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Revistas de comunicação brasileiras registram a pesquisa sobre rádio (2002-2012)

Revistas de Comunicación brasileñas registran la investigación en la radio (2002-2012)

Resumo

O artigo traça um panorama dos textos sobre o rádio publicados em revistas brasileiras da área da Comunicação classificadas como Qualis A2 e B1 pela CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e verifica os conteúdos preponderantes, os principais autores e as referências bibliográficas mais utilizadas. Pretendeu-se, assim, ter uma visão mais precisa do espaço ocupado pelo rádio nas publicações científicas da área. Para a composição do corpus, foram selecionados aqueles em que o título, o resumo e as palavras-chave indicassem a vinculação com o tema “rádio”. Verificou-se que esses periódicos têm um papel relevante no registro histórico da pesquisa sobre o rádio e que revelam um olhar crítico dos pesquisadores sobre a temática radiofônica e a sua relação com a sociedade.

Palavras chave
Rádio; Revistas de Comunicação; Pesquisa; Produção científica

Resumen

El artículo proporciona una visión general de los textos sobre la radio publicados en revistas del área de Comunicación de Brasil clasificadas como Qualis A2 y B1 por la CAPES – Coordinación de Formación de Personal de Educación Superior – y comprueba el contenido predominante, los principales autores y las referencias bibliográficas más utilizadas. Se pretende así tener una visión más precisa del espacio ocupado por la radio en las publicaciones científicas. Para la elección de los textos, fueron seleccionados aquellos en que el título, el resumen y las palabras clave indicaran el vínculo con la temática de la radio. Se encontró que las publicaciones tienen papel relevante y que revelan una mirada crítica de los investigadores en el tema de la radio y su relación con la sociedad.

Palabras clave
Radio; Revistas de Comunicación; Investigación; Producción científica

Abstract

The article provides an overview of the texts about radio broadcasting published in Brazilian journals in the Communication area classified as Qualis A2 and B1 by CAPES – Coordination of the Higher Education Personnel Training – and checks the predominant content, the main authors and bibliographic references commonly used. It was intended to thus have a more accurate view of the space occupied by the radio broadcasting in the area of the scientific publications. In order to collect the texts for the composition of the corpus for the analysis, search results including tittle, summary and keywords indicating a connection with the theme “radiobroadcasting” were selected. It was found that these journals have an important role in the historical research about radio and reveal a critical look of the researchers on the radio broadcasting theme and its relationship with society.

Keywords
Radiobroadcasting; Communication journals; Research; Scientific production

Introdução

As revistas científicas de Comunicação constituem-se em espaços privilegiados por onde escoa a produção dos pesquisadores da área1. Representam, desta forma, o local qualificado para a busca de referenciais para outros autores e demais pessoas interessadas pelo tema. Esses periódicos, portanto, “são fonte de atualização dos conhecimentos e meio de informação privilegiado sobre as pesquisas em andamento, gerando uma lista de publicações que servem de referência para a maioria das instâncias acadêmicas” (BOUZON; OLIVEIRA, 2015BOUZON. Arlette; OLIVEIRA, Ivone de Lourdes de. As revistas científicas de Comunicação Organizacional e suas marcas epistemológicas: um estudo comparativo entre França e Brasil. Intercom-Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, Intercom, v.38, n.1, p.129-149, jan./jun. 2015., p.131). Para as autoras,

as revistas qualificadas adquirem o poder de definir normas e modos de cada disciplina, pela sua referência e pelo seu posicionamento teórico-metodológico, sua visão de mundo, seus limites, seus paradigmas, suas temáticas, seus métodos. Esses fatores levam à aceitação ou recusa dos artigos, determinando o valor das pesquisas trabalhadas e determinando os que – pelo acordo de publicação – são dignos de interesse ou não. Assim, é gerada uma visão de cada disciplina, que pode se impor como dominante, pois se torna normalizadora, já que orienta e canaliza as evoluções (BOUZON; OLIVEIRA, 2015BOUZON. Arlette; OLIVEIRA, Ivone de Lourdes de. As revistas científicas de Comunicação Organizacional e suas marcas epistemológicas: um estudo comparativo entre França e Brasil. Intercom-Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, Intercom, v.38, n.1, p.129-149, jan./jun. 2015., p.131-132).

Por outro lado, conforme salienta Izquierdo (19962 2 IZQUIERDO, Ivan. A publicação de trabalhos científicos. Resumo da palestra proferida na 13ª Jornada Sul-Riograndense de Biblioteconomia e Documentação. Porto Alegre, 1996. apudCAPPARELLI; STUMPF, 1997CAPPARELLI, Sérgio; STUMPF, Ida R.C. Pós-Graduação em Comunicação no Brasil: um campo em desenvolvimento. In: LOPES, M.I.V.; MELO, J.M. (Orgs.). Políticas regionais de comunicação. Os desafios do Mercosul. Londrina: UEL/Intercom, 1997. p.267-284., p.275), “o produto visível, concreto da atividade científica é o assim chamado trabalho científico: o texto detalhado, descrevendo a inserção do achado ou (dos) achados no contexto da bibliografia internacional, os métodos utilizados, os resultados, sua discussão e as conclusões pertinentes, se houver”.

Neste sentido, o presente artigo traz o panorama dos trabalhos científicos relativos ao rádio publicados nas revistas de Comunicação brasileiras, no período de 2002-2012. No total, foram identificados 152 textos, sendo 143 artigos, sete resenhas e duas entrevistas, de 28 periódicos. Como Qualis A2, a CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, indica sete revistas da área, e 28 como B13 3 A CAPES define como Qualis A2 os periódicos de instituições que contem com Programas de Pós-Graduação stricto sensu ou de Sociedade Científica de âmbito nacional ou internacional reconhecida pela área, ou com apoio da CAPES, CNPq ou financiamento estatal; publicação em dia (atualizada), com presença em bases de dados: LATINDEX, REDALYC e DOAJ, CMMC, LAPTOC, SCIELO, SCOPUS ou similar. A revista deve publicar pelo menos 40% dos artigos, por volume, com autores ou co-autores estrangeiros. No caso das B1, as publicações devem contar com, pelo menos, 10% de artigos com autores ou co-autores estrangeiros e 70% pelo menos, de autores doutores, entre outras exigências. , sendo que das A2, todas apresentam textos sobre rádio no período analisado. As revistas foram selecionadas por serem referência na área da Comunicação, melhor pontuadas pelo sistema de avaliação Qualis Periódicos da CAPES. As categorias para análise foram selecionadas a partir da repetição das mesmas, à medida em que foram sendo identificadas nos textos, e através das palavras-chave indicadas pelos autores 4 4 Colaborou com a pesquisa a estudante de Jornalismo e bolsista de Iniciação Científica CNPq/PUCRS, Niágara Reinaldo Braga. E-mail: niagara.r.braga@gmail.com .

O estudo anterior e o estado da arte

Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla em desenvolvimento pela autora5 5 O estudo atual intitula-se A pesquisa sobre rádio no Brasil: artigos, teses e dissertações. Conteúdos e metodologias e é desenvolvido com Bolsa PQ/CNPq. Os resultados parciais do mesmo têm sido apresentados, por partes, em eventos da área como o da Rede Alcar 2015 e o XIII Seminário Internacional da Comunicação (2015) do PPG em Comunicação social da PUCRS. e que dá prosseguimento a outra, anterior, denominada A produção científica sobre o rádio no Brasil: livros, artigos, teses e dissertações (1991-2001), finalizada em 2003, na qual foi feito um amplo levantamento da produção daquele período. Dos resultados constam dados quantitativos sobre o tema, prevalência de conteúdos e a inserção dentro do campo da Comunicação (HAUSSEN, 2004HAUSSEN, Doris Fagundes. A produção científica sobre o rádio no Brasil: livros, artigos, dissertações e teses (1991-2001). Revista Famecos, Porto Alegre, PUC-RS, n.25, p.119-126. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.).

A revisão efetuada para a pesquisa indicou, naquele momento, a existência de um levantamento sobre obras publicadas até 1990, realizado pela pesquisadora Sonia Virginia Moreira, que resultou no livro O rádio no Brasil (2000). A mesma autora, em conjunto com Nélia Del Bianco, publicou, ainda, um artigo intitulado A pesquisa sobre o rádio no Brasil nos anos oitenta e noventa (LOPES, 1999LOPES, Maria Immacolata V. de. Vinte anos de ciências da comunicação no Brasil. São Paulo: Intercom, 1999.) em que identificou 21 títulos sobre o veículo (1990-1998). Um levantamento inicial sobre a produção do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora, da INTERCOM, foi realizado por Del Bianco e Zuculoto (1996)BIANCO, Nelia del; ZUCULOTO, Valci. Memória do GT de Rádio da Intercom: seis anos em defesa do rádio (1991-1996). In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom, 1996, São Paulo. Anais... São Paulo: 1996. 1 CD. e apresentado em CD com o título Memória do GT Rádio da Intercom: seis anos de pesquisa em defesa do rádio (1991-1996). Atualizando-se estes dados verificou-se que, em 2005, Sonia Virginia Moreira publicou Pesquisa de rádio no Brasil: a contribuição da Intercom (1997 - 2004) e, em 2008, o artigo Rádio, em que faz um minucioso levantamento da publicação bibliográfica sobre o tema. Neste último, a autora refere-se a “125 textos, a maioria livros, mas também capítulos e artigos em revistas científicas” (MELO, 2008, p.129). No mesmo ano, KLÖCKNER (2008)KLÖCKNER, Luciano. A produção gaúcha de teses e dissertações (2002-2008). Anais ... 6º Encontro Nacional da Rede Alcar, realizado na Univeeresidade Federal Fluminense, Niterói, 2008. apresentou levantamento sobre teses e dissertações defendidas por autores gaúchos, no 6º Encontro Nacional da Rede Alcar, realizado na Universidade Federal Fluminense. Por outro lado, Luiz Artur Ferraretto publicou, em 2010, texto sobre rádio e convergência digital em que também se refere a esta produção. Na mesma linha, Prata, Campello, Moura e Fialho (2011)PRATA, Nair et al. Estudos sobre o rádio na academia – o caso de Belo Horizonte. In: MOREIRA, Sonia V.(Org.). 70 anos de radiojornalismo no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, v.1, p.363-376, 2011. analisaram os estudos sobre rádio nas instituições de ensino superior de Belo Horizonte.

No Congresso da INTERCOM 2011, esta autora proferiu palestra no GP Rádio e Mídia Sonora em que atualizava, até 2010, os dados quantitativos em relação às teses e dissertações, verificando que 123 tinham sido apresentadas nos PPG em Comunicação brasileiros, sendo 30 teses e 93 dissertações (no período 1991-2001 tinham sido 106, das quais 90 dissertações e 16 teses). Observou-se, então, que, somando-se ao período anterior, entre 1991 e 2010, foram defendidas 229 teses e dissertações relativas ao rádio nos PPG em Comunicação brasileiros (HAUSSEN, 2011_______. Trajetória da Pesquisa em Rádio no Brasil. Entrevista. Revista Radio-Leituras, Ouro Preto, UFOP, a. II, n.2, p.107-115, julho/dezembro, 2011.). Sobre os estudos mais recentes, pode-se citar o de Lopez; Mustafá (2012)LOPEZ, Débora Cristina; MUSTAFÁ, Izani. Pesquisa em rádio no Brasil: um mapeamento preliminar das teses doutorais sobre mídia sonora. Revista Matrizes, São Paulo, ECAC-USP, v.6, n.1, p.189-205, 2012., sobre as teses de doutorado defendidas nos Programas de Pós-Graduação, e o de Prata; Mustafá; Pessoa (2014)PRATA, Nair; MUSTAFÁ, Izani; PESSOA, Sonia C. Teóricos e pesquisadores de rádio no Brasil. Revista Brasileira de História da Mídia (RBHM), São Paulo, v.3, n.1, p.65-82, jan.-jun/2014., que aborda os pesquisadores de rádio no Brasil.

Ao se analisar esta produção, observa-se que os integrantes do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da INTERCOM têm tido a preocupação de realizar uma atualização constante sobre a mesma, o que se configura em uma memória e um repositório importantes para o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre o veículo.

Conteúdos, autores, referências

As revistas analisadas para a pesquisa (e utilizadas neste artigo) e o número de trabalhos publicados no período 2002-2012 são os seguintes:

Quadro 1
Número de artigos, resenhas e entrevistas por revistas A2
Quadro 2
Número de artigos, resenhas e entrevistas por revistas B1

Em relação ao conteúdo dos textos, no total das revistas A2 e B1, observouse, portanto, no período 2002-2012, a preponderância das temáticas relativas às rádios comunitárias, com 23 textos, às tecnologias radiofônicas, com 19; seguidas pelo Jornalismo (15), pelas políticas públicas/legislação (13) e pelos estudos de recepção/mediações (11), além de outras menos referenciadas.

Quadro 3
Temáticas mais presentes em Revistas Qualis A2 e B1

Dentre os 28 trabalhos das revistas A2, foram verificados 13 assuntos, dos quais a temática da recepção/mediações aparece em primeiro lugar, com cinco textos, seguida pelo tema das rádios comunitárias, da educação e da música com três, cada. Na sequência, a pesquisa, as teorias e a política, com dois textos cada, além de outras menos presentes.

Em relação às 21 revistas Qualis B1, observou-se a incidência de 20 temas, verificando-se a preponderância da temática relativa às rádios comunitárias (20 artigos), tecnologias radiofônicas (19), Jornalismo (15) e, na sequência, a que se refere às políticas públicas/legislação (12), pesquisa (9) e à recepção/mediações (8 artigos), além de outras.

Ao se traçar um comparativo com a produção relativa aos anos 1991-2001, verificase que houve um deslocamento do interesse no que se refere aos conteúdos. Naquele momento, o tema que mais chamava a atenção era o da história do rádio seguido pelo da política. Nos dez anos seguintes (2002-2012), a preponderância foi a de estudos sobre as rádios comunitárias e as tecnologias de comunicação. Este último não despertava grande interesse por parte dos pesquisadores, o que aponta para uma mudança importante em direção à questão tecnológica nos últimos anos. Por sua vez, o tema das rádios comunitárias já estava presente naquele período, apesar de não ter ainda a força das últimas publicações. Os conteúdos referentes ao Jornalismo apresentam certo equilíbrio em relação ao anterior, e a temática da recepção/mediações também apresentou um crescimento importante. Chama a atenção, portanto, o declínio do interesse, por parte dos pesquisadores, sobre os temas relativos à história e à política que eram preponderantes no período anterior.

Sobre os conteúdos de história, observa-se que nos anos 90 houve um crescimento dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação no país, assim como a criação do Grupo de Pesquisa de Rádio da INTERCOM o que certamente impulsionou este tipo de estudo. Até então, as publicações sobre o tema eram, principalmente, de radialistas que contavam as suas histórias, além de poucos trabalhos realmente frutos de pesquisa. A preocupação com a recuperação da memória sobre o rádio foi uma motivação importante para essa produção. Já em relação ao interesse pelas questões das tecnologias radiofônicas, é oportuno lembrar o que apontam Berger e Machado (2013, p.254)BERGER, Christa; MACHADO, Felipe V.K. A trajetória das teorias da comunicação no Brasil. In: BARBOSA, Marialva; MORAIS, Osvando J. de. (Orgs.). Comunicação em tempo de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades. São Paulo: Intercom, 2013. p.243-259.:

é a tecnologia, com as suas possibilidades de produção, de consumo, e de repercussão na organização da vida em sociedade, que tem provocado novas perguntas e novos modos de fazer pesquisa, assim como uma reflexão sobre o lugar das teorias que nos fundaram, agora, diante deste novo cenário.

A respeito das modificações que as pesquisas sobre rádio vêm apontando, Haye (2003, p.227)HAYE, Ricardo M. Otro siglo de rádio. Noticias de un medio cautivante. Buenos Aires: La Crujía, 2003. lembra que as mesmas “guardam estreita relação com as perspectivas de abordagem hegemônicas a partir das quais a comunicação adquiriu interesse científico e, também, pelos condicionamentos que costumam impor os contextos sociopolíticos em que os estudos se desenvolvem”. De qualquer forma, o que realmente se destaca, segundo o autor, é que

O rádio continua sendo uma experiência que habilita a realização de outras análises acerca da participação de diferentes gêneros em sua programação, as razões que sustentam a credibilidade de uma emissora (ou de uma audição ou de um (a) comunicador (a) em particular), os usos que fazem os ouvintes com a oferta radiofônica, a capacidade atual do meio para intervir na constituição da temática de seu público, etc. [...] o rádio oferece estimulantes possibilidades de pesquisa, sobretudo em um tempo como o atual, em que ocorrem modificações tão intensas na geografia massmidiática e comunicativa em geral (HAYE, 2003HAYE, Ricardo M. Otro siglo de rádio. Noticias de un medio cautivante. Buenos Aires: La Crujía, 2003., p.228-229 – Tradução nossa).

Em relação aos autores que mais publicaram nas revistas de Comunicação A2 e B1, entre 2002 e 2010, estão: Marcelo Kischinhevsky (9 textos), Debora Lopez (7), Luiz Artur Ferraretto (6), Doris Haussen e Clóvis Reis (5), Nélia Del Bianco e Otavio Pierante (4). Com três artigos constam: Cicília Peruzzo, Eduardo Meditsch, Nair Prata, Cida Golin, Leandro Comassetto e Silvia Nogueira, além de outros autores com dois ou um artigo publicado. Observa-se, portanto, uma presença importante de autores pertencentes ao Grupo de Rádio e Mídia Sonora da INTERCOM, apontando para a relevância desse grupo no aporte aos estudos sobre a temática.

Quadro 4
Número de artigos por autor

No que se refere às referências bibliográficas, é interessante lembrar as observações de Martino (2014, p.163)MARTINO, Luís M.de Sá. Trilhas de um espaço de pesquisa: o GT Epistemologia da Comunicação da Compós. Revista ESPM – Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, a.II vol.II, n.31, p.159-177, maio/ago de 2014. quando diz que “a aferição dos lugares de fala a partir das citações de outros autores permite formar um índice a partir da materialidade desse discurso na escrita dos textos”. Mas ele salienta, ainda, os cuidados necessários sobre a quantidade de vezes em que um autor aparece que “não pode ser tomada como um retrato de sua apropriação, posto que a divisão não é horizontal, isto é, pelo número de artigos em que é citado, e um autor pode ter diversas obras citadas em apenas um artigo” (MARTINO, 2014MARTINO, Luís M.de Sá. Trilhas de um espaço de pesquisa: o GT Epistemologia da Comunicação da Compós. Revista ESPM – Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, a.II vol.II, n.31, p.159-177, maio/ago de 2014., p.163).

Destacando Ferrara (2013, p.8)FERRARA, L. D’A. A epistemologia de uma comunicação indecisa. In: 21º Encontro da Compós, promovido pela Associação Brasileira dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação/UFBA, Salvador, Junho de 2013., o autor lembra que as menções conceituais examinadas exclusivamente enquanto materializadas nas referências “podem indicar ‘rastros’ referidos, simultaneamente, ao presente observado e às perguntas feitas ao mesmo objeto no passado” (apudMARTINO, 2014MARTINO, Luís M.de Sá. Trilhas de um espaço de pesquisa: o GT Epistemologia da Comunicação da Compós. Revista ESPM – Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, a.II vol.II, n.31, p.159-177, maio/ago de 2014., p.163).

Neste sentido, os autores com mais de dez citações nos textos analisados foram Eduardo Meditsch (38 citações), Arthur Ferraretto (28), Sonia Virginia Moreira (25), Cebrián Herreros (24), Gisela Ortriwano (22), Cicilia M.Krohling Peruzzo (19), Nelia Bianco (20), Barbosa Filho (18), Marques de Melo (16), Kischinhevsky (15), Balsebre, Martin-Barbero e Garcia Canclíni (13), Haussen e Levy (12), Herschmann (11), e Prata, Martínez-Costa, Brecht, Castells, Thompson e Ortiz (10), além de vários outros com menos referências.

Quadro 5
Autores mais citados

Na análise efetuada por Martino (2014)MARTINO, Luís M.de Sá. Trilhas de um espaço de pesquisa: o GT Epistemologia da Comunicação da Compós. Revista ESPM – Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, a.II vol.II, n.31, p.159-177, maio/ago de 2014. a respeito dos textos apresentados no GT Epistemologia da Comunicação, da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), foi verificado que havia uma “pluralidade de origem dos discursos apropriados na discussão epistemológica da Comunicação”, e que as referências utilizadas eram, na maioria das vezes, de outras áreas, levando à pergunta “em que medida se está trabalhando com um objeto propriamente comunicacional?” (MARTINO, 2014MARTINO, Luís M.de Sá. Trilhas de um espaço de pesquisa: o GT Epistemologia da Comunicação da Compós. Revista ESPM – Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, a.II vol.II, n.31, p.159-177, maio/ago de 2014., p.164).

Na questão específica das referências utilizadas nos artigos sobre rádio, publicados nas revistas de Comunicação, percebe-se uma forte adesão à área, como se pode observar pelos autores mais citados. Outra observação refere-se aos autores de áreas mais abrangentes presentes nas referências, em que prevalecem os da cultura, como Martin Barbero, Garcia Canclíni, Renato Ortiz e John Thompson, os das tecnologias, como Pierre Levy e Manuel Castells, e os de Jornalismo, representados por Marques de Melo e Meditsch. Pode-se dizer, assim, que os estudos sobre rádio priorizam, em sua base teórica, principalmente as questões de cultura, tecnologia e Jornalismo, de uma maneira ampla, além dos conteúdos específicos, como abordado anteriormente. No entanto, é sempre bom estar atento ao contexto em movimento, como salienta Martino (2014, p.173)MARTINO, Luís M.de Sá. Trilhas de um espaço de pesquisa: o GT Epistemologia da Comunicação da Compós. Revista ESPM – Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, a.II vol.II, n.31, p.159-177, maio/ago de 2014.:

As questões específicas de discussão de conceitos e teorias, bem como de objetos e estudos de caso, lembram que os problemas epistemológicos não acontecem fora de uma história, de um contexto de transformações sociais em um sistema econômico e político específico, que ao colocar situações novas, abre novos horizontes para as práticas sociais humanas, dentre as quais a Comunicação. À medida que novos objetos de reflexão aparecem, demandando teorias e conceitos que permitam sua compreensão, aparece igualmente uma busca pelas fundamentações, limites e possibilidades desses referenciais.

Considerações finais

O panorama da produção sobre o rádio nas revistas de Comunicação brasileiras aponta, assim, para uma abordagem que reflete os interesses da própria sociedade no período analisado e o olhar dos pesquisadores da área sobre os mesmos. Ao se observar os conteúdos reunidos, verifica-se que há alterações no interesse dos pesquisadores, ao longo do período, o que revela a evolução do contexto mais amplo. Um desses temas, o relativo às tecnologias, por exemplo, que se faz bastante presente, indica, também, conforme Sevcenko (2001SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI – no loop da montanha-russa. São Paulo, Companhia das Letras, 2001.apudBERGER; MACHADO, 2013, p.257)BERGER, Christa; MACHADO, Felipe V.K. A trajetória das teorias da comunicação no Brasil. In: BARBOSA, Marialva; MORAIS, Osvando J. de. (Orgs.). Comunicação em tempo de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades. São Paulo: Intercom, 2013. p.243-259., que “a crítica, portanto, é a contrapartida cultural diante da técnica, é o modelo de a sociedade dialogar com as inovações, ponderando sobre o seu impacto, avaliando seus efeitos e perscrutando seus desdobramentos”.

Num certo sentido, é o que revelam os textos sobre rádio nesses periódicos: um olhar crítico sobre as questões da Comunicação referentes à abrangência radiofônica e as suas implicações, além de um esforço dos pesquisadores que procuram deixar um registro dessa caminhada. Por outro lado, estas revistas representam, também, um local de memória da produção científica sobre este veículo de comunicação, tão representativo no século 20 e que agora se expande para outras plataformas tecnológicas oferecendo um grande painel do que é significativo para a sociedade.

  • 1
    Este texto foi revisado e ampliado para a revista e apresentado, com alterações, no XIII Congresso da ALAIC – Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação, na cidade do México, em outubro de 2016
  • 2
    IZQUIERDO, Ivan. A publicação de trabalhos científicos. Resumo da palestra proferida na 13ª Jornada Sul-Riograndense de Biblioteconomia e Documentação. Porto Alegre, 1996.
  • 3
    A CAPES define como Qualis A2 os periódicos de instituições que contem com Programas de Pós-Graduação stricto sensu ou de Sociedade Científica de âmbito nacional ou internacional reconhecida pela área, ou com apoio da CAPES, CNPq ou financiamento estatal; publicação em dia (atualizada), com presença em bases de dados: LATINDEX, REDALYC e DOAJ, CMMC, LAPTOC, SCIELO, SCOPUS ou similar. A revista deve publicar pelo menos 40% dos artigos, por volume, com autores ou co-autores estrangeiros. No caso das B1, as publicações devem contar com, pelo menos, 10% de artigos com autores ou co-autores estrangeiros e 70% pelo menos, de autores doutores, entre outras exigências.
  • 4
    Colaborou com a pesquisa a estudante de Jornalismo e bolsista de Iniciação Científica CNPq/PUCRS, Niágara Reinaldo Braga. E-mail: niagara.r.braga@gmail.com
  • 5
    O estudo atual intitula-se A pesquisa sobre rádio no Brasil: artigos, teses e dissertações. Conteúdos e metodologias e é desenvolvido com Bolsa PQ/CNPq. Os resultados parciais do mesmo têm sido apresentados, por partes, em eventos da área como o da Rede Alcar 2015 e o XIII Seminário Internacional da Comunicação (2015) do PPG em Comunicação social da PUCRS.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2016

Histórico

  • Recebido
    10 Fev 2016
  • Aceito
    17 Set 2016
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