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Apresentação do Dossiê III – “O papel da UniRila nos desafios da integração na Rota Bioceânica (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile)” – parte 2 | Rota Bioceânica e UniRila (Universidades da Rota de Integração Latino Americana): Conhecendo as potencialidades existentes como novos espaços de desenvolvimento e práticas inovadoras

A conexão de quatro territórios (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile) com a finalidade de redução de tempo de deslocamento de carga e melhoria logística de transporte, aumento da produtividade de exportação com os países asiáticos tem sido uma meta há décadas do Governo de Mato Grosso do Sul. A Rota Bioceânica, a partir da criação de um Corredor rodoviário, propiciará esta conexão assim como possibilitará a integração entre estes países com o fomento de novos fluxos comerciais, turísticos e científicos.

Esta interligação (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile) objetiva segundo Castro (2019)CASTRO, João Carlos Parkinson. Turismo como instrumento dinamizador do Corredor Rodoviário Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20, n. especial, p. 19–29, 2019. não só o deslocamento de cargas, como também uma melhor logística de transporte com vistas à exportação para a Ásia. “Como reflexos diretos haverá o fomento ao turismo, o estímulo à criação novos fluxos de comércio regional e se possibilitará a integração entre estes países” (Castro, 2019, p. 23CASTRO, João Carlos Parkinson. Turismo como instrumento dinamizador do Corredor Rodoviário Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20, n. especial, p. 19–29, 2019.).

Ao apontar as principais oportunidades que o Corredor Rodoviário Bioceânico poderá trazer para os quatro países, Almeida et al. (2019)ALMEIDA, Luciane Pinho Almeida; TEIXEIRA, Léia Lacerda Teixeira; FIGUEIRA, Kátia Cristina Nascimento. A importância do estudo dos impactos sociais junto às comunidades locais dos territórios que integram o Corredor Rodoviário Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20 n. 2, 2019., reafirmam não só as novas possibilidades comerciais para a Argentina e o escoamento da produção para o MS, como também a melhoria da infraestrutura da região paraguaia e a integração do Chaco ao restante do país. Para as autoras o interesse das comunidades locais, em particular do Chaco e das cidades brasileiras próximas à fronteira com o Paraguai “é que se intensifique prontamente o comércio, o turismo e as relações entre os países, de modo que o corredor possibilite a criação de novos empregos e a melhoria das condições de vida dessas populações” (Almeida; Teixeira; Figueira, 2019, p. 287ALMEIDA, Luciane Pinho Almeida; TEIXEIRA, Léia Lacerda Teixeira; FIGUEIRA, Kátia Cristina Nascimento. A importância do estudo dos impactos sociais junto às comunidades locais dos territórios que integram o Corredor Rodoviário Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20 n. 2, 2019.).

Nesse sentido, Miranda (2019, p. 212)MIRANDA, Maria Geralda; FRIEDE, Reis; AVELAR, Katia. Capital social e os desafios do Corredor Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20, n. 2, p. 211–24, abr./jun. 2019. afirma que o Corredor Bioceânico “poderá vir a ser elemento catalisador, para a região de Mato Grosso do Sul, incluído o município de Porto Murtinho, por transcender as fronteiras do regional, uma vez que cortará mais três países, isto é, Paraguai, Argentina e Chile.” O Corredor Rodoviário Bioceânico tem seu início em terras brasileiras (Campo Grande, MS) cruzando a ponte a ser construída entre Brasil e Paraguai, situada em Porto Murtinho, entrando em território paraguaio (Carmelo Peralta, Mariscal Estigarribia), em terras argentinas (Pozo Hondo, Jujuy, Salta, um pouco distante) e finalmente em terras chilenas (San Pedro de Atacama, Calama, Antofagasta, Iquique),

A INSERÇÃO NA UNIRILA

O I Seminário da Rota Bioceânica – Corredor Rodoviário Brasil- Paraguai- Argentina- Chile- Rota Porto Murtinho – Porto Norte do Chile ocorreu em 23 a 25 de outubro de 2017, em Campo Grande, MS. Nesta ocasião, as universidades brasileiras (MS) e estrangeiras representadas pelo Paraguai, Argentina e Chile assinaram um termo de compromisso intitulado “Carta de Campo Grande”, instrumento este formalizador do compromisso das IES participantes para atuação acadêmica ao longo do Corredor Bioceânico. Foi constituída então, neste evento, ocorrido no campus da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), a Rede Universitária referente à Rota de Integração Latino-americana (UniRila) e que reuniu o Governo do Estado e o Ministério das Relações Exteriores. Os principais objetivos acordados foram: a realização de um inventário de pesquisas e publicações das Universidades integradas à Rota, a elaboração de uma base de dados centralizada e a formulação de projetos que objetivassem a promoção do foram acordadas no âmbito da Rede Universitária da Rota Latinoamericana (UniRila) englobando as seguintes universidades: -Brasil: Universidade Católica Dom Bosco, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade Anhanguera-Uniderp; -Paraguai: Universidad Nacional de Asunción; -Argentina: Universidad Nacional de Salta, Universidad Católica de Salta, Universidad Nacional de Jujuy; e -Chile: Universidad Católica do Norte do Chile, Universidad de Antofagasta.

A criação da Rede Universitária relacionada à construção do Corredor Bioceânico objetivou a realização de trabalhos de pesquisa e extensão com a possibilidade de estreitar os laços existentes entre as universidades para se estabelecer um conhecimento maior sobre as realidades locais, além das possibilidades de: i) criação de redes temáticas em eixos de ensino, pesquisa, extensão e mobilidade; ii) estabelecimento de áreas prioritárias que deem apoio aos projetos ligado à Rila; iii) apoio e/ou desenvolvimento de projetos conjunto de pesquisa, publicações em coautorias; iv) consolidação de articulações entre as universidades brasileiras, paraguaias, argentinas e chilenas, constituindo-se, assim, a UniRila (Universidades da Rota de Integração Latino Americana); v) mapeamento das potencialidades de ensino, pesquisa e extensão entre as universidades participantes da UniRila; vii) identificação territorial das universidades e regiões que compõem a Rota Bioceânica desenvolvimento social.

Os representantes propuseram as seguintes linhas de ação:

  • (i) Formação da UniRila, por intermédio da construção de um arquivo oficial com a documentação existente até o momento, no qual seriam incorporadas as Resoluções das autoridades de cada instituição de se incorporar à rede;

  • (ii) Elaboração da regulamentação necessária para o funcionamento da UniRila (convênios e manuais de procedimentos);

  • (iii) Constituição de um comitê responsável da gestão da UniRila, formado pelos representantes de cada Universidade.

A Declaração de Brasília sobre o Corredor Bioceânico Rodoviário Centro-Oeste do Brasil e Portos do Chile foi assinada pelos presidentes dos países já relacionados em 21 de dezembro de 2017, Mauricio Macri-Argentina, Michel Temer-Brasil, Horácio Cartes – Paraguai e Heraldo Muñoz-Chile, ratificando o compromisso com o processo de integração regional, expressado pelo estímulo a uma melhor conexão entre seus países. O documento reafirmou a participação e a importante contribuição das universidades locais e da sociedade civil para o processo de implementação do Corredor Bioceânico, apoiando assim a constituição da Rede de universidades.

A universidade é assim o ambiente mais favorável para a proposição de alternativas inovadoras que possam convergir para os avanços culturais, articulando a teoria à prática, assim como ao desenvolvimento de ações críticas em experiências concretas. Pensar então em práticas inovadoras na universidade requer reflexão, ação e introdução de novidades em forma de potencializações de práticas com responsabilidades culturais, sociais e éticas, buscando, cada vez mais, a qualidade do ensino.

Ao afirmar o comprometimento com projetos inovadores para o desenvolvimento de relações de parcerias e corresponsabilidade, há necessidade então de que os pesquisadores docentes e discentes realizem o trabalho em equipe e compartilhem essas práticas inovadoras, para dar conta dos múltiplos desafios da docência e do processo de ensino e aprendizagem.

As práticas pedagógicas diferenciadas sejam inovadoras ou de ações potencializadoras do engajamento acadêmico precisam ser ampliadas no ensino superior envolvendo tanto os docentes como os discentes. Novos olhares para o ensino, pesquisa e extensão são sempre necessários, “uma produção de conhecimento que rompa fronteiras e se recrie e ressignifique constantemente, em face das realidades e mudanças da sociedade, dos processos de comunicação e de produção de vida material e da vida social e cultural” (Leite et al., 2003, p. 52-53LEITE, Denise; BRAGA, Ana Maria; FERNANDES, Cleoni; GENRO, Maria Elly; FERLA, Alcindo. A avaliação institucional e os desafios da formação do docente na universidade pós-moderna. In: MASETTO, M. T. Docência na universidade. Campinas, SP: Papirus, 2003, p. 39–56.).

Neste contexto, a universidade por meio de seus pesquisadores pode construir ambientes que favoreçam o desenvolvimento da cultura da criação e inovação. A formação profissional, nas mais diversas áreas, tem aberto possibilidades de uma diversificação de percursos de formação, de flexibilização curricular, de mobilidades nacionais e internacionais, a troca de conhecimento em interações docentes e discentes, ações estas fundamentais para os processos de inovação nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. É fundamental, portanto, abrir novas formas de investigação sobre processos de inovação que ocorrem no âmbito do ensino universitário.

Comunga deste pensamento Silva (2010, p. 193)SILVA, E. M. de P. Desenvolvimento tecnológico e inovação: nota sobre Pós-Graduação, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. In: BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020). Brasília, DF: CAPES 2010. p. 191–16. quando pondera que “[...] a universidade é a única instituição que dispõe do parque de equipamentos e congrega a gama de competências necessárias [...]” que podem promover condições de possibilidade para o desenvolvimento científico, o progresso econômico, a justiça social, a sustentabilidade, a preservação do ambiente e a inovação.

A cooperação internacional tornou-se mecanismo de intercâmbio de experiências e conhecimento cultural, além de técnico e científico. Nesse sentido, a Rota Bioceânica abrirá acesso às riquezas culturais, linguísticas e a um novo conhecimento sobre os nossos vizinhos latinos. A diversidade cultural rica não é algo visível, pronto para ser consumido ou apropriado, ela é uma “dinâmica compreendida apenas quando penetramos nos meandros dessa fronteira, quando tentamos ler as cidades para além dos panfletos e da forte propaganda turística (Duarte; Gonzales, 2013, p. 46DUARTE, Geni Rosa; GONZALEZ, Emilio. Música e músicos na tríplice fronteira (Brasil, Argentina, Paraguai. Tempo da Ciência, Toledo, v. 20, n. 39, 1º sem. 2013.).

Se pensarmos nas possibilidades de cruzarmos fronteiras em busca de conhecimentos, interações em busca de conhecimentos, experiências históricas e culturais, a região de fronteiras é um laboratório privilegiado de experiências sociais e de imaginação intelectual. Para Albuquerque (2009, p. 32)ALBUQUERQUE, José Lindomar C. Dinâmica das fronteiras: deslocamento e circulação dos “brasiguaios” entre os limites nacionais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 15, n. 31, p. 137–66, jan./jun. 2009., é um “espaço de encontros, mesclas, disputas, conflitos, assimetrias e diferenciações entre povos e nacionalidades distintas que foram se concentrando aqui durante estas décadas e foram produzindo outras tantas fronteiras”.

Com relação às perspectivas turísticas, a cultura é o principal atrativo dos turistas, tanto pelo patrimônio histórico, quanto pelas manifestações artísticas folclóricas que ali ocorrem. O turismo tem garantido fluxos de recursos aos municípios, que permitiram a revitalização do patrimônio histórico e cultural e, além disso, constitui-se com certeza, na principal fonte de renda dos municípios que têm estes atrativos. Algumas contribuições são inerentes à relação entre a cultura e o turismo: i) propiciar à comunidade local o seu empoderamento essencial para a construção de estratégias turísticas culturais; ii) a necessidade da participação da comunidade local na definição dos produtos culturais a serem oferecidos que representem a realidade cultural local e não estereótipos que em nada refletem a cultura.

A rede UniRila tem papel importante junto aos demais protagonistas da Rota Bioceânica, seja junto aos órgãos públicos ou iniciativas privadas, como um instrumento de representatividade de desenvolvimento humano e cultural, por possibilitar projetos inovadores intervenções e ações que serão representativas para o estado de Mato Grosso do Sul. Há uma necessidade imprescindível da Rede de universidades no tocante ao aprofundamento das relações e interações entre as universidades visando a transformações de tais instituições, com vistas a sistemas e redes de integração de pesquisas.

Os espaços passíveis de projetos de inovação são ricos nas universidades, principalmente voltados a experiências de pesquisas e extensão passando pelas relações e demandas das comunidades. Sendo assim, este estreitamento das relações que se inicia por conhecer primeiramente este universo de possibilidades que são as universidades da Rede se faz necessário: Conhecer> Observar> Analisar> Criar caminhos de potencialidades produtivas de inovação é o nosso compromisso para o nosso Estado e nossa universidade enquanto membros pertencentes desta Rede de universidades.

Por fim, convidamos os leitores para o deleite deste número temático parte 2, intitulado Dossiê III – “O papel da UniRila nos desafios da integração na Rota Bioceânica (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile)” – parte 2.

REFERÊNCIAS

  • ALBUQUERQUE, José Lindomar C. Dinâmica das fronteiras: deslocamento e circulação dos “brasiguaios” entre os limites nacionais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 15, n. 31, p. 137–66, jan./jun. 2009.
  • ALMEIDA, Luciane Pinho Almeida; TEIXEIRA, Léia Lacerda Teixeira; FIGUEIRA, Kátia Cristina Nascimento. A importância do estudo dos impactos sociais junto às comunidades locais dos territórios que integram o Corredor Rodoviário Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20 n. 2, 2019.
  • CASTRO, João Carlos Parkinson. Turismo como instrumento dinamizador do Corredor Rodoviário Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20, n. especial, p. 19–29, 2019.
  • DUARTE, Geni Rosa; GONZALEZ, Emilio. Música e músicos na tríplice fronteira (Brasil, Argentina, Paraguai. Tempo da Ciência, Toledo, v. 20, n. 39, 1º sem. 2013.
  • ITAMARATY. Declaração de Brasília Sobre Corredores Bioceânicos Brasília-DF, 21 dez. 2017. Notas à Imprensa. Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-imprensa/18097-atos-adotados-por-ocasiao-da-li-reuniao-do-cmc-e-da-li-cupula-de-chefes-de-estado-domercosul-e-estados-associados-brasilia-20-e-21-de-dezembro-de-2017. Acesso em: 19 jan. 2024.
    » http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-imprensa/18097-atos-adotados-por-ocasiao-da-li-reuniao-do-cmc-e-da-li-cupula-de-chefes-de-estado-domercosul-e-estados-associados-brasilia-20-e-21-de-dezembro-de-2017.
  • ITAMARATY. Declaração de Assunção Sobre Corredores Bioceânicos Brasília-DF, 21 dez. 2015. Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_integracao/DeclaracionBioceanicos_PT.pdf. Acesso em: 19 jan. 2024
    » http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_integracao/DeclaracionBioceanicos_PT.pdf.
  • LEITE, Denise; BRAGA, Ana Maria; FERNANDES, Cleoni; GENRO, Maria Elly; FERLA, Alcindo. A avaliação institucional e os desafios da formação do docente na universidade pós-moderna. In: MASETTO, M. T. Docência na universidade Campinas, SP: Papirus, 2003, p. 39–56.
  • MIRANDA, Maria Geralda; FRIEDE, Reis; AVELAR, Katia. Capital social e os desafios do Corredor Bioceânico. Interações, Campo Grande, MS, v. 20, n. 2, p. 211–24, abr./jun. 2019.
  • SEMINÁRIO DA REDE DE UNIVERSIDADES DA ROTA BIOCEÂNICA, 1. Campo Grande, MS, de 23 a 25 de outubro, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Disponível em: https://rotabioceanica.com.br/2017/10/i-seminario-da-rede-de-universidades-da-rota-bioceanica-ocorre-de-23-a-25-de-outubro/. Acesso em: 20 jul. 2023
    » https://rotabioceanica.com.br/2017/10/i-seminario-da-rede-de-universidades-da-rota-bioceanica-ocorre-de-23-a-25-de-outubro/.
  • SILVA, E. M. de P. Desenvolvimento tecnológico e inovação: nota sobre Pós-Graduação, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. In: BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) Brasília, DF: CAPES 2010. p. 191–16.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2024
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