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ANÁLISE MULTIMODAL DE DISCURSOS EM POSTAGENS DO INSTAGRAM PARA A SEMANA MUNDIAL DE AMAMENTAÇÃO

MULTIMODAL ANALYSIS OF DISCOURSES IN INSTAGRAM POSTS FOR WORLD BREASTFEEDING WEEK

ANÁLISIS MULTIMODAL DE DISCURSOS EN PUBLICACIONES DE INSTAGRAM PARA LA SEMANA MUNDIAL DE LA LACTANCIA MATERNA

Resumo

Analisam-se neste artigo três postagens sobre aleitamento materno na rede social Instagram, elaboradas por profissionais de saúde que atendem ao público materno-infantil entre 2019 e 2021 durante a Semana Mundial do Aleitamento Materno. Para tanto recorreu-se à análise multimodal de discursos (Jewitt, 2001; O’Halloran, 2009, 2011) com suporte da gramática do design visual (Kress; Van Leeuwen, 1996), bem como à compreensão discursiva de Van Dijk (1985, 2022) e à teoria da valoração (White, 2001, 2015). As evidências sugerem ser possível identificar nas postagens que os perfis de profissionais da saúde recorrem ao afeto e aos conhecimentos laicos para promover a prática do desmame, enquanto postagens que defendem o aleitamento usam a cientificidade e os dados demográficos em sua construção discursiva.

Palavras-chave:
Amamentação; Análise multimodal; Desmame

Abstract

This article analyzes three posts on breastfeeding on the Instagram social network, created by healthcare professionals who cater to maternal and child audiences between 2019 and 2021 during World Breastfeeding Week. For this purpose, multimodal discourse analysis (Jewitt, 2001; O’Halloran, 2009, 2011) was used with support from visual design grammar (Kress; Van Leeuwen, 1996), as well as discursive understanding from Van Dijk (1985, 2022) and valuation theory (White, 2001, 2015). The evidence suggests that it is possible to identify in the posts that healthcare professional profiles resort to affection and lay knowledge to promote weaning, while posts advocating breastfeeding use scientific and demographic data in their discursive construction.

Keywords:
Breastfeeding; Multimodal Analysis; Weaning

Resumen

Este artículo analiza tres publicaciones sobre la lactancia materna en la red social Instagram, elaboradas por profesionales de la salud que atienden a audiencias maternas e infantiles entre 2019 y 2021 durante la Semana Mundial de la Lactancia Materna. Para este fin, se utilizó el análisis multimodal del discurso (Jewitt, 2001; O’Halloran, 2009, 2011) con el apoyo de la gramática del diseño visual (Kress; Van Leeuwen, 1996), así como la comprensión discursiva de Van Dijk (1985, 2022) y la teoría de la valoración (White, 2001, 2015). Las evidencias sugieren que es posible identificar en las publicaciones que los perfiles de profesionales de la salud recurren al afecto y al conocimiento laico para promover el destete, mientras que las publicaciones que defienden la lactancia materna utilizan la cientificidad y los datos demográficos en su construcción discursiva.

Palabras clave:
Lactancia materna; Análisis multimodal; Destete

1 INTRODUÇÃO

Investigam-se neste artigo os discursos sobre o aleitamento materno em postagens do Instragram de perfis de profissionais da saúde. Nas diretrizes da Organização Mundial de Saúde e nos guias nacionais, tais como o Guia Prático de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2020), recomenda-se que o aleitamento ocorra desde a sala de parto até dois anos ou mais, de modo exclusivo e em livre-demanda até o sexto mês e, a partir daí, complementado com alimentação saudável e equilibrada. Essa recomendação se insere em uma movimentação global de órgãos e profissionais de saúde para divulgar os benefícios do aleitamento materno e para combater o consumo de alimentação artificial na primeira infância.

Todavia, enquanto processo bio-psico-social (Martins, 2013MARTINS, M. Z. Benefícios da amamentação para saúde materna. Interfaces Científicas - Saúde e Ambiente, [S. l.], v. 1, n. 3, p. 87-97, 2013. DOI: 10.17564/2316-3798.2013v1n3p87-97. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/saude/article/view/763. Acesso em: 10 maio 2023.
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), a amamentação não ocorre de modo instintivo e sem complicações biológicas para todas as mulheres. Lee e Kelleher (2016LEE, S.; KELLEHER, S. L. Biological Underpinnings of Breastfeeding Challenges: The Role of Genetics, Diet, and Environment on Lactation Physiology. Am J Physiol Endocrinol Metab. v. 311, n. 2, p. 405-422, 2016. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5005964/. Acesso em: 20 maio 2023.
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), por exemplo, demonstra que fatores como genética, dieta, exposição ambiental, endocrinologia reprodutiva e fisiologia da lactação podem influenciar diretamente a capacidade de uma mulher produzir leite. Além disso, esse processo tem implicações socioeconômicas, afetivas e culturais ao demandar disponibilidade da nutriz para o aleitamento ao seio em livre demanda.

Diante disso, a condução de profissionais da saúde se torna essencial no pré e pós-parto para o estímulo ao aleitamento materno e para a prevenção do desmame precoce. Dado que as redes sociais tornaram-se canais poderosos para a disseminação de discursos referentes à amamentação, inclusive dando maior visibilidade a movimentos como a Semana Mundial do Aleitamento Materno, investigamos como as manifestações das profissionais se estruturam em postagens do Instagram1 1 Conforme o Panorama Mobile Time/Opinion Box - Uso de Apps no Brasil (2022), o Instagram se tornou a plataforma mais acessada pelos brasileiros. . Na tela, o design multimodal do aplicativo favorece a imediatez, a distração, a alternância de semioses (áudio, vídeo, escrita) em um “ritmo fulminante” (Wolf, 2019WOLF, M. O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era. São Paulo: Contexto, 2019., p. 53). Nesse sentido, defendemos ser importante explorar o design multimodal como um recurso essencial para a significação, representação e organização das mídias sociais a partir de temas socialmente relevantes.

Para compor o corpus da pesquisa, usamos como filtro a tag #SMAM e operamos um recorte cronológico entre os anos de 2019 e 2021, quando houve um aumento exponencial de postagens relacionadas ao tema. A partir das postagens com maior número de acessos, selecionamos aquelas de profissionais da pediatria.

É importante afirmar, finalmente, que, ciente das implicações sociais, afetivas e culturais para a mulher, defendemos o aleitamento materno em detrimento do uso de fórmulas e mamadeiras. Nesse posicionamento, não romantizamos nem negligenciamos a dificuldade biológica, os condicionantes socioeconômicos que podem dialogar com a condição de lactante. Pelo contrário, nós nos dedicamos a combater a desinformação sobre o aleitamento e, principalmente, a indústria do desmame que, por meio de profissionais e adereços, conduz várias mulheres a não amamentarem, privando-as, incidentalmente, do alimento nutricionalmente mais completo disponível.

2 AMAMENTAÇÃO: HISTÓRIA E DOCUMENTOS OFICIAIS NO BRASIL

A amamentação depende do processo biológico da lactação, que se inicia no começo da gestação com o desenvolvimento da mama, estimulado principalmente pelo estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e pelo progestogênio, que forma os lóbulos pelo aumento da rede de ductos e alvéolos (Grazi, 2022). Com o nascimento da criança e a expulsão da placenta, os níveis de progestogênio reduzem e há liberação de prolactina pela hipófise anterior, iniciando a segunda fase da lactogênese. Após a “descida do leite”, inicia-se a terceira fase da lactogênese, denominada galactopoiese. Essa fase, que se mantém por toda a lactação, depende principalmente da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Apesar disso, o amamentar não pode ser considerado um processo exclusivamente biológico, uma vez que levar o bebê ao seio para que seja nutrido também envolve questões sociais e econômicas.

No Brasil, o processo de amamentar se popularizou a partir do século XIX com a mudança de paradigmas científicos sobre a saúde da mulher e do bebê, bem como a aproximação de médicos e mulheres. Até então, predominava o costume colonial de mulheres brancas não amamentarem seus filhos, deixando essa função para mulheres escravizadas (amas de leite). De acordo com Kalil e Costa (2012KALIL, I.; COSTA, M. C. “Nada mais natural que amamentar” - Discursos contemporâneos sobre aleitamento materno no Brasil. RECIIS - R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v. 6, n. 4, dez. 2012. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/17318/21.pdf?sequence=2&isAllowed=y. Acesso em: 20 maio 2023.
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, p. 1), a mudança sobre os sentidos sociais da amamentação fez com que “médicos e Estado pass[ass]em a empreender grandes esforços para orientar as mulheres sobre a importância do aleitamento materno para a saúde das crianças”.

Em virtude da industrialização do Brasil e do ingresso mais significativo de mulheres no mercado de trabalho, acompanhados da introdução de leites industrializados e da prescrição da alimentação artificial na vida familiar brasileira, ocorreu o declínio no aleitamento. Segundo Venâncio (2008, p. 37), “as conseqüências desastrosas do desmame precoce, que passaram a ser evidenciadas nos países em desenvolvimento em meados da década de 1970, levaram à mobilização da sociedade para o retorno à amamentação”. Para combater o aumento e a popularização do desmame precoce, o governo brasileiro começou a mobilizar campanhas do Ministério da Saúde a partir de 1976 por meio de guias e orientações para o aleitamento materno.

O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos expõe alguns benefícios para a saúde do aleitamento materno:

O único [alimento] que contém anticorpos e outras substâncias que protegem a criança de infecções comuns enquanto ela estiver sendo amamentada, como diarreias, infecções respiratórias, infecções de ouvidos (otites) e outras. Os 2 primeiros anos de vida são os mais decisivos para o crescimento e desenvolvimento da criança, com repercussões ao longo de toda a vida do indivíduo. A amamentação nesse período pode prevenir o aparecimento de várias doenças na vida adulta (Brasil, 2019, p. 21, colchetes acrescidos).

Isso também é defendido por outros documentos oficiais, tais como a Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema Único de Saúde (Brasil, 2013; Brasil 2015). De acordo com o primeiro documento, é preciso fortalecer a rede de profissionais da atenção básica, dos conselhos de saúde e fomentar a articulação com setores sociais para propiciar aleitamento materno exclusivo ou com alimentação complementar saudável.

Para além desses documentos voltados especificamente para a saúde básica, existem determinações legais que buscam o suporte social para que o aleitamento ocorra. Para que o direito à amamentação seja exercido efetivamente “é necessário desenvolver ações voltadas à promoção da amamentação, mobilizando a sociedade para que esses direitos sejam cumpridos” (Brasil, 2017, p. 12). São exemplos de dispositivos que ensejam proteger a amamentação o Decreto Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943, que permite 120 dias de licença maternidade sem prejuízo salarial, e a Lei nº 13.257 de 8 de março de 2016, o Marco Legal da Primeira Infância2 2 É importante salientar que tais materiais e disposições legais reproduzem, de modo geral, uma concepção instrumental do papel da mulher-mãe na sociedade (Kalil; Costa, 2012). Esse aspecto também é debatido por Haberland e Scisleski (2018) quando afirmam que, uma vez que as diretrizes fazem da mãe o foco do desenvolvimento saudável, outras faces das vidas das mulheres são desvalorizadas diante das práticas biologizadas e protocoladas, principalmente para profissionais da saúde no atendimento a essas mulheres. .

A partir da década de 1990, há uma retomada global do movimento pró-aleitamento materno, enfatizando-o como uma responsabilidade de todos e não apenas da nutriz. Em 1991 nasce a World Alliance for Breastfeeding Action (WABA), criada para acompanhar os compromissos acordados entre países na assinatura da Declaração de Innocenti, tais como implementar o Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno e todas as resoluções relevantes da Assembleia Mundial de Saúde, e adotar legislação que proteja a mulher que amamenta. Outras conquistas para o incentivo ao aleitamento materno no Brasil foram o Hospital Amigo da Criança no Brasil, criado em 1992, a Estratégia de Saúde da Família, criada em 1994, e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, criada em 1998.

Apesar de todas essas iniciativas, segundo o Ministério da Saúde, a média de amamentação exclusiva no Brasil é de 54 dias e a duração mediana de aleitamento materno é de 341 dias, cerca de 11 meses. Esse quadro pode ser analisado à luz de dados sociodemográficos disponiblizados pelo IBGE (Feijó, 2023FEIJÓ, J. Mães solo no mercado de trabalho. Blog do IBGE. 12 maio 2023. Disponível em: https://blogdoibre.fgv.br/posts/maes-solo-no-mercado-de-trabalho. Acesso em: 30 abril 2024.
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) e pelo IPEA (Pinheiro et al., 2023PINHEIRO, L.; MEDEIROS, M.; COSTA, J.; BARBOSA, A. de H. Gênero é o que importa: determinantes do trabalho doméstico não remunerado no Brasil. IPEA. Set. 2023. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/publicacao-item?id=edafc8c2-7a78-44e1-a524-5c19e93afc37. Acesso em: 30 abr. 2024.
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). Existem mais de 11 milhões de mães solo no Brasil e as mulheres trabalham cerca de 11 horas a mais do que os homens por semana. Culturalmente, as mulheres acumulam jornadas de trabalho e de cuidados dos filhos, da casa e de outros integrantes da família. Essa configuração de ausência de rede de apoio, demandas profissionais e sobrecarga impele as mulheres a desmamar seus filhos antes do tempo recomendado.

Além disso, segundo Fialho et al. (2014FIALHO, F. et al. Fatores associados ao desmame precoce do aleitamento materno. Rev Cuid, Bucaramanga, v. 5, n. 1, p. 670-678, 2014 Disponível em: https://tinyurl.com/3j27crsh. Acesso em: 20 maio 2021.
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, p. 673):

Ao se referenciar essa correlação com o fator materno, faz-se necessário considerar o nível de escolaridade dessas mães. Nas referências analisadas, observa-se que aquelas com menor tempo de escolaridade tendem a desmamar antes dos seis meses. Em um estudo foi observado que a variável escolaridade materna se mostrou associada ao desmame precoce, isto é, quanto maior o tempo de escolaridade da mãe, maior a duração do aleitamento natural. Da mesma forma em outro estudo foi relatada uma maior prevalência do aleitamento materno exclusivo entre mulheres com maior escolaridade, e concluíram que mulheres com maior nível de instrução estão em fase de valorização do aleitamento materno exclusivo, e que essa tendência não atingiu estratos socioeconômicos menos favorecidos.

Outros fatores culturais também colaboram para o desmame precoce, como a introdução de outros leites na alimentação da criança a partir da crença de que o leite materno não é capaz de nutrir uma criança da forma esperada.

Esse quadro estrutura o que os profissionais e estudiosos chamam de “cultura do desmame”. De acordo com Santo (2020SANTO, A. Por trás da cultura do desmame. Revista 180 Narrativas Femininas. 14 ago. 2020. Disponível em: https://revistaumoitozero.com.br/por-tras-da-cultura-do-desmame/. Acesso em: 26 abr. 2023.
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), a cultura do desmame aparece no imaginário popular quando familiares afirmam que o “leite secou”, “virou água”, e na esfera pública, quando a mãe se sente constrangida ao amamentar em público, por exemplo. Por outro lado, o discurso e a prática do desmame movem uma indústria milionária a partir da venda de chupetas ou em propagandas de mamadeira.

De acordo com Melo et al. (2019MELO, L. C. O. et al. Primary Health Care Attributes in Breastfeeding Care. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 28, 2019. Disponível: https://www.scielo.br/j/tce/a/VVtmRhssVLH9HmMXhCBmVRm/?lang=en. Acesso em: 21 set. 2021.
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), os profissionais de saúde têm influência significativa no que se refere a decisões voltadas para alimentação antes do nascimento e, posteriormente, quando há desafios para manter a amamentação exclusiva e contínua. Daí a relevância de campanhas como a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM), instituída em 1992 pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e pela Organização Mundial de Saúde. Realizada anualmente na primeira semana de agosto, a SMAM aborda temas pertinentes para discussão em forma de campanhas pró-aleitamento com uma série de materiais informativos, posters, logo e cartazes traduzidos em 14 idiomas, adaptando o tema para a realidade de cada país. Essas campanhas usam um repertório discursivo que se manifesta não somente pela materialidade verbal - o que se acentua com o uso das redes sociais, em que diversos elementos constroem, com o texto, seu sentido. Essa realidade nos fez buscar a perspectiva multimodal de discursos, sobre a qual discorremos adiante.

3 ANÁLISE MULTIMODAL DE DISCURSO E CRÍTICA

A evolução das tecnologias e das mídias usadas em práticas de linguagem fez com que a civilização ocidental gradativamente rompesse com a concepção predominantemente monomodal de textos para aproximar-se da compreensão de textos como composições multimodais. O surgimento da palavra “multimodalidade” enfatiza a construção de sentido por recursos simbólicos intrínsecos às manifestações de língua/linguagem, construindo camadas de significados (como cor, fonte, tamanho, espaçamento, alinhamento, layout na escrita; tom, velocidade, ritmo na fala). A noção de modo semiótico, dessa maneira, está vinculada a recursos culturais e sociais para produzir significados, podendo ser usados para trabalhos semióticos específicos.

Em artigo sobre a escrita na era multimodal, Bezemer (2008BEZEMER, J. Writing in Multimodal Texts: A Social Semiotic Account of Designs for Learning. Written Communication, v. 25, n. 2, p. 166-195, 2008. Disponível em: https://tinyurl.com/bd4pp44z. Acesso em: 26 maio 2022.
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) pontua a relevância do design e dos princípios da composição para essa análise considerando que as mudanças nos princípios do design de textos influenciam seus efeitos e as formas como as pessoas aprendem e pensam os textos. Para isso, salienta a relevância de se conhecer a origem social dos textos tanto quanto seus efeitos semióticos por meio das possibilidades (affordances) dos modos e das mídias.

No campo das análises do discurso, a análise multimodal, com mais de década de história, oferece uma nova perspectiva sobre a materialização dos discursos pensando nos agrupamentos multimodais e suas formas integradas de gerar sentido. Há, grosso modo, três perspectivas para se fazer análise multimodal de discursos: a semiótica social, a sociologia interativa e a cognitivista. A semiótica social, que tomamos como referência para a análise de imagens, toma por base ampla os estudos de Kress e Van Leuween (1996KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading Images: The Grammar of Visual Design. Londres: Routledge, 1996.) para quem as ações discursivas podem ser realizadas ou articuladas em quaisquer modos semióticos disponíveis em uma dada cultura.

Dado o trabalho semiótico, a prática discursiva é sempre pelo menos reprodutiva em certo nível - os discursos que estão em jogo são reinstanciados nessa instância do texto e os modos usados em sua articulação são também instanciados. E a prática discursiva é sempre produtiva e transformadora, pois aquela configuração particular de discursos e suas articulações modais inevitavelmente produzem um novo arranjo, modificado e transformado, com efeitos sobre cada um dos discursos que o constituem e sobre cada modo de sua realização (Jewitt et al., 2001JEWITT, C. T. Exploring Learning Through Visual, Actional and Linguistic Communication: The Multimodal Environment of a Science Classroom. Educational Review, v. 53, n. 1, p. 5-18, 2001. Disponível em: https://tinyurl.com/2jv5dza8. Acesso em: 18 maio 2023.
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, p. 32).

A partir da perspectiva sistêmico-funcional de Halliday (1985), Kress e Van Leeuwen (1996KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading Images: The Grammar of Visual Design. Londres: Routledge, 1996.) se propuseram a analisar imagens a partir de uma noção de gramática que se apoia em três eixos: significados representacionais, significados interativos e significados composicionais. Os sentidos representacionais descrevem as estruturas que constroem visualmente a natureza dos eventos e os participantes envolvidos, dividindo-se em conceituais e narrativos. As imagens narrativas se constituem quando os participantes se encontram engajados em ações e eventos que estão sendo realizados (Fernandes; Almeida, 2008FERNANDES, J. D. C.; ALMEIDA, D. B. L. de. Revisitando a gramática visual nos cartazes de guerra. In: ALMEIDA, D. B. L. de (org.). Perspectiva em análise visual: do fotojornalismo ao blog. João Pessoa: Ed. da UFPB, 2008. p. 11-31.), ao passo que imagens conceituais se concentram na representação da categoria, da estrutura, do significado de seus participantes.

O significado interativo abrange a relação entre o produtor da imagem, o participante nela representado e o observador para conduzir a atitude de quem observa em relação à representação dos participantes da imagem. Esses significados se articulam a partir das categorias de contato (a imagem oferece ou demanda algo do observador), distância social (no tempo, espaço e psicologicamente entre os participantes), atitude (superioridade, inferioridade, se relaciona ao enquadramento e os ângulos das imagens) e modalidade (veracidade ou valor de verdade do que é proposto a partir de graus de nitidez ou saturação de cores, por exemplo).

Por fim, os significados composicionais dizem respeito aos valores de informação, à seleção da imagem e aos graus de relevância. O valor da informação diz respeito ao tema-rema, ou seja, como a relação entre dado-novo ou real-irreal é proposta na imagem. A seleção diz respeito ao quanto de uma dada realidade é capturada na imagem e quais elementos são favorecidos pela seleção do enquadramento. Por sua vez, a relevância aponta para a proeminência de um elemento da imagem para um observador.

As tecnologias digitais estruturam plataformas que combinam e desdobram recursos semióticos de formas inéditas. Devido ao trabalho coordenado de tantos recursos semióticos, O’Halloran (2009, 2011) considera que as tecnologias digitais são tecnologias sociossemióticas multimodais. O Instagram é uma mídia social, criada em 2010 por Kevin Systrom e Mike Krieger, desenvolvida como um aplicativo para celulares e disponível gratuitamente. Tendo em vista o alcance do Instagram na sociedade contemporânea, com inúmeras contas registradas e seus recursos, essa mídia social se tornou uma excelente ferramenta para divulgação de ideias e venda de produtos.

Neste trabalho, para além da gramática do design visual, também recorremos às categorias verbais para análise dos discursos verbais que compõem com as imagens os sentidos das postagens do Instagram. Para isso, empregamos as estruturas discursivas pontuadas por Van Dijk (1985, 2022), as quais, consistente e sutilmente, sugerem implicações em práticas sociais que promovem a desigualdade (ou o controle do acesso e do conhecimento por um grupo em detrimento de outro). Em sua perspectiva de análise crítica de discursos, a reprodução da dominância frequentemente requer justificativas ou legitimações, como algo “necessário” ou “natural”, que podem ser evidenciadas no conteúdo semântico dos textos e pelo estudo das propriedades das sentenças e dos discursos. Nesse sentido, Van Dijk (2022) salienta a importância de se olhar as regras e estruturas dos gêneros, a argumentação enquanto estruturação do conhecimento, as estratégias de ênfase ou polarização de sentidos, a sintaxe e relações de topicalização, as metáforas conceituais, a modalização e as escolhas lexicais.

Em adição, recorremos à teoria da valoração (White, 2001, 2015), uma vez que a manutenção ou reprodução da estrutura social pode ser evidenciada através da sugestão de uma atitude de aceitação ou reprovação. Para isso, são mobilizadas valorações de afeto, julgamento (estigma ou aprovação social) e apreciação (reação, composição e valor). Novamente, são aspectos lexicais e sintáticos (por exemplo, via adjetivação, referenciação e elipse) que nos permitirão verificar como as autoras se posicionam e valoram práticas de amamentação ou desmame em textos nos quais pesa frequentemente a experiência pessoal.

Neste trabalho, observamos principalmente as categorias de afeto e julgamento. Conforme organizado por Wilson (2008WILSON, C. D. R. J. Relações interpessoais em um fórum de discussão online: A perspectiva sistêmicofuncional em práticas discursivas de ensino a distância. 2008. 268p. Tese (Doutorado em Letras) - Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/13129/13129_1.PDF. Acesso em: 17 maio 2023.
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), a valoração de afeto diz respeito às respostas emocionais positivas ou negativas do autor do enunciado, mobilizando os binômios felicidade/infelicidade; segurança/insegurança; satisfação/insatisfação. Ao valorar eventos em termos emocionais, convida-se o interlocutor a compartilhar a resposta emocional ou a vê-la como apropriada e bem-intencionada. De acordo com White (2001), quando há essa conexão entre interlocutores, é possível que o ouvinte/leitor esteja mais aberto a aspectos ideológicos do falante/escritor.

O parâmetro de julgamento, por sua vez, consiste na avaliação das regras convencionais ou da ética do comportamento humano. Daí sua divisão em estigma social e aprovação social. Em outras palavras, a valoração de julgamento envolve algum tipo de regulação do comportamento (por motivos religiosos, morais ou legais). Segundo White (2001), o julgamento pode ser realizado como um pressuposto, sugerido ao interlocutor, por meio de tokens de julgamento, isto é, uma descrição aparentemente imparcial de algo externo. Em particular, as categorias de julgamento nos ajudam a perceber como as autoras aproximam ou afastam o não-aleitamento do estigma social.

Apresentado o aparato teórico que enquadra nosso trabalho, desenhamos, na seção seguinte, o percurso metodológico de nossa pesquisa e, então, procedemos à análise multimodal dos textos sobre amamentação em postagens referentes à Semana Mundial de Amamentação feitas por profissionais da saúde, para melhor compreender os discursos ali materializados.

4 OS DISCURSOS SOBRE AMAMENTAÇÃO EM POSTAGENS DE INSTAGRAM

Com o surgimento dos smartphones e o lançamento do Instagram, as redes sociais abriram espaço para as mídias sociais, ou seja, plataformas digitais para promoção de conteúdos e produtos muito além da promoção do contato entre pessoas (Hissa, 2022). Conforme Hissa, não seria leviano dizer que, nas mídias sociais, nossas interações são baseadas em um fluxo contínuo de designs a partir dos dados que deliberadamente oferecemos aos algoritmos. Não há nada que não seja instagramável, de forma que temas e eventos podem ser mais facilmente acessados e publicizados, gerando a falsa impressão de um fórum para diferentes ideias.

Um dos eventos específicos da esfera da saúde que ganhou ampla visibilidade com as mídias sociais foi a Semana Mundial de Amamentação (SMAM). Essa campanha mundial ajuda não somente a mobilizar práticas e discursos pró-aleitamento materno como, em sua divulgação nas redes sociais, abre o diálogo com discursos menos alinhados às diretrizes mundiais e nacionais para nutrição na primeira infância.

Para selecionar o corpus da pesquisa, pensando na expansão do tema na mídia social Instagram, optamos pela tag com as inicais do evento #SMAM entre 2019 e 2021, quando houve um aumento significativo de postagens relacionadas ao tema. A partir dessa primeira seleção, selecionamos as postagens com maior número de acessos feitas por profissionais da saúde com contas de perfis abertos.

Sobre os procedimentos de análise, é preciso lembrar que textos multimodais trabalham pela composição de clusters ou agrupamentos multimodais. No Instagram, esse cluster é o próprio post (imagem ou imagem mais texto) e sua respectiva legenda. Nessa plataforma, há restrições para a configuração da legenda no Instagram: pode-se inserir emoji e hashtags bem como usar caixa alta, porém não há recursos tipográficos de ênfase como itálico ou negrito e não é possível inserir link - na versão da plataforma daqueles anos, também não se marcavam pessoas, nem adicionavam músicas às postagens.

Levando isso em consideração, começamos pelas imagens das postagens, uma vez que elas primeiro se apresentam aos usuários de redes sociais, passando, na sequência, para o texto das legendas. Na primeira etapa, analisamos os discursos mobilizados pela imagem ou pelos agrupamentos multimodais a partir dos significados representacionais, interacionais e composicionais. Na segunda etapa, analisamos, a partir das estruturas linguísticas, aspectos de valoração e alinhamentos discursivos sobre o aleitamento materno no âmbito da SMAM. É importante enfatizar que não coletamos postagens referentes a uma determinada campanha da SMAM, mas aquelas que tiveram o maior número de acessos segundo as especificações que construímos para o corpus.

Finalmente, pontuamos que, apesar dos vários comentários e das réplicas e respostas que surgem em postagens com tantos acessos, nossa análise não se expande para a moldura argumentativa das postagens. O interesse de nosso trabalho reside no estudo da gramática do design visual e da experiência da pesquisadora com a temática do aleitamento materno manifesta e construída principalmente pelas postagens.

A primeira postagem analisada foi publicada em 4 de agosto de 2020, ou seja, no começo do agosto dourado e das postagens do tema da SMAM. O autor da postagem é um médico pediatra. Identificamos na imagem um agrupamento verbal e imagético (cluster multimodal) em que uma mamadeira está posta ao centro e cercada acima e abaixo pelos dizeres “Aqui também cabe amor: Não julgue” (Figura 1). Apesar de vinculada à Semana Mundial da Amamentação, não há criança ou nutriz na imagem, mas o objeto que é frequentemene associado ao desmame precoce.

Figura 1
Postagem “Aqui também tem amor”

Recorrendo à gramática do design visual, verificamos um processo conceitual simbólico concentrado na imagem da mamadeira, representada ao centro na altura do olho e com total nitidez fotográfica, portanto, afirmando seu valor de verdade e relevância para o observador. A mamadeira, que tradicionalmente materializa as críticas de campanhas pró-aleitamento materno aos objetos e aos discursos que promovem a cultura do desmame, tem na postagem seu sentido transformado em um recipiente de amor materno pelo agrupamento multimodal com os dizeres “aqui também cabe amor”. Essa pequena oração escrita em fonte de cor rosa faz um apelo sexista ao público feminino, geralmente responsável pelas escolhas sobre amamentação das crias. Em “aqui também cabe amor”, o dêitico aponta para a mamadeira e passa a caracterizá-la como objeto de afeto em igual capacidade ao seio materno. Observa-se que, posicionado na parte superior da imagem, o texto estabelece uma relação idealizada com a mamadeira, isto é, a mamadeira como recipiente de amor é um ideal (que precisa da ausência de julgamentos para ser atingido).

Com o imperativo “Não julgue” situado na porção inferior, ou seja, no âmbito do real, do tangível, o autor deixa implícito seu julgamento de estigma social vindo do interlocutor e propõe um comportamento a quem observa a imagem - especificamente, às mães lactantes.

O agrupamento multimodal que se apresenta na postagem traz o conflito ideológico e social entre mães que usam mamadeira - supostamente menos preocupadas com a nutrição dos bebês ou com seu desenvolvimento na primeira infância - e mães que amamentaram. Anuncia-se, portanto, uma construção contraditória no âmbito da Semana do Aleitamento Materno materializada na mamadeira.

Na sequência, expomos o texto da postagem que vai articular seu sentido ao proposto pelo agrupamento discutido anteriormente:

Postagem 1

Só pode falar isso quem colaborou com a realização da SMAM:

Resposted from @xoleite Amamentar bebê com restrição alimentar? Simmm! Julgar quem não amamenta? Nãooo!

Todo ano na época da SMAM falo isso. Por favor, mais amor entre as mães e menos julgamentos baseados em o que a criança bebe ou come ou faz ou qualquer outro motivo.

Se você parou de amamentar, tenho certeza de que não foi uma decisão fácil, ou talvez nem foi uma decisão (geralmente não é), foi algo que fugiu do seu alcance. Acalme seu coração. Você demonstra o seu amor de infinitas maneiras. Ama e é amada. Não se culpa, não se julgue.

E se você amamenta, não julgue, não culpe outra mãe.

Cada mãe tem uma bagagem pesada de dores e amores. Se usarmos nossa energia para espelhar fraternidade, para nos apoiarmos mutuamente, esse peso fica mais leve e a vida de todas mais feliz. (Veras, 2020VERAS, M. Aqui também cabe amor. Instagram: @drmagnoveras. 4 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CDfDppylsQm/?igsh=MW9ncHFhd3hlMzZxZg%3D%3D Acesso em: 12 maio 2022.
https://www.instagram.com/p/CDfDppylsQm/...
)

A primeira observação sobre o texto é sua autoria: a legenda não foi escrita pelo profissional da pediatria, mas por uma mãe produzindo conteúdo a partir de sua experiência com Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). É necessário ressaltar que amamentar crianças com restrição alimentar - pensando que um grupo seleto passará por essa experiência - é um grande desafio e o perfil em que o texto foi publicado primeiro reporta a experiência de uma mãe. Dessa maneira, a autora do texto original usa de sua autoridade laico-vivencial cooptado pelo pediatra para defesa mais ampla de mães que optam pela mamadeira. Observa-se que o discurso do desmame, portanto, se manifesta no redirecionamento argumentativo promovido por um homem médico das palavras de uma mulher mãe compartilhando experiências no Instagram.

Para pontuar sua autoridade no assunto, o profissional restringe o poder de fala generalizado típico das redes sociais ao pontuar que “só pode falar isso quem colaborou com a realização da SMAM”. No texto da legenda da postagem, a autora original realiza uma mediação de diferentes pontos de vista “se você parou de amamentar” e “se você amamenta”, em uma atitude apaziguadora a partir do afeto materno. Em sua perspectiva, as mães de bebês com restrições alimentares precisam de maior acolhimento, o que caberia às demais. Removida a condição da APLV, pela apropriação da campanha da SMAM e o foco na mamadeira enquanto alternativa para alimentação da criança, aponta-se como não problemática a escolha pelo não aleitamento. A argumentação expressa em “Você demonstra o seu amor de infinitas maneiras. Ama e é amada” afasta o saber científico e médico da postagem para valorizar a subjetividade das mães - lembremos que esse é um dispositivo argumentativo importante operado por um profissional da pediatria que incorpora como seu o texto da primeira autora.

Na perspectiva da teoria da valoração, o texto da legenda passa do afeto ao julgamento no sentido da aprovação social, buscando afastar o estigma. De acordo com White (2015WHITE, P. R. R. Appraisal Theory. In: TRACY, K. The International Encyclopedia of Language and Social Interaction. Nova Jersey, John Wiley & Sons, 2015. Disponível em: https://www.prrwhite.info/prrwhite,%202015,%20Appraisal%20theory,%20Wiley%20Encylopedia.pdf. Acesso em: 20 maio 2023.
https://www.prrwhite.info/prrwhite,%2020...
), o posicionamento de valor não autoral de afeto estabelece um vínculo entre falante/escritor e ouvinte/leitor no sentido da cumplicidade sobre o que é posto em pauta. O profissional da pediatria usa esse valor ao corroborar a mensagem acerca da impossibilidade do aleitamento materno. Em sua argumentação, a autora original também traz valorações de julgamento, no sentido da normalidade e da capacidade, afirmando ser normal não amamentar e não ser um sinal de incapacidade do afeto materno - que na experiência subjetiva de uma mãe é acolhimento com outras que viveram ou viverão o mesmo conflito, mas para o perfil de um profissional da pediatria é autorização via ciência da medicina de processos de desmame.

A (re)postagem feita por um homem com a autoridade científica, que poderia validar as informações sobre a APLV, acaba por materializar o discurso do desmame sem relativiziar ou discutir em maior profundidade a temática da amamentação. Dessa maneira, dentro da tag para a Semana Mundial de Aleitamento Materno vemos circular discursos opostos ao aleitamento, construídos a partir dos elementos de afeto associados à maternidade. No fluxo de leitura superficial, que as plataformas sociais parecem estimular, a reflexão sobre o desmame pode ficar perdida.

A segunda postagem (Figura 2) contém a imagem de uma criança deitada em um berço utilizando a mamadeira. Novamente se trata de um agrupamento, pois logo acima da imagem em sobreposição estão os dizeres em caixa alta “sobre julgamentos”. Para preservação da imagem da criança, borramos a fotografia. Contudo, é possível ver que a imagem constitui um processo narrativo em que há demanda da criança representada para quem observa. No centro na imagem, ela captura, ao se alimentar com a mamadeira, a atenção de quem observa, em ângulo plongé, tal como um adulto olha para a criança no berço. A criança é filha da autora da postagem, como é revelado no texto da legenda.

Escrito em 2018, o texto da legenda foi repostado para referenciar a #SMAM em 2020. Ele relativiza o próprio conteúdo em termos de valoração de julgamento ao afirmar que “esse post não é uma apologia à mamadeira”, mas “é um post sobre o amor e compaixão ao próximo”, já indicando a argumentação pela lógica afetiva predominante. Para a autora, em sua valoração, seu texto ainda é “extremamente pertinente” por intentar mitigar os julgamentos sobre mães que recorrem à mamadeira por questões de saúde, de demanda de trabalho ou de interação medicamentosa.

Figura 2
Postagem “Sobre julgamentos”

Nesse percurso, é possível observar que há recursos da escrita que pretendem simular a expressividade do alongamento das vogais (“cooooomo”) ou uma fala mais enfática por meio de caixa alta (“NÃO TEM LEITE SUFICIENTE”, “É O MELHOR ALIMENTO PARA UMA CRIANÇA EXCLUSIVAMENTE, ATÉ 6 MESES”) e sinais de pontuação (??????).

Postagem 2

Hoje vou repostar um post meu de 2 anos atrás, mas que acho extremamente pertinente de ser refeito na #smam2020

Espero que gostem!

O textão de hoje é sobre: julgar menos.

Sabe aquela mulher que não amamenta? Aquela que você vê com um recém nascido na mamadeira? Geralmente ela tem que enfrentar olhares de reprovação. O mundo julga “cooooomo uma mãe não amamenta seu filho! Que crueldade!”.

Mas poucos sabem o que se passa com aquela mãe. Algumas simplesmente NÃO TEM LEITE SUFICIENTE. Sim, existe leite não suficiente em algumas situações, por mais que te digam que não.

Algumas tem algum problema de saúde e não podem amamentar.

Algumas tiveram que voltar a trabalhar cedo por diversos motivos.

Algumas tem depressão e o medicamento não permite. Algumas simplesmente NÃO querem. Sabe, o leite materno É O MELHOR ALIMENTO PARA UMA CRIANÇA, EXCLUSIVAMENTE, ATÉ 6 MESES.

MAS temos que analisar todo um contexto.

Se você não amamentou, não se sinta mal. Deixe que falem. Deixe que te critiquem. Você tem a mesma troca de olhar com seu filho, o mesmo amor e carinho. O mundo já anda tão pesado, a maternidade já é tão difícil às vezes. Já nos enchemos de culpas. Não embarque em mais essa culpa. Vamos abraçar as mães que não conseguem.

Eu ouvi na maternidade: VOCÊ ACHA QUE COLOSTRO É IMPORTANTE PARA SUA FILHA?????? Sim, eu acho, mas não tinha.

O que eu ia fazer?

E está aqui ***, linda, saudável, forte, apenas resfriou levemente 2x em 1 ano e 1 mês.

Esse post não é uma apologia à mamadeira. Eu incentivo o LME com meus pacientes. Os que querem e tem dificuldade, vem ao consultório 2, 3x na semana para ser incentivadas e orientadas. O LM é a coisa mais linda que Deus criou. A possibilidade de uma mãe nutrir seu filho sem gastar nada com isso. É democrático. Mas em casos muito específicos, não funciona.

É um post sobre o amor e compaixão ao próximo. (Paula, 2020PAULA, C. Sobre Julgamentos. Instagram: @pediatrachris. 6 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CDi-j44pnEl/?igsh=MWlsdTdnYmZ2YTAzag%3D%3D. Acesso em: 15 maio 2022.
https://www.instagram.com/p/CDi-j44pnEl/...
)

Observamos que o texto segue uma valoração de julgamento de forma predominante, tanto no posicionamento da autora, “É O Melhor Alimento”, quanto nos posicionamentos que ela atribui a agentes externos, “o mundo julga” ou “poucos sabem”.

Apesar de o argumento afetivo predominar por todo o texto da legenda, é preciso salientar que a a autora deixa evidência de sua formação médica em “Sim, existe leite não suficiente em algumas situações, por mais que te digam que não”. Nesse trecho, sua voz entra em conflito com um sujeito plural indeterminado, o qual materializa tanto o senso comum como guias oficiais para profissionais de saúde:

A quantidade de leite que a mulher produz depende principalmente de quanto de leite está sendo consumido pela criança ou retirado da mama. Logo, quanto mais vezes a criança for ao peito e mais leite consumir, mais leite a mulher vai produzir. Isso explica por que as mulheres podem doar leite sem que isso prejudique a amamentação de seus filhos, assim como mães de gêmeas ou gêmeos são capazes de alimentar as crianças exclusivamente com o seu leite (Brasil, 2019, p. 25).

O posicionamento da autora na esfera discursiva da medicina está presente também em “Eu incentivo o LME com meus pacientes. Os que querem e tem dificuldade, vem ao consultório 2, 3x na semana para ser incentivadas e orientadas”, quando usa as palavras “pacientes” e “consultório” no sentido pró-aleitamento materno exclusivo. É possível afirmar que, no conflito ideológico de médica e mãe, a autora constrói a representação de si como a profissional humanizada, que reconhece o aleitamento materno como algo benéfico para bebês, mas não perde o foco das questões bio-psico-sociais que envolvem a amamentação - justamente por ela mesma ser uma mãe que não amamentou.

Algumas simplesmente NÃO TEM LEITE SUFICIENTE. [...]

Algumas tem algum problema de saúde e não podem amamentar.

Algumas tiveram que voltar a trabalhar cedo por diversos motivos.

Algumas tem depressão e o medicamento não permite. Algumas simplesmente NÃO querem. (Paula, 2020PAULA, C. Sobre Julgamentos. Instagram: @pediatrachris. 6 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CDi-j44pnEl/?igsh=MWlsdTdnYmZ2YTAzag%3D%3D. Acesso em: 15 maio 2022.
https://www.instagram.com/p/CDi-j44pnEl/...
)

Chamamos atenção para o trecho acima devido ao paralelismo causado na repetição de algumas (mulheres ou mães) e os diversos fatores que as levam ao não aleitamento, como questões de saúde física, mental ou questões trabalhistas. Essa repetição, ao mesmo tempo que salienta as especificidades dos fatores, também aponta para a pluralidade de mulheres que podem se encontrar nessas situações. As motivações citadas pela autora da postagem estão citadas também no estudo de Fialho et al. (2014FIALHO, F. et al. Fatores associados ao desmame precoce do aleitamento materno. Rev Cuid, Bucaramanga, v. 5, n. 1, p. 670-678, 2014 Disponível em: https://tinyurl.com/3j27crsh. Acesso em: 20 maio 2021.
https://tinyurl.com/3j27crsh...
) sobre as justificativas que as mães apresentavam para o desmame precoce em um programa de assistência à saúde da família. Dentre as causas relatadas aos autores estavam “leite secou” (23,7%), “tinha pouco leite” (13,1%), “precisava trabalhar” (7,9%), “decidiu parar” (5,3%), “estresse” (5,3%), “recomendação médica” (5,3%).

Vale salientar, ainda, que a autora da legenda não distingue entre as “algumas” que não podem e aquelas mulheres que não querem amamentar. Consideramos interessante marcar aqui a construção “simplesmente NÃO querem”. O uso da alteração tipográfica busca reforçar o valor da condição das mulheres que não amamentam, encapsulando ou resumindo tudo que é dito anteriormente no exclusivo desejo da mãe. O simplesmente não querer amamentar, à revelia dos benefícios para a saúde do recém-nascido, passa a ser autorizado junto aos demais motivos médicos e clínicos, possibilitando o não aleitamento materno de forma leviana. No mesmo paralelismo que aceita e justifica, Paula (2020PAULA, C. Sobre Julgamentos. Instagram: @pediatrachris. 6 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CDi-j44pnEl/?igsh=MWlsdTdnYmZ2YTAzag%3D%3D. Acesso em: 15 maio 2022.
https://www.instagram.com/p/CDi-j44pnEl/...
) passa como aceitável não querer amamentar, apesar do benefício para a saúde na primeira infância.

Essa inconsequência está implícita quando narra sua própria experiência na maternidade: “Sim, eu acho, mas não tinha. O que eu ia fazer? E está aqui ***, linda, saudável, forte, apenas resfriou levemente 2x em 1 ano e 1 mês”. A autora, ao alegar que não produziu colostro, desiste de recorrer ao conhecimento médico, ignora as recomendações dos guias de saúde e mostra que é possível uma criança crescer saudável sem amamentar. Com isso, ela preserva a estrutura de poder social que prioriza o mercado da fórmula e o discurso do desmame.

Uma vez que os discursos funcionam também através do não dito, a ênfase nas justificativas para não amamentar ocultam os motivos para amamentar, a exemplo dos benefícios à saúde do bebê. De modo similar, quando a autora afirma que “Os que querem e tem dificuldade, vem ao consultório 2, 3x na semana para ser incentivadas e orientadas.”, deixa implícito que amamentar não é um processo fácil, precisa de orientação e, principalmente, das condições econômicas e sociais para recorrer com frequência à orientação profissional. Então, mesmo que o alietamento seja “A possibilidade de uma mãe nutrir seu filho sem gastar nada com isso. É democrático.”, na postagem há igualmente a defesa dos fatores que incentivam o desmame, evidenciando os discursos como materialização de conflitos ideológicos pelos diferentes grupos sociais em que se inserem os sujeitos.

A próxima postagem, “Amamentação e Privilégios”, usa como fundo a imagem de um bebê sendo alimentado no seio com sobreposição do texto em fonte preta emoldurado pela identidade visual da profissional. Na fotografia, um recorte em plano fechado sobre o bebê, não verificamos o contato visual direto entre as figuras representadas, mas há um processo narrativo, pois o bebê está voltado para o seio que o amamenta. Outrossim, não verificamos o contato visual entre as figuras representadas e quem observa a imagem; logo, há uma relação de oferta, tornando o usuário da mídia social um espectador da narrativa de amamentar.

Figura 4
“Amamentação e Privilégios”

Observa-se que o bebê, vestido de branco, domina grande parte da imagem. Sua boca, sugando o seio, está no centro da composição, afirmando a relevância do ato para o espectador. Por outro lado, a fotografia foi usada com suavização de contraste, o que gera uma associação com a moldura da profissional e evidencia o alinhamento pró-aleitamento da autora de forma não verbal. Contudo, esse recurso diminui a modalização de verdade da imagem, ou seja, amamentar aproxima-se de uma idealização ou de um projeto, mas não necessariamente de um fato. Com a sobreposição do texto, instaura-se, portanto, um conflito: a profissional que se alinha ao pró-aleitamento o lê como uma condição de privilégio. O jogo de maiúsculas do texto mostra a ênfase da autora para aquele momento: anunciar o tema e a problematização, ao passo que o itálico não deixa de sinalizar para o leitor a importância de se falar sobre o assunto; por isso, as reticências levam o leitor à legenda.

No texto da legenda, a autora faz uso do emoji de uma mulher amamentando para enumerar e finalizar o texto. No primeiro caso, o emoji funciona como um marcador para os argumentos apresentados em tópicos, enquanto seu uso no final do texto busca “encerrar um debate”, embora entre em contradição com as “mães” que não puderam amamentar, referidas pela autora.

Postagem 3

Nesta semana é celebrada a SMAM (Semana Mundial do Aleitamento Materno) para falarmos não só da importância da amamentação, mas como ela é privilégio para poucas. “Como assim privilégio?”, sei que vão me perguntar.

(emoji) Nem toda mulher é informada sobre amamentação no pré-natal

(emoji) Nem toda mulher pode amamentar seu bebê na primeira hora de vida

(emoji) Nem toda mulher tem apoio da família para amamentar

(emoji) Nem toda mulher tem como arcar com uma consultora de amamentação

(emoji) Nem toda mulher tem dinheiro para comprar uma bomba para fazer ordenha e deixar seu leite para o bebê

(emoji) Nem toda mulher tem licença maternidade para se dedicar exclusivamente aos cuidados do bebê

(emoji) Nem toda mulher é cercada por bons profissionais pró-aleitamento

e mais N motivos que não cabem aqui nessa pequena legenda do Instagram.

Nesta SMAM temos que falar sim sobre os benefícios do aleitamento materno, mas reconhecer que nem sempre é “mais fácil amamentar” e que nem todas conseguem, principalmente, as mulheres periféricas. Faltam pesquisas sobre os índices de aleitamento materno no Brasil atualmente, mas um relatório preliminar do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) mostra que 45% dos bebês brasileiros mamam exclusivamente o leite materno até os seis meses. Os dados melhoraram nos últimos anos, mas ainda é a minoria que consegue seguir a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Não culpabilizem as mães! (emoji) (Bezerra, 2021BEZERRA, G. Amamentação e privilégios. Instagram: @dragabrielabezerra. 2 de agosto de 2021. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CSE68ChHxfN/?igsh=MmF5bjZxaWs2Nmdw. Acesso em: 20 maio 2022.
https://www.instagram.com/p/CSE68ChHxfN/...
)

Nessa postagem, a autora faz uma breve introdução para explicar o que anuncia na imagem com “privilégios da amamentação”. Para isso, ela recupera o discurso alheio em meio a suas próprias palavras diferenciadas pelas aspas (“Como assim privilégio?”), e desenvolve seus argumentos com duas estratégias: enumeração de respostas à pergunta e apresentação de dados de fontes oficiais. Na resposta à pergunta que supostos interlocutores fariam, a autora lista fatores que contribuem para a amamentação ainda ser uma prática privilegiada, incluindo a responsabilidade dos profissionais de saúde na condução do pré-natal e puerpério (“informada sobre amamentação no pré-natal” e “cercada por bons profissionais pró-aleitamento”) - como apontado por Melo et al. (2019MELO, L. C. O. et al. Primary Health Care Attributes in Breastfeeding Care. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 28, 2019. Disponível: https://www.scielo.br/j/tce/a/VVtmRhssVLH9HmMXhCBmVRm/?lang=en. Acesso em: 21 set. 2021.
https://www.scielo.br/j/tce/a/VVtmRhssVL...
). Esse posicionamento vai na direção oposta das outras postagens, retirando da mulher o julgamento do estigma social, e observando, por outro lado, a ausência de suporte social, familiar e financeiro como fatores para o desmame precoce.

Segundo White (2001), a forma com que as pessoas realizam seus julgamentos varia com a cultura, as experiências, as expectativas e as crenças dos indivíduos. Existe sempre a possibilidade de que um mesmo evento seja julgado de formas diferentes conforme a posição ideológica dos sujeitos - como podemos ver no contraste entre a postagem 2 e 3 analisadas. Se a postagem 2 opta por enfatizar a possibilidade da outra via de nutrição, a postagem 3 enfatiza os fatores que precisam mudar para que a amamentação ocorra de forma democrática e sustentável para as mulheres. Mas ambas seguem propostas diferentes da postagem 1, pautada na relação afetiva mãe-bebê.

A postagem 3 apoia-se também na argumentação de autoridade com os dados do ENANI, de acordo com o qual 45% dos bebês brasileiros mamam exclusivamente o leite materno até os seis meses. Esses dados ajudam a desvincular a ideia de culpabilizar mulheres (“Não culpabilizem as mães!”) e denunciam a sociedade que não promove o suporte necessário para que haja aleitamento materno nos moldes das diretrizes nacionais e internacionais. Dessa maneira, observamos que o discurso pró-aleitamento que circula durante a Semana Mundial de Aleitamento Materno não é dissociado das questões sociais que perpassam a vida da mulher, incluindo as diferenças sociais e suas consequências para o acesso à informação, rede de apoio e profissionais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A amamentação se tornou o foco de várias políticas públicas voltadas para a saúde na primeira infância em combate ao desmame precoce. Todavia, para a mulher amamentar é preciso mais que diretrizes oficiais. As mulheres precisam, para além de boa saúde física e orientações no pré-natal, de rede de apoio e de condições socioeconômicas para garantir aleitamento exclusivo, minimamente por seis meses. Com as redes sociais, a possibilidade de acessar informações sobre a amamentação, inclusive campanhas mundiais e profissionais da saúde materno-infantil, expande-se de forma vertiginosa. Todavia, como demonstramos, nem sempre as postagens de campanhas pró-aleitamento materno compartilham esse alinhamento. Então, Observa-se que a prática social do desmame, incentivada pelas grandes indústrias, é também incentivada por mulheres que praticam o desmame.

Os discursos materializados nas postagens de Instagram de profissionais da saúde mostram o conflito ideológico que se estabelece. Por um lado, o discurso contra o aleitamento manisfesta atitudes de afeto e julgamento, dispensando ou questionando o saber científico para enfatizar experiências e emoções de mães que não amamentaram. Por outro lado, o discurso pró-aleitamento se configura a partir de dados oficiais e da relativização da responsabilidade da mulher em função das questões sociais que podem interferir na amamentação. Ambos os posicionamentos tensionam as relações entre mães lactantes e não-lactantes, em geral vistas pela sociedade como as únicas responsáveis pelo aleitamento. O que é preciso ser enfatizado nas pesquisas sobre conteúdo em mídias sociais é que nem sempre quem acessa exerce uma leitura crítica do fluxo incessante de postagens sobre um mesmo assunto de forma a discernir as nuances argumentativas dos posicionamentos que se apresentam por detrás das imagens de bebês, mamadeiras ou, ainda, com a voz de “@dra”.

REFERÊNCIAS

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  • BEZERRA, G. Amamentação e privilégios. Instagram: @dragabrielabezerra. 2 de agosto de 2021. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CSE68ChHxfN/?igsh=MmF5bjZxaWs2Nmdw Acesso em: 20 maio 2022.
    » https://www.instagram.com/p/CSE68ChHxfN/?igsh=MmF5bjZxaWs2Nmdw
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Bases para a discussão da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/bases_discussao_politica_aleitamento_materno.pdf Acesso em: 21 maio 2022.
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  • BRASIL. Ministério Da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf Acesso em: 20 maio 2022.
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  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema Único de Saúde: manual de implementação. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_nacional_promocao_aleitamento_materno.pdf Acesso em: 26 abr. 2023.
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  • BRASIL. Portaria nº 1.920, de 5 de setembro de 2013. Institui a Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema Único de Saúde (SUS) - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1920_05_09_2013.html Acesso em: 20 maio 2022.
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    Conforme o Panorama Mobile Time/Opinion Box - Uso de Apps no Brasil (2022), o Instagram se tornou a plataforma mais acessada pelos brasileiros.
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    É importante salientar que tais materiais e disposições legais reproduzem, de modo geral, uma concepção instrumental do papel da mulher-mãe na sociedade (Kalil; Costa, 2012). Esse aspecto também é debatido por Haberland e Scisleski (2018) quando afirmam que, uma vez que as diretrizes fazem da mãe o foco do desenvolvimento saudável, outras faces das vidas das mulheres são desvalorizadas diante das práticas biologizadas e protocoladas, principalmente para profissionais da saúde no atendimento a essas mulheres.

Editor de Seção:

Fábio José Rauen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    14 Jun 2023
  • Aceito
    28 Jun 2024
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