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ARTICULAÇÃO ADVERBIAL NO DISCURSO RELIGIOSO

ADVERBIAL ARTICULATION IN RELIGIOUS DISCOURSE

L’ARTICULATION ADVERBIALE DANS LE DISCOURS RELIGIEUX

ARTICULACIÓN ADVERBIAL EN EL DISCURSO RELIGIOSO

Resumo

Este artigo trata do levantamento, da descrição e da análise interpretativa de advérbios locativos e temporais/aspectuais em textos religiosos da sincronia atual e do período arcaico da língua portuguesa. Com base em pressupostos funcionalistas, a pesquisa sobre advérbios locativos focaliza questões relativas à ordenação, à polissemia, à variação e à gramaticalização desses constituintes, com foco também na concorrência dos mesmos para a caracterização discursiva das obras pesquisadas. Já a pesquisa sobre os advérbios temporais/aspectuais focaliza, sobretudo, as questões relativas a pressões estruturais.

Palavras-chave:
discurso religioso; advérbio; ordem; polissemia; gramaticalização

Abstract

This paper presents a survey, description and interpretative analysis of the use of adverbs of place and time/aspect in religious texts of the current synchrony, and of the archaic period of the Portuguese language. Based on the functionalism theory, the research about adverbs of place focuses on issues related to the ordering, polysemy, variation and grammaticalization of these constituents, as well as on the competition among them for the discursive characterization of the works researched. As regards adverbs of time/aspect, the study focuses mainly on issues related to structural pressures.

Keywords:
religious discourse; adverbs; order; polysemy; grammaticalization

Résumé

Cet article fait la discussion de l’assemblage, de la description et de l’analyse interprétative des adverbes locatifs et temporels/aspectuels dans des textes religieux de la synchronie actuelle et de la période archaïque de la langue portugaise. Ayant comme base les présupposés fonctionnalistes, la recherche sur des adverbes locatifs focalise des questions relatives ayant un rapport à l’ordre, à la polysémie, à la variation et à la grammaticalisation de ces constituants, en faisant ressortir aussi dans la concurrence des mêmes pour la caractérisation discursive des œuvres recherchées. D’autre part, la recherche sur les adverbes temporels/aspectuels focalise, surtout, les questions relatives aux pressions structurales.

Mots-clés:
discours religieux; adverbe; ordre; polysémie; grammaticalisation

Resumen

Este artículo trata del registro, la descripción y el análisis interpretativo de adverbios locativos y temporales / aspectuales en textos religiosos de la sincronía actual y del período arcaico de la lengua portuguesa. Basada en presupuestos funcionalistas, la investigación acerca de adverbios locativos enfoca cuestiones relativas a la ordenación, a la polisemia, a la variación y a la gramaticalización de esos constituyentes, enfocando asimismo su concurrencia para la caracterización discursiva de las obras investigadas. La investigación sobre los adverbios temporales / aspectuales enfoca, sobre todo, las cuestiones relativas a presiones estructurales.

Palabras-clave:
discurso religioso; adverbio; orden; polisemia; gramaticalización

1 INTRODUÇÃO

Neste artigo, apresentamos resultados da pesquisa integrada Ordenação de advérbios no português escrito: uma abordagem histórica,1 1 Projeto apoiado pelo CNPq, em desenvolvimento no Grupo de Estudos Discurso & Gramática - UFRJ e UFF, a partir de 2003. que, à luz da orientação teórica funcionalista, com base em Bybee e Hopper (2001______; HOPPER, Paul (Eds.). Frequency and the emergence of linguistic structure. Amsterdan/Philadelphia: John Benjaming Company, 2001.) e Givón (2001GIVÓN, Talmy. Syntax: an introduction. v. 1. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2001. ), entre outros, examina as relações entre a configuração da estrutura lingüística e os sentidos por ela articulados. Privilegiamos aqui o uso de itens pronominais locativos e de advérbios de tempo e aspecto na articulação de textos escritos de cunho religioso cristão, entendidos como um tipo de produção vazada em discurso específico, marcado por traços que lhe conferem identidade, ou seja, forma própria de um determinado dizer e fazer.

Ao nos concentrarmos no uso dos advérbios pronominais locativos (seção 4), partimos da ordenação destes constituintes, observando a polissemia que cerca algumas de suas ocorrências, a variação, ou competição, com outras formas lingüísticas, bem como fenômenos de gramaticalização, relativos à migração da categoria adverbial para a de conector ou marcador. Com relação aos advérbios temporais/aspectuais (seção 5), preocupamo-nos principalmente, num primeiro momento, em apresentar as posições mais tipicamente usadas em textos escritos religiosos e nas motivações, sobretudo sintáticas, para explicar tais ordenações.

O foco da análise dos dois tipos de advérbios (locativos e temporais/ aspectuais) também reside na verificação de como esses constituintes concorrem para a articulação textual dos corpora pesquisados, como um dos mecanismos responsáveis pela expressão do discurso religioso.

2 DISCURSO RELIGIOSO

O material que constitui a base empírica de nossa análise apresenta especificidade discursiva. Trata-se de textos de doutrinação religiosa cristã, que, conforme Orlandi (1987ORLANDI, Eni. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo, Pontes, 1987., p. 243), identificam-se como aqueles em que fala a voz de Deus: a voz do padre - ou do pregador, ou, em geral, de qualquer representante seu.

De acordo com a referida autora, são produções marcadas pela anulação da reversibilidade, ou seja, pela impossibilidade de interlocução, de dialogismo entre locutor e ouvinte(s). Tal anulação se motiva pelo papel do locutor nesse tipo de discurso, que se resume a ser o de porta-voz da palavra de Deus, o de mediador dos planos celestial e humano. Essa condição impõe grande distância entre o contexto da produção e o da recepção do discurso religioso, uma vez que se estabelece, de modo definido e inconteste, a separação entre os dois universos envolvidos: de um lado, a virtude, o bem, a salvação; de outro, o pecado, o mal, a purgação.

Assim caracterizado, o discurso religioso define-se também como assimétrico e não-autônomo. Assimétrico por desnivelar categoricamente os envolvidos - locutor e ouvintes, situando o primeiro num patamar distinto daquele em que estão os demais, na medida em que o locutor ocupa o privilegiado lugar de representante da palavra de Deus. Não-autônomo porque o locutor, nesse contexto, não tem qualquer possibilidade de alteração ou modificação da mensagem a ser veiculada, que se resume nos preceitos religiosos, nos dogmas, nas crenças e convicções que precisam ser repassados aos humanos, como seres mortais e pecadores, a fim de que possam chegar ao único caminho da salvação - a palavra divina. Nesse contexto, o locutor não fala em seu nome, não tem maior identidade, resumindo seu papel no de mero repassador da palavra maior.

Todos esses traços conferem ao discurso religioso a marca geral do autoritarismo. A impossibilidade de reversão de papéis entre locutor e ouvinte, bem como a falta de simetria de seus lugares e de autonomia da mensagem veiculada, concorrem para que se instaure o dualismo, o antagonismo, que submete os ouvintes, os que não sabem e não vêem, à força ideológica da fé, que tudo conhece. Por ela, pode-se chegar ao conhecimento e, por tabela, à salvação.

Nos textos aqui trabalhados, de cunho religioso cristão, o contexto da fé tem estreita relação com a Igreja, que se coloca como marco divisório. Para os humanos, pertencer à Igreja significa ser crédulo, portanto, estar em condições de descobrir o caminho da salvação e do perdão; por outro lado, estar fora da Igreja constitui traço de exclusão e marginalização, lugar da ignorância e do pecado.

De acordo com Marcuschi (2002MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Angela; MACHADO, Anna; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36., p. 24), o discurso religioso é um tipo de domínio discursivo, uma vez que não é o texto propriamente dito, mas uma prática discursiva que origina gêneros textuais. Assim, os materiais aqui analisados, enquanto manifestações do discurso religioso, constituem um gênero mais específico: trata-se de obras voltadas para a doutrinação, escritas para a evangelização de jovens e adultos. De acordo com tal perspectiva, essas fontes conjugam o sagrado (todo o capital simbólico da Igreja, seus dogmas, sua tradição) com o social (a proposta de salvação pela palavra divina, a sua missão).

De acordo com a perspectiva teórica que nos orienta, a expressão lingüística, seja em termos de ordenação, seja em termos de configuração morfológica dos constituintes, é motivada por pressões não só estruturais como, e em grande parte, por força da dimensão pragmático-discursiva envolvida na produção textual. Assim posto, conforme Furtado da Cunha, Costa e Cezario (2003, p. 29), o funcionalismo procura explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua analisando as condições discursivas em que se verifica esse uso.

Portanto, a oposição contextual aqui referida se expressa lingüisticamente por distintas marcas. Uma delas é a articulação das relações de espaço e tempo/aspecto. A dicotomia do discurso religioso se instaura também pela dicotomia dos espaços; assim, terra/céu, inferno/paraíso, humanidade/divindade, por exemplo, constituem dimensões ou lugares muito recorrentes nesse tipo de discurso. A oposição de mundos tão heterogêneos concorre para a configuração da dualidade característica dos materiais em análise. Da mesma forma, a questão temporal é trabalhada no sentido de reforçar o contraste dos dois domínios: a ordem temporal do mundo terreno, cronológica e mensurável, e a ordem espiritual, atemporal e incomensurável. Trata-se do uso de estratégias gramaticais, como as referências adverbiais de lugar e tempo/aspecto, como recurso para obtenção de efeitos discursivos característicos dos materiais em análise

Outra motivação diretamente ligada às condições de produção dos textos religiosos em análise e que afeta a ordenação e a funcionalidade dos advérbios é o jogo de seqüências tipológicas com que se organiza esse tipo de texto, conforme Marcuschi (2002MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Angela; MACHADO, Anna; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.). Nos materiais em análise, em geral, em torno de um argumento central desenvolve-se uma série de declarações, destinadas à exposição e detalhamento da questão principal; as seqüências expositivas, por sua vez, costumam vir acompanhadas de narrativas, como trechos que didaticamente ilustram os comentários. Na organização de tais camadas, concorrem determinados usos adverbiais.

Neste artigo, usamos como corpora as seguintes obras: a) da sincronia atual: Tocar o Senhor (TS), do Padre Léo; Um coração que seja puro (CSP), do Padre Zezinho, e Amor é vida (AV), do Frei Anselmo Fracasso; b) do português arcaico: Orto do esposo (OE), texto inédito do fim do século XIV ou começo do XV, em edição de Bertil Maler, de 1956. Para a análise dos locativos, todas as obras foram pesquisadas; para o tratamento dos advérbios de tempo/ aspecto, por enquanto, só foram pesquisadas as duas primeiras.

3 ADVÉRBIOS - FUNÇÃO E CATEGORIZAÇÃO

Seja de um ponto de vista mais tradicional, como o de Camara Jr. (1976CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. História e Estrutura da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1976.) ou o de Bechara (1999BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.), seja de uma perspectiva menos convencional, como a de Ilari et al. (1990ILARI, R. et al. Considerações sobre a posição dos advérbios. In: CASTILHO, A. (Org.). Gramática do português falado: a ordem. V. 1. São Paulo: Ed. da UNICAMP/FAPESP, 1990. p. 63-141.) ou a de Neves (2000NEVES, Maria Helena. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. da Unesp, 2000.), a classe dos advérbios é considerada bastante problemática. Constituída por membros de natureza muito diversa, em termos semânticos, sintáticos e mesmo morfológicos, esse conjunto parece não resistir a uma definição mais geral, capaz de dar conta da totalidade de seus membros.

Nesse sentido, a abordagem categorial prototípica, segundo Taylor (1995TAYLOR, John. Linguistic categorization: prototypes in linguistic theory. Oxford: Clarendon, 1995.), em conformidade com a concepção funcionalista que nos orienta, apresenta-se como o tratamento mais adequado para os membros desse conjunto tão híbrido. De acordo com tal concepção, podemos admitir que, numa dada classe, encontram-se membros situados em pontos distintos em relação ao eixo categorial básico, de acordo com o número de traços compartilhados pelos mesmos. Assim, encontramos constituintes que de modo mais visível representam essa classe; em geral, são termos mais freqüentes e identificados pela comunidade lingüística como pertencentes à categoria. Por outro lado, podemos registrar também termos que, por conta da perda de traços categoriais, tendem a ocupar posição periférica ou marginal em relação ao padrão, situando-se praticamente no limite ou na interseção com outra classe. Neste segundo caso, como Hopper (1991HOPPER, Paul. On some principles of grammaticalization. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. (Eds.). Approaches to grammaticalization. V. 1. Amsterdam: Benjamins, 1991. p. 17-35.), podemos falar em decategorização, em relação à perda de traços da categoria fonte, e recategorização, em termos da incorporação de traços da categoria alvo, com a identificação de processo de gramaticalização, de acordo com Givón (2001GIVÓN, Talmy. Syntax: an introduction. v. 1. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2001. ).

Dos advérbios aqui em análise, os locativos e os temporais/aspectuais, conforme a perspectiva exposta no parágrafo anterior, estariam situados em ponto de maior afastamento em relação ao eixo da categoria dos advérbios. Segundo Ilari et al. (1990ILARI, R. et al. Considerações sobre a posição dos advérbios. In: CASTILHO, A. (Org.). Gramática do português falado: a ordem. V. 1. São Paulo: Ed. da UNICAMP/FAPESP, 1990. p. 63-141.) e Neves (2000NEVES, Maria Helena. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. da Unesp, 2000.), esses tipos de advérbio caracterizam-se, respectivamente, por sua função não-predicativa ou nãomodificadora, uma vez que informações acerca de espaço e tempo não incidem sobre ou afetam a predicação. Assim definidos, estariam tais constituintes predispostos a ocorrer em pontos de maior afastamento em relação ao verbo, conforme prevê o subprincípio icônico de proximidade (GIVÓN, 2001GIVÓN, Talmy. Syntax: an introduction. v. 1. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2001. ; FURTADO DA CUNHA, RIOS DE OLIVEIRA E MARTELLOTA, 2003FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica; COSTA, Marcos Antonio; CEZARIO, Maria Maura. Pressupostos teóricos fundamentais. In: FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica; RIOS DE OLIVEIRA, Mariângela; MARTELOTTA, Mário (Orgs.). Lingüística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 29-55.), segundo o qual conteúdos menos integrados são articulados por formas também menos integradas na superfície textual.

Afora aspectos relativos ao status categorial e à localização, interessanos também mencionar a questão da polissemia envolvida nos usos adverbiais. Conforme a hipótese localista, podemos dizer que a referência espacial seria a mais fundante ou original; a partir desse sentido mais concreto, teríamos a derivação para tempo, de natureza mais abstrata, e, a partir daí, os sentidos lógicos ou textuais, como a referência de modo, numa etapa de maior abstratização. Segundo Pontes (1992PONTES, Eunice. Espaço e tempo na língua portuguesa. Campinas: Pontes, 1992., p. 8-9), através do uso dos mesmos elementos gramaticais, projetamos as categorias de espaço para falar de tempo metaforicamente; conforme a autora, trata-se de derivação de sentido desde tempos imemoriais. O interessante nessa abordagem é que os sentidos originais não são necessariamente descartados diante dos mais recentes, o que vem a gerar polissemia dos usos adverbiais, principalmente na articulação dos sentidos espaciais e temporais, muitas vezes sobrepostos.

4 ARTICULAÇÃO ADVERBIAL DE LUGAR2 2 Esta seção do artigo ficou a cargo da Profa. Mariangela Rios de Oliveira e a análise aqui exposta refere-se às pesquisas realizadas a partir de seu projeto sobre ordenação de advérbios locativos.

Nesta seção, tratamos especificamente dos quatro mais recorrentes itens pronominais uso desses advérbios nos corpora selecionados: ali, aí, aqui e lá, privilegiando sua ordenação na oração, freqüência, polissemia e trajetória de gramaticalização, atentando ainda para os fragmentos tipológicos que articulam e a especificidade do discurso religioso em pauta. No levantamento, tabulação e análise preliminar dos dados, contamos com a participação das bolsistas Pibic/ UFF Evelyn Torres Mendonça de Melo e Ludmilla Lamoglia dos Santos.

4.1 Articulação de ali

Tratamos nesta seção do locativo de maior freqüência em ambas as sincronias pesquisadas. Em 32 dados, dos 81 da fase atual, e em 108 dados, dos 224 do português arcaico, levantamos ocorrências de ali.

Consideramos que a motivação para esses números tenha a ver com o tipo de seqüência tipológica articulado preferencialmente por esse locativo - a narrativa. Nos textos religiosos pesquisados, é significativo o recurso a relatos como forma de ilustração dos preceitos defendidos. Assim articulado, o locativo concorre para a organização de informações subsidiárias, componentes do cenário do texto religioso. Trata-se de 17 fragmentos narrativos na fase atual e 60 no período arcaico.

Nos corpora do português atual, ali tende a se ordenar após o verbo; dos 32 dados, em 19 registros encontra-se o locativo em posição pós-verbal:

(1) Mais uma vez ele [Pedro] experimenta sua fraqueza e vencido pelocansaço, adormece. Mas Jesus estava ali, acorda-o [...] (TS).

(2) Nascendo por entre as pedras duras e desaparecendo por entre a areiaseca havia apenas um pequeno manancial de água... Certo dia passou por ali um gênio maléfico e, invejoso da beleza e da alegria daquela náiade que possuía dois olhos tão belos, feriu-os com suas unhas envenenadas e perversas (AV).

No texto arcaico, por outro lado, dos 108 dados de ali, 67 situam-se antes do constituinte verbal:

(3) E, depois que foy uelho, hua uez estando eno coro, ficou os geolhos emterra ao nome de Jhesu... E logo aly chegarõ dous angeos que o leuantarõ da terra, [...] (OE).

(4) [...] apareceo hua cruz pequena esplandecente em meeo da porta da camaraem que elle jazia, e esteye sospesa emno aar, ataaa que o seu corpo foy daly tyrado (OE).

Nas ocorrências (3) e (4), a localização do locativo confirma a maior mobilidade dos temos na sintaxe arcaica do português, na estruturação de ordenações estranhas aos padrões atuais, principalmente em (4), em que o locativo situa-se entre as formas verbais foy e tyrado, rompendo um tipo de vinculação muito forte nos dias atuais. Essa distinção aponta a maior fixação da sintaxe do português atual.

A par da distinção de tendência de localização de ali nas duas sincronias, o que há são correspondências no uso do advérbio. Além da articulação de trechos narrativos, o locativo costuma atuar em função adjuntiva (20 dados do português atual e 67 da fase arcaica) e referência física concreta (19 da sincronia atual e 75 do período arcaico). Essas características de seu uso encontram-se em consonância com a maior freqüência com que surge em narrativas, trechos em que a dimensão espácio-temporal é um dos pontos centrais. Esses traços fazem de ali o prototípico advérbio locativo nos textos religiosos em análise, uma vez que corresponde ao que seria a configuração semântico-sintática padrão da categoria.

4.2 Articulação de

Dos quatro locativos tratados, apresenta-se, tanto na sincronia atual quanto na fase arcaica da língua, como o segundo constituinte mais recorrente. Trata-se de 21 dados, em 81 nos textos religiosos atuais, e de 90, entre os 224 dados de Orto do esposo.

Além da alta freqüência, mais um ponto coincide em ambas as sincronias - a tendência à articulação de em seqüências textuais do tipo expositivo. De acordo com Marcuschi (2002MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Angela; MACHADO, Anna; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.), trechos expositivos caracterizam-se pela apresentação de análises ou explicações. Nos textos religiosos pesquisados, trechos expositivos concorrem para a inserção, em tom didático, de comentários, detalhamento de preceitos, apresentação de motivos, entre outros, tais como:

(5) O que não podemos compreender é que muitos tenham esse desejo porum simples compromisso social. Aí está o erro (TS).

(6) Dinheiro e pureza de sentimentos quase nunca se casam. Os fatos aí estão (CSP).

Nos textos religiosos atuais, de onde se extraem (5) e (6), o locativo ocorre mais regularmente em posição pré-verbal. Uma das motivações para essa tendência fica por conta de certas estruturas mais ou menos fixas, na composição de unidades pré-fabricadas (UPF), conforme Erman e Warren (2000ERMAN, Britt; WARREN, Beatrice. The idiom principle and the open choice principle. Linguistic - an interdisciplinary journal of the language sciences, Berlin/New York: Mouton de Gruyter, n. 2, p. 29-62, 2000.). Segundo os autores, as UPF caracterizam-se pela forte vinculação semântico-sintática de seus constituintes, na formação de um só arranjo, indivisível, em que cada um dos itens perde em autonomia para que haja ganho no conjunto; as UPF representam formas de dizer ritualizadas pela comunidade lingüística, estruturas prontas e acessíveis, colocadas à disposição dos usuários para a produção de textos. A seleção e freqüência das UPF depende das condições pragmático-discursivas envolvidas na interação. No caso específico dos textos de cunho religioso em análise, essas unidades atuam em prol da apresentação de informações de fundo, como adendos, justificativas e exemplos, tal como verificamos com aí + estar, em (5) e (6).

A segunda motivação que apontamos para a maior incidência da posição pré-verbal de nos corpora atuais fica por conta da tendência deste locativo, hoje, situar-se mais à margem da categoria adverbial, em processo de migração para a classe dos conectores e marcadores (BRAGA, SILVA e SOARES, 2001BRAGA, Maria Luiza; SILVA, Renata; SOARES, Suele. Aí e então e a hipótese da trajetória universal. In: NEVES, Maria Helena. Descrição do português: definindo rumos de pesquisa. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2001. p. 13-23.). A freqüência com que é usado e a tendência à função juntiva fazem de um constituinte articulado preferencialmente antes do termo verbal, em local destinado à informação dada, mais familiar e acessível, segundo Fenk-Oczlon (2001). Com o trecho a seguir, ilustramos esse comentário:

(7) Quando conseguem entender que fazer sexo é uma coisa e fazer amor éoutra, a primeira coisa de que se descartam é das suas idéias de amor livre. vem a burocracia (CSP).

Em (7), num fragmento também de exposição, o sentido do locativo encontra-se mais abstratizado, oscilando entre espaço virtual (= neste ponto), espaço temporal (= neste momento) e espaço textual (= então). A polissemia de revela seu não-alinhamento categorial; o terceiro sentido já aponta para sua gramaticalização como elemento de junção. Dos 21 dados do advérbio na sincronia atual, 11 integram o conjunto de função juntiva, contra seis em função argumental, como complemento verbal, e quatro em função acessória, como adjunto. Quanto à referenciação, a maioria absoluta oscila entre o sentido físico virtual, o temporal e o textual, na demonstração da forte polissemia por que passa atualmente esse advérbio.

No texto arcaico, por outro lado, das 90 ocorrências de , 60 situamse após o verbo. Em cerca de 80% destes casos, o locativo encontra-se assim estruturado:

(8) E, posto que o homẽ escape dos aqueecimentos desta vida, ẽ guisa que nuca os aja, en cabo a derradeyra uilhice, quando ueer, nõ ha hi detẽẽça pera a morte (OE).

(9) Ha hy outro mal que eu uy so o sol antre os homẽs. Ca ha hy homẽ a que Deus deu riquezas e honra [...] (OE).

A alta incidência da posição após o verbo tem relação direta com a grande freqüência da UPF ha hy, e suas variantes gráficas, em Orto do esposo. Nesse tipo de ordenação, o locativo rompe a unidade VO, inserindo-se entre o verbo e seu argumento, revelando a menor rigidez da sintaxe arcaica em relação à fase atual do português. Na unidade ha hy, o locativo tem sentido mais concreto e função adjuntiva, a atuar como prototípico advérbio. Dos 90 registros da fase arcaica, 21 têm papel argumental, contra 69 adjuntivos. Em termos de referenciação, 79 articulam sentido físico, concreto ou virtual, e 11 podem ter seu sentido estendido para tempo.

4.3 A articulação de aqui

Esse locativo ocupa, nas duas sincronias pesquisadas, o terceiro lugar em termos de freqüência. São 15 registros, em 81 do português atual, e 26, dos 224 da fase arcaica. Nos dois períodos, aqui tende a ocorrer em posição pré-verbal, como em:

(10) O lago é o mesmo e, em ambas as ocasiões, a situação é a mesma: umapescaria frustrada. Jesus, também aqui, aparece como um desconhecido (TS).

(11) Maldicta seja esta cassa, ca e ella perco eu quanto gaanho enos outrosloguares. Nuca queria veer esta cassa, porque aqui conhece os frades suas culpas e aqui confessã e fazem emeda dellas (OE).

Conforme se pode observar pelos exemplos anteriores, aqui tende a articular seqüências de tipo expositivo (10) e mesmo injuntivo (11). Sua ocorrência em narrativas é rara, um dos prováveis motivos para sua baixa freqüência nas duas sincronias pesquisadas.

Funcionalmente, aqui tende a atuar como adjunto, com referência física concreta ou virtual. Nesse sentido, situa-se, em termos de localização na categoria dos advérbios locativos, mais próximo de ali do que de , ou seja, num lugar mais contíguo ao eixo central prototípico da classe.

Um dos aspectos mais interessantes na articulação de aqui nos textos religiosos em análise é a utilização do locativo como um dos mecanismos de contraste entre os dois planos - o celestial e o terrestre. Contrariando a tendência clássica do maniqueísmo espacial, conforme Batoréo (2000BATORÉO, Hanna. Expressão do espaço no português europeu: contributo psicolingüístico para o estudo da linguagem e cognição. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.), em que se opõe o espaço interior - do bem, da segurança, da casa e da família, ao espaço exterior - do mal, da rua, do inseguro, do desconhecido e do perigo, nos textos em análise, temos exatamente o contrário. Embora locutor e ouvintes estejam na Terra, local, portanto, mais próximo de ambos, o foco, a busca é justamente por outra dimensão, a celestial; nesse sentido, temos uma reversão da dicotomia, em que o exterior passa a ser tomado como espaço ideal, da virtude, do paraíso, da salvação, enquanto o interior identifica-se com o aspecto humano, vicioso, do pecado. Tal condição tem a ver com a assimetria e o autoritarismo do discurso religioso, sempre a propor a busca por esse domínio ideal. No trecho a seguir, ilustramos o comentário:

(12) Na eternidade saberemos o porquê de cada dor; aqui na terra é preciso ter sempre em mente as palavras de São Paulo [...] (AV).

(13) Aqui na Terra a felicidade não é plena nem perfeita porque tudo que é humano traz a marca da imperfeição (AV).

Nos dados acima, o locativo integra, junto ao sintagma preposicional na terra, uma UPF, que, em (12), contrasta com outra que lhe antecede - na eternidade. Em ambos os exemplos, o locativo refere-se a um espaço de imperfeição e ignorância, associado à condição humana, em oposição à eternidade. Segundo Paiva (2003PAIVA, Maria da Conceição. Proformas adverbiais e encadeamento dêitico. In: RONCARATI, Cláudia; ABRAÇADO, Jussara (Orgs.). Português brasileiro - contato lingüístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7Letras, p. 132-143, 2003.), arranjos sintáticos do tipo aqui apresentado constituem casos de reduplicação da função locativa, contextos de reforço de referenciação motivados por certo esvaimento do pronome no cumprimento de sua função locativa; assim, passaria aqui a ter papel mais textual, ficando a cargo do sintagma preposicional a tarefa de referir o lugar.

No texto arcaico, encontramos uma recorrente UPF em torno do locativo aqui:

(14) [...] e aque o menino chegou ante elle cõ o pano do linho aluo [...] e dise-lhe: Jirmãão, ex aqui aqueelo que te prometeu a uirge [...] (OE).

Em (14), a UPF ex aqui atua como marca expositiva/demonstrativa, numa seqüência similar à UPF aí está, anteriormente apresentada. Nos textos religiosos em análise, esse arranjo concorre para a articulação de trechos expositivos, injuntivos ou narrativos, como recurso para a organização de informações de fundo, subsidiárias das teses apresentadas e defendidas.

4.4 A articulação de

Nos corpora em análise, representa o menos freqüente dos locativos. Dos 81 dados da sincronia atual, apenas 13 constituem usos de ; na obra arcaica, não foram levantados registros do locativo.

Em relação a seu uso nos materiais sincrônicos, apontamos as seguintes tendências: o locativo ocupa preferencialmente posição pós-verbal, com referência física-virtual, tal como a seguir:

(15) O fato é que Jesus fica conversando na sala com Maria, que não estava nem aí com os problemas da casa! Simplesmente sentou-se aos pés de Jesus e ficou escutando o Mestre falar (CSP).

No fragmento apresentado, o locativo insere-se, por duas ocasiões, entre o verbo ficar e os gerúndios conversando e escutando, respectivamente. Tratase de uma localização que compromete a vinculação dos constituintes verbais, em prol da maior autonomia de ambos, que passam a funcionar com maior plenitude - o primeiro, como verbo, o segundo, como circunstanciador de modo.

Em geral, as seqüências articuladas pelo locativo representam trechos de maior informalidade, usos lingüísticos menos comprometidos com a norma escrita padrão. Se considerarmos que estamos tratando de textos religiosos com fins didáticos, redigidos para atingir também - e talvez fundamentalmente - o público jovem, teremos uma das possíveis motivações para tais usos mais despojados. Das três obras pesquisadas na sincronia atual, em Um coração que seja puro, do padre Zezinho, encontramos o maior número dessas ocorrências, o que nos permite considerá-la a fonte em que mais se verifica tal tendência discursiva. Nos próximos fragmentos, ilustramos o comentário:

(16) Sei , acho que é porque embora saiba que você não aprova o que faço, você nos ouve e conversa com calma. Além do mais, às vezes penso que estou certa [...] (CSP).

(17) O que fazia não o diz o evangelista, mas que estava incomodando, isso estava (CSP).

Conforme podemos observar, em (16) e (17) encontramos o locativo mais distante semântica e sintaticamente da prototípica categoria adverbial. Em (16), une-se à forma verbal sei, na constituição da UPF sei lá, de uso corrente em contextos de fala e em situações de menor formalidade. Assim organizados, tanto o locativo quanto o verbo perdem traços de sua categoria fonte, de base lexical, em prol da constituição de uma unidade de nível mais alto, em função textual. Conforme se encontra em Bybee (2003BYBEE, Joan. Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In: JOSEPH, Brian; JANDA, Richard (Eds). A handbook of historical linguistics. Blackweel, 2003.), tais seqüências, em que itens gramaticais fixam-se numa construção específica e fixa, constituem casos de gramaticalização.

Em (17), o locativo integra a estrutura correlativa que estava x lá isso estava, num tipo de arranjo que o distancia da função adverbial.

Em ambos os dados, a afastamento de do eixo central da classe dos advérbios correlaciona-se com a polissemia de sua referência, uma vez que o espaço articulado abstratiza-se consideravelmente, não se sabendo, ao certo, onde fica ou se situa ; outra correlação dá-se do ponto de vista funcional, uma vez que a perda de traços da classe dos advérbios proporciona condições para que o locativo ocupe posições marginais nesse conjunto, perdendo visibilidade e identidade enquanto membro da classe fonte (decategorização) e ganhando traços de uma classe alvo (recategorização), conforme a proposta de Hopper (1991HOPPER, Paul. On some principles of grammaticalization. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. (Eds.). Approaches to grammaticalization. V. 1. Amsterdam: Benjamins, 1991. p. 17-35.). Conforme a perspectiva funcional que nos orienta, é nos contextos de maior informalidade, pressionados por fatores de ordem mais pragmática do que sintática (GIVÓN, 2001GIVÓN, Talmy. Syntax: an introduction. v. 1. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2001. ), que surgem novos usos lingüísticos, que se criam condições para a variação e a possível mudança. Assim, justificase o fato de encontrarmos, justamente em seqüências de uso mais coloquial, casos de maior ambigüidade semântico-funcional do locativo .

Por fim, assim como destacamos em relação ao locativo aqui, mencionamos também a articulação de na concorrência da reversibilidade da dicotomia espacial nos textos religiosos em análise. Assim, , como espaço externo, alto e distante, passa a se referir à dimensão do bem, do celestial, do sagrado; trata-se do alvo a ser perseguido, da dimensão a ser atingida, mediante a observância irrestrita dos preceitos cristãos. Nos fragmentos a seguir, ilustramos o comentário:

(18) Para o céu, para o alto; está a sua meta (AV).

(19) Caminhe sempre para frente, olhando para o alto; está a sua meta (AV).

Tanto em (18) quanto em (19), em seqüências injuntivas, encontramos o locativo referindo-se anaforicamente aos termos céu, alto e frente. Trata-se, segundo Batoréo (2000BATORÉO, Hanna. Expressão do espaço no português europeu: contributo psicolingüístico para o estudo da linguagem e cognição. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000., p. 55), de termos relativos a vetores de altura - céu, alto - e de frontalidade - frente - que configuram a positividade do Espaço simbólico, em oposição à negatividade de baixo, terra e trás, respectivamente, como referentes ao Espaço terrestre. Se associarmos a divisão espacial apresentada pela autora aos textos em análise, podemos com relativa facilidade associar o Espaço simbólico ao plano celestial, divino e perfeito, enquanto que o Espaço terrestre relaciona-se ao plano humano, vicioso e imperfeito.

5 ARTICULAÇÃO ADVERBIAL DE TEMPO E ASPECTO3 3 Esta seção do artigo ficou a cargo da profa. Maria Maura Cezario e do bolsista Pibic/Faperj Filipe Viana Luiz Albani. A análise aqui exposta refere-se às pesquisas realizadas no projeto desta profa. sobre ordenação de advérbios temporais/aspectuais.

Esta seção traz os resultados parciais do estudo dos usos de advérbios de tempo e de aspecto em textos religiosos, com ênfase para as questões relativas à ordenação de constituintes da oração.

Há advérbios que desempenham função de localizar o processo verbal no tempo. Estes são chamados dêiticos. Nesta pesquisa, são dêiticos os advérbios hoje, ontem, amanhã e agora. Há outros advérbios que não localizam o momento do processo verbal, mas se referem à duração do processo verbal. São chamados advérbios aspectuais. Nesta pesquisa, são advérbios aspectuais sempre, ainda, nunca e jamais.

Dois são os nossos objetivos principais: (a) apresentar as posições sintáticas preenchidas pelos advérbios de tempo e de aspecto; e (b) apresentar os fatores que influenciam na escolha da posição dos advérbios (em contextos em que eles podem ocupar mais de uma posição na cláusula).

Como o funcionalismo trabalha com a hipótese de que formas diferentes estão a serviço de funções diferentes, acreditamos que haja motivação de diferentes ordens que justifiquem ordenações diferentes, como em:

(20) porque ela sempre nos leva para o Filho.

(20’) porque sempre ela nos leva para o Filho.

(20") porque ela nos leva sempre para o Filho.

Dessa forma, não queremos dizer que as frases acima tenham o mesmo papel no discurso. Do ponto de vista do significado referencial, oracional, poderíamos dizer que elas são equivalentes, mas, do ponto de vista da função das frases no discurso, acreditamos haver motivações de diferentes tipos para estas e outras ordenações. Por ora, verificaremos somente as motivações de ordem estrutural para as diferentes ordenações de advérbios.

5.1 Usos adverbiais temporais e/ou aspectuais em textosreligiosos

As principais hipóteses que focalizaremos aqui são: (a) cada item adverbial estudado deve ter uma posição prototípica na oração; (b) a presença/ ausência do sujeito deve determinar a posição do advérbio; e (c) os advérbios com valor dêitico devem ocorrer no início da oração.

Estudamos os seguintes advérbios: ontem, hoje, amanhã, agora, ainda, nunca, sempre, e jamais. Esses advérbios expressam a circunstância temporal em que os processos verbais ocorrem. As línguas têm diferentes meios lingüísticos para expressar tempo, desde substantivos como noite, dia e hora, passando (a) por construções fixas como às vezes, à tarde e durante o almoço, (b) por advérbios como hoje, amanhã e jamais, até (c) morfemas flexionais de tempo/aspecto/modo como -va, que expressa tempo passado, aspecto imperfeito e modo indicativo.

Com os estudos realizados a partir da linha teórica da gramaticalização (MARTELOTTA, VOTRE e CEZARIO, 1996MARTELOTTA, Mário; VOTRE, Sebastião; CEZARIO, Maria Maura. Gramaticalização no português do Brasil: uma abordagem funcional. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. ; BYBEE, 2003BYBEE, Joan. Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In: JOSEPH, Brian; JANDA, Richard (Eds). A handbook of historical linguistics. Blackweel, 2003.; BYBEE e HOPPER, 2001), podemos dizer que a repetição de usos lingüísticos leva à fixação de palavras que passam a exercer uma função mais gramatical, como é o caso dos advérbios em comparação com os substantivos. A necessidade de codificar lingüisticamente os eventos leva o falante a caracterizar o tempo de uma forma muito explícita através dos advérbios e locuções adverbais ou somente através da flexão verbal, forma mais gramaticalizada do processo de codificação do tempo nas línguas. Num dado espaço, muitos eventos podem ocorrer simultaneamente, numa seqüência em que o evento A é causa do B, que é causa do C e assim vai, ou numa seqüência de eventos em que não há relação de causa e conseqüência entre eles. Dessa forma, a presença de advérbios e locuções adverbiais que expressam tempo (com ou sem as noções aspectuais) é muito importante para o emissor conseguir informar bem acerca dos eventos ocorridos. No caso da argumentação, essas marcas lingüísticas também são necessárias para estabelecer oposição entre fatos ocorridos em diferentes épocas e que surgem como argumentação para uma dada tese; também são importantes na argumentação direta para uma dada tese, como, por exemplo, se alguém perguntar Por que você diz ele vai voltar? Uma resposta argumentativa poderia ser Porque ele sempre volta depois de um tempo.

Juntamente com a argumentação de cunho religioso, há nos textos narrações como recurso argumentativo e também para informar sobre a fé católica, conforme nos diz Orlandi (1987ORLANDI, Eni. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo, Pontes, 1987., p. 260): no discurso religioso a situação imediata só entra como motivo (ilustração?) para se redizer a significação divina.

5.2 Fatores motivadores

Passemos agora para as categorias utilizadas neste estudo, sendo a primeira categoria a própria lista dos advérbios, pois o comportamento deles foi estudado individualmente ou em agrupamentos, como veremos mais tarde.

a) Itens advérbios: ontem, hoje, amanhã, agora, ainda, nunca, sempre e jamais:

(21) Penso que esse senhor nunca serviu a Deus.

(22) Somos sempre livres para dizer não às suas propostas.

(23) Também hoje é preciso experimentarmos o poder da caridade sincera.

b) Posição do advérbio na oração em relação ao verbo: várias são as posições em que esses advérbios podem ocorrer. Para simplificar a apresentação dos resultados, analisamos todos os dados em três posições básicas para o advérbio de tempo:

- posição pré-verbal (AdvV):

(24) Eu nunca fui forçado pelas circunstâncias.

- posição pós-verbal (VAdv):

(25) (Fiorella) merecia morar ainda no Bairro da Pureza.

- e posição interna a uma locução verbal - ou seja, entre o auxiliar e o verbo principal:

(26) Embora não tivesse ainda alcançado seu objetivo, a perfeição, não se acomodou...

c) Posição do advérbio em relação à oração: para relacionar a posição de início da oração com outros fatores como a presença/ausência de sujeito, verificamos, em cada dado, se o advérbio em questão estava no início ou fora do início da oração:

- início da oração:

(27) Ainda somos carnais.

- fora do início da oração:

(28) Existem hoje no mundo muitos cristãos que são como a maioria dos que comprimiam Jesus.

d) Presença do sujeito na oração:4 4 Foram desconsiderados os casos nos quais o sujeito era um pronome relativo ou a oração era do tipo VS, primeiro porque o pronome relativo sujeito só ocorre no início da oração e segundo porque queremos saber se a presença do sujeito na posição prototípica - início de oração - influencia na ordenação do advérbio. Dessa forma, as orações VS ficaram de fora somente na codificação desta categoria. verificamos se havia ou não a presença formal do sujeito na oração com advérbio de tempo/aspecto com o objetivo de verificar se a presença ou a ausência do sujeito formal motiva as diferentes posições ocupadas pelo advérbio de tempo/aspecto:

- sujeito ausente:

(29) Nunca teve chances de explicar.

- sujeito presente:

(30) Quanto aos críticos, você jamais irá contemplá-los.

Nos dois livros, foram levantados 298 advérbios de tempo. Os resultados encontrados quanto à análise das categorias descritas são os que se encontram na tabela 1.

Tabela 1
Total de advérbios vs. posição do advérbio na oração em relação ao verbo:

Como se pode perceber, a posição mais freqüente é a pré-verbal, com 66,5% do total de dados. A posição pós-verbal apresenta 30% dos dados e a posição intermediária entre o auxiliar e o verbo apresenta apenas 3% dos dados. Dessa forma, vamos voltar nossa atenção para os fatores sintáticos que motivam a colocação do advérbio, ora na posição pré-verbal, ora na pós-verbal, considerando essa última a posição marcada.

Na tabela 2, veremos em quais posições e com que freqüência eles apareceram em cada posição.

TABELA 2
Advérbios vs. posição do advérbio na oração em relação ao verbo:

Os itens que mais apareceram foram sempre, ainda, nunca, jamais, hoje e agora. Todos os itens adverbiais tendem a ocorrer na posição préverbal, seguindo a tendência geral dos advérbios de tempo. Só há uma exceção, que foi o advérbio ontem, mas o número pequeno de dados não nos permite chegar a qualquer conclusão. O advérbio jamais foi quase que categoricamente colocado na posição pré-verbal (97%) e o advérbio nunca também teve ocorrência alta nessa posição (87% dos dados). Isso porque são advérbios que também têm o valor de negação e em português a marca de negação vem predominantemente na posição pré-verbal. Somente em certos dialetos regionais, está ocorrendo o uso pós-verbal com freqüência alta (como em Vou não; Quero não).

Fazendo uma oposição entre os dêiticos - aqueles que localizam o processo verbal no tempo - e os aspectuais - aqueles que se referem à duração do processo verbal, temos uma distribuição como demonstrado na tabela 3.

Tabela 3
Advérbios aspectuais e dêiticos vs. posição do advérbio na oração em relação ao verbo:

Há um número muito maior de usos de advérbios aspectuais do que de dêiticos, talvez por causa da modalidade escrita, que não favorece a ocorrência de localização de tempo a partir do ponto de referência da enunciação (localização do tempo a partir do momento em que o sujeito enunciador se comunica). Com relação à ordenação, não encontramos diferenças importantes, pois ambos os tipos de advérbios seguem a tendência já apontada: preenchimento da posição pré-verbal. Esse resultado refuta a nossa hipótese inicial de que os advérbios dêiticos devessem ocorrer mais na posição inicial do que os aspectuais como forma de o escritor localizar em primeiro lugar o momento em que ocorreu o processo verbal e como forma de apresentar claramente as relações de causa e conseqüência e as seqüências de ações.

Nossas próximas análises referem-se ao papel do sujeito na ordenação do advérbio. Nossa hipótese é a de que a presença ou a ausência do sujeito formal atuaria como fator motivador para a colocação do advérbio. Para verificar essa hipótese, retiramos os casos em que o sujeito era um pronome relativo e em que as orações tinham o sujeito posposto ao verbo (VS), restando, assim, 250 casos (cf. nota no 4).

Os resultados a seguir (tabela 4) demonstram que não há influência da presença ou ausência formal do sujeito e posição pré ou pós-verbal do advérbio; em outras palavras, com o sujeito ou sem o sujeito na posição inicial, o advérbio tende a ocorrer na posição pré-verbal.

Tabela 4
Posição do advérbio em relação à presença ou à ausência do sujeito:

Resta-nos verificar a relação entre presença ou ausência do sujeito e a posição inicial ou não do advérbio na oração. Ou seja, como o sujeito, na língua portuguesa, ocorre predominantemente na posição inicial da oração, procuramos saber se ausência do sujeito motivaria a colocação do advérbio exatamente nessa posição inicial. A tabela 5 traz o resultado de todos os advérbios e depois o resultado de cada advérbio em separado. Nesse caso, os resultados confirmaram as nossas expectativas. Ressaltamos que os casos em que dissemos que o sujeito estava ausente são tradicionalmente chamados de sujeito oculto ou inexistente:

Tabela 5
Presença do sujeito na oração vs. posição do advérbio em relação à oração:

Vemos que, quando o sujeito está explícito, a grande maioria dos dados apresenta os advérbios fora do início da oração (83%). Já nas orações em que o sujeito estava ausente, houve um certo equilíbrio, sendo que os advérbios tiveram uma pequena tendência para se localizar no início da oração (52%), o que comprova a nossa hipótese em relação ao papel do sujeito.

Vejamos item por item:

a) ainda:

Tabela 5.1
Sujeito e posição do advérbio ainda:

O advérbio ainda é, na maioria das vezes, colocado fora do início da oração quando o sujeito está presente (80% dos casos), sendo que a diferença é pequena quando o sujeito está ausente: em 55% dos casos, o advérbio aparece no início da oração.

b) nunca:

Tabela 5.2
Sujeito e posição do advérbio nunca:

A diferença no caso do advérbio nunca é bem mais marcada, principalmente quando o sujeito está presente: em 95% dos casos, o advérbio apareceu fora do início da oração. Quando o sujeito estava ausente, a diferença também foi marcante: em 69% dos casos dos casos com sujeito ausente, o advérbio apareceu no início da oração.

c) jamais:

Tabela 5.3
Sujeito e posição do advérbio jamais:

Aqui, a diferença não somente foi bem marcada como parece haver uma espécie de distribuição complementar: na grande maioria dos usos em que o sujeito estava presente, o advérbio estava fora do início da oração; e, na grande maioria das vezes em que o sujeito estava ausente, o advérbio ocorreu exatamente no lugar mais típico para o sujeito - no início da oração.

d) Sempre:

Tabela 5.4
Sujeito e posição do advérbio sempre:

O caso do advérbio sempre parece atípico relacionado à tendência geral. A presença ou a ausência do sujeito parecem não interferir no seu posicionamento. Em ambos os casos, o advérbio apareceu preferencialmente fora do início da oração.

e) os dêiticos hoje, ontem, amanhã e agora (Por causa do baixo número de ocorrência, juntamos os quatro advérbios dêiticos para verificar a relação entre sujeito e posição desses advérbios na oração):

Tabela 5.5
Sujeito e posição dos advérbios dêiticos:

Assim como aconteceu com o advérbio sempre, esse grupo de advérbios não demonstrou muita diferença com relação à presença do sujeito. Na maioria dos casos, o advérbio apareceu fora do início da oração, nas orações com ou sem sujeito explícito na ordem (S)V(O).

Focalizando a posição inicial da oração (sem fazermos relação com a presença ou a ausência do sujeito), verificamos ainda que, para situar o leitor no tempo, muitas vezes em momentos em que sai do passado (geralmente a época em que Cristo viveu) para o presente (momento atual) ou do presente para o passado, os autores utilizam advérbios de tempo (com foco na noção dêitica), locuções adverbiais temporais/aspectuais ou ainda orações adverbiais temporais, como em:

(31) À luz da Palavra de Deus, procuraremos, como fizemos na meditação anterior, descobrir pistas que nos levem ao encontro daquele que tanto procuramos.

Uma tarde, Saulo se dirigia a Damasco, com a autorização do Sumo Sacerdote para prender os cristãos que lá se achassem e trazê-los a Jerusalém a fim de castigá-los. (TS)

Dessa forma, tais marcas lingüísticas, nos textos religiosos, norteiam o foco temporal, ora para o tempo/espaço em que Cristo viveu, ora para o tempo/ espaço em que vivemos. E essa oposição se dá de forma argumentativa, a fim de que o leitor faça comparações entre a vida do homem nesses dois tempos e se espelhe na fase cristã.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa da articulação adverbial em textos de cunho religioso permite que apontemos algumas tendências de uso. Se não podemos falar em regras, em padrões fixos de manifestação dos advérbios, é possível, ao menos, identificar certas regularidades, como formas preferenciais de ocorrência de locativos e temporais/aspectuais.

O primeiro ponto a enfatizar é o comportamento praticamente individual desses constituintes. Seja por motivação semântica, estrutural ou discursiva, os advérbios aqui tratados tendem, cada qual, a ser usados de modo específico, o que vem reforçar a abordagem da categoria como prototípica, com classe híbrida e fluida, composta por elementos de distinta natureza semântico-sintática.

Quanto aos locativos, ali e aqui tendem a funcionar prototipicamente como advérbios, enquanto e, principalmente, , registram usos menos identificados como constituintes dessa categoria, seja pela maior polissemia manifestada, seja pela assunção de funções mais textuais. No cotejo das fontes da sincronia atual com a do português arcaico, não verificamos sensíveis distinções entre as duas fases da língua, exceto pela ausência, no texto de Orto do esposo, da função juntiva de , o que enseja a continuidade da pesquisa, com vistas à confirmação do processo de mudança pelo qual este item pode estar passando, na migração para a classe dos conectivos ou marcadores.

Quanto aos temporais/aspectuais, podemos apontar as seguintes tendências: a) a posição pré-verbal é a mais freqüente nesse grupo; b) a categoria sujeito influencia na colocação dos advérbios na oração: quando explícito o sujeito, o advérbio tende a ocorrer numa posição diferente da inicial; quando apagado, o advérbio tende a ocorrer na posição inicial, embora isso não ocorra com todos os itens adverbiais; c) ao contrário do que pensávamos, os advérbios dêiticos não possuem como posição prototípica o início da oração.

Outro ponto a mencionar é a relação entre as pressões de ordem pragmático-discursiva e o uso dos advérbios em análise. As seqüências narrativas e expositivas, pano de fundo dos postulados religiosos apresentados, organizamse com freqüência por intermédio da articulação de locativos e temporais/ aspectuais. Nesse sentido, os termos aqui tratados funcionam como recursos subsidiários para a constituição de relatos e de exposições ou explicações de motivos que, didaticamente, são apresentados com vistas à salvação pelo sagrado. Além de concorrer para a configuração do planos de fundo de relevância, a articulação desses constituintes cumpre também a função de fixar a dicotomia, a dualidade marcante nos textos religiosos tratados, possibilitando a bem-vinda correlação entre a abordagem gramatical e a abordagem discursiva.

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  • 1
    Projeto apoiado pelo CNPq, em desenvolvimento no Grupo de Estudos Discurso & Gramática - UFRJ e UFF, a partir de 2003.
  • 2
    Esta seção do artigo ficou a cargo da Profa. Mariangela Rios de Oliveira e a análise aqui exposta refere-se às pesquisas realizadas a partir de seu projeto sobre ordenação de advérbios locativos.
  • 3
    Esta seção do artigo ficou a cargo da profa. Maria Maura Cezario e do bolsista Pibic/Faperj Filipe Viana Luiz Albani. A análise aqui exposta refere-se às pesquisas realizadas no projeto desta profa. sobre ordenação de advérbios temporais/aspectuais.
  • 4
    Foram desconsiderados os casos nos quais o sujeito era um pronome relativo ou a oração era do tipo VS, primeiro porque o pronome relativo sujeito só ocorre no início da oração e segundo porque queremos saber se a presença do sujeito na posição prototípica - início de oração - influencia na ordenação do advérbio. Dessa forma, as orações VS ficaram de fora somente na codificação desta categoria.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Jun 2005

Histórico

  • Recebido
    12 Jul 2004
  • Aceito
    25 Out 2004
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