Perfil etiológico das meningites bacterianas na infância - uma realidade transitória
Etiological profile of bacterial meningitis in children - a transitory reality
Regina Célia de Menezes Succi 1
Os primeiros dois anos de vida são aqueles em que ocorre a maioria dos casos de meningites bacterianas. Conhecer o perfil etiológico dessa doença em uma cidade, estado, região ou país, antes de ser apenas uma simples curiosidade médica, tem valor fundamental na tomada de decisões terapêuticas e profiláticas. Os riscos potenciais de determinar morte ou seqüelas definitivas tornam as meningites bacterianas objeto de temor não só entre profissionais, mas entre os familiares das crianças atingidas.
Vários agentes bacterianos podem causar meningites na infância, mas três bactérias são responsáveis por mais de 90% das meningites com agente etiológico identificado em nosso meio: Neisseria meningitidis (meningococo), Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e Streptococcus pneumoniae (pneumococo)(1-4).
A letalidade nas meningites bacterianas pode atingir níveis próximos a 30%, dependendo da faixa etária acometida e do agente etiológico. Para diminuir a letalidade e os riscos de seqüelas graves, o início do tratamento antimicrobiano deve ser estabelecido precoce e adequadamente. A escolha do antimicrobiano depende da sua atividade para o agente infeccioso, da sua penetração liquórica e do conhecimento do perfil etiológico das meningites numa determinada região. A emergência de cepas bacterianas resistentes aos antimicrobianos comumente utilizados e as dificuldades no isolamento dos agentes causadores aumentam a preocupação com as meningites bacterianas.
Como demonstraram o Dr. Mantese e colaboradores, em artigo deste número do Jornal de Pediatria (2), o uso prévio de antimicrobianos é prática comum em nosso meio. Esse uso indiscriminado dos antimicrobianos, além de não contribuir para a prevenção de danos, dificulta o diagnóstico etiológico e pode ser fator determinante de pior prognóstico.
O perfil etiológico das meningites bacterianas mudou significantemente nos últimos anos, e a intervenção mais eficaz nessa mudança foi a introdução da vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib), que está disponível no Brasil, para crianças até dois anos de idade, a partir do segundo semestre de 1999 (5). A vacina conjugada contra Hib produz imunidade duradoura e interfere no estado de portador, e como conseqüência, nos países onde se instituiu a vacina aplicada na rotina com ampla cobertura, a infecção por essa bactéria apresentou significante redução da incidência (6,7). No Brasil, o número de casos de meningites por Hib caiu de 1.731 no ano de 1998 para 577 no ano de 2000 (8), e a diminuição da incidência da doença causada por Hib após a introdução da vacina, em vários estados, foi evidente (3,4). No estado de São Paulo, a prevalência de meningite por Hib variou de 13,16% (sobre todas as etiologias de meningite) em 1994, para 3,81% em 2001 (9).
A utilização de novas vacinas como as vacinas conjugadas para pneumococo e para meningococo C devem no futuro modificar ainda mais o perfil etiológico das meningites bacterianas. O pediatra deve estar atento para a realidade local e possivelmente transitória do perfil etiológico das doenças infecciosas e da possibilidade de utilizar meios preventivos que têm ação muito mais duradoura e eficaz no controle das doenças.
Sobe
Referências bibliográficas
Sobe
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Jun 2003 -
Data do Fascículo
Dez 2002