1) Nuances religiosas associadas às práticas da agricultura familiar local |
A noção de agricultura familiar traduzida em uma leitura de base cristã |
“É, para você ter uma ideia, outro dia tinha uma pessoa que ia... eu falei que eu ia colher o açaí ali, né, aí ela... eu ia cortar o palmito, ia cortar mesmo, ‘Ah, não, que não sei o quê, que o senhor não pode fazer isso!’... eu falei ‘Como não posso? Se eu plantei eu posso colher, eu já plantei, já semeei lá para os altos, agora eu vou e corto aquela ali, ué, é assim que funciona’, não é? É bíblico... ‘Crescei e multiplicai-vos’, ‘Dominai todos os peixes, todas as árvores’”. (A2). |
2) O vínculo com a natureza |
A natureza é entendida como parte da vida e do cotidiano do agricultor |
“E só ficou na lavoura quem amava de verdade... aquele cara que não amava a planta, que não conversa com a planta, que não conversa com a natureza, ele simplesmente ele saiu...” (A1).
“Nós estamos dentro da natureza e a natureza ela está aqui para todos viverem dela”. (A2).
“Se não fosse... se o agricultor da região nossa fosse um agricultor devastador, num teria se criado a APA de Macaé de Cima na nossa região, porque ninguém ia começar a comprar sítio e plantar árvore. Criou-se a APA porque já existia uma preservação de mata muito grande como existe e uma preservação de nascente de rio e tudo mais que eu concordo que deve ser preservada e deve continuar essa preservação”. (A3).
“A área de preservação que sempre existiu, meu avô preservava uma mata, não deixava ninguém derrubar, e a mata tá lá até hoje, eu nunca vou ter vontade de derrubar ela porque é uma mata bonita, eu gosto, preservo a nascente, pra quê que eu vou fazer isso?” (A3).
“Eu cada vez mais eu respeito a natureza tudo, eu acabei de falar com você, eu já venho nisso, então eu já estou... eu converso com a natureza, eu estudo a natureza, eu tenho dias em que eu vejo coisas incríveis que ela oferece para a gente, então cada vez eu respeito ela mais, entendeu? Cada vez eu respeito ela mais”. (A1).
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3) Contexto de interação com o turista |
A agricultura familiar interpretada como elemento de resistência cultural, em um contexto de interação com o turista |
“Desde criancinha os pais da gente já sempre ensinaram a gente, a gente já planta o inhame, o milho, o broto de um camboatá ou de um jacateirão, aí a gente já vai mantendo ele crescendo... aí já vai vindo a capoeira, a gente mesmo vai fazendo a capoeira, e o turista não sabe disso, ele não está aí no dia a dia para saber disso... (A2)”.
“Eu acho que o turismo é uma forma só de aumentar a renda das pessoas na região... aí o agricultor fica meio receado que o turista pode denunciar ou o que o turista pode falar ou você tá queimando alguma coisa que a queimada no Estado do Rio de Janeiro é proibida, aí você vê um turista, você vê que é uma pessoa que não é morador, você também fica receado, pô... será que ele não vai me denunciar? Será que ele acha essa prática... será cumé que ele entende a prática de queima?” (A3).
“Eles vão logo pegam o celular e denunciam a gente que está roçando, mas a gente não sabem que a gente está precisando na verdade...” (A1).
“Deixem a gente plantar, é só o que a gente sabe fazer; se a gente for retirado, daí a gente vai morrer de fome, é igual tirar o peixe fora da lagoa” (A1).
“Convivi com o turismo desde quando eu era criança, eu estudava aí durante a semana, eu estudava na escola, aí depois da escola eu ajudava o meu pai na roça, aí final de semana do lado da minha casa tem casa de turista, aí eu tinha amigos, né, que eram do Rio de Janeiro e que vinham para cá quase todo final de semana, aí eu já tinha contato com esses turistas desde criança”. (A3).
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