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Solanaceae na flora aquática e palustre do Recôncavo da Bahia, Brasil1

Solanaceae in aquatic and marsh flora of Recôncavo of Bahia, Brazil

RESUMO

Plantas com capacidade de submersão contínua ou periódica, pelo menos do sistema radicular, são consideradas aquáticas ou palustres. Parte dessas plantas pertence a Solanaceae, uma família de distribuição cosmopolita, com aproximadamente 97 gêneros e 2700 espécies, das quais, uma minoria encontra-se em ambientes sazonalmente inundados. Este trabalho objetivou realizar um levantamento e apresentar um tratamento taxonômico de espécies de Solanaceae ocorrentes em ambientes aquáticos e palustres no Recôncavo da Bahia. O material botânico foi coletado entre 2009 e 2023. Foram registradas 14 espécies distribuídas em cinco gêneros. São fornecidos ilustrações e comentários sobre as características diagnósticas, bem como mapa de distribuição na área de estudo. Solanum, o gênero mais diverso da família, é o mais representativo na área de estudo. Os dados obtidos até o momento, são muito importantes para elaborar estratégias de conservação destes ambientes e contribuir para a taxonomia dos grupos presentes nesses ecossistemas de água doce.

Palavras-chave:
conservação; inundação sazonal; Solanum; Taxonomia

ABSTRACT

Plants with continuous or periodic submersion capacity, of at least the root system, are considered aquatic or marsh. Part of these plants are within Solanaceae, a family of cosmopolitan distribution, with about 97 genera and 2700 species, of which, a minority are found in seasonally flooded environments. This work aimed to carry out a survey and present a taxonomic treatment of Solanaceae species of aquatic and marsh environments in Recôncavo of Bahia. Plant material was collected between 2009 and 2023. Fourteen species distributed in five genera were registered. Illustrations and comments about the diagnostic characters are provided, as well as distribution maps on the study area. Solanum, as the most diversified genus in the family, is the richest genus in the study area. The data obtained until now is very important to elaborate conservation strategies of these environments and contribute to the taxonomy of groups present in these freshwater ecosystems.

Keywords:
conservation; seasonally flooded; Solanum; Taxonomy

Introdução

O Brasil é um país que apresenta uma alta diversidade de plantas, com grande quantitativo de espécies aquáticas e palustres (Martinelli & Moraes 2013Martinelli, G. & Moraes, M.A. 2013. Livro vermelho da flora do Brasil. 1 ed. Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.), considerando o fato de ser um país que possui uma das maiores e mais variadas redes de rios do mundo (Bove et al. 2003Bove, C.P., Gil, A.D.S.B., Moreira, C.B. & Anjos, R.F.B.D. 2003. Hidrófitas fanerogâmicas de ecossistemas aquáticos temporários da planície costeira do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Acta Botanica Brasilica 17(1): 119-135.). A região Nordeste abriga significativa quantidade de lagoas, das quais, muitas possuem características perenes, proporcionando uma flora aquática muito diversificada (Neves et al. 2006Neves, E.L., Leite, K.R.B., França, F. & Melo, E. 2006. Plantas aquáticas vasculares em uma lagoa de planície costeira no município de Candeias, Bahia, Brasil. Sitientibus 6: 24-29.).

Espécies de plantas são consideradas aquáticas ou palustres quando apresentam a capacidade de resistir à submersão contínua ou periódica, de pelo menos seu sistema radicular, ao menos, em algumas épocas do ano (Amaral et al. 2008Amaral, M.C.E., Bittrich, V., Faria, A.D., Anderson, L.O. & Aona, L.Y.S. 2008. Guia de campo para plantas aquáticas e palustres do estado de São Paulo. 1 ed. Holos Editora, Ribeirão Preto.). Por sua vez, a definição de um sistema palustre refere-se a terrenos úmidos, não alagados pelas marés, com vegetação abundante, que se estende a locais corriqueiramente denominados brejos, prados, banhados e capões nativos alagados temporariamente, com formações arbóreas mistas (Lisboa & Gastral 2003Lisboa, F.F. & Gastral-Junior, C.V.S. 2003. Levantamento da vegetação costeira da região urbana do município de Guaíba, RS/Brasil. Revista da Faculdade de Zootecnia Veterinária e Agronomia Uruguaiana 10(1): 63-72.). Por esse motivo, as áreas que abrigam flora aquática ou palustre se tornam importantes ecossistemas para a conservação da biodiversidade (Getzner 2002Getzner, M. 2002. Investigating public decisions about protecting wetlands. Journal of Environmental Management 64(3): 237-246.).

Plantas aquáticas são produtoras primárias e fornecem refúgio e habitat para o perifíton, o zooplâncton, algumas espécies de invertebrados, peixes e sapos, além de desempenhar importantes funções em ciclos biogeoquímicos, como a mobilização de fósforo e a produção de carbono, influenciando diretamente na dinâmica hidrológica e sedimentar dos ecossistemas de água doce por meio de seu efeito sobre o curso d’água, desempenhando função-chave na biodiversidade destes ecossistemas (Bornette & Puijalon 2009Bornette, G. & Puijalon, S. 2009. Macrophytes: ecology of aquatic plants. Encyclopedia of Life Sciences 1: 1-9.).

A maioria dos estudos sobre plantas aquáticas nos Neotrópicos foram realizados no Brasil (Moura Júnior et al. 2021Moura Júnior, E.G., Moreira, S.N., Lopes, A., Pivari, M.O.D., Moço, M.C.C., Pott, V.J., Pott, A. 2021. Advances in the knowledge of the natural history of aquatic plants in the Neotropics. Acta Botanica Brasilica 35: 1-8.). Considerando a importância da vegetação em sistemas palustres, observa-se aumento significativo de estudos relacionados à flora aquática no Nordeste entre os anos 2000 e 2010, bem como aumento no número de especialistas neste tipo de flora (Moura Junior & Cotarelli 2019Moura Junior, E.G. & Cotarelli, V.M. 2019. An update on the knowledge of aquatic macrophytes in Northeast Brazil. Rodriguésia 70: 1-11.). Entretanto, apesar da grande diversidade, ainda restam muitas lacunas de conhecimento sobre taxonomia e distribuição de plantas aquáticas e palustres (Pivari et al. 2019Pivari, M.O.D., Melo, P.H.A., Souza, F.S., Stehmann, J.R., Moura-Júnior, E.G., Moreira, S.N., Pott, V.J., Pott, A., Lopes, A., Moço, M.C.C., Oliveira, L.S., Lins, A.L.A., Arruda, R., Morais, I.L., Silva, G.S., Ferreira, R.M. 2019. New initiatives for Brazilian aquatic plant data management. Acta Botanica Brasilica 33(1): 78-87.), além de estudos sobre seu manejo, caracterização fitoquímica e seu potencial para o uso comercial (Moura Junior & Cotarelli 2019Moura Junior, E.G. & Cotarelli, V.M. 2019. An update on the knowledge of aquatic macrophytes in Northeast Brazil. Rodriguésia 70: 1-11.).

Atualmente, os trabalhos sobre esse tipo de vegetação têm proposto estudos de inovações tecnológicas que possam modelar o potencial de distribuição ou identificação taxonômica de espécies aquáticas, atrelado ao fornecimento de informações biológicas e/ou ecológicas, que permitem melhor compreensão destes ecossistemas (Moura Junior & Cotarelli 2019Moura Junior, E.G. & Cotarelli, V.M. 2019. An update on the knowledge of aquatic macrophytes in Northeast Brazil. Rodriguésia 70: 1-11.).

De acordo com Moura Junior e Cotarelli (2019)Moura Junior, E.G. & Cotarelli, V.M. 2019. An update on the knowledge of aquatic macrophytes in Northeast Brazil. Rodriguésia 70: 1-11., a Bahia é o Estado do Nordeste que apresenta maior riqueza de espécies aquáticas e a região do Recôncavo possui relevante quantitativo de estudos (Moura Junior & Cotarelli 2019Moura Junior, E.G. & Cotarelli, V.M. 2019. An update on the knowledge of aquatic macrophytes in Northeast Brazil. Rodriguésia 70: 1-11.). Aona et al. (2015)Aona, L.Y.S., Costa, G.M., Amaral, M.C.E., Faria. A.D., Duarte, E.F., Bittrich, V. 2015. Aquatic and marsh plants from the Recôncavo basin of Bahia state, Brazil: checklist and life forms. Check List 11(6): 1806. evidenciaram uma grande riqueza de espécies na flora aquática e palustre no Recôncavo da Bahia, contabilizando 316 espécies distribuídas em 206 gêneros e 71 famílias. Outros tratamentos taxonômicos da flora aquática e palustres do Recôncavo também foram realizados, como o de Boraginaceae (Sampaio 2021Sampaio, M.R. 2021. A familia Boraginaceae na flora aquática e palustre do Recôncavo da Bahia. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas.), Caryophylalles (Peixoto 2012Peixoto, M.R. 2012. Plantas aquáticas e palustres pertencentes à ordem Caryophyllales ocorrentes no Recôncavo da Bahia. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas.), Subfamília Faboideae (Santos 2019Santos, T.A. 2019. Faboideae na flora aquática e palustre do recôncavo da Bahia. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas.) Melastomataceae (Souza 2019Souza, L. D. 2019. A família Melastomataceae na flora aquática e palustre do Recôncavo da Bahia, Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas.) e Rubiaceae (Oliveira et al. 2019Oliveira, A.N., Souza, E.B. & Aona, L.Y.S. 2019. Rubiaceae na Flora Aquática e Palustre do Recôncavo da Bahia, Brasil. Journal of Neotropical Biology/Revista de Biologia Neotropical 16(2): 70-83.).

A família Solanaceae possui distribuição subcosmopolita, abarcando 97 gêneros e aproximadamente 2700 espécies, sendo mais diversa nos Neotrópicos, onde também ocorrem as maiores taxas de endemismo (Hunziker 2001Hunziker, A.T. 2001. Genera Solanacearum, the genera of Solanaceae illustrated, arranged according to a new system. 1 ed. Instituto Multidisciplinario de Biologia Vegetal, Córdoba., Knapp et al. 2004Knapp, S., Bohs, L., Nee, M. & Spooner, D.M. 2004. Solanaceae a model for linking genomics with biodiversity. Comparative and Functional Genomics 5(3): 285-291., Knapp 2010Knapp, S. 2010. On ‘various contrivances’: pollination, phylogeny and flower form in the Solanaceae. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences 365(539): 449-460.). Na família, destaca-se o gênero Solanum L., que possui cerca de 1.400 espécies, sendo o maior e mais diverso gênero de Solanaceae (Bohs & Olmstead 1997Bohs, L. & Olmstead, R.G. 1997. Phylogenetic relationships in Solanum (Solanaceae) based on ndhF sequences. Systematic Botany 22(1): 5-17.).

Dentre as famílias de angiospermas, Solanaceae é tida como uma das mais importantes para os seres humanos em diversos aspectos (Knapp 2002Knapp, S. 2002. Tobacco to tomatoes: a phylogenetic perspective on fruit diversity in the Solanaceae. Journal of Experimental Botany 53(377): 2001-2022., Knapp et al. 2004Knapp, S., Bohs, L., Nee, M. & Spooner, D.M. 2004. Solanaceae a model for linking genomics with biodiversity. Comparative and Functional Genomics 5(3): 285-291.). Muitas de suas espécies de interesse global para alimentação, seja em decorrência de seus frutos, como o tomate (Solanum lycopersicum L.), o pimentão (Capsicum annuum L.) e algumas pimentas (Capsicum spp.), o jiló (Solanum aethiopicum L.) e a berinjela (Solanum melongena L.), ou de seus tubérculos, como a batata (Solanum tuberosum L.) (Knapp et al. 2004Knapp, S., Bohs, L., Nee, M. & Spooner, D.M. 2004. Solanaceae a model for linking genomics with biodiversity. Comparative and Functional Genomics 5(3): 285-291., Souza & Lorenzi 2012Souza, V. C. & Lorenzi, H. 2012. Botânica Sistemática. Guia ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG III. 3 ed. Nova Odessa, São Paulo.). Possui também grande relevância ornamental, tendo espécies amplamente cultivadas como o manacá-de-cheiro (Brunfelsia uniflora (Pohl) D.Don) e as diferentes espécies de petúnia (Petunia spp.), além de interesse farmacêutico em decorrência do acúmulo de alcalóides, como pode ser observado na saia-branca ou trombeteira (Brugmansia suaveolens (Willd.) Sweet) e o estramônio (Datura stramonium L.) (Kadereit & Bittrich 2016Kadereit, J.W. & Bittrich, V. 2016. The Families and Genera of Vascular Plants: Aquifoliales, Boraginales, Bruniales, Dipsacales, Escalloniales, Garryales, Paracryphiales, Solanales (except Convolvulaceae), Icacinaceae, Metteniusaceae, Vahliaceae. 1 ed. Springer. Hamburg.). Entretanto, esta é uma família particularmente interessante, não somente por apresentar espécies de interesse alimentício, farmacêutico e ornamental, mas também devido a uma série de espécies que são usadas como sistemas de modelo biológico, como Nicotiana tabacum L. (Särkinen et al. 2013Särkinen, T., Bohs, L., Olmstead, R.G., Knapp, S. 2013. A phylogenetic framework for evolutionary study of the nightshades (Solanaceae): a dated 1000-tip tree. BMC Evolutionary Biology 13(1): 214.).

Material e métodos

Área de estudo - O estudo se deu na região do Recôncavo da Bahia, Brasil, que é composta por 20 municípios, perfazendo 11.200 km2 de área (SEI 2022SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais do Estado da Bahia). 2022. Disponível em: http://www.sei.ba.gov.br/ (acesso em 12-I-2022).
http://www.sei.ba.gov.br/...
) (figura 1). O domínio fitogeográfico predominante dessa região é a Mata Atlântica, havendo também presença do domínio Caatinga na porção oeste. A região possui solo conhecido como massapê baiano, apresenta grande variação climática, chegando a atingir temperaturas anuais médias variando de 18 ºC a 22 ºC, com precipitações superiores a 1.000 mm (SEI 2022SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais do Estado da Bahia). 2022. Disponível em: http://www.sei.ba.gov.br/ (acesso em 12-I-2022).
http://www.sei.ba.gov.br/...
).

Figura 1
Mapa do Recôncavo da Bahia, Brasil, indicando os municípios que pertencem a área de estudo.
Figure 1
Map of Recôncavo of Bahia, Brazil, indicating municipalities that belongs the study area.

Coleta de dados e tratamento taxonômico - O trabalho foi realizado a partir de espécimes depositados no Herbário do Recôncavo da Bahia (HURB), resultantes de coletas realizadas entre 2009 e 2023, nos ambientes aquáticos e palustres da região como parte do projeto “Plantas Aquáticas e Palustres do Recôncavo da Bahia”, totalizando ca. 35 expedições para coleta e análise de material em campo.

Foram também realizadas visitas aos herbários ALCB e HUEFS, além de acesso a plataformas digitais, como SpeciesLink (https://specieslink.net/) e Reflora (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/PrincipalUC/PrincipalUC.do).

Para a descrição morfológica do material foi utilizada literatura especializada sobre a família (Moraes et al. 2009Moraes, A.O., Melo, E., Agra, M.F. & França, F. 2009. A família Solanaceae nos “Inselbergues” do semi-árido da Bahia, Brasil. Iheringia, Série Botânica 64(2): 109-122., Feliciano & Salimena 2011Feliciano, E.A. & Salimena, F.R.G. 2011. Solanaceae na Serra Negra, Rio Preto, Minas Gerais. Rodriguésia 62(1): 55-76., Giacomin 2010Giacomin, L. L. 2010. Estudos taxonômicos e filogenéticos em Solanum sect. Gonatotrichum Bitter (Solanaceae) no Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte., Giacomin & Gomes 2018Giacomin, L.L. & Gomes, E.S.C. 2018. Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Solanaceae. Rodriguésia 69: 1373-1396., Nee 2007Nee, M. 2007. Flora da Reserva Ducke, Amazonas, Brasil: Solanaceae. Rodriguésia 58(3): 695-702., Sampaio 2013Sampaio, V.S. 2013. O gênero Solanum L. (Solanaceae) na Floresta Atlântica ao norte do rio São Francisco. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pernambuco, Recife., Silva et al. 2003aSilva, N.S., Carvalho, A.M.V., & Santos, F.D.A.R. 2003a. Morfologia polínica de doze espécies de Cestrum L. (Solanaceae) da mata higrófila na Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences 25(2): 439-443., Silva et al. 2003bSilva. S.N., Carvalho, A.M.V. & Santos, F.A.R. 2003b. Cestrum L. (Solanaceae) da mata higrófila do Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences 25(1): 157-166. Silva 2009Silva, M.V. 2009. O gênero Cestrum L. (Solanaceae) no Brasil extra-amazônico. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre., Soares et al. 2007Soares, E.L.C., Vignoli-Silva, M., Vendruscolo, G.S. & Mentz, L.A. 2007. Solanaceae Nativas no Rio Grande do Sul, Brasil: Listagem I. Revista Brasileira de Biociências 5(S2): 1050-1052., Soares et al. 2008Soares, E.L.C., Vignoli-Silva, M., Vendruscolo, G.S., Thode, V.A., Silva, J.G., Mentz, L.A. 2008. A família Solanaceae no Parque Estadual de Itapuã, Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociências 6(3): 177-188., Soares et al. 2009Soares, E.L.C., Vendruscolo, G.S., Vignoli-Silva, M., Thode, V.A., Silva, J.G., Mentz, L.A. 2009. O gênero Physalis L. (Solanaceae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas, Botânica 60: 323-340., Soares et al. 2011Soares, E.L.C., Vignoli-Silva, M. & Mentz, L.A. 2011. Sinopse taxonômica e chave ilustrada dos gêneros de Solanaceae ocorrentes no Rio Grande do Sul, Brasil. Acta Botanica Brasilica 25(2): 346-362.). Foram analisados caracteres morfológicos para evidenciar caracteres diagnósticos das espécies com o estereomicroscópio (ZEISS STEMI-2000). Todas as medições foram realizadas com o auxílio de papel milimetrado, régua e paquímetro em material herborizado.

O mapa de distribuição geográfica das espécies ocorrentes na região de estudo (figura 1) foi produzido com o programa QGIS 3.28.6, com base nas informações referentes aos pontos de coleta georreferenciados nos municípios, utilizando os dados disponíveis nas etiquetas das exsicatas.

Resultados e Discussão

Foram encontradas quatorze espécies da família Solanaceae distribuídas em cinco gêneros (tabela 1).

Tabela 1
Espécies coletadas e os respectivos municípios de ocorrência de cada espécie no Recôncavo da Bahia, Brasil.
Table 1
Species collected and the respective municipalities of occurrence of each species in the Recôncavo of Bahia, Brazil.

Solanaceae Juss.

Ervas, subarbustos, arbustos ou árvores, inermes ou aculeadas. Folhas simples, inteiras, lobadas, dentadas, pecioladas ou sésseis, estípulas ausentes. Inflorescências cimosas, uni ou plurifloras, pedunculadas ou pedúnculo ausente. Flores pentâmeras, diclamídeas, heteroclamídeas, monóclinas, pediceladas ou sésseis. Cálice gamossépalo, campanulado, actinomorfo ou levemente zigomorfo, acrescente ou não após a antese. Corola gamopétala, actinomorfa ou levemente zigomorfa. Androceu dímero ou pentâmero, estames epipétalos e alternipétalos; estames 5 ou 2, anteras com deiscência longitudinal, poricida ou tardiamente longitudinal, ovário súpero, bicarpelar; estigma capitado, subcapitado, bilobado e clavado; rudimentos seminais geralmente numerosos, de placentação axial; disco nectarífero presente ou não. Fruto baga ou cápsula.

  Chave de identificação para espécies de Solanaceae da flora aquática e palustre do Recôncavo da Bahia
  • 1. Corola com cinco lobos divididos ou trífidos; fruto cápsula

    • 2. Lâminas foliares oblanceoladas; tricomas glandulares densos em ambas as faces; flores até 15 mm de comprimento ............................................................................................................................................. 4.1. Schwenckia americana

    • 2. Lâminas foliares lanceoladas a elípticas; tricomas glandulares esparsos em ambas as faces; flores com mais de 20 mm de comprimento ....................................................................................................................... 4.2. Schwenckia mollissima

  • 1. Corola com cinco lobos inteiros, não divididos; fruto baga

    • 3. Anteras com deiscência longitudinal

      • 4. Cálice truncado ou apenas com apêndices lineares (não vascularizados) ............................... 1.1. Capsicum frutescens

      • 4. Cálice com lacínias evidentes, mesmo que diminutas, (vascularizadas)

  • 5. Fruto com 1 semente; cálice frutífero não recobrindo o fruto ....................................................... 2.1 Cestrum nocturnum

  • 5. Fruto com várias sementes; cálice frutífero recobrindo todo o fruto ............................................... 3.1. Physalis angulata

    • 3. Anteras com deiscência poricida

      • 6. Plantas não armadas; estames muito diminutos, oblongos, não estreitando em direção ao ápice ............................ ............................................................................................................................................. 5.1. Solanum americanum

      • 6. Plantas armadas, com estames maior que 2 mm compr., estreitando em direção ao ápice

        • 7. Plantas com glândulas secretoras visíveis no pecíolo; estames com anteras verdes ...................................................................................................................................................................................... 5.2. Solanum fernandesii

        • 7. Plantas sem glândulas secretoras visíveis no pecíolo (ou apenas tricomas secretores); estames com anteras amarelas ou alvacentas

          • 8. Lâminas foliares não aculeadas

            • 9. Ramos tortuosos, com acúleos recurvos; folhas e pecíolos pilosos, flores lilases a branca, frutos vermelhos .......................................................................................................................... 5.7. Solanum thomasiifolium

            • 9. Ramos não tortuosos; folhas e pecíolos tomentosos, flores brancas e frutos verdes ....................................................................................................................................................................... 5.8. Solanum torvum

          • 8. Lâminas foliares aculeadas

            • 10. Subarbustos; frutos 1-3

              • 11. Corola verde; lâminas foliares com margem repanda ....................................... 5.5. Solanum polytrichum

              • 11. Corola branca a lilás; lâminas foliares com margem lobada

                • 12. Ramos com acúleos recurvos; corola branca; frutos amarelos na maturação ...... 5.9. Solanum viarum

                • 12. Ramos com acúleos cônicos; corola lilás; frutos variegados na maturação ................................. .............................................................................................................. 5.3. Solanum palinacanthum

              • 10. Arbustos; frutos 18-26

                • 13. Lâminas foliares concolores; inflorescência em monocásio escorpioide; fruto alaranjado na maturação .................................................................................................................... 5.6. Solanum stramoniifolium

                • 13. Lâminas foliares discolores; inflorescência em panícula; fruto verde a preto na maturação ......................................................................................................................................... 5.4. Solanum paniculatum

Tratamento Taxonômico

1. Capsicum L.

1.1. Capsicum frutescens L., Sp. Pl. 1: 189. 1753.

Figura 2

Figura 2
Distribuição das espécies dos gêneros Capsicum, Cestrum, Physalis e Schwenckia no Recôncavo da Bahia, Brasil.
Figure 2
Species distribution of genera Capsicum, Cestrum, Physalis and Schwenckia in Recôncavo of Bahia, Brazil.

Subarbusto ereto, 0,5 m alt.; caule inerme, cilíndrico. Folhas discolores, lâmina 1-5 × 0,7-3 cm, membranácea, oval-elíptica, glabra em ambas as faces, ápice atenuado, base aguda, margem repanda, pecíolo 0,3-2 cm compr., glabro. Inflorescência simples, fasciculada, 1-3-flora, pedúnculo 0,5-2 cm compr., deflexo. Flores com sépalas soldadas até metade da base, tubo ca. 3 mm compr., lobos ca. 1 mm compr., pedicelo 1-2 cm compr., deflexo; corola estrelada, 4-7 mm diâm., pétalas creme, soldadas na base, tubo ca. 1 mm compr., lobos ca. 5 × 2 mm, oblongo-lanceolados; estames 5, filetes ca. 1 mm compr., anteras ca. 4 × 1 mm, basifixas, azuladas; ovário não visto. Fruto baga, ca. 4 mm diâm., ca. 2 cm compr., oval-lanceolado, glabro, cálice frutífero não acrescente, pedicelo frutífero ca. 4 cm compr., ereto, epicarpo verde quando jovem, vermelho ou laranja-escuro quando maduro. Sementes reniformes, amarronzadas quando secas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Maragogipe, região alagada ao lado da rodovia, 5-IV-2019 (Fl, Fr), R.J.A. Jesus 124 (HURB).

Material adicional: BRASIL, PARAíBA: Mun. João Pessoa, campus I UFPB, nas proximidades do Centro de Tecnologia, 7º08’29.46”S 34º50’50.23”W, 7-X-2011 (Fl, Fr), V.S. Sampaio 20 (HURB).

Comentários: Capsicum frutescens apresenta caule ramificado por onde se origina a inflorescência e apresenta como caráter diagnóstico a presença de cálice truncado ou com apêndices diminutos. Na região de estudo, C. frutescens foi encontrada em área alagada, com um terço de seu caule imerso pela água, ocorrendo em área aberta, com incidência de sol na maior parte do dia. De acordo com Barboza et al. (2022)Barboza, G. E., García1, C.C., Bianchetti, L.B., Romero, M.V., Scaldaferro, M. 2022. Monograph of wild and cultivated chili peppers (Capsicum L., Solanaceae). PhytoKeys 200: 1-423., esta espécie pode ocorrer em florestas semidecíduas ou regiões antropizadas, bem como em clareiras agrícolas. Ocorre em todas as regiões brasileiras e está presente em todos os domínios fitogeográficos (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

2. Cestrum L.

2.1. Cestrum nocturnum L., Sp. Pl. 1: 191. 1753.

Figuras 2, 4a

Figura 3
Distribuição das espécies do gênero Solanum no Recôncavo da Bahia, Brasil.
Figure 3
Species distribution of genus Solanum in Recôncavo of Bahia, Brazil.

Figura 4
Morfologia das espécies de Solanaceae ocorrentes no Recôncavo da Bahia, Brasil. a. Cestrum nocturnum: ramo com inflorescências. Detalhe dos frutos. b. Physalis angulata: ramo com flores e frutos. Detalhe do fruto completamente recoberto pelo cálice frutífero. c. Schwenckia americana: ramo com flores. Detalhe do fruto. d. Solanum americanum: ramo com flores e frutos. e. Solanum fernandesii: ramo com flores e frutos. f. Solanum palinacanthum: ramo com inflorescência e suas flores purpúreas. g. Solanum paniculatum: ramo com inflorescência e suas flores lilases. h. Solanum polytrichum: ramo com flores esverdeadas no terço inferior e alvas no terço superior e folhas aculeadas. i. Solanum stramoniifolium: ramo com inflorescência. Detalhe do fruto. j. Solanum thomasiifolium: detalhe do ramo pubescente, como frutos vermelhos. k. Solanum torvum: ramo com inflorescência e suas flores alvas. l. Solanum viarum: ramo com flores alvas. Detalhes do fruto. Acúleos cônicos. Fotos: a, c, h (Aona, L.Y.S.); b (Bittrich, V.); j, f (Costa, G.M.); d, e, g, i, k, l (Jesus, R.J.A).
Figure 4
Morphology of Solanaceae species occurring in Recôncavo of Bahia, Brazil. a. Cestrum nocturnum: branch with inflorescence. Details of the fruit. b. Physalis angulata: branch with flowers and fruit. Detail of the fruit completely covered by fruit calyx. c. Schwenckia americana: branch with flowers. Detail of the fruit. d. Solanum americanum: branch with flowers and fruits. e. Solanum fernandesii: branch with flowers and fruit. f. Solanum palinacanthum: branch with inflorescence and its purple flowers. g. Solanum paniculatum: branch with inflorescence and its lilac flowers. h. Solanum polytrichum: bunch with flowers greenish in the lower third and white in upper third and spiny leaves. i. Solanum stramoniifolium: branch with inflorescence. Detail of the fruit. j. Solanum thomasiifolium: detail of the pubescent branch, with red fruits. k. Solanum torvum: branch with inflorescence and its white flowers. l. Solanum viarum: branch with white flowers. Details of the fruit. Conical spines. (Photos: a, c, h (Aona, L.Y.S.); b (Bittrich, V.); j, f (Costa, G.M.); d, e, g, i, k, l (Jesus, R.J.A).

Arbusto ereto, até 2 m alt.; caule e ramos cilíndricos, inermes, glabros. Folhas concolores, lâmina 3,5-14,5 × 1-12 cm, coriácea, elíptico-ovalada, glabra em ambas as faces, ápice agudo, base arredondada, margem inteira, pecíolo 0,2-2 cm compr., glabro. Inflorescência paniculiforme, axilar a terminal, 2-4-flora, pedúnculo 1-2 cm compr. Flores com cálice tubuloso, pubescente, tricomas simples nos lobos, sépalas soldadas na base do tubo, 1-2 mm diâm., tubo floral 1-2,5 cm compr., lobos triangulares, tricomas presentes no ápice; corola infundibuliforme, amarela, 3-7 mm diâm., tricomas simples, pétalas soldadas até a base, tubo ca. 3 cm compr., lobos ca. 5 × 3 mm; estames 5, antera com deiscência rimosa, filetes ca. 3,8 mm compr., fundidos até a metade do tubo; ovário subgloboso, glabro, estigma capitado, superfície pubescente, estilete 17-18 mm compr. Fruto baga, ca. 3 mm diâm, ovoide, cálice frutífero acrescente, glabro, ereto, epicarpo verde quando jovem, enegrecido quando maduro, ca. 5 mm compr. Sementes angulosas, marrons quando secas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Cruz das Almas, loteamento miradouro, 3-X-2013 (Fr, Fl), N.X.M. Souza 4 (HURB); Mun. Dom Macêdo Costa, primeira entrada à esquerda antes da cidade, 10-II-2015 (Fr), G. Costa et al. 1214 (HURB); Mun. Maragogipe, Parque da Cidade, 5-IV-2019 (Fr), T.A. Santos 25 (HURB); Mun. Nazaré das Farinhas, ambiente alagado, 13-XII-2017 (Fr), R.J.A. Jesus 9 (HURB).

Material adicional examinado: BRASIL. BAHIA, Mun. São Gonçalo dos Campos 12°26’34”S, 38°55’26”W, 219m, 12-XI-2014 (Fl, Fr), L.Y.S. Aona et al. 3611 (HURB). ALAGOAS: Mun. Maceió, Parque Municipal de Maceió, 22-XI-2011, V.S. Sampaio et al. 42 (UFP).

Comentários: Cestrum nocturnum apresenta caule cilíndrico, glabro, folhas glabras em ambas as faces, coriáceas e corola infundibuliforme, características importantes na sua delimitação. A coloração de seus frutos pode variar de verde (detalhe da figura 4 a) a preto de acordo com o estágio de maturação. Na região de estudo, a espécie encontra-se nos mais variados ambientes, desde áreas alagadas, margeando lagoas, a brejos e regiões antropizadas, ocorrendo em áreas de sol constante ou sombreadas. Dados contidos nas exsicatas indicam floração e frutificação nos meses de março, setembro, outubro, novembro e dezembro. Esta espécie ocorre na maior parte do Brasil (Vignoli-Silva & Mentz 2020Vignoli-Silva, M. & Mentz, L.A. 2020. Cestrum in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14635. (acesso em: 11-V-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
), desde Amazonas até Santa Catarina, ocupando todos os domínios fitogeográficos, nos mais variados tipos de ambiente (Vignoli-Silva & Mentz 2020Vignoli-Silva, M. & Mentz, L.A. 2020. Cestrum in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14635. (acesso em: 11-V-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

3. Physalis L.

3.1. Physalis angulata L., Sp. Pl. 1: 183. 1753.

Figuras 2, 4b

Erva ereta, até 45 cm alt.; caule ramificado na base, inerme, glabro, angular, ramos opostos laterais presentes. Folhas concolores, lâmina 7-8 × 2-3 cm, membranácea, oval a elíptica, glabra em ambas as faces, ápice agudo, base arredondada, margem serreada, pecíolo 0,4-1,9 cm compr., glabro. Inflorescência simples, solitária, axilar, pedúnculo 3-7 mm compr., pedicelo ca. 5 cm compr., deflexo, glabro. Flores pediceladas; sépalas soldadas na base, tubo ca. 0,5 mm compr., lobos 0,1-0,2 cm compr., glabros, margem ciliada; corola rotado-campanulada, creme, ca. 8 cm diâm., 0,5-1 cm compr., lobos ca. 3 cm compr., trulados, nervuras ramificadas, pardas, tricomas híspidos no ápice, anel de tricomas presente na região de inserção da antera; estames 5, filetes eretos, 2-3 mm compr., anteras 1,8-2 mm compr., azuis, basifixas, deiscência lateral; ovário glabro, estilete 1-2 mm compr., hipanto ca. 0,8 cm compr., estilete ca. 3 mm compr., disco bipartido. Fruto baga, ca. 3 cm diâm., globoso, cálice frutífero acrescente, ca. 7 cm compr., glabro, cálice 25 mm diâm., pedicelo 0,9-1,8 cm compr., deflexo, epicarpo esverdeado quando jovem, alaranjado na maturação. Sementes ca. 1 mm compr., ovais, marrons.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Cachoeira, Brejo atrás do posto Lagoa Encantada, 12º35’09,4”S, 38º56’32”W, 23-III-2010 (Fl), L.Y.S. Aona et al. 1235 (HURB); Mun. Governador Mangabeira, Sítio próximo à margem do Rio Paraguaçu, 12°33’24,6”S, 39°02’18,9”W, 18-X-2016 (Fl, Fr), R.J.A. Jesus et al. 04 (HURB); Mun. Muniz Ferreira, Fazenda Barbosa, lago próximo à BR, 12º59’28,6”S, 39º07’35.2”W, 5-V-2010 (Fl), W.O. Fonseca 162 (HURB).

Material adicional: BRASIL. PERNAMBUCO: Mun. Igarassu, Usina de São José, fragmento da mata do Pezinho 7°47’26.00”S, 35°1’11.00”W, 1-XII-2011 (Fl, Fr), V. S. Sampaio et al. 46 (UFP).

Comentários: Physalis angulata apresenta como características marcantes a presença do epicarpo esverdeado quando jovem e alaranjado na maturação (figura 4b), anteras azuis e o caule anguloso. Outra característica diagnóstica é a corola com nervuras ramificadas e um anel de tricomas amarronzado no seu interior, na região de inserção dos filetes. Seu fruto é completamente recoberto pelo cálice frutífero. Esta espécie é emergente ao curso d’água, ocorrendo em áreas brejosas, degradadas e lagoas temporárias, com boa parte de seu caule imerso na água. Na região de estudo, P. angulata é facilmente encontrada em locais abertos, úmidos e com sol parcial. Coletada com flores e frutos nos meses de março, maio, julho, outubro e dezembro. Ocorre em todos os Estados do Brasil, sendo encontrada em locais antropizados, presente em todos os domínios fitogeográficos do Brasil (Stehmann & Knapp 2020Stehmann, J.R. & Knapp, S. 2020. Physalis in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14696 (acesso em: 11-V-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

4. Schwenckia L.

4.1. Schwenckia americana Rooyen ex L., Gen. Pl. (ed. 6): 567 [577]. 1764.

Figuras 2, 4c

Erva ereta, ca. 0,5 m alt.; caule e ramos cilíndricos, pubescentes, tricomas simples. Folhas concolores, lâmina 0,3-2,3 × 0,2-5 mm, membranácea, oblanceolada, pubescente em ambas as faces, tricomas simples, ápice agudo, base atenuada, margem inteira, pecíolo ca. 0,5 cm compr., piloso. Inflorescência paniculada, lateral, terminal, pedúnculo 2-9 cm compr.; pedicelo ca. 3 mm compr., ereto. Flores com cálice tubuloso, ca. 0,2 cm diâm., sépalas parcialmente soldadas na base, ca. 0,1 cm compr.; corola tubulosa, ca. 0,1 cm compr., púrpura, tricomas simples, ca. 0,7 cm compr., ápice da corola assimétrico, hipanto glabrescente, ca. 0,13 × 1 cm diâm.; estames 2, inclusos, filetes ca. 1 mm compr., anteras basifixas, 0,1-0,2 cm comp., deiscência longitudinal; ovário. 1-2 mm compr., oval, glabro, estigma subcapitado, estilete ca. 12 mm compr. Fruto cápsula, ca. 3 mm diâm., ovoide, cálice acrescente deiscente, ca. 3 mm diâm., pedicelo frutífero 1-3 mm compr., ereto, amarronzado. Sementes ca. 5 mm compr., marrons.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Cabaceiras do Paraguaçu, BA 491, balsa, lado direito, lago Garora, perto do Haras Manga Larga, 12°37’95,7’S, 38°57,67,7’W, 7-VIII-2012 (Fl, Fr), L.Y.S. Aona et al. 1562 (HURB); Mun. Cachoeira, Vale dos rios Paraguaçu e Jacuípe. Ilha do Umbuzeiro, 03-VIII-1980 (Fl, Fr), Grupo Pedra do Cavalo 07944 (ALCB); Mun. Cruz das Almas, baixo da linha, área da UFRB, pastagem próxima ao Rio Capivari, 8-IV-2008 (Fl, Fr), L.Y.S. Aona et al. 1070 (HURB); Mun. Muritiba, represa da Fazenda Capivari, área da DANCO Ltda., 5-V-2010 (Fl, Fr), L.Y.S. Aona 1307 (HURB); Mun. Sapeaçu, Lagoa do Padre, lago 2, 5-X-2010 (Fr), L.Y.S. Aona et al. 1409 (HURB).

Comentários: Schwenckia americana é uma espécie bastante distinta das demais na área de estudo e pode ser identificada por possuir dois estames e fruto de tipo cápsula. Outras características diagnosticas são a presença de apêndices na corola, seus lobos são estreitos e alongados (figura 4c), modificados em estruturas glandulares, além da presença de tricomas em todas as partes aéreas (figura 4f). Ocorre em áreas brejosas, lagoas temporárias, margem de ambientes lênticos, emergentes ao curso d’água, com sua raiz imersa em água. Encontrada também em áreas abertas, de sol e em áreas sombreadas. Foi coletada com flores e frutos nos meses de março a outubro. Espécie distribuída em todo o território brasileiro, ocorrendo nos domínios fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

4.2. Schwenckia mollissima Nees & Mart. Nova Acta Phys.-Med. Acad. Caes. Leop.-Carol. Nat. Cur. 11(1): 47 (1823).

Figura 2

Erva ereta, ca. 0,5 m alt.; caule e ramos cilíndricos, pubescentes, tricomas simples. Folhas com lâmina 0,4-2,1 × 0,1-1 mm, membranácea, lanceolada a elíptica, ambas as faces com tricomas simples, ápice agudo, base atenuada, margem inteira, pecíolo 0,7 mm compr., piloso. Flores com ca. 12 mm compr.; tubo reto; lóbulos medianos (apêndices) 5; forma dos lóbulos medianos lineares; lóbulos intermediários ovados; estames 2 (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
). Frutos e sementes não vistos.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Cachoeira, Vale dos rios Paraguaçu e Jacuípe, Ilha do Umbuzeiro, IX-1980 (Fl, Fr), Grupo Pedra do Cavalo 603 (ALCB).

Material adicional: BRASIL. PERNAMBUCO: Mun. Buíque, Parque Nacional do Vale do Catimbau, IX-1980 (Fl), C.R.S. Oliveira et al. 410 (HURB).

Comentários: Schwenckia mollissima foi registrada em ambiente aquático no município de Cachoeira, em 1980, o que permitiu inferir que essa espécie foi coletada antes da construção da Barragem Pedra do Cavalo, uma vez que a data de construção da barragem é de 1986. Atualmente, não se sabe se esta espécie ainda ocorre na região, pois não foi coletada novamente durante o trabalho de campo no município. De acordo com dados da etiqueta, esta espécie possui frutos do tipo cápsula e apresenta coloração branco-esverdeada de suas flores. Estas características são distintas de Schwenckia americana (vide 4.1), além de S. mollissima não possuir estrutura glandular nos lobos corolinos (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
). A espécie distribui-se no Brasil pelos Estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande Norte e ocorre nos domínios fitogeográficos Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

5. Solanum L.

5.1. Solanum americanum Mill., Gard. Dict. (ed. 8): Solanum no. 5. 1768.

Figuras 3, 4d

Erva ereta, até 40 cm alt.; caule inerme, cilíndrico. Folhas concolores, as basais solitárias e apicais geminadas, lâmina 0,4-3 × 0,3-2,8 cm, membranácea, oval, glabra em ambas as faces, ápice agudo, base atenuada, margem dentada, pecíolo ca. 2 cm compr., glabrescente. Inflorescência simples, umbeliforme, extra-axilar, pubescente, tricomas simples, pedúnculo ca. 7 cm compr., pedicelo ca. 2 cm compr., deflexo. Flores monóclinas, cálice campanulado, sépalas soldadas até metade da base, tubo ca. 2 mm compr., lobos ca. 2 mm compr., tricomas simples, pedicelo 3-5 mm compr.; corola estrelada, alva, 1,5-3,5 cm diâm., pétalas soldadas até um quarto da base, tubo ca. 1 mm compr., lobos da corola medindo 0,5-0,7 × 1 cm; estames 5, filetes ca. 1 mm compr., anteras ca. 0,5 × 1 cm, oblongas, deiscência poricida lateral, amarelas; ovário ca. 0,4 cm diâm., globoso, piloso, tricomas simples, estilete ca. 2 mm compr., estigma ca. 5 mm compr., capitado. Fruto baga, globoso, glabro, 0,2-0,3 cm diâm., cálice frutífero não acrescente, epicarpo verde brilhante quando jovem e negro quando maduro, glabro. Sementes ca. 1 mm compr., discoides, esbranquiçadas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Muniz Ferreira, rio sob a ponte próximo ao condomínio, 12º43’39”S, 39º10’55”W, Alt: 0,4 m. 28-II-2018 (Fr, Fl), R.J.A. Jesus, 27 (HURB). Mun. Sapeaçu, brejo do sítio em frente à Escola José Arthur, 12º59’28,6”S, 39º07’35,2”W, alt: 2,3m, 11-IV-2018 (Fr, Fl), R.J.A. Jesus 07 (HURB).

Material adicional: BRASIL. ALAGOAS: Mun. Maceió, APA de Catolé, 9°32’28.71”S, 35°48’24.19”W, 17-XI-2011 (Fl, Fr), V.S. Sampaio 24 & C.M.L.R. Araújo (UFP).

Comentários: Solanum americanum possui caule fistuloso, inflorescência umbeliforme, flores alvas e frutos com epicarpo quando jovem bastante esverdeado (figura 4d) e brilhoso. Os frutos, quando maduros, apresentam coloração enegrecida. Dentre as espécies estudadas, esta é a que apresenta frutos com menores medidas, apresentando ca. 3 mm diâm. Espécie comum em vegetações perturbadas (Nee 2007Nee, M. 2007. Flora da Reserva Ducke, Amazonas, Brasil: Solanaceae. Rodriguésia 58(3): 695-702.), podendo ocorrer em áreas brejosas, lagoas temporárias, margens de rios, em regiões rochosas, ambientes abertos, ambientes sombreados, emergente ao curso d’água, com parte do caule imerso na água. De acordo com dados disponíveis nas etiquetas, possui flores e frutos nos meses de novembro, fevereiro a abril. Espécie ocorrente em todos os Estados do território brasileiro, ocorrendo em todos os domínios fitogeográficos (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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).

5.2. Solanum fernandesii V.S.Sampaio. & R.Moura, Phytotaxa 270(1): 34. 2016.

Figuras 3, 4e

Erva, ereta, 0,4 m alt., caule e ramos cilíndricos, tomentosos, acúleos presentes, 1,5-3 mm compr., cônicos, levemente ferrugíneos no ápice. Folhas concolores, acúleos nas nervuras, 1-3 mm compr., cônicos, lâmina 0,5-4 × 0,3-2 cm, membranácea, elíptica, face abaxial e adaxial hirsuta, tricomas tectores, ápice agudo, base truncada, margem serreada, pecíolo 0,2-2 cm compr., glabrescente, glândulas peciolares visíveis. Inflorescência em monocásio, lateral, 1-2-flora, glabra, pedicelo de 3-5 mm compr., deflexo. Flores monóclinas e estaminadas, cálice campanulado, ca. 7 mm diâm., sépalas soldadas na base, tubo ca. 0,2 cm compr., aculeado, lobos ca. 0,16 cm compr.; corola estrelada, alva, 1,5-3,5 cm diâm., pétalas soldadas na base, 0,5-0,7 × 1 cm, tubo ca. 0,1 cm compr.; estames 5, filetes ca. 0,1 cm compr., ligados à base da corola, anteras basifixas ca. 0,5 × 1 cm, verdes, lanceoladas, deiscência poricida; ovário ca. 1 mm diâm., globoso, pubescente, tricomas glandulares, estigma ca. 0,5 cm, capitado, estilete ca. 0,5 cm compr. Fruto baga, 0,7-2 cm diâm., globoso, glabro, cálice frutífero não acrescente, aculeado, ca. 1 cm diâm., epicarpo variegado, glabrescente. Sementes ca. 0,4 cm diâm., subcirculares, acastanhadas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Castro Alves 12°45’56”S, 39°26’22”W, 22-VII-2015 (Fr), N.M.X. Souza 131 (HURB); Cachoeira, Capoeiruçu, Fazenda Favela, 13-IX-2017 (Fl, Fr), L.Y.S. Aona et al. 4564 (HURB).

Material adicional: BRASIL. BAHIA: Mun. Jacobina, Povoado de Pau Ferro, 28-I-2018 (Fl, Fr), C. Santos 10 (HURB).

Comentários: Solanum fernandesii apresenta tricomas e acúleos no cálice (figura 4e). A principal característica desta espécie é a presença de glândulas peciolares visíveis, assim como a presença de cálice frutífero não acrescente (figura 4e). Esta espécie é encontrada em áreas abertas, emergente ao curso d’água, margeando lagoas ou embaixo de plantas que conferem sombra certo período do dia, apresentando caule imerso na água. Espécie encontrada com flores e frutos nos meses de setembro, de acordo com dados das exsicatas. Espécie ocorrente no Nordeste, nos Estados de Alagoas, Bahia e Ceará, presente no domínio fitogeográfico Caatinga (Sampaio et al. 2016Sampaio, V.S., Moura, R.L. & Loiola, M.I.B. 2016. Solanum fernandesii (Solanaceae): A new species of ‘spiny solanum’of the Gardneri clade from northeastern Brazil. Phytotaxa 270(1): 33-40.; Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

5.3. Solanum palinacanthum Dunal, Prodr. 13(1): 245. 1852.

Figuras 3, 4f

Arbusto ereto, 0,5 m alt., fortemente aculeado; caule e ramos cilíndricos, tricomas simples, acúleos 0,2-1 cm compr., cônicos. Folhas concolores, acúleos 0,1-1,3 cm compr., cônicos, lâmina 2-7 × 2-6 cm, cartácea, oval-elíptica, face adaxial hirsuta, tricomas glandulares simples, face abaxial puberulenta, tricomas glandulares, porrecto-estrelados, ápice agudo, base sagitada, margem lobada, pecíolo 1-4 cm compr., piloso. Inflorescência em monocásio, 3-4 flora, pedúnculo 0,3-0,4 mm compr., pedicelo 0,3-1 cm compr., deflexo. Flores monóclinas e estaminadas, cálice campanulado, ca. 1 cm diâm., sépalas soldadas próximas ao tubo, ca. 0,5 cm compr., lobos ca. 1 mm compr., corola estrelada, purpúrea a violeta, 1,4-2,5 cm diâm., pétalas soldadas até 1/4 da base, lobos 0,5-1,3 × 0,2-0,3 cm; estames 5, filetes ca. 1,5 cm compr., anteras basifixas, 0,7-1,25 mm compr., deiscência poricida; ovário ca. 1,2 mm compr., globoso, puberulento, tricomas simples, estigma capitado, estilete ca. 1 cm compr. Fruto baga, ca. 2,5 cm diâm., globoso, cálice frutífero não acrescente, ca. 2 cm diâm., aculeado, epicarpo verde, variegado a amarelo, glabra. Sementes ca. 3 mm diâm., reniformes, marrons.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Cruz das Almas, lagoa temporária do campus UFRB 17-VII-2019, R.J.A. Jesus 129 (HURB); Mun. Maragogipe, área alagada do Parque da Cidade 5-IV-2019 (Fl), R.J.A. Jesus 119 (HURB).

Material adicional: BRASIL. ALAGOAS: Mun. Maceió, APA do Catolé, 9°33’01,03”S, 35°48’26,02”W, alt. 120 m 17-XII-2011 (Fl), V.S. Sampaio 27 & C.M.L.R. Araújo (UFP).

Comentários: Solanum palinacanthum caracteriza-se por apresentar caule, ramos, folhas e cálice frutífero fortemente aculeados, apresentando acúleos cônicos. Suas flores purpúreas são muito vistosas no ambiente, apresentando coloração púrpura (figura 4f) e frutos maduros verdes, variegados a amarelados. Seu hábito arbustivo também é fator importante para sua delimitação em comparação com as outras espécies aqui estudadas. Na região de estudo, a espécie é encontrada em área aberta e ensolarada, margeando lagoa em região brejosa, apresentando caule imerso na água. Possui ampla distribuição no Brasil, ocorrendo em todas as regiões do país, ocorrendo em todos os domínios fitogeográficos nos variados tipos de vegetação (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
).

5.4. Solanum paniculatum L., Sp. Pl. (ed. 2) 1: 267. 1762.

Figuras 3, 4g

Arbusto ereto, até 2 m alt., aculeado; caule e ramos cilíndricos, tomentosos, tricomas estrelados, acúleos 2-3 mm compr., cônicos, marrons. Folhas discolores, acúleos 1-3 mm compr., lâmina 4-14 × 3-8 cm, subcoriácea, largo-oval, face adaxial verde-escura, glabrescente, tricomas multiangulados, face abaxial tomentosa, tricomas estrelados multiangulados, ápice agudo, base oblíqua, obtusa ou cordada, margem inteira, repanda ou lobada, pecíolo 0,4-2,3 cm compr., piloso. Inflorescência ramificada, opositifólia, extra-axilar, ca. 27-flora, pedúnculo 2-7 cm compr., pedicelo 4-6 cm compr., deflexo. Flores monóclinas e estaminadas, cálice campanulado, 4,8-5 cm diâm., sépalas soldadas até mais da metade da base, ca. 2 mm compr., corola rotáceo-estrelada, lilás ou alva, ca. 5 cm diâm., tubo ca. 5 mm compr., pétalas soldadas na base, lobos ca. 0,7 × 1 cm; estames 5, filetes ca. 1 mm compr., anteras basifixas, ca. 5 × 1 mm, lanceoladas, deiscência poricida terminal, amarelas; ovário ca. 1 mm diâm., subgloboso, piloso, tricomas estrelados, estigma bilobado, ca. 5 mm compr., estilete ca. 2 mm compr. Fruto baga 1,3-1,9 cm diâm., ca. 18 frutos por inflorescência, globoso, glabro, cálice frutífero não acrescente, epicarpo verde a marrom, lustroso, glabro, ca. 3 cm diâm. Sementes subreniformes, marrons.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Cachoeira, Vale dos rios Paraguassu e Jacuípe, 12°32’S 39°05’W; V-1980 (Fl), Grupo Pedra do Cavalo 51 (ALCB); Mun. Sapeaçu, antiga ponte a estrada velha, 11-IV-2018 (Fr, Fl), R.J.A. Jesus 28 (HURB).

Material adicional: BRASIL. PARAíBA: João Pessoa, Campus I UFPB, nas proximidades do centro de Tecnologia, 7°08’30.08”S, 34°50’48.80”W, alt. 46 m 27-VII-2011 (Fl), V.S. Sampaio 6 (UFP); Mun. Mataraca, Millenium Inorganic Chemicals Mineração LTDA - Mata Ciliar Guajú, 20-X-2011 (Fl), V.S. Sampaio 51 (UFP).

Comentários: Solanum paniculatum apresenta como características diagnósticas a presença de inflorescência ramificada, flores lilases ou alvas (figura 4g), acúleos recurvos em ambas as faces da lâmina foliar, além do indumento caduco na face adaxial, que provê um aspecto único a suas folhas quando herborizadas. Alguns indivíduos podem alcançar até mais de 2 m de altura. É uma espécie bastante comum para a região de estudo, sendo encontrada majoritariamente em ambientes palustres. Na região de estudo, S. paniculatum é emergente ao curso d’água, ocorre em área aberta, antropizadas ou margeando lagoas, com sol na maior parte do dia. Apresenta boa parte do caule imerso na água. Encontrada com flores e frutos durante todo o ano, segundo dados das etiquetas. No Brasil, ocorre nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul, ocorrendo nos domínios fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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).

5.5. Solanum polytrichum Moric., Pl. Nouv. Amer. 3: 32. 1834 [1837].

Figuras 3, 4h

Subarbusto ereto, 1,5 m alt., fortemente aculeado; caule e ramos cilíndricos, hirsutos, tricomas estrelados, acúleos 0,2-0,7 cm compr., cônicos a levemente recurvos, ferrugíneos. Folhas discolores, acúleos 0,3-0,7 cm compr., lâmina 2,3-8 × 1-4,5 cm., cartácea, oblongo-elíptica, ambas as faces hirsutas, tricomas estrelados, ápice agudo, base oblíqua, margem levemente lobada, pecíolo 0,4-1,5 cm compr., cilíndrico, hirsuto. Inflorescência em cimeira simples, extra-axilar, 2-5-flora, aculeada, acúleos 1-3 mm compr., aciculares, tomentosa, tricomas tectores, pedúnculo ca. 1 cm compr., pedicelo 3-6 cm compr., ereto. Flores monóclinas e estaminadas, cálice campanulado, ca. 0,7 cm diâm., sépalas soldadas parcialmente à base, tubo ca. 0,2 cm compr. lobos ca. 0,3 × 0,2 cm, aculeados, corola estrelada, alva a esverdeada, ca. 7 cm diâm., pétalas soldadas parcialmente à base, lobos ca. 0,5 × 0,3 cm; estames 5, filetes fundidos na base da corola, 0,1-0,2 cm, anteras 0,5 × 0,2 mm, lanceoladas, deiscência poricida terminal; ovário ca. 0,9 cm diâm., subgloboso, puberulentos, tricomas glandulares, estilete ca. 2,4 cm compr., estigma capitado. Fruto baga, ca. 2,5 cm diâm., globoso, cálice frutífero acrescente, hirsuto, tricomas estrelados, aculeado, ca. 8 cm diâm., epicarpo verde a amarelo, glabro. Sementes ca. 0,3 cm diâm., subreniformes, acastanhadas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. São Sebastião do Passé, 12°28’59”S, 38°29’03”W, 14-VII-2015 (Fl), G.Costa et al. 1421 (HURB).

Material adicional: BRASIL. BAHIA: Mun. São Felipe, Serra da Copioba, alt. 46 m 15-XI-2011 (Fl, Fr), D.M. Moreira et al. 28 (HURB).

Comentários: Solanum polytrichum apresenta acúleos no caule, na lâmina foliar e no cálice frutífero (figura 4h) e a presença de tricomas hirsutos em todas as partes da espécie. A coloração das flores varia de esverdeada no terço inferior e alva no terço superior, apresentando anteras amareladas. No material analisado, esta espécie é encontrada com flores e frutos nos meses de abril, julho e novembro. Na região de estudo, a espécie foi encontrada em área alagada margeando lagoa, presente em área sombreada, apresentando sistema radicular imerso na água. Apresenta distribuição no território brasileiro pelos Estados de Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro e Sergipe, ocorrendo nos domínios fitogeográficos Caatinga e Mata Atlântica (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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).

5.6. Solanum stramoniifolium Jacq., Misc. Austriac. 2: 298. 1781.

Figuras 3, 4i

Arbusto ereto, até 1,8 m alt., aculeado; caule e ramos cilíndricos, tomentosos, tricomas estrelados multiglandulados, acúleos 0,8-2 cm compr., levemente recurvos, ferrugíneos no ápice. Folhas discolores, acúleos 4-6 mm compr., cônicos, lâmina 2-14 × 1,5-2 cm, cartácea, oval-elíptica, face adaxial escabra, tricomas simples e estrelados, face abaxial tomentosa, tricomas estrelados, ápice agudo, base subcordada, margem lobada, pecíolo 0,4-5 cm compr., tomentoso. Inflorescência em cimeira escorpioide, extra-axilar, multiflora, ca. 20 flores, pedúnculo ca. 4 mm compr., pedicelo ca. 3 mm compr., deflexo. Flores com cálice campanulado, ca. 3 cm diâm., sépalas soldadas até metade do tubo, ca. 3 mm compr., lobos ca. 1 mm compr., tricomas simples, corola estrelada, alva, ca. 3,3 cm diâm., tricomas glandulares estrelados, pétalas soldadas até próximo da base, tubo 2,5-2,7 cm compr., lobos ca. 13 × 4 mm; estames 5 filetes ca. 1,5 mm, anteras basifixas, ca. 5 mm compr., deiscência poricida, lanceoladas; ovário ca. 1,2 mm compr., oblongo, pubescente, porção superior recoberta por tricomas estrelados, estigma clavado, estilete ca. 9 mm compr. Fruto baga, 1-1,7 cm diâm., ca. 18 frutos, globosa, pedicelo frutífero ereto, rígido, ca. 5 cm, ereto; cálice frutífero não acrescente, ca. 5 cm diâm., pubescente, tricomas estrelados, 1-4 cm diâm., epicarpo verde, alaranjado na maturação, pubescente. Sementes ca. 4 mm diâm., ovadas, acastanhadas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Nazaré, Sítio próximo da rodovia, 13º02’06”S, 13º02’06”W,14-XII-2017 (Fl, Fr), R.J.A. Jesus et al. 6 (HURB).

Material adicional: BRASIL. BAHIA: Ituberá, Balneário Ecológico Cachoeira Grande, Estrada ao lado da Reserva da Michelin, 9-X-2017 (Fl), N.X.M. Souza 232 (HURB).

Comentários: Solanum stramoniifolium difere das outras espécies do gênero por apresentar pedicelo frutífero ereto, rígido, conferindo a posição invertida do fruto em direção ao ápice de planta (detalhe da figura 4i). Estes frutos, quando jovens, são recobertos por tricomas ferrugíneos. A inflorescência é uma cimeira escorpioide e os botões se abrem da região basal para a região terminal. A lâmina foliar possui muitos acúleos cônicos, com coloração esverdeada em ambas as faces (figura 4i). Na região de estudo, a espécie ocupa ambientes alagados, próximo a lagoas, com 1/3 do caule imerso na água, além de ser encontrada em área aberta, em sol pleno. Espécie registrada com flor e fruto em dezembro. No Brasil, distribui-se pelos Estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, ocorrendo nos domínios fitogeográficos Amazônia e Mata Atlântica (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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).

5.7. Solanum thomasiifolium Sendtn., Fl. Bras. 10: 74. 1846.

Figuras 3, 4j

Arbusto ereto, 1,5 m alt., aculeado; caule e ramos cilíndricos, caule concaulescente, ramos laterais jovens, pubescentes, tricomas estrelado angulares, acúleos 0,1-0,5 mm compr., levemente curvados e cônicos, ferrugíneos no ápice. Folhas discolores, acúleos ca. 2 mm compr., curvados, lâmina 2,5-5,1 x 1,5-3,5 cm, membranácea, oval-elíptica, face adaxial escabra ou velutina, tricomas glandulares, porrecto estrelados glandulares, face abaxial tomentosa e velutina, tricomas glandulares, estrelados glandulares, ápice agudo, base oblíqua, margem levemente lobada, pecíolo 0,5-1 cm compr., hirsuto. Inflorescência simples, monocásio, extra-axilar, 2-5-flora, tomentosa, tricomas glandulares, estrelados glandulares, pedúnculo ca. 2 mm compr., pedicelo 4-6 cm compr., deflexo. Flores monóclinas e estaminadas, cálice campanulado, 0,8-1,3 cm diâm., sépalas soldadas parcialmente até a base, tubo 2-3 mm compr., lobos 0,3-0,4 × 2-2,5 mm, corola rotácea estrelada, alva, lilás, levemente translúcida, ca. 7 cm diâm., pétalas soldadas parcialmente à base, tubo 5-7 cm compr., lobos 4-6 × 3-4,5 cm; estames 5, filetes ca. 2 mm compr., fundidos na base da corola, anteras lanceoladas, basifixas, deiscência poricida terminal, 6-7 × 0,2 cm; ovário ca. 0,7 mm diâm., subgloboso, pubescente, estigma capitado, estilete ca. 3,5 cm compr. Fruto baga, 0,5-1 cm diâm., globoso, cálice frutífero não acrescente, tomentoso, tricomas glandulares, estrelados angulares, 0,5-1 cm diâm., epicarpo vermelho quando maduro, glabro. Sementes ca. 4 mm diâm., subreniformes, pardas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. São Francisco do Conde, Sentido Cachoeira, 12°33’54”S, 38°28’52”W, Alt: 30m, 4-XII-2014 (Fr), G. Costa et al. 1150 (HURB).

Material adicional: BRASIL. BAHIA: Morro do Chapéu, Morrão, 14-VII-2018 (Fl, Fr), L.Y.S. Aona 4776 (HURB).

Comentários: As características diagnósticas de Solanum thomasiifolium são a presença de um caule concaulescente, acúleos esparsamente presentes, levemente curvados nos ramos, e tricomas densamente distribuídos, além dos frutos diminutos, que se tornam vermelhos quando maduros (figura 4j). Apresenta flores rotáceas, com pétalas alvas, lilases e levemente translúcidas, além de folhas discolores, com tricomas em ambas as faces. Na região de estudo, a espécie foi encontrada em área brejosa, margeando lagoa, em local aberto, de sol pleno, apresentando boa parte do caule imerso na água. Segundo dados de herbário, floresce e frutifica nos meses de junho e dezembro. No território brasileiro, esta espécie é ocorrente nos Estados de Bahia, Sergipe, Goiás, Espírito Santo e Minas Gerais, ocorrendo nos domínios fitogeográficos Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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5.8. Solanum torvum Sw., Prodr.: 47. 1788.

Figuras 3, 4k

Arbusto ereto, ca. 2,3 m alt., aculeado; caule e ramos cilíndricos, pulverulentos, tricomas estrelados, acúleos ca. 3 mm compr., curvados ou cônicos, escuros. Folhas discolores, acúleos 0,1-3 cm compr., lâmina 10-30 × 0,9-27 cm, cartácea, elíptica, face adaxial escabra, tricomas porrecto estrelados, face abaxial tomentosa, tricomas porrecto estrelados, ápice agudo, base oblíqua, margem lobada ou repanda, pecíolo 0,3-3 cm compr., indumento presente. Inflorescência cimeira escorpioide, multiflora, extra-axilar, ca. 44-flora, pedúnculo ca. 6 cm compr., pedicelo 2-6 mm compr., ereto. Flores monóclinas e estaminadas, cálice campanulado, ca. 5 cm diâm., sépalas soldadas parcialmente na base, tubo ca. 3 mm compr., lobos ca. 2,5 mm compr., pedicelo 3-5 mm compr., pubescente, tricomas glandulares, corola rotácea estrelada, alva, 1,5-3,5 cm diâm., pétalas soldadas até ¼ na base, tubo ca. 2 cm compr., lobos ca. 5 mm compr., tecido interpetalar; estames 5, filetes ca. 1 mm compr., ligados à base da corola, anteras ca. 5 mm compr., lanceoladas, deiscência poricida, amarelas; ovário ca. 1,5 mm diâm., globoso, reduzido nas flores estaminadas, estilete ca. 8 mm compr., estigma capitado, estilete ca. 1,3 cm compr. Fruto baga, 0,2-1 cm diâm., globoso, glabro, cálice frutífero não acrescente, ca. 1,2 cm diâm., epicarpo verde claro quando jovem, glabro. Sementes ca. 2 mm compr., discoides, amarronzadas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Sapeaçu, antiga ponte da estrada velha. Alt: 2,3m, 11-IV-2018 (Fr, Fl), R.J.A. Jesus 25 (HURB).

Material adicional: BRASIL. PARAíBA: João Pessoa, Campus I UFPB, Horto do LTF, 7°08’29.36”S, 34°50’51.78”W, alt. 49 m, 27-VII-2011 (Fl), V.S. Sampaio 6 (UFP).

Comentários: Solanum torvum, assim como S. paniculatum, apresentam tecido interpetalar nas flores, mas a grande quantidade de flores (figura 4k) e o tamanho da lâmina foliar, distinguem a primeira da segunda. Adicionalmente, S. paniculatum, apresenta indumento tomentoso na face adaxial das folhas, versus estrelados em S. torvum, e indumento, também, tomentoso no cálice, versus uncinado em S. torvum, cujas flores são de coloração alva. Na região de estudo, S. torvum ocorre em área aberta, margeando lagoas, com sol na maior parte do dia, apresentando 1/3 do seu caule imerso em água. Encontrada com flores e frutos nos meses de março, maio e julho de acordo com dados contidos em etiquetas. No Brasil, é encontrada nos Estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, ocorrendo no domínio fitogeográfico Mata Atlântica (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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5.9. Solanum viarum Dunal., Prodr. 13(1): 240. 1852.

Figuras 3, 4l

Arbusto ereto ou ascendente, ca. 0,5 m alt., aculeado; caule e ramos cilíndricos; tricomas simples, glandulares; acúleos 0,1-0,7 cm compr., levemente recurvos. Folhas concolores, acúleos 0,2-0,6 mm compr., aciculares, lâmina 0,7-12 × 7-14 cm, membranácea, membranácea, face adaxial pubescente, tricomas simples, face abaxial tomentosa, tricomas porrecto estrelados, ápice agudo, base cordada a oblíqua, margem lobada, pecíolo 0,3-3 cm compr., piloso. Inflorescência simples, extra-axilar, pubescente, tricomas glandulares, pedicelo ca. 4 mm compr., deflexo. Flores monoclinas, cálice campanulado, sépalas soldadas até metade da base, ca. 8 mm diâm., tubo 0,5-1 cm, lobos ca. 3 mm compr., tomentoso, tricomas simples, glandulares, corola estrelada, alva, ca. 2 cm diâm., pétalas soldadas na base, tubo ca. 2 mm compr., lobos da corola ca. 0,4 mm compr.; estames 5, filetes ca. 1,5 mm compr. ligados à base da corola, anteras basifixas lanceoladas, deiscência poricida, ca. 0,5 × 0,1 cm, esbranquiçadas; ovário ca. 1,4 mm diâm., globoso, pubescente, tricomas glandulares, estigma capitado, estilete ca. 9 mm compr. Fruto baga, 1,5-2,7 cm diâm., globoso, cálice frutífero não acrescente, ca. 9 mm diâm., pubescente, com acúleos cônicos, epicarpo variegado quando jovem e amarelo quando maduro, glabro. Sementes ca. 2 mm compr., subreniformes, amarronzadas.

Material examinado: BRASIL. BAHIA: Mun. Santo Antônio de Jesus, lagoa ao lado direito da entrada, seguindo para o Hotel-Fazenda, Alt: 0,5 m, 11-IV-2018 (Fr, Fl), R.J.A. Jesus 26 (HURB).

Comentários: Dentre as espécies estudadas, o fruto de Solanum viarum é o que pode apresentar maiores dimensões, de até 2,7 cm diâm., o epicarpo em estádio de maturação é amarelado (detalhe da figura 4l) e o pedicelo frutífero é aculeado. Destaca-se também pela presença de corola e anteras alvas (figura 4l), características essas, relevantes para delimitação desta espécie. Na região estudada, esta espécie ocorre em área brejosa, próximo a lagoa perene, emergente ao curso d’água, apresentando todo o sistema radicular imerso na água. Encontrada em área aberta, com sol na maior parte do dia. Foi registrada com flores e frutos nos meses de abril e setembro. Espécie ocorrente no Brasil nos Estados do Acre, Rondônia, Bahia, Centro Oeste, Sudeste e Sul, ocorrendo nos domínios fitogeográficos da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal (Flora e Funga do Brasil 2022Flora e Funga do Brasil. 2022. Solanaceae in Flora do Brasil 2022. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB14821 (acesso em 12-VIII-2021).
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Ao analisar os dados das espécies ocorrentes para o Recôncavo da Bahia, foi possível perceber que Cestrum nocturnum e Schwenckia americana apresentam maior distribuição na área de estudo, pois ocorrem em quatro municípios do Recôncavo. Já Physalis angulata, ocorre em três municípios e Solanum americanum e Solanum paniculatum ocorrem em apenas dois municípios. As espécies Capsicum frutescens, Schwenckia mollissima, Solanum fernandesii, S. palinacanthum, S. polytrichum, S. stramoniifolium, S. thomasiifolium, S. torvum e S. viarum apresentam apenas uma ocorrência em toda a região de estudo, como evidenciado nas figuras 1 e 2. O gênero mais diversificado foi Solanum, com nove espécies para a região de estudo.

Este trabalho contribui para taxonomia desses grupos nos ecossistemas aquáticos e devido à grande riqueza de espécies, evidencia a necessidade de mais estudos para a região visando uma melhor caracterização nesses ambientes, além de compreender o papel destas espécies na comunidade vegetal. Ademais, este trabalho pode servir como base de informações para diversos outros estudos como abordando estratégias de restauração ecológica, etnobotânicos ou levantamento de espécies com potencial sobre princípios ativos.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Pablo de Aguiar Nascimento, pela confecção do Mapa de distribuição e à Dra. Gloria Barboza, pela identificação do Capsicum. Lidyanne Yuriko Saleme Aona agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo financiamento de projetos de pesquisa (Processos APP0113/ 2009 e 482085/2009, respectivamente).

Lista de Exsicatas Examinadas

C. Santos 10 (5.1). C.R.S. Oliveira 410 (4.2). G. Costa 1214 (2.1); 1421 (5.5); 1150 (5.7). D.M. Moreira et al. 28 (5.5). Grupo Pedra do Cavalo 603 (4.2); 51 (5.4); 07944 (4.1). L.Y.S. Aona 3611 (2.1); 1235 (3.1); 1562 (4.1); 4564 (5.2); 1307 (4.1); 1409 (4.1); 4776 (5.7); 1070 (4.1). N.X.M. Souza 4 (2.1); 131 (5.2); 232 (5.6). R.J.A. Jesus 124 (1.1); 09 (2.1); 04 (3.1); 07 (5.1); 27 (5.1); 129 (5.3); 119 (5.3); 28 (5.4); 06 (5.6); 25 (5.8); 26 (5.9). V.S. Sampaio 20 (1.1); 42 (2.1); 46 (3.1); 24 (5.1); 27 (5.3); 51 (5.4); 06 (5.4); 06 (5.8). T.A. Santos 25 (2.1) W.O. Fonseca 162 (3.1).

Literatura citada

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Editado por

Editor Associado: Paulo Silveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2023
  • Aceito
    12 Dez 2023
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