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Fixação de Doutores

EDITORIAL

A Índia depois de sofrer durante anos com a emigração de seus melhores quadros acadêmicos, começa, a exemplo da China e de Cingapura, a promover o retorno de muitos doutores que foram contratados pelas grandes corporações farmacêuticas internacionais, para ocuparem posições destacadas nas indústrias farmacêuticas indianas, cada vez mais competitivas. É bem verdade que o número de doutores brasileiros que foram para o exterior não pode ser comparado com o da Índia e nem com o da China, até porque os doutores em Química titulados no Brasil, até cinco anos atrás, eram absorvidos pelas universidades públicas brasileiras. Isto já não vem ocorrendo e tende a se agravar na medida em que mais doutores forem sendo formados e diante da agressividade das nações ricas em contratarem nossos melhores quadros acadêmicos, para não perderem sua supremacia científica e competitividade industrial. Esta é uma das razões de alguns dos recentes acordos assinados entre o governo dessas nações com o governo brasileiro, como o duplo diploma, válido tanto para os de graduação como os de pós-graduação, nos países signatários do acordo.

O que para um estudante brasileiro é um prêmio em ter seu diploma reconhecido e, assim, poder exercer sua profissão num país desenvolvido, graças a sua capacidade intelectual, pode ser um grande desastre para o Brasil ao ver todo investimento desperdiçado naquilo que um país tem de melhor, seus cérebros. Ao se olhar para o crescimento populacional dos países da União Européia, e o número reduzido de jovens que optam pelas carreiras científicas nos países desenvolvidos, não é difícil antever o que nos espera em futuro próximo, se não forem traçadas estratégias para a fixação, no País, de nossos doutores.

Algumas iniciativas nesse sentido vêm sendo feitas, como, por exemplo, o PROFIX (Programa Especial de Estímulo à Fixação de Doutores) pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e o PRODOC (Programa de Apoio a Projetos Institucionais com a Participação de Recém-Doutores) pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Essas iniciativas apesar de excelentes representam muito pouco, principalmente, para uma área como a de Química, que no ritmo em que vem crescendo, titulará em 2010, mais de 500 doutores. O que então deve ser feito para não interromper esse processo de crescimento, que caso aconteça trará sérios prejuízos para a química brasileira?

Por exemplo, por que não criar um grande programa específico de bolsas de pós-doutorado (PD), além das diferentes modalidades de bolsas de pós-doutorado do CNPq (PD Empresarial, PD Junior e PD Sênior), que beneficie as empresas farmacêuticas e químicas que vêm investindo e tem planos de expansão para seus setores de Pesquisa & Desenvolvimento? O número dessas bolsas não pode, no entanto, ficar restrito a uma ou duas por empresa, bem como deverão ter um valor atrativo e compatível com o nível de um doutor. Vai haver casos em que será necessário, não uma ou duas, mas um pacote de bolsas. Isto, além de não exigir grandes investimentos, é uma ação portadora de futuro. Estas bolsas devem, no entanto, premiar as empresas com programas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação bem estruturados e que sejam capazes de produzir resultados significativos.

O Brasil tem o melhor programa do mundo de formação de jovens cientistas, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Não há quem duvide do sucesso do PIBIC, responsável, em parte, pelo crescimento do número de mestres e doutores no Brasil em todas as áreas do conhecimento. Por que, não então, criar um grande Programa de bolsas de pós-doutorado para, por exemplo, a indústria farmacêutica nacional, nos moldes do PIBIC, onde haja um acompanhamento do rendimento dos bolsistas? As áreas de Química e de Farmácia podem servir como modelo experimental para esta modalidade de bolsa, porque o País tem uma indústria química forte e competitiva em alguns setores, e iniciativas de sucesso na indústria farmacêutica, que para crescer e gerar divisas para o País precisa de uma boa base científica. O setor farmoquímico brasileiro vem dando mostra de grande vitalidade e investindo nos seus programas de Pesquisa e Desenvolvimento, inclusive contratando mestres e doutores de reconhecida competência acadêmica. Um pouco de iniciativa e audácia de nossas autoridades acadêmicas pode colocar a indústria farmacêutica brasileira num patamar condizente com a de um País que ocupa a décima maior posição na economia mundial. No setor químico a ciência brasileira já demonstrou que produz riqueza por isso merece toda atenção das agências de fomento.1

Mãos a obra!

Angelo C. Pinto

Editor (IQ-UFRJ)

Referência

1. Alves, O. L.; J. Braz. Chem. Soc. 2006, 17, 215 e 216, Editorial.

  • Fixação de Doutores

    No Brasil formaram-se, no ano de 1995, cerca de 100 doutores em Química. Dez anos depois, em 2004, foram 320 doutores. Esse número, apesar de expressivo é modesto para um País cujo Produto Interno Bruto chegou a R$ 1,9 trilhão em 2005, tem a décima maior economia do mundo e uma população beirando os 200 milhões de habitantes. Por outro lado, para que o número de doutores continue crescendo, e a tendência é esta, serão necessárias estratégias para a fixação destes doutores no Brasil, caso contrário aqueles com melhor formação acadêmica emigrarão para os países ricos. Já não é desprezível o número de doutores que estão indo para o exterior com bolsas de pós-doutorado pagas pelas instituições onde vão trabalhar.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2006
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