Acessibilidade / Reportar erro

A terapia da compressão e sua evidência científica

EDITORIAL

A terapia da compressão e sua evidência científica

Marcondes Figueiredo

Doutor em Ciências, Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM), São Paulo, SP. Especialista, Angiologia e Cirurgia Vascular, SBACV

Correspondência Correspondência: Prof. Dr. Marcondes Figueiredo Rua Marquez Póvoa, 88 CEP 38400 438 – Uberlândia, MG E-mail: drmarcondes@gmail.com

A medicina baseada em evidências surgiu em 1991, com o propósito inicial de, a partir do paciente, estabelecer a melhor conduta investigativa e terapêutica, baseando-se exclusivamente no melhor da literatura médica publicada. Essa prática visa superar o sistema da autoridade/experiência do médico como fonte do saber, rotina essa extremamente arraigada na medicina. Tal exercício é excludente (pois inibe opiniões contrárias), autoritário e baseado nas conclusões de apenas um indivíduo ou, quando muito, de um serviço ou escola. Para o aprimoramento da prática, deve-se fundamentar o conhecimento nas melhores evidências científicas disponíveis, tornando opiniões pessoais e isoladas obsoletas, aprimorando a ciência e democratizando-a1.

A terapia da compressão elástica, apesar de ter seu mecanismo de ação demonstrado em várias publicações científicas, ainda é considerada empírica dentro da literatura médica. Não o entendemos dessa maneira, pois tal mecanismo está muito bem definido, na medida em que a compressão ameniza o edema, diminui o volume do sistema venoso superficial, aprimora a fração de ejeção da panturrilha, reduz o diâmetro das veias e restaura a competência valvular. Esses benefícios se limitam ao tempo de uso da meia, pois, após a sua retirada, o efeito hemodinâmico que ela provoca no membro cessa em cerca de 1 hora2.

As indicações terapêuticas e profiláticas para meias elásticas, ataduras e compressões pneumáticas já estão bem estabelecidas no contexto da medicina baseada em evidências. O International Compression Club referendou essas evidências em reunião em Paris, em novembro de 20073,4. Seguem duas tabelas mostrando as indicações (Tabela 1) e o uso pós-procedimentos (Tabela 2) da compressão (somente os graus de evidência 1A e 1B são recomendados5).

Com relação à interpretação das tabelas apresentadas, pode-se listar algumas conclusões, conforme a seguir.

O grau de evidência para uso da meia com 20 mmHg de compressão é:

- Na prevenção do edema ocupacional: 1B;

- Em casos iniciais CEAP (clínica, etiológica, anatômica e fisiopatológica) (C0 s e C1 s): 1B;

- Na prevenção do tromboembolismo venoso: 1A.

O grau de evidência para uso da meia com 20-30 mmHg de compressão é:

- Em pós-escleroterapia em microvarizes: 1B;

- Na prevenção dos sintomas de insuficiência venosa durante a gestação: 1B;

- Na prevenção do edema venoso em pacientes CEAP 3: 1B.

O grau de evidência para uso da meia com 30-40 mmHg de compressão é:

- No tratamento de trombose venosa profunda: 1B;

- Na prevenção da síndrome pós-flebítica: 1A;

- No tratamento do paciente CEAP 4: 1B;

- No tratamento da úlcera venosa aberta: 1B;

- Na prevenção de recidiva da úlcera (CEAP 5): 1A.

O grau de evidência para uso de ataduras elásticas e inelásticas é:

- Na cicatrização das úlceras venosas com bota de Unna ou curativo multicamadas: 1A;

- Na redução do sangramento pós-operatório da cirurgia de varizes: 1B.

O grau de evidência para uso da compressão pneumática intermitente é:

- Na prevenção do tromboembolismo venoso: 1A;

- No tratamento do linfedema e da síndrome pós-trombótica: 1B.

A meia elástica terapêutica é considerada a melhor opção de tratamento clínico para a insuficiência venosa dos membros inferiores. Sendo assim, deve ser vista como primeira opção de tratamento. Realizar medidas matinais no membro acometido, escolher o tipo de meia elástica a ser utilizado (3/4, 7/8, calça ou gestante) e indicar a melhor compressão em mmHg garantem o sucesso terapêutico junto ao paciente.

Deve-se levar em consideração que a prescrição da compressão deve seguir o mesmo rigor de uma prescrição farmacológica. Além disso, deve-se considerar um período de adaptação nas prescrições da meia, atendo-se ao fato de que nem todo paciente se adequará ao uso dessa opção terapêutica.

Não foram declarados conflitos de interesse associados à publicação deste editorial.

  • 1. Nobre M, Bernardo W. Medicina baseada em evidência: expandindo limites. In: Nobre M, Bernardo W. Prática clínica baseada em evidência. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.
  • 2. Figueiredo MA, Filho AD, Cabral AL. Avaliação do efeito da meia elástica na hemodinâmica venosa dos membros inferiores de pacientes com insuficiência venosa crônica. J Vasc Bras. 2004;3:231-7.
  • 3. International Compression Club [site na internet]. Berndorf, Austria. http://www.icc-compressionclub.com/index.php
  • 4. Partsch H, Flour M, Smith PC, International Compression Club. Indications for compression therapy in venous and lymphatic disease consensus based on experimental data and scientific evidence. Int Angiol. 2008;27:193-219.
  • 5. Guyatt G, Gutterman D, Baumann MH, et al. Grading strength of recommendations and quality of evidence in clinical guidelines: report from an American College of Chest Physicians Task Force. Chest. 2006;129:174-81.
  • Correspondência:

    Prof. Dr. Marcondes Figueiredo
    Rua Marquez Póvoa, 88
    CEP 38400 438 – Uberlândia, MG
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Out 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2009
    Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) Rua Estela, 515, bloco E, conj. 21, Vila Mariana, CEP04011-002 - São Paulo, SP, Tel.: (11) 5084.3482 / 5084.2853 - Porto Alegre - RS - Brazil
    E-mail: secretaria@sbacv.org.br