica populacional.
Quatro grupos distintos de espécies podem ser identificados, ressaltando a complexidade das interações ecológicas e evolutivas. O grupo composto por Thalasseus acuflavidus, Larus dominicanus, Coragyps atratus, Fregata magnificens, Thalasseus maximus, Rynchops niger, Charadrius semipalmatus, Egretta thula, Sterna hirundinacea, Charadrius collaris, Vanellus chilensis, (figura 1) destaca-se como o conjunto mais abundante ao longo do ano. A migração ao longo da costa brasileira é um traço comum compartilhado por muitas dessas espécies, com destaque para o comportamento adaptativo de Charadrius semipalmatus, que, embora aninhe na América do Norte, mantém uma presença robusta de aves imaturas ao longo da costa brasileira durante o inverno, ecoando os padrões das espécies localmente reprodutoras (figura 2).
Larus dominicanus dois adultos e um jovem. b. Bando de Thalasseus maximus em manutenção. c. Bando heteroespecífico de Rynchops niger e Thalasses acluflavidus. d. Chroicocephalus cirrocephalus forrageando na praia. e. Bando de Thalasseus acuflavidus em manutenção. f. Leucophaeus pipixcan descansando na praia.
Figure 1. a
Larus dominicanus, two adults and one juvenile. b. Flock of Thalasseus maximus in maintenance. c. Heterospecific flock of Rynchops niger and Thalasseus acuflavidus. d. Chroicocephalus cirrocephalus foraging on the beach. e. Flock of Thalasseus acuflavidus in maintenance. f. Leucophaeus pipixcan resting on the beach.
Charadrius collaris, espécie que nidifica na praia da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo, Brasil. b. Vanellus chilensis espécie comum no inverno na praia. c. Charadrius semipalmatus, espécie abundante na praia na Ilha do Cardoso. d. Pluvialis dominica migrante do norte, aparece na primavera e verão na Ilha Comprida. e. Charadrius modestus, migrante do sul, rara na praia da Ilha do Cardoso. f. Bando de Calidris alba migrante de norte.
Figure 2. a
Charadrius collaris, a species that nests on the beach of Ilha do Cardoso, São Paulo State, Brazil. b. Vanellus chilensis, a common species in winter on the beach. c. Charadrius semipalmatus, an abundant species on the beach of Ilha do Cardoso. d. Pluvialis dominica, a northern migrant, appears in spring and summer on Ilha Comprida. e. Charadrius modestus, a southern migrant, rare on the beach of Ilha do Cardoso. f. Flock of Calidris alba, a northern migrant.
No intrincado cenário das praias da Ilha do Cardoso, outro grupo de espécies revela um conjunto notável, marcando sua presença com registros escassos. Falco femoralis, Larus maculipennis, Actitis macularia, Sterna superciliaris, Bubulcus ibis, Pluvialis squatarola, Calidris melanotos, Numenius phaeopus, Ardea cocoi e Arenaria interpres, algumas verdadeiramente raras, como Calidris melanotos, Larus maculipennis e Milvago chimango, desempenham papéis singulares (Barbieri et al. 2013). Actitis macularia, Pluvialis squatarola, Numenius phaeopus e Ardea cocoi (tabela 1), por sua vez, encontram nos baixios lodosos um refúgio comum, juntamente com o Egretta caerulea, Eudocimus ruber e Platalea ajaja (Barbieri 2009).
Espécies de aves observadas em ambiente de praia da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo, Brasil. CE: categoria ecológica. MN: Migrante do norte. MS: Migrante do Sul. MR: Migrante regional. RE: residente. Ambiente - PR: Praia. MA: mangue.
Família / Espécie | CE | Frequência | Ambiente |
---|---|---|---|
Stercolaridae | |||
Stercorarius parasiticus | MN | Rara | PR |
Stercorarius pomarinus | MN | Rara | PR |
Sternidae | |||
Sterna hirundo | MN | Pouco frequente | PR |
Sterna hirundinacea | RE | Pouco frequente | PR |
Sterna trudeaus | MR | Rara | PR |
Sternula superciliaris | RE | Pouco frequente | PR |
Thalasseus maximus | MN/MS | Frequente | PR/MA |
Thalasseus acuflavidus | RE | Frequente | PR/MA |
Anous stolidus | MR | Rara | PR |
Laridae | |||
Leucophaeus pipixcan | MN | Rara | PR |
Chroicocephalus cirrocephalus | MS | Rara | PR |
Larus dominicanus | RE | Frequente | PR/MA |
Larus maculipennis | MR | Rara | PR |
Rynchops niger | MR | Frequente | PR/MA |
Charadriidae | |||
Pluvialis dominica | MN | Frequente | PR/MA |
Pluvialis squatarola | MN | Frequente | PR/MA |
Charadrius semipalmatus | MN | Frequente | PR/MA |
Charadrius falklandicus | MS | Rara | PR |
Charadrius modestus | MS | Rara | PR |
Charadrius collaris | RE | Frequente | PR |
Vanellus chilensis | RE | Frequente | PR |
Haematopodidae | |||
Haematopus palliatus | RE | Frequente | PR/MA |
Scolopacidae | |||
Limosa haemastica | MN | Rara | PR/MA |
Numenius phaeopus | MN | Pouco Frequente | PR/MA |
Actitis macularius | MN | Frequente | MA |
Tringa melanolenca | MN | Rara | PR/MA |
Tringa flavipes | MN | Frequente | PR/MA |
Arenaria interpres | MN | Pouco frequente | PR |
Calidris canutus rufa | MN | Pouco frequente | PR |
Calidris alba | MN | Frequente | PR/MA |
Calidris pusilla | MN | Pouco frequente | PR |
Calidris fuscicolis | MN | Frequente | PR |
Calidris melanotus | MN | Rara | PR |
Calidris himantopus | MN | Rara | PR |
Tryngites subruficollis | MN | Rara | PR |
Phalaropus tricolor | MN | Rara | PR |
Bartramia longicauda | MN | Rara | PR |
Recurvirostridae | |||
Himantopus melanurus | MR | Pouco Frequente | PR |
Pandionidae | |||
Pandion haliaetus | MN | Rara | PR/MA |
Phoenicopteridae | |||
Phoenicopterus chilensis | MS | Rara | MA |
Sulidae | |||
Sula leucogaster | RE | Frequente | PR/MA |
Fregatidae | |||
Fregata magnificens | RE | Frequente | PR/MA |
Phalacrocoracidae | |||
Nannopterum brasilianum | RE | Frequente | PR/MA |
Falconidae | |||
Falco femoralis | RE | Pouco frequente | PR |
Falco peregrinus | MN | Pouco frequente | PR |
Milvago chimango | MR | Pouco frequente | PR |
Milvago chimachima | RE | Frequente | PR/MA |
Caracara plancus | RE | Frequente | PR/MA |
Ardeidae | |||
Egretta thula | RE | Frequente | PR/MA |
Egretta caerulea | RE | Frequente | MA |
Ardea alba | RE | Frequente | PR/MA |
Ardea cocoi | RE | Pouco frequente | MA |
Bulbucus ibis | RE | Frequente | PR/MA |
Butorides striata | RE | Frequente | MA |
Nycticorax nycticorax | RE | Frequente | MA |
Nyctanassa violacea | RE | Frequente | MA |
Cathartidae | |||
Cathartes aura | MR | Pouco frequente | PR/MA |
Coragyps atratus | RE | Frequente | PR/MA |
Threskiornithidae | |||
Eudocimus ruber | RE | Frequente | MA |
Platalea ajaja | MR | Frequente | MA |
Rallidae | |||
Aramides cajanea | RE | Frequente | MA |
Alcedinidae | |||
Megaceryle torquata | RE | Frequente | MA |
Chloroceryle americana | RE | Frequente | MA |
Thraupidae | |||
Conirostrum bicolor | RE | Frequente | MA |
Trochilidae | |||
Eupetomena macroura | RE | Frequente | MA |
Amazilia fimbriata | RE | Frequente | MAw |
Milvago chimachima, Falco femoralis e Bubulcus ibis exploram as áreas de vegetação rasteira, enquanto a praia, um habitat marginal, é visitada apenas esporadicamente por esses viajantes alados (Barbieri & Paes 2008). Cada espécie, em sua raridade ou frequência, contribui para a complexidade desse ecossistema insular, destacando a intricada teia de interações ecológicas e a notável adaptabilidade evolutiva presente na Ilha do Cardoso.
O conjunto de aves que deixa a Ilha do Cardoso durante a temporada reprodutiva inclui migrantes de longa distância, como Tringa flavipes, Arenaria interpres, Bartramia longicauda, Calidris canutus, Calidris alba, Calidris pusilla, Calidris fuscicolis, Calidris melanotus, Tryngites subruficollis, Phalaropus tricolor (figura 3), Charadrius semipalmatus, Pluvialis dominica, Pluvialis squatarola, Stercorarius parasiticus, Stercorarius pomarinus, Sterna hirundo, Thalasseus maximus Limosa haemastica, Numeniusphaeopus (figura 4), Actitis macularius, Tringa melanolenca, Charadrius falklandicus e Charadrius modestus (tabela 1). Essas aves investem apenas um breve período na ilha, geralmente entre três e quatro meses, sendo que, com exceção de Charadrius falklandicus e Charadrius modestus, todas têm suas áreas reprodutivas no Hemisfério Norte, chegando à Ilha do Cardoso em setembro (Barbieri & Esparza 2023).
Calidris canutus rufa migrante do norte. b. Tringaflavipes migrante do norte. c. Calidris fuscicolis migrante do norte. d. Phalaropus tricolor migrante do norte. e. Tringa melanolenca migrante do norte. f. Limosa haemastica migrante do norte.
Figure 3. a
Calidris canutus rufa, a northern migrant. b. Tringa flavipes, a northern migrant. c. Calidris fuscicolis, a northern migrant. d. Phalaropus tricolor, a northern migrant. e. Tringa melanoleuca, a northern migrant. f. Limosa haemastica, a northern migrant.
Numenius phaeopus migrante do norte. b. Stercorarius parasiticus espécie rara migrante do norte. c. Haematopus palliatus espécie que nidifica nas praias da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo, Brasil. d. Anous stolidus aves raras na região. e. Stercorarius pomarinus espécie rara migrante do norte. f. Egretta thula abundante nos baixios.
Figure 4. a
Numenius phaeopus, a northern migrant. b. Stercorarius parasiticus, a rare northern migrant. c. Haematopus palliatus, a species that nests on the beaches of Ilha do Cardoso, São Paulo State, Brazil. d. Anous stolidus, a rare bird in the region. e. Stercorarius pomarinus, a rare northern migrant. f. Egretta thula, abundant in the shallows.
Muitas espécies de aves migratórias acumulam a energia necessária para a migração nas praias da costa sul do Brasil (Vooren & Chiaradia 1990). Os pontos de paradas nas rotas migratórias dessas aves de praia são elos cruciais entre suas áreas de reprodução e alimentação (Myers et al. 1979), proporcionando a energia essencial para o voo migratório contínuo. Além disso, o alimento obtido nessas paradas contribui para o acúmulo de energia, podendo ser crucial para o sucesso reprodutivo quando as aves alcançam suas áreas de reprodução (Hvenegaard & Barbieri et al. 2010).
Durante o inverno (junho, julho e agosto), ainda é possível avistar alguns indivíduos de Charadrius semipalmatus, Pluvialis dominica, Calidris alba e Pluvialis squatarola nas praias da Ilha do Cardoso. De acordo com Sick (1997), essas aves migram para o Hemisfério Norte para nidificação durante o inverno austral, e os indivíduos presentes na Ilha do Cardoso nesse período provavelmente são aves imaturas que optam por permanecer o ano inteiro, evitando assim o gasto de energia durante a migração, uma vez que não irão se reproduzir (Roselli & Barbieri 2022). Este comportamento destaca a adaptação dessas aves a ambientes específicos e ressalta a influência da ecologia e evolução em suas estratégias de vida.
O conjunto de espécies que merece destaque, tornando a Ilha do Cardoso seu ambiente regular ao longo do ano com variações sazonais sutis em comparação com outros grupos, inclui Caracara plancus, Milvago chimachima (figura 5), Ardea alba, Egretta thula, Charadrius collaris, Thalasseus aclufavidus, Larus dominicanus e Haematopus palliatus. Essas aves que se deslocam curta distância escolhem a praia não apenas como local de alimentação, mas como parte integrante de seu ciclo de vida. Notavelmente, Charadrius collaris e Haemantopus palliatus fazem ninhos nas bermas da praia de Itacuruçá e Marujá (Barbieri & Pinna 2005, Barbieri & Delchiaro 2009). Sula leucogaster e Fregata magnificens (figura 6) utlizam a zona de arrebentação das praias da Ilha do Cardoso para se alimentar.
Ardea alba espécie que nidifica nas proximidades dos mangues da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo, Brasil. b. Milvago chimachima sempre visto se alimentando de restos de peixe na praia. c. Egretta caerulea espécie que nidifica nas proximidades dos mangues da Ilha do Cardoso. d. Caracara plancus sempre visto de alimentando de restos de peixe na praia. e. Falco femoralis, aves observadas descansando em poleiros na praia. f. Eudocimus ruber faz ninhos no Pontal Leste na Ilha do Cardoso.
Figure 5. a
Ardea alba, a species that nests near the mangroves of Ilha do Cardoso, São Paulo State, Brazil. b. Milvago chimachima, always seen feeding on fish remains on the beach. c. Egretta caerulea, a species that nests near the mangroves of Ilha do Cardoso. d. Caracara plancus, always seen feeding on fish remains on the beach. e. Falco femoralis, observed resting on perches on the beach. f. Eudocimus ruber, nests at Pontal Leste on Ilha do Cardoso.
Himantopus melanurus rara nas praias da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo, Brasil. b. Fregata magnificens, espécie que faz ninhos nas ilhas próximas da Ilha do Cardoso. c. Bubucus ibis espécie invasora. d. Coragyps atratus, espécie comum vista comendo carcaça. e. Sula leucogaster espécie que faz ninhos nas ilhas próximas da Ilha do Cardoso. f. Nannopterum brasilianum, espécie comum vista descansando na praia e nos cercos de pesca.
Figure 6. a
Himantopus melanurus, rarely seen on the beaches of Ilha do Cardoso, State of São Paulo, Brazil. b. Fregata magnificens, a species that nests on the islands near Ilha do Cardoso. c. Bubulcus ibis, an invasive species. d. Coragyps atratus, a common species seen feeding on carrion. e. Sula leucogaster, a species that nests on the islands near Ilha do Cardoso. f. Nannopterum brasilianum, a common species seen resting on the beach and around fishing gear.
Charadrius collaris, que realiza nidificação localmente, exibe mudanças significativas na distribuição e no número de indivíduos durante dezembro, janeiro e fevereiro, com menos aves de setembro a abril e um aumento no inverno. Essa variação pode ser atribuída à chegada da época reprodutiva, levando a espécie a deslocar-se para o interior para construir seus ninhos (Sick 1997). Vooren & Chiaradia (1990) relatam que Charadrius collaris se reproduz na Lagoa do Peixe (RS) entre novembro e janeiro; durante esse período, alimentam-se em uma lagoa costeira, mas migram para a praia durante o inverno. Belton (1984) observou mais indivíduos desta espécie na praia durante junho, julho e agosto do que em dezembro, janeiro e fevereiro.
Stercorarius parasiticus e Stercorarius pomarinus são aves marinhas rapineiras que migram após a reprodução e podem ser encontradas no Atlântico Sul. No entanto, há poucas informações sobre a ocorrência dessas aves ao longo da Costa do Estado de São Paulo. Publicações anteriores de Barbieri et al. (2008) e Barbieri & Bete (2013) sobre a presença dessas duas espécies na Ilha Comprida e na Baía de Trapandé indicam que possivelmente também podem ser avistadas na Ilha do Cardoso. Este aspecto destaca a complexidade das interações ecológicas e evolutivas que moldam a presença dessas aves ao longo do ano na região.
As observações indicam que a Ilha do Cardoso, assim como a Ilha Comprida, é um ponto de parada crucial utilizado principalmente por aves migratórias, incluindo Charadius semipalmatus, Pluvialis dominica, Pluvialias squatarola, Calidris alba, C. canutus, C. fuscicollis, entre outras, durante suas migrações sazonais. Belton (1984), Vooren & Chiaradia (1990) e Barbieri & Paes (2008) observaram grandes bandos dessas espécies voando em direção ao Hemisfério Norte, passando pela Ilha em abril. A chegada de bandos de aves de praia na Ilha do Cardoso ocorre a partir do final de setembro, atingindo o pico em dezembro, com uma diminuição na abundância a partir de fevereiro, atingindo os menores números em abril e maio. Conforme registrado por Barbieri et al. (2013), a migração para o norte dessas aves ocorre em abril-maio.
As praias do Marujá e de Itacuruçá desempenham papéis importantes como áreas de passagem e forrageamento para Calidris alba, C. canutus e C. fuscicollis durante suas migrações para regiões sul da América do Sul, como a Lagoa do Peixe, no Brasil, e a Terra do Fogo, na Argentina. Myers et al. (1990) indicam que o Calidris alba voa pelo interior do Brasil para chegar à Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, enquanto Sick (1997) destaca a abundância de Calidris alba e Charadrius semipalmatus ao longo das praias brasileiras, ocorrendo em toda a costa em pequenos grupos.
As rotas de migração para o norte de aves neárticas ainda são desconhecidas para algumas espécies, sendo provável que migrem ao longo da costa atlântica ou realizem voos contínuos pelo centro da América do Sul até alcançarem o Caribe, na costa atlântica ou áreas próximas no interior (Antas 1990). Grandes concentrações de migrantes na primavera foram relatadas ao longo da costa atlântica do sul do Brasil (Harrington et al. 1984, Vooren & Chiaradia 1990) e na Ilha Comprida (Barbieri & Paes 2008, Barbieri et al. 2013), embora seja necessário realizar estudos adicionais sobre a dinâmica populacional das aves nas praias de Itacuruçá e Marujá.
Além dos migradores de longa distância conhecidos, como Thalasseus maximus, Tringa flavipes, Charadrius semipalmatus, Calidris alba, C. fuscicollis e C. canutus, várias espécies experimentam mudanças populacionais marcantes devido às migrações regionais, como é o caso do Himantopus melanurus, Platalea ajaja e Nannopterum brasilianum. Essas aves apresentam uma diminuição populacional durante o inverno austral, embora não desapareçam completamente. Espécies como Numenius phaeopus, Pluvialis dominica, P. squatarola, Thalasseus maximus, Calidris canutus, Tringa flavipes e Charadrius semipalmatus ainda podem ser avistadas na praia da Ilha Comprida durante o inverno austral. Essa presença sugere que são indivíduos imaturos que não seguem suas rotas migratórias completas, corroborando com observações anteriores de Barbieri & Esparza (2022), Belton (1984) e Vooren & Chiaradia (1990) sobre outras aves migratórias. Este fenômeno destaca a complexidade das interações ecológicas e evolutivas que influenciam a dinâmica dessas aves na região ao longo do ano.
Indivíduos de muitas espécies movem-se em massa de um habitat para outro e vice-versa repetidamente durante suas vidas. A escala de tempo envolvida pode ser de horas, dias, meses ou anos. Em alguns casos, esses movimentos têm o efeito de manter o organismo no mesmo tipo de ambiente. Isso ocorre no movimento de aves limícolas em uma linha costeira: elas se movem com o avanço e recuo da maré. Em outros casos, a migração diurna pode envolver a movimentação entre dois ambientes: os nichos fundamentais dessas espécies só podem ser satisfeitos alternando a vida em dois habitats distintos dentro de cada dia de suas vidas (Begon et al. 2007), por exemplo Bulbucus ibis, Milvago chimachima, Caracara plancus, Falco femoralis e Vanellus chilensis.
Para prosperar em ambientes muitas vezes desafiadores, as aves de praia desenvolveram adaptações fisiológicas notáveis. Isso inclui modificações nas estruturas das asas para otimizar o voo em condições costeiras, bem como sistemas de termorregulação eficazes para enfrentar variações extremas de temperatura.
Muitos fatores podem contribuir para essa variação do número de aves nas praias da Ilha do Cardoso, incluindo mudanças no habitat, seleção de habitat, comportamento, recursos alimentares, fidelidade ao local, predação, população de áreas de origem ou condições climáticas durante o inverno, migração ou reprodução. Analisando-se as interações entre aves e seu ambiente é possível reconhecer adaptações comportamentais e estratégias de forrageamento específicos para cada espécie. Além disso, a importância das praias como áreas de reprodução, alimentação e migração deve ser enfatizada, destacando sua relevância para a conservação das populações de aves.
Deve-se destacar a diversidade de espécies presentes, indicando uma riqueza avifaunística significativa nas praias da Ilha do Cardoso, onde pode-se observar padrões sazonais distintos nas populações, influenciados por fatores climáticos, disponibilidade de recursos alimentares e eventos migratórios.
As aves de praia exibem um vasto repertório de comportamentos adaptativos, desde estratégias de forrageamento até a seleção de locais de nidificação. A análise minuciosa desses comportamentos revela a plasticidade comportamental que lhes permite explorar nichos ecológicos específicos.
A evolução da plumagem em aves de praia desempenha um papel crucial na sua sobrevivência. A coloração e o padrão das penas não apenas oferecem camuflagem contra predadores, mas também desempenham um papel na seleção sexual e na comunicação intraespecífica.
A dinâmica evolutiva das aves de praia está intrinsecamente vinculada às mudanças ambientais. Com as alterações climáticas globais e as modificações nos habitats costeiros, as aves de praia enfrentam novos desafios evolutivos que exigem respostas adaptativas rápidas.
Aves do manguezal e dos baixios
O manguezal representa um dos ecossistemas mais diversos e dinâmicos da Ilha do cardoso, tanto em termos ecológicos quanto econômicos. Este ambiente costeiro, caracterizado pela presença de árvores resilientes que prosperam em solos constantemente inundados pelo mar, é um verdadeiro santuário para uma ampla gama de vida marinha. Entre as aves que encontram seu lar no manguezal, os guarás e colhereiros desempenham um papel particularmente significativo pela sua beleza. Garças e socós são apenas alguns exemplos de espécies adaptadas a este habitat único, onde desempenham funções cruciais na intricada teia alimentar marinha. Além de ser um importante berçário natural para diversas espécies de peixes e crustáceos, o manguezal também serve como fonte vital de sustento para comunidades costeiras ao redor do mundo, fornecendo alimento e renda (Begon 2007). A preservação desse ecossistema é essencial não apenas para salvaguardar a diversidade marinha, mas também para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que dependem dele.
As aves desempenham um papel crucial como indicadores da qualidade ambiental de um ecossistema, pois realizam uma variedade de funções vitais dentro dele. Os manguezais, em particular, abrigam uma grande diversidade de aves, com uma predominância notável de aves aquáticas. Dentro de um único manguezal, pode-se testemunhar uma variedade fascinante de comportamentos ecológicos: desde um martim-pescador-grande (Megaceryle torquata) aguardando pacientemente por peixes em um galho sobre as águas, até um bando de socós-caranguejeiros (Nyctanassa violacea) vasculhando freneticamente as margens em busca de caranguejos. Além disso, aves como o maçarico-de-perna-amarela (Tringa flavipes) e a saracuratrês-potes (Aramides cajanea) demonstram adaptações impressionantes para explorar nichos específicos dentro do manguezal, seja buscando invertebrados no lodo ou capturando presas em poças de maré.
O manguezal da região da Ilha do Cardoso destaca-se como um dos mais ricos e complexos. Ele abriga uma grande variedade de aves adaptadas às suas condições específicas. Entre as aves desse ecossistema, destacam-se: Actitis macularius, Eudocimus ruber, Platalea ajaja, Egretta thula, Egretta caerulea, Ardea alba, Ardea cocoi, Aramides cajanea, Bulbucus ibis, Nycticorax nycticorax, Butorides striata, Aramides cajanea, Megaceryle torquata, Nyctanassa violacea, Chloroceryle americana.
Essa diversidade de aves representa uma rede complexa de interações ecológicas dentro dos manguezais. Por exemplo, nos canais de mangue, é possível observar biguás (Nanopterum brasilianum) mergulhando em busca de cardumes, enquanto garças e socós perseguem os peixes impulsionados pelos biguás ao longo das margens. Além disso, a formação de colônias de aves aquáticas para dormitório ou nidificação desencadeia um fenômeno conhecido como hiperfertilização, aumentando a produtividade do manguezal ao fornecer um aporte adicional de nutrientes, especialmente nitrogênio (Barbieri 2009). Este ciclo de acumulação e redistribuição de nutrientes é facilitado pela dinâmica hídrica do manguezal e promove a regeneração do ambiente após o abandono temporário das colônias de aves.
As aves migratórias, especialmente as limícolas das famílias Charadriidae e Scolopacidae, também desempenham um papel crucial nos manguezais. Essas aves, que migram para os manguezais durante o inverno boreal após se reproduzirem na tundra ártica, trazem consigo uma fonte adicional de nutrientes e fertilizantes, enriquecendo ainda mais o ambiente e contribuindo para sua produtividade (Roseli & Barbieri 2022). Durante a maré baixa, essas aves exploram o lodo exposto em busca de invertebrados, promovendo a circulação de nutrientes através de suas atividades alimentares e excretando resíduos ricos em nitrogênio, um importante fertilizante para os ecossistemas terrestres e marinhos.
Além das observações anteriores, um exame mais detalhado revela uma complexa teia de interações ecológicas e evolutivas entre as aves que habitam o manguezal. Por exemplo, além do pequeno e incansável figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor) capturando insetos nas folhas de mangue, pode-se observar também o falcão-peregrino (Falco peregrinus) à espreita de aves aquáticas, e urubus se alimentando de animais mortos deixados pela maré. Essa diversidade de comportamentos e adaptações demonstra como as aves ocupam uma variedade de nichos dentro do ecossistema do manguezal, desempenhando papéis vitais na cadeia alimentar e na manutenção do equilíbrio ecológico.
Surpreendentemente, até mesmo as flores das árvores de mangue, embora predominantemente polinizadas por abelhas, recebem ocasionalmente a visita de beija-flores não especializados, como o tesourão (Eupetomena macroura) e o beija-flor-de-garganta-verde (Amazilia fimbriata). Essas visitas inesperadas ressaltam a interconexão entre diferentes grupos de organismos no manguezal, demonstrando como até mesmo os elementos mais aparentemente distintos do ecossistema estão intrinsecamente ligados em uma teia de dependências mútuas e adaptações evolutivas.
Conclusão
Conclui-se ressaltando a notável diversidade de espécies na ilha, influenciada por fatores como clima e eventos migratórios, e destacando a importância da plasticidade comportamental e evolutiva das aves de praia diante das mudanças ambientais.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela Bolsa de Produtividade Científica (Processo 304073/2023-7).
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Editado por
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Editora Associada:
Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Nov 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
16 Mar 2024 -
Aceito
11 Jun 2024