Estratégias para o transtorno do espectro autista: interação social e intervenções terapêuticas

Nascimento, Iramar Baptistella do; Bitencourt, Cristiano Rech; Fleig, Raquel

doi:10.1590/0047-2085000000326

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Jornal Brasileiro de Psiquiatria

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Sumário

Review • J. bras. psiquiatr. 70 (2) • Abr-Jun 2021 • https://doi.org/10.1590/0047-2085000000326 copiar

Estratégias para o transtorno do espectro autista: interação social e intervenções terapêuticas

Strategies for autism spectrum disorder: social interaction and therapeutic interventions

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivo:

Identificar os fatores que dificultam as intervenções terapêuticas motoras em crianças com transtorno do espectro autista.

Métodos:

Foram utilizadas as bases de dados PubMed, Web of Science, Scopus e LILACS. Uma pesquisa de literatura cinzenta foi conduzida com acadêmico do Google. PRISMA foi usado, bem como a análise de risco de viés adaptada do Cochrane Manual para ensaios clínicos e, para outros estudos, foi utilizada a lista de verificação Downs e Black.

Resultados:

Dezessete artigos científicos foram incluídos na análise de síntese qualitativa sobre estratégias para interação social e motora em pacientes com transtorno do espectro autista. Quatorze artigos científicos alcançaram pontuações aceitáveis na escala de Downs e Black, e três ensaios clínicos indicaram domínios satisfatórios. Pessoas com transtorno do espectro autista apresentaram percentuais acima de 30%, com dificuldades de comportamentos sociáveis, de aprendizagem e de comunicação. O diagnóstico adequado e a preconização de um plano de tratamento para o desenvolvimento da motricidade são estratégias fundamentais e de ordem prioritária, uma vez que possibilitarão uma análise quantitativa ao longo da vida do autista, assim como proporcionarão uma maior viabilidade de análise das habilidades cognitivas.

Conclusão:

A dificuldade de comportamento social do indivíduo com transtorno do espectro autista pode ser o ponto-alvo nas suas limitações de aprendizagem motora. Portanto, a concepção metodológica com a prática de imitação, associada a uma dinâmica prazerosa do exercício rítmico, é a melhor sugestão para contemplar o direcionamento das pesquisas contemporâneas, uma vez que, quando prevalece a inter-relação entre interação social, aprendizagem motora e percepções sensoriais, os desfechos são mais significativos para essas crianças.

PALAVRAS-CHAVE
Transtorno do espectro autista; adaptação psicológica; terapia de modalidade combinada

Autores	País e ano	Número de participantes	Tipo de estudo	População de análise	Principais resultados
Zablotsky et al.⁶6. Zablotsky B, Anderson CLP. The association between child autism symptomatology, maternal quality of life, and risk for depression. J Autism Dev Disord. 2013;26(4):1-37.	Estados Unidos 2012	n = 1.110	CR	Crianças com TEA, a partir de 4 anos, chegando a adultos de 18 anos	Autismo e transtornos psiquiátricos estão associados à depressão materna e baixa qualidade de vida.
Misquiatti et al.⁸8. Misquiatti ARN, Brito MC, Ferreira FTS, Assumpção Júnior FB. Sobrecarga familiar e crianças com transtornos do espectro do autismo: perspectiva dos cuidadores. Rev CEFAC. 2015;17(1):192-200.	Brasil 2015	n = 20	CT	Crianças com TEA, de 3 a 10 anos	Crianças com transtornos do espectro do autismo podem sobrecarregar seus familiares.
Yeargin-Allsopp et al.¹⁰10. Yeargin-Allsopp M, Rice C, Karapurkar T, Doemberg N, Boyle C, Murphy C. Prevalence of autism in a US metropolitan area. JAMA. 2003;289(1):49-55.	Estados Unidos 2003	n = 987	CR	Crianças com TEA, de 3 a 10 anos	A prevalência de autismo na proporção homem-mulher foi de 4:1.
Hilton et al.¹¹11. Hilton CL, Zhang Y, Whilte MR, Klohr CL, Constantino J. Motor impairment in sibling pairs concordant and discordant for autism spectrum disorders. 2012;16(4):430-41.	Estados Unidos 2012	n = 144	CR	Crianças com TEA, a partir de 4 anos, chegando a adultos de 21 anos	As habilidades motoras prejudicadas estão associadas, entre as crianças afetadas por TEA, à gravidade do autismo e ao QI.
Maia et al.¹⁸18. Maia FA, Almeida MTC, Alves MR, Bandeira LVS, Silva VB, Nunes NF, et al. Autism spectrum disorder and parents’ age: A case-control study in Brazil. Cad Saúde Pública. 2018;34(8):e00109917.	Brasil 2018	n = 253	CC	Crianças com TEA, a partir de 2 anos, chegando à adolescência	A idade dos pais no parto indicou uma forte associação com TEA. É necessário enfatizar a prevenção para o parto tardio e acompanhamento das crianças nascidas desses casais.
Miccas et al.²⁰20. Miccas C, Vital AAF, D’Antino MEF. Avaliação de funcionalidade em atividades e participação de alunos com transtornos do espectro do autismo. Rev Psicopedag. 2014;31(94):3-10.	Brasil 2014	n = 12	CP	Crianças com TEA, a partir de 8 anos chegando a adultos de 22 anos	Existem diferenças significativas entre idade, ano/série e pontuação segundo a avaliação de funcionalidade. São fundamentais a discussão e o planejamento no ambiente escolar.
Ingersoll²³23. Ingersoll B. The effect of context on imitation skills in children with autism. Res Autism Spectr Disord. 2008;2(2):332-40.	Estados Unidos 2008	n = 14	CP	Crianças com TEA de 2 a 5 anos	Crianças com autismo imitaram menos do que crianças com desenvolvimento típico em geral.
Koch et al.²⁷27. Koch SC, Mehl L, Sobanski E, Sieber MFT, Fuchs T. Fixing the mirrors: a feasibility study of the effects of dance movement therapy on young adults with autism spectrum disorder. Autism. 2015;19(3):338-50.	Alemanha 2015	n = 31	CP	Crianças com TEA até 6 anos	A terapia do movimento de dança pode ser uma abordagem eficaz e viável para o transtorno do TEA.
Memari et al.²⁹29. Memari AH, Ghaheri B, Ziaee V, Kordi R, Hafizi S, Moshayedi P. Physical activity in children and adolescents with autism assessed by triaxial accelerometry. Pediatr Obes. 2013;8(2):150-8.	Irã 2012	n = 80	CP	Crianças e adolescentes com TEA	Estrutura familiar, atividades sedentárias, comorbidades e obesidade foram identificadas como outros determinantes de padrões de atividade física em crianças com TEA.
Yu et al.³³33. Yu TY, Chou W, Chow JC, Lin CH, Tung LC, Chen KL. IQ discrepancy differentiates levels of fine motor skills and their relationship in children with autism spectrum disorders. Neuropsychiatr Dis Treat. 2018;14(1):597-605.	China 2018	n = 127	CR	30 a 71 meses	A terapêutica com crianças em idade pré-escolar com TEA que estão desenvolvendo habilidades motoras finas ou realizando tarefas motoras finas relacionadas à coordenação visomotora deve reforçar a atenção ao QI das crianças.
Kaur et al.³⁴34. Kaur M, Srinivasan SM, Bhat AN. Comparing motor performance, praxis, coordination, and interpersonal synchrony between children with and without Autism Spectrum Disorder (ASD). Res Dev Disabil. 2018;72(1):79-95.	Estados Unidos 2018	n = 24	CP	Crianças com TEA de 5 a 12 anos	Tanto o desempenho motor fino quanto o grosso se correlacionaram significativamente com o QI, mas não com a gravidade do autismo; no entanto, os erros de práxis (principalmente, total, estouro e ritmicidade) estão fortemente correlacionados com a gravidade do autismo, e não com o QI. Médicos e terapeutas devem incluir avaliações motoras e intervenções no padrão de atendimento de crianças com TEA.
Rocha et al.³⁶36. Rocha CC, Souza SMV, Costa AF, Portes JRM. O perfil da população infantil com suspeita de diagnóstico de transtorno do espectro autista atendida por um Centro Especializado em Reabilitação de uma cidade do Sul do Brasil. Physis. 2019;29(4):1-20.	Brasil 2020	n = 685	CR	Crianças com TEA de 0 a 12 anos	Existe a necessidade de instrumentos qualificados para avaliação do diagnóstico e capacitação continuada para os diferentes profissionais que atuam com crianças com TEA.
Garcia et al.³⁸38. Garcia AHC, Viveiros MM, Schwartzman JS, Brunoni D. Transtornos do Espectro do Autismo: Avaliação e Comorbidades em Alunos de Barueri, São Paulo. Psicol Teor Prat. 2016;18(1):166-77.	Brasil 2016	n = 151	CT	Busca de diagnóstico de TEA	Protocolos clínicos básicos e disponíveis em nosso meio são eficazes tanto para validar o diagnóstico como para conhecer melhor o perfil cognitivo-comportamental dos alunos com autismo.
McPhillips et al.³⁹39. McPhillips M, Finlay J, Bejerot S, Hanley M. Motor deficits in children with autism spectrum disorder: a cross-syndrome study. Autism Res. 2014;7(6):664-76.	Irlanda do Norte	n = 147	CP	Crianças com TEA, entre 3 a 10 meses	Crianças com TEA e DEL correm o risco de déficits motores clinicamente significativos. No entanto, futuros estudos comportamentais e neurológicos de habilidades motoras em crianças com TEA devem incluir um grupo de comparação com DEL, a fim de identificar possíveis déficits específicos do autismo.

Autores	País e ano	Número de participantes	Tipo de estudo	Resultados
Ingersoll²²22. Ingersoll B. Brief report: Pilot randomized controlled trial of reciprocal imitation training for teaching elicited and spontaneous imitation to children with autism. J Autism Dev Disord. 2010;40(9):1154-60.	Estados Unidos 2010	n = 21	EC	O número de brincadeiras espontâneas no pré-tratamento foi relacionado a melhorias na imitação durante a intervenção, sugerindo que crianças com um repertório lúdico maior obtêm maiores ganhos durante a RIT.
Krüger et al.²⁴24. Krüger GR, Garcias LM, Hax GP, Marques AC. O efeito de um programa de atividades rítmicas na interação social e na coordenação motora em crianças com transtorno do espectro autista. Rev Bras Ativ Fís Saúde. 2019;23(1):1-5.	Brasil 2019	n = 10	EC	Quatorze semanas de atividades rítmicas podem ser uma ferramenta eficaz para desenvolver as habilidades motoras de crianças com transtorno do espectro autista.
MacDonald et al.²⁸28. Macdonald M, Esposito P, Ulrich D. The physical activity patterns of children with autism. BMC Res Notes. 2011;4(422):1-5.	Estados Unidos 2011	n = 72	EC	Crianças mais velhas com transtorno do espectro do autismo são significativamente mais inativas fisicamente, em comparação com crianças mais novas. Programas e intervenções de atividade física precisam abordar esse déficit, na atividade física.

Autores	Downs e Black SO/MS	Frequência relativa (%)
Zablotsky et al.⁶6. Zablotsky B, Anderson CLP. The association between child autism symptomatology, maternal quality of life, and risk for depression. J Autism Dev Disord. 2013;26(4):1-37.	13/22	59,1
Misquiatti et al.⁸8. Misquiatti ARN, Brito MC, Ferreira FTS, Assumpção Júnior FB. Sobrecarga familiar e crianças com transtornos do espectro do autismo: perspectiva dos cuidadores. Rev CEFAC. 2015;17(1):192-200.	16/22	72,7
Yeargin-Allsopp et al.¹⁰10. Yeargin-Allsopp M, Rice C, Karapurkar T, Doemberg N, Boyle C, Murphy C. Prevalence of autism in a US metropolitan area. JAMA. 2003;289(1):49-55.	16/22	72,7
Hilton et al.¹¹11. Hilton CL, Zhang Y, Whilte MR, Klohr CL, Constantino J. Motor impairment in sibling pairs concordant and discordant for autism spectrum disorders. 2012;16(4):430-41.	17/22	77,3
Maia et al.¹⁸18. Maia FA, Almeida MTC, Alves MR, Bandeira LVS, Silva VB, Nunes NF, et al. Autism spectrum disorder and parents’ age: A case-control study in Brazil. Cad Saúde Pública. 2018;34(8):e00109917.	20/28	71,4
Miccas et al.²⁰20. Miccas C, Vital AAF, D’Antino MEF. Avaliação de funcionalidade em atividades e participação de alunos com transtornos do espectro do autismo. Rev Psicopedag. 2014;31(94):3-10.	13/22	59,1
Ingersoll²³23. Ingersoll B. The effect of context on imitation skills in children with autism. Res Autism Spectr Disord. 2008;2(2):332-40.	13/22	59,1
Koch et al.²⁷27. Koch SC, Mehl L, Sobanski E, Sieber MFT, Fuchs T. Fixing the mirrors: a feasibility study of the effects of dance movement therapy on young adults with autism spectrum disorder. Autism. 2015;19(3):338-50.	16/22	72,7
Memari et al.²⁹29. Memari AH, Ghaheri B, Ziaee V, Kordi R, Hafizi S, Moshayedi P. Physical activity in children and adolescents with autism assessed by triaxial accelerometry. Pediatr Obes. 2013;8(2):150-8.	13/22	59,1
Yu et al.³³33. Yu TY, Chou W, Chow JC, Lin CH, Tung LC, Chen KL. IQ discrepancy differentiates levels of fine motor skills and their relationship in children with autism spectrum disorders. Neuropsychiatr Dis Treat. 2018;14(1):597-605.	13/22	59,1
Kaur et al.³⁴34. Kaur M, Srinivasan SM, Bhat AN. Comparing motor performance, praxis, coordination, and interpersonal synchrony between children with and without Autism Spectrum Disorder (ASD). Res Dev Disabil. 2018;72(1):79-95.	16/22	72,7
Rocha et al.³⁶36. Rocha CC, Souza SMV, Costa AF, Portes JRM. O perfil da população infantil com suspeita de diagnóstico de transtorno do espectro autista atendida por um Centro Especializado em Reabilitação de uma cidade do Sul do Brasil. Physis. 2019;29(4):1-20.	13/22	59,1
Garcia et al.³⁸38. Garcia AHC, Viveiros MM, Schwartzman JS, Brunoni D. Transtornos do Espectro do Autismo: Avaliação e Comorbidades em Alunos de Barueri, São Paulo. Psicol Teor Prat. 2016;18(1):166-77.	16/22	72,7
McPhillips et al.³⁹39. McPhillips M, Finlay J, Bejerot S, Hanley M. Motor deficits in children with autism spectrum disorder: a cross-syndrome study. Autism Res. 2014;7(6):664-76.	17/22	77,3

Autores	Cochrane Handbook DO/MD	Frequência relativa (%)
Ingersoll²²22. Ingersoll B. Brief report: Pilot randomized controlled trial of reciprocal imitation training for teaching elicited and spontaneous imitation to children with autism. J Autism Dev Disord. 2010;40(9):1154-60.	4/7	57,1
Krüger et al.²⁴24. Krüger GR, Garcias LM, Hax GP, Marques AC. O efeito de um programa de atividades rítmicas na interação social e na coordenação motora em crianças com transtorno do espectro autista. Rev Bras Ativ Fís Saúde. 2019;23(1):1-5.	5/7	71,4
MacDonald et al.²⁸28. Macdonald M, Esposito P, Ulrich D. The physical activity patterns of children with autism. BMC Res Notes. 2011;4(422):1-5.	4/7	57,1

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