Introdução
Alguns relatos de caso descrevem pacientes com bocejos excessivos induzidos por antidepressivos. Também é relatada a capacidade dos antidepressivos induzirem uma síndrome de indiferença. A frequência desses efeitos colaterais é desconhecida, assim como seus mecanismos fisiopatológicos. Ambos os efeitos são considerados benignos e costumam ser reversíveis após a suspensão dos antidepressivos, porém há relatos de casos graves com a ocorrência de luxação temporomandibular devida aos bocejos excessivos induzidos por antidepressivos.
Métodos
Relatamos dois casos inéditos de pacientes, apresentando esses efeitos colaterais de forma concomitante, discutindo os possíveis mecanismos fisiopatológicos e explicando essa coocorrência. Caso 1: O paciente apresentou bocejos excessivos e apatia com o uso de venlafaxina XR (cerca de 80 bocejos por dia) e, após a troca para escitalopram por conta desse efeito, teve redução para cerca de 50 bocejos por dia. Também relatava sentimento de lentidão e apatia com ambas as medicações. Caso 2: A paciente apresentou bocejos excessivos (cerca de 25 por dia) e declínio na responsividade emocional a estímulos ambientais, associado à incapacidade de chorar com o uso de desvenlafaxina.
Conclusão
A indução de indiferença e de bocejos excessivos parece ser modulada por mecanismos serotonérgicos e noradrenérgicos. Uma proposta que poderia unificar esses efeitos é pelo aumento serotoninérgico no mesencéfalo, especialmente nos núcleos paraventriculares hipotalâmicos e da rafe.
Efeitos colaterais; antidepressivos; apatia; inibidores de captação de serotonina; bocejo