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Programas de pós-graduação em Química no Brasil

EDITORIAL

Programas de pós-graduação em química no Brasil

Pesquisa, desenvolvimento e inovação - PDI - são requisitos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer país e há uma relação íntima entre o nível de desenvolvimento de uma sociedade e sistemas científicos e tecnológicos que proporcionem um suprimento contínuo de recursos humanos e produtos de alta tecnologia.

No Brasil, PDI está fortemente ligado aos esforços dos programas de pós-graduação e, embora atingindo uma pequena parcela de um país continental extremamente heterogêneo, atingimos, em 2010, o considerável número de 2.840 programas de pós-graduação com Mestrado e/ou Doutorado. Nesse mesmo ano, 39.590 alunos de pós-graduação terminaram o Mestrado e 11.314, o Doutorado.

Esses números evidenciam um aumento considerável, embora se refiram a uma pequena parcela da população. Considerando-se a publicação de artigos, em 2009, chegamos a 31.158 publicações, o que representa 2,7% da produção científica mundial. Vale a pena ressaltar que, em 1970, o Brasil publicou 64 artigos, 0,019% da produção científica mundial.1

Em Química, temos 58 programas de pós-graduação, a maioria deles oferecendo Mestrado e Doutorado e apenas dois oferecendo cursos de Mestrado Profissional. Esses programas estão espalhados por todo o território brasileiro, mas relativamente concentrados no Sul e Sudeste e relativamente escassos no Norte e Centro-Oeste, com quatro estados (Acre, Amapá, Rondônia e Tocantins) sem nenhum programa. Entre 2007 e 2009, esses programas formaram, por ano, cerca de 800 Mestres e 450 Doutores, o que reflete o esforço de 1.250 docentes. Durante esse período de três anos, 10.475 artigos foram publicados, com 62% deles apresentando, pelo menos, um aluno como co-autor.

Todos esses aspectos são continuamente discutidos e, a cada três anos, a CAPES avalia todos os programas de pós-graduação, que, atualmente, englobam 3.700 programas dentro do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A avaliação tem, pelo menos, duas funções principais: determinar onde estamos e possibilitar reflexões sobre as ações que nos levarão aonde queremos chegar.

O processo de avaliação engloba cinco eixos principais: (1) Proposta do Programa; (2) Corpo Docente; (3) Corpo Discente; (4) Produção Intelectual e (5) Integração com a Sociedade. Em cada eixo, os parâmetros são medidos com base em dados qualitativos e quantitativos. Esse é um processo complexo que envolve a comunidade científica de cada e de todos os campos de conhecimento.

O processo é realmente difícil, pois a pós-graduação nas diferentes regiões do país apresenta especificidades que são cuidadosamente consideradas, daí a organização do trabalho em comissões com membros de todas as regiões. Na área de Química, temos encontros anuais com Coordenadores de cada programa de pós-graduação e todos os parâmetros aplicados são discutidos, sendo suas implicações integralmente consideradas. Os objetivos principais são: manter a qualidade daqueles programas que, ao longo dos anos, alcançaram um padrão de qualidade internacional e, ao mesmo tempo, criar estratégias para ajudar o desenvolvimento dos programas em processo de implementação e consolidação.

A sistematização do processo de avaliação nas três últimas décadas foi um dos fatores fundamentais para a evolução do Sistema Nacional de Pós-Graduação e uma diretriz importante para o estabelecimento de metas e objetivos.

Atualmente estamos em pleno processo de avaliação de outro período de três anos: 2010-2012 e a CAPES está mais uma vez coordenando toda a estrutura com uma equipe de 1.200 consultores em 48 áreas. No que concerne à Química, uma Comissão de 22 membros, representando todas as regiões do Brasil, atua no processo e conta com o importante subsídio da comunidade ao longo dos últimos anos. Novamente, os objetivos são evidenciar os avanços no período e estabelecer as diretrizes para o desenvolvimento contínuo.

Vislumbrando o futuro, precisamos discutir o papel dos Cursos de Mestrado Profissional na área de Química. Até o momento, temos dois cursos relativamente recentes, ambos localizados no Estado São Paulo, e precisamos discutir se devemos intensificar nossos esforços para continuar apoiando o desenvolvimento de nossa indústria química.

Recentemente, Wongtschowski enfatizou que não existe país desenvolvido sem uma forte indústria química.2 Ele também salientou que, apesar de ter atingido uma receita de 159 bilhões de dólares, a indústria química brasileira apresentou, em 2011, um déficit comercial de 26,9 bilhões de dólares. Apenas para apresentar um panorama geral sobre a evolução dos Cursos de Mestrado Profissional em todas as áreas, há atualmente, no Brasil, 547 deles, com uma taxa de crescimento de 146% nos últimos cinco anos.3

Pinto também abordou a urgência da discussão acerca de um programa de pós-graduação profissional para a formação de professores.4 O momento é apropriado para aprofundar essas reflexões e ampliar nossas ações.

Todos esses esforços para avançar devem estar intimamente conectados com a consolidação do sistema brasileiro de educação primária e secundária. É difícil tentar predizer o futuro, mas todos nós concordamos que não há futuro sem educação de qualidade.

Joaquim A. Nóbrega

Editor do JBCS

Referências

  • 1. de Almeida, E. C. E. ; Guimarães, J. A. ; A pós-graduação e a evolução da produção científica brasileira; Editora SENAC, São Paulo, Brazil, 2013
  • 2. Wongtschowski, P.; J. Braz. Chem. Soc 2012,23,1957.
  • 3. Oliveira, F. C. C.; Personal Communication.
  • 4. Pinto, A. C.; J. Braz. Chem. Soc 2012,23,1410.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Out 2013
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