1 Microcefalia como determinante do foco em Zika |
O foco era Zika por causa da microcefalia, pela crise que estava causando, pela gravidade. Antes, o principal conteúdo de arboviroses era dengue. A divulgação era sazonal, acompanhava a epidemiologia das doenças, a gente reforçava mais o foco nas arboviroses no verão, na época de chuva. |
2 Abordagem de prevenção |
O objetivo do Ministério da Saúde é a prevenção, e não o tratamento depois que a doença já está emplacada, então condiciona a gente a também traçar esse caminho nas redes sociais. Evitar que a pessoa fique doente é mais importante que tratar a pessoa, apesar de o brasileiro não ter o hábito de se cuidar e só procurar o hospital quando está morrendo. Falar de tratamento em rede social gera polêmica, pois nem todo lugar vai ter determinado medicamento disponível; há profissionais de saúde e secretarias que entendem de forma diferente da área técnica do ministério e, como o SUS é descentralizado, um estado trata de um jeito, um município, de outro, e vários impasses on-line são gerados. |
3 Conteúdos com mulheres e crianças rendem mais engajamento |
Posts sobre gestantes e crianças já engajam muito. Nessa época, confirmou-se a relação entre Zika e microcefalia, e todo mundo que conhece uma gestante marca essa pessoa nos comentários para alertar. |
4 Interação nos comentários com base técnico-científica |
As dúvidas sobre arboviroses eram sempre as mesmas. A gente sempre tentou respondê-las com as providências que o Ministério da Saúde tomava, com os dados de um FAQ padrão ou com conteúdos do blog e das cartilhas do ministério, ou com a própria área técnica. Reclamações diretas, do tipo “fiquei na fila e não fui atendida”, recebiam a orientação de buscar o Disque SUS e a secretaria de saúde. Não havia resposta automática. Os vomitaços ou xingamentos eram ocultados. |
5 Conflitos entre a linguagem do especialista e a da social media
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A área técnica queria que usássemos termos técnicos, mas o Facebook é para todo mundo. Se eu colocasse que deveria botar areia no pratinho da plantinha, repercutiria mais que uma pesquisa científica por mais que a gente tentasse simplificar, porque não é algo acessível e não tem grande interesse. |
6 Cards como estratégia de transmissão de informação |
Usamos muito card, com pouca informação escrita, para chamar a atenção para a saúde, identificando de forma clara qual é o assunto e o link para o blog. Mas as pessoas não leem as coisas direito. Se você escreve: “se há menos de dez anos você já tomou uma vacina, não precisa tomar de novo”. A pessoa vai responder assim: “eu vacinei há sete, eu preciso?” A pessoa não quer saber do geral, ela tem necessidade de ter algo muito específico para falar do caso dela. |
7 Parceria com a área técnica garantia a qualidade do trabalho |
A área técnica era muito parceira, dava sugestões e aprovava as peças. Só para algo mais basiquinho a gente não pedia aprovação. A gente fazia baseado em reuniões de pauta, num release ou num briefing. |
8 Timing diferente entre a comunicação oficial para as redes sociais e para os serviços |
A reclamação é: um profissional de saúde aqui diz X, e vocês estão dizendo Y. A nota técnica a que nós tivemos acesso, em reunião com a área técnica ou por meio do gabinete, em uma decisão acertada com ministro, não chega ao mesmo tempo na ponta do SUS, então isso gera divergência. É um fluxo do qual a gente não tem controle. Se a área técnica decide com a Fiocruz (por motivos que não conheço) que será uma só dose, a gente cumpre regras e faz nova divulgação. O governo e o pesquisador não têm credibilidade no Brasil. O profissional da saúde demora a receber as informações atualizadas do Ministério da Saúde e também não sabe o que está sendo feito em pesquisa; logo, há uma falha de gestão e comunicação que atrapalha o serviço, e as pessoas acabam não tendo bom retorno quando procuram o serviço de saúde. |
9 Informar, educar, orientar a população com qualidade e aproximar as pessoas de temas que influenciam na vida delas |
A fanpage é uma ponte, fonte segura, para educar, informar, tirar dúvidas e esclarecer em linguagem acessível conteúdo e informação de qualidade baseados em área técnica, especialistas. Mesmo coisas básicas tratávamos ali, e para muitas pessoas não era o papel do Ministério da Saúde, mas estava ali pois era o cotidiano das pessoas. Os anúncios do governo e a divulgação de aonde o ministro foi ou não foi não é o papel da rede social, mas sim abordar assuntos que envolvem a saúde das pessoas. |