O efeito da Meditação em pacientes incuráveis: Bem-estar, Qualidade de Vida e Controlo Sintomático – uma revisão sistemática

Freitas, Inês Neves; Reis-Pina, Paulo

doi:10.1590/0047-2085-2023-0047

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Jornal Brasileiro de Psiquiatria

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Sumário

ARTIGO DE REVISÃO • J. bras. psiquiatr. 73 (1) • 2024 • https://doi.org/10.1590/0047-2085-2023-0047 copiar

O efeito da Meditação em pacientes incuráveis: Bem-estar, Qualidade de Vida e Controlo Sintomático – uma revisão sistemática

The Effect of Meditation on Incurable Patients: Well-Being, Quality of Life, and Symptom Control – A Systematic Review

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivos

Através de uma Revisão Sistemática, pretendeu-se avaliar o impacto da Meditação no bem-estar, na qualidade de vida e no controlo sintomático em indivíduos com doenças incuráveis.

Métodos

Foram pesquisados na Pubmed, Web of Science e Scopus, estudos publicados entre janeiro 2012 e dezembro 2022, em língua inglesa, com Participantes- adultos com doença incurável ou terminal; Intervenções- qualquer tipo de meditação; Comparadores- qualquer tipo de controlo; Outcomes- bem-estar, qualidade de vida e o controlo sintomático; Desenho- ensaios clínicos e estudos controlados randomizados. Seguiu-se a Declaração PRISMA 2020. Usou-se a ferramenta Cochrane Rob-2 para o risco de viés. Fez-se uma síntese narrativa dos resultados.

Resultados

Oito estudos foram incluídos, provenientes de três continentes: Ásia (n=4), Europa (n=2) e América (n=2). Participaram 682 pacientes; a maioria com câncer (seis estudos). Houve grande heterogeneidade dos estudos, sendo o risco global de viés elevado.

Conclusões

A maioria dos estudos sobre os efeitos da meditação em pacientes incuráveis mostrou: 1) mais relevância no bem-estar e sofrimento; 2) menos relevância na qualidade de vida, ansiedade e depressão; 3) inconsistência na redução do estresse. É fundamental investir em estudos com amostras maiores, mais rigorosos e com seguimentos mais longos que afiram, com maior robustez, o contributo da Meditação nos resultados em saúde junto de populações vulneráveis.

Bem-Estar Psicológico; Cuidados Paliativos; Meditação; Qualidade de Vida; Revisão Sistemática

Autores; País; Ano de publicação	Tipo de estudo	Características da população	Diagnóstico	Intervenção	Controlo	Follow-up	Principais outcomes
Warth et al.; ²³ Alemanha; 2020	Estudo crossover randomizado, não cego	42 pessoas (69% mulheres; idade média 65.88 anos) internadas em Cuidados Paliativos na fase final da doença.	Câncer (95%)	Mindfulness (excerto padronizado e pré-gravado do programa Mindfulness Based Stress Reduction), 20 minutos + posição de descanso, 40 minutos	Posição de descanso, 60 minutos	-	Nível de estresse e bem-estar (segundo a Visual Analogue Scale).
Beng et al.; ²⁴ Malásia; 2019	Estudo paralelo controlado randomizado, não cego	40 adultos (60% mulheres; idade média 57.5 anos) internados em Cuidados Paliativos com sofrimento moderado a intenso	Sem informação.	Respiração consciente guiada, 20 minutos	Escuta de suporte (solidária), 20 minutos	Não houve	Nível de sofrimento (Suffering Pictogram); Dor (escala numérica); Nível de excitação (Bispectral Index Score.
Steinhauser et al.; ²⁵ Estados Unidos da América; 2020	Ensaio controlado randomizado de dois braços	135 pessoas (56% homens; idade média 62.5 anos) com doença ameaçadora de vida avançada, internadas ou seguidas em consultas hospitalares	Câncer metastático em estadio IV (69.6%); Insuficiência cardíaca congestiva classe III ou IV (19.3%) e Doença Renal Terminal (11.1%)	Conversa guiada com perguntas semiestruturadas, 45 minutos, 3 vezes durante um mês	Meditação de Relaxamento, gravada em disco, administrada pessoalmente, 45 minutos, 3 vezes, um mês	5 e 7 semanas	Preparação e Conclusão (QUAL-E); ansiedade (POMS); depressão (CES-D); QDV (FACT-G); Bem-estar espiritual (Daily Spiritual Experience Scale e FACIT-sp12).
Look et al.; ²⁶ Malásia; 2021	Estudo paralelo controlado randomizado aberto	40 adultos (50% mulheres; idade média 67.97 anos) em Cuidados Paliativos com pelo menos um sintoma moderado a intenso	Câncer (75%)	Respiração Consciente guiada, 20 minutos + Tratamento Padrão	Conversa social 20 minutos + Tratamento Padrão	-	“Edmonton Symptom Assessment System” score
Yik et al.; ²⁷ Malásia; 2021	Estudo paralelo controlado randomizado	40 adultos (70% mulheres, idade média 57.52 anos) referenciados para Cuidados Paliativos, que reportaram sofrimento moderado a intenso	Câncer (90%); Doença Renal Terminal, Doença Neuromuscular	Mindfulness de paz guiado, 5 minutos	Escuta ativa, com perguntas semi-estruturadas, 5 minutos	-	Sofrimento (segundo o Suffering Pictogram); Bem-estar Espiritual (segundo o FACIT-Sp12)
Lim et al.; ²⁸ Malásia; 2021	Estudo paralelo controlado randomizado, cego	60 adultos (70% mulheres; idade média 55.75 anos) internados em Cuidados Paliativos, com sofrimento moderado a intenso	Câncer (100%)	Mindfulness de amor guiado, 5 minutos	Escuta de suporte com perguntas semi-estruturadas, 5 minutos	-	Sofrimento (segundo o Suffering Pictogram); Bem-estar Espiritual (segundo a FACIT-Sp12)
Steinhauser et al.; ²⁹ Estados Unidos da América; 2017	Ensaio controlado randomizado de três braços, cego	221 veteranos (95.9% homens; idade média 67.8 anos) com doença avançada, seguidos em consultas externas.	Câncer (46.2%); Doença pulmonar obstrutiva crónica (33%); Insuficiência cardíaca congestiva (13.6%); Insuficiência terminal (Renal, 6.8%; Hepática, 0.5%)	A) Conversas guiadas com perguntas semiestruturadas, 45 minutos, 3 vezes durante 1 mês. B) Meditação de Relaxamento gravada em disco, 45 minutos, administrada em pessoa, 3 vezes durante 1 mês.	Cuidado usual; não houve contacto durante janela de intervenção	Às 5 e 7 semanas	QDV (segundo a FACT-G e QUAL-E); Ansiedade (segundo a POMS); Depressão (segundo a CES-D); Bem-estar espiritual (FACIT-sp12)
Koehler et al.; ³⁰ Alemanha; 2022	Ensaio controlado randomizado, cego	104 adultos (74.1% mulheres; idade média 65.82 anos) de duas Unidades de Cuidados Paliativos	Câncer (>95%)	Musicoterapia, 20-30 minutos, 3 sessões + Tratamento padrão	Mindfulness (relaxamento), 20-30 minutos, 3 sessões + Tratamento padrão	-	-Apenas 89 pacientes completaram o estudo. -Distress momentâneo (segundo o Distress Thermometer)

Autores; País; Ano publicação	Diferenças significativas	Sem diferenças significativas
Warth et al.; ²³ Alemanha; 2020	A Mindfulness teve inicialmente um efeito benéfico que se atenuou até ao final da intervenção. Houve uma diferença significativa entre a Mindfulness e o controlo (posição de descanso) no estresse ritmo cardíaco, com efeitos lineares (p=0.03 e p<0.01) e quadráticos (p=0.02 e p=0.01).	Não houve diferença entre grupos para a autoavaliação do bem-estar: efeito linear (p=0.18) e quadrático (p=0.2).
Beng et al.; ²⁴ Malásia; 2019	O efeito favorável da Respiração Consciente no sofrimento começou significativamente mais cedo (5 min). Houve redução significativa da excitação no grupo da Respiração Consciente, mas não no grupo da Escuta solidária.	Não houve diferença significativa entre grupos na pontuação do sofrimento ou dor.
Steinhauser et al.; ²⁵ Estados Unidos da América; 2020	Qualitativamente, os participantes da “Meditação com conversa guiada” foram capazes de expressar emoções reprimidas, contextualizar a doença, refletir sobre adaptações e fortalecer a identidade.	Sem diferenças na Preparação média às 5 semanas (p=0.49) ou às 7 semanas (0.73) entre os grupos, bem como na Conclusão de Vida média às 5 semanas (p=0.76) ou 7 semanas (p=0.23). Não houve diferenças significativas ao longo do tempo na Qualidade de Vida global, ansiedade, depressão, subscalas FACT-G ou FACIT-Sp.
Look et al.; ²⁶ Malásia; 2021	No grupo de intervenção de T0 até aos 20 minutos houve melhoria global (p<0.001), da sonolência (p=0.037), do apetite (p=0.017), da depressão (p=0.004), da ansiedade (p=0.02), do bem-estar (p=0.003). Comparação da redução média dos sintomas entre T0 e minuto-20 (intervenção versus controle): depressão (p=0.033), ansiedade (p=0.021) e global (p=0.0057).	Entre grupos não foi observada significância estatística para dor, cansaço, náusea, falta de ar com base na pontuação de “Edmonton Symptom Assessment System”.
Yik et al.; ²⁷ Malásia; 2021	No grupo da Meditação de paz houve uma redução no sofrimento global (p=0.001) e um aumento da espiritualidade (p=0.004) comparados com o grupo de Escuta ativa.	Não houve diferença significativa na subescala da paz (FACIT-Sp) entre os grupos.
Lim et al.; ²⁸ Malásia; 2021	Houve melhoria no sofrimento global (p<0.001), sofrimento total (p=0.007) e do Bem-estar espiritual (p<0.001) no grupo do Mindfulness de amor, comparado com o grupo de Escuta de suporte. Houve melhoria da preocupação (p=0.027), raiva (p=0.047), não aceitação (p=0.018) e vazio (p=0.047).
Steinhauser et al.; Estados Unidos da América; ²⁹ 2017	Comparado com a Meditação de Relaxamento, o grupo das Conversas Guiadas mostrou melhoria do bem-estar social às 7 semanas de follow-up (p=0.05).	Apesar de ambos terem demonstrado melhorias, comparado com o grupo da Meditação de Relaxamento, o grupo das Conversas Guiadas não teve diferenças significativas ao longo do tempo no Bem-estar espiritual, ansiedade ou depressão.
Koehler et al.; ³⁰ Alemanha; 2022	Houve uma redução do distress momentâneo em ambos os grupos (Mindfulness e Musicoterapia), com uma redução maior ao longo do tempo no grupo de Musicoterapia (p=0.02).	Não foram encontrados efeitos de interação nos desfechos psicobiológicos. Os modelos multiníveis revelaram uma redução significativa no cortisol e na frequência cardíaca média ao longo do tempo após qualquer intervenção.

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