Avaliação clínica e laboratorial e estratificação de risco
Coordenadora: Fernanda Consolim-Colombo (SP)
Secretário: Luiz Aparecido Bortolotto (SP)
Participantes: Alexandre Alessi (PR); Ayrton Pires Brandão (RJ); Eduardo Cantoni Rosa (SP); Eliuden Galvão de Lima (ES); José Carlos Aidar Ayoub (SP); José Luiz Santello (SP); José Márcio Ribeiro (MG); Luiz Carlos Bodanese (RS); Paulo Roberto B. Toscano (PA); Raul Dias dos Santos (SP); Roberto Jorge da Silva Franco (SP); Wille Oigman (RJ)
AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL
OBJETIVOS
Os principais objetivos da avaliação clínica e laboratorial estão apresentados na Tabela 1.
Para atingir tais objetivos é fundamental considerar os aspectos apresentados a seguir, levando-se em conta que o tempo necessário para a avaliação inicial de um paciente com suspeita de hipertensão arterial é de, pelo menos, 30 minutos.1
AVALIAÇÃO CLÍNICA
Deve-se obter história clínica completa, com especial atenção aos dados relevantes referentes ao tempo e tratamento prévio de hipertensão, fatores de risco, indícios de hipertensão secundária e de lesões de órgãos-alvo, aspectos socioeconómicos e características do estilo de vida do paciente e ao consumo pregresso ou atual de medicamentos ou drogas que podem interferir em seu tratamento (anti-inflamatórios, anorexígenos, descongestionantes nasais etc). Além da medida da PA, a frequência cardíaca deve ser cuidadosamente medida, pois sua elevação está relacionada a maior risco cardiovascular.2
Para avaliação de obesidade visceral, recomenda-se a medida da circunferência da cintura (CC) (IIB), dado que a medida da relação cintura-quadril não se mostrou superior à medida isolada da CC na estratificação de risco.3 Os valores de normalidade da CC adotados nestas diretrizes foram os utilizados no NCEP III4 (88 cm para mulheres e 102 cm para homens) e previamente recomendados pela Diretriz Brasileira de Síndrome Metabólica (IIa, C), já que ainda não dispomos de dados nacionais que representem nossa população como um todo.5
O exame físico deve ser minucioso, buscando sinais sugestivos de lesões de órgãos-alvo e de hipertensão secundária. O exame de fundo de olho deve ser sempre feito ou solicitado na primeira avaliação, em especial em pacientes com HAS estágio 3, que apresentam diabetes ou lesão em órgãos-alvo6 (Classe IIa, Nível C).
No exame físico a obstrução do índice tornozelo braquial (ITB) pode ser útil. A Tabela 2 traz considerações sobre o ITB.
A INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL BÁSICA (TABELAS 3 E 4) É INDICADA PARA TODOS OS PACIENTES HIPERTENSOS
A avaliação complementar é orientada para detectar lesões clínicas ou subclínicas com o objetivo de melhor estratificação do risco cardiovascular (Tabela 5). Está indicada na presença de elementos indicativos de doença cardiovascular e doenças associadas, em pacientes com dois ou mais fatores de risco, e em pacientes acima de 40 anos de idade com diabetes.1 (Nível de evidência I, Classe C).
ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO
Para a tomada da decisão terapêutica é necessária a estratificação do risco cardiovascular global (Tabela 9) que levará em conta, além dos valores de PA, a presença de fatores de risco adicionais (Tabela 6), de lesões em órgãos-alvo (Tabela 7) e de doenças cardiovasculares (Tabela 8).25-27
Além dos fatores clássicos de risco cardiovascular expostos na Tabela 6, novos fatores de risco cardiovascular vêm sendo identificados, e ainda que não tenham sido incorporados em escores clínicos de estratificação de risco (Framingham,29 Score30) têm sido sugeridos como marcadores de risco adicional em diferentes diretrizes: glicemia de jejum (100 a 125 mg/dL) e hemoglobina glicada anormal,31 obesidade abdominal (circunferência da cintura > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres), pressão de pulso > 65 mmHg (em idosos),24 história de pré-eclampsia na gestação,32 história familiar de hipertensão arterial (em hipertensos limítrofes).33
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Jan 2012 -
Data do Fascículo
Set 2010