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A CAUSALIDADE: ANÁLISE DE ENUNCIADOS PRODUZIDOS EM UMA REUNIÃO DE IMOBILIÁRIA

CAUSALITY: ANALYSIS OF ENUNCIATIONS PRODUCED IN A REAL ESTATE AGENTS’ MEETING

LA CAUSALITÉ: ANALYSE DES ÉNONCÉS PRODUITS DANS UNE RÉUNION IMMOBILIÈRE

LA CAUSALIDAD: ANÁLISIS DE ENUNCIADOS PRODUCIDOS EN REUNIÓN DE UNA AGENCIA INMOBILIARIA

Resumo

O objetivo deste trabalho é examinar a causalidade, as formas de sua expressão, os diferentes significados de ‘porque’ e suas funções discursivas, em turnos conversacionais de uma reunião de uma imobiliária. A pesquisa apontou para os seguintes resultados: (a) muitas orações introduzidas por ‘conjunção subordinativa’ não são realmente subordinadas; por outro lado, a relação causa-efeito nem sempre é sinalizada por meios tradicionais e, além disso, podendo ocorrer implicitamente, caso em que o ouvinte precisa deduzir a conexão através do contexto; (b) existem três tipos de causalidade: de conteúdo, epistêmica e de ato de fala; e (c) a construção causal envolve outras funções discursivas: dentro da perspectiva dialógica da linguagem, ela emerge em geral depois de relações retóricas de contraste e negação ou, mais genericamente, depois de proposições que vão contra as expectativas partilhadas. Baseamo-nos especialmente em Jordan (1998), Sweetser (1990) e Ford (1994; 2000), que estudaram as essas questões no inglês, para compará-las na língua portuguesa.

Palavras-chave:
causalidade; análise funcional; interação; fala; reunião de imobiliária

Abstract

This paper aims at analyzing causality, how it is expressed, and the different meanings of ‘because’ and its discursive functions in conversational turns observed during a real estate meeting. The research produced the following results: (a) many clauses introduced by ´subordinate conjunctions’ are not subordinate at all; on the other hand, the cause-effect relation is not always signalled by traditionally accepted means. In addition, it can be implicit, in which case the hearer must deduce the link through contextual information; (b) there are three types of causality: content, epistemic and speech act; and (c) the causal construction involves other discursive functions: within the dialogic perspective of language, it often emerges after rhetorical relations of contrast and negation, or, more generically, after propositions that are distinct from shared expectations. We based our study mainly on Jordan (1998), Sweetser (1990) and Ford (1994; 2000), who studied these issues in English, to compare them with Portuguese.

Keywords:
causality; functional analysis; interaction; speech; real estate meeting

Résumé

L’objectif de ce travail est celui d’examiner la causalité, les formes de son expression, les différentes significations de ´pourquoi‘ et ses fonctions discursives, à tour de rôle pendant les conversations d’une réunion d’une immobilière. La recherche a désigné les résultats suivants: (a) plusieurs propositions introduites par une´conjonction subordonnée‘ ne sont pas vraiment subordonnées; d’autre part, la relation cause-effet n’est pas toujours signalée par des moyens traditionnels et, en outre, elle peut se trouver implicitement, dans le cas où l’auditeur a besoin de déduire la connexion à travers le contexte; (b) il y a trois types de causalité: de contenu, épistémique et d’acte de parole; et (c) la construction causale contient en soi d’autres fonctions discursives: dans la perspective dialogique du langage, elle émerge en général après les relations rhétoriques de contraste et négation ou, plus génériquement, après les propositions qui vont contre les expectatives partagées. On s’est basés surtout chez Jordan (1998), Sweestser (1990) et Ford (1994; 2000), qui ont étudié ces questions en anglais, pour les comparer avec la langue portugaise.

Mots-clés:
causalité; analyse fonctionnelle; interaction; parole; réunion d’immobilière

Resumen

El objeto de este trabajo es examinar la causalidad, las formas de su expresión, las distintas significaciones del término “porque” y sus funciones discursivas, en turnos coloquiales de una reunión llevada a cabo en una inmobiliaria. La investigación ha señalado los siguientes resultados: (a) muchas oraciones que se introducen por “conjunción de subordinación” no son en realidad subordinadas; por otro lado, la relación de causa y efecto no siempre se señala por medios tradicionales y, además, puede tener lugar implícitamente, caso sea necesario al oyente deducir la conexión a través del contexto; (b) existen tres tipos de causalidad: la de contenido, la epistémica y la del acto del habla; (c) la construcción causal implica otras funciones discursivas: en la perspectiva dialogística del lenguaje, emerge en general tras las relaciones retóricas de contraste y negación o, más genéricamente, tras las proposiciones que van en contra de las expectativas compartidas. Nos hemos fundamentado en este estudio básicamente en Jordan (1998), Sweetser (1990) y Ford (1994; 2000), que estudiaron dichas cuestiones en el idioma inglés, comparándolas con las del idioma portugués.

Palabras-clave:
causalidad; análisis funcional; interacción; habla; reunión de inmobiliaria

1 INTRODUÇÃO

O professor de Língua Portuguesa deve estar preparado para entender que seu aluno, que fala português fluente, na sua variante coloquial, informal, venha a ter dificuldade no momento em que é solicitado a enfrentar a modalidade escrita, fato que vemos ocorrer mesmo em séries avançadas do currículo escolar, até mesmo em nível de pós-graduação. Sabemos que a modalidade oral é constituída por construções nem sempre correspondentes às da sintaxe da escrita, já que as duas modalidades têm funções diferentes a cumprir na comunicação (KATO, 1986KATO, M. A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Editora Ática, 1986.).

Para Halliday (1994), a sintaxe da modalidade oral é muito mais complexa do que a da escrita, ao mesmo tempo em que esta apresenta um léxico muito mais denso do que aquela. Por outro lado, Chafe (1992) mostra que, enquanto na fala informal podem aparecer seis conjunções subordinativas, na escrita formal parecem trinta e cinco variações desse tipo de conectivo. Ou seja, o uso da subordinação como medida de complexidade lingüística (LEHMANN, 1988LEHMANN, C. Towards a typology of clause linkage. In: HAIMAN, J.; THOMPSON, S. A. (Eds.). Clause combining in grammar and discourse. Amsterdan: John Benjamins, 1988. p. 181-226.; QUIRK, GREENBAUM, LEECH e SVARTNIK, 1972QUIRK, R.; GREENBAUM, S.; LEECH, G.; STARTVIK, J. A grammar of contemporary English. London: Longman, 1972.) parece não se verificar ao menos na modalidade oral.

Essa aparente contradição entre as duas afirmações referente à modalidade oral pode ser elucidada pela pesquisa de Mann & Thompson (1986MANN, W. C.; THOMPSON, S. A. Relational Propositions in Discourse. Discourse processes, v. 9, n. 1, p. 57-90, 1986.), os quais notaram que algumas relações, entre partes do texto, tais como as de causalidade, não são sinalizadas: precisamos deduzir as conexões através dos significados das afirmações oferecidas, o que mudaria a contagem pequena de relações de subordinação encontrada por Chafe. Também pode encontrar explicação na pesquisa de Schleppegrell (1992SCHLEPPEGRELL, Mary. Subordination & Linguistic Complexity. Discourse processes, n. 15, p. 117-131, 1992.), para quem, muitas orações introduzidas por ‘conjunção subordinativa’ não são realmente subordinadas, seja no sentido de conceito estrutural (o encaixamento de uma oração em outra), seja no sentido de construto informacional (idéia principal x secundária).

Nesse sentido, Quirk et al. (1972QUIRK, R.; GREENBAUM, S.; LEECH, G.; STARTVIK, J. A grammar of contemporary English. London: Longman, 1972., apud SCHLEPPEGRELL, 1992SCHLEPPEGRELL, Mary. Subordination & Linguistic Complexity. Discourse processes, n. 15, p. 117-131, 1992.) indicam usos coloquiais nos quais a conjunção porque funciona mais como conjunção coordenativa do que como conjunção subordinativa. Isso mostraria que a contagem de conjunções subordinativas é inadequada para medir a complexidade lingüística e, em especial, que essa questão requer uma análise no nível do discurso e não apenas no nível da sentença.

A noção de ‘oração subordinada’ não é um construto unitário e, além disso, há diferentes tipos de complexidade lingüística (FINEGAN e BIBER,1986FINEGAN, E.; BIBER, D. Two dimensions of linguistic complexity in English. Southern California occasional papers in linguistics, Los Angeles: University of Southern California, n. 11: Social and cognitive perspectives on language, edited by J. ConnorLinton, C. J. Hall. and M. McGinnis, p. 1-24, 1986.). Biber (1986BIBER, D. Spoken and written textual dimensions in English: resolving the contradictory findings. Language, n. 62, p. 384-414, 1986.) mostra que a oração adjetiva restritiva tem uma função comunicativa separada das demais subordinadas. Thompson (1984THOMPSON, Sandra. A. Subordination. In: SCHIFFRIN, D. (Ed.). Formal and informal discourse. Washington, DC: Georgetown University Press, 1984. p. 85-94. (Georgetown University round table on languages and linguistics, 1984: Meaning, form, and use in context: Linguistic applications)) e Thompson e Longacre (1985) notam que o termo ‘subordinação’ é usado para vários tipos de orações com propriedades gramaticais e funcionais muito diferentes.

As pesquisas sobre a sintaxe da modalidade oral são recentes, mas devem ser incentivadas, pois proporcionarão uma melhor compreensão da comunicação diária, ao mesmo tempo em que trarão um instrumental mais adequado para o ensino da escrita.

A presente pesquisa visa estudar a conexão de orações nas falas ocorridas numa reunião de uma empresa imobiliária. Dada a vastidão do assunto, decidimos enfocar a relação causal e examinar sua expressão, seus tipos e sua função. As relações causais na língua são cruciais para a comunicação segundo Maat (2000MAAT, Henk Pander; SANDERS, Ted. Domains of use or subjectivity? The distribution of three Dutch causal connective explained. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000.), para quem a conceituação da causalidade é um aspecto fundamental da cognição humana. Além disso, verificaremos que essa categoria não se restringe aos casos tradicionalmente citados pelas gramáticas utilizadas nas escolas de ensino elementar e médio, mas envolve muitas outras questões, algumas delas intocadas até recentemente.

Embora as pesquisas citadas nesta seção tenham sido feitas a partir de corpus em inglês, podemos afirmar que esses resultados foram comprovados no corpus em português.

2 REFERENCIAIS TEÓRICOS

2.1 A causalidade

Lagerwerf e Oversteegen (1994, apud OVERSTEEGEN, 1997OVERSTEEGEN, Leonor E. On the pragmatic nature of causal and contrastive connectives. Discourse processes, n. 24, p. 51-85, 1997.) propõem uma abordagem dos conectivos causais (e relações de coerência) que faz uso de afirmações pressupostas. A natureza da relação subjacente à causalidade é um tipo de condição que pode ser formulada pelo leitor com a ajuda de uma relação de implicação, ou seja, o enunciado de uma sentença como As crianças temem cometer erros porque podem ser castigadas pressupõe uma implicação como ‘a gente é punida por cometer erros’ a gente teme cometer erros. Se a implicação não for aceita pelo receptor, a relação de porque também não o será.

Schilperoord & Verhagen (1998SCHILPEROORD, Joost; VERHAGEN, Arie. Conceptual dependency and the clausal structure of discourse. In: KOENIG, Jean-Pierre (Ed.). Discourse and cognition. Stanford, CA: CSLI Publications, 1998.) mostram que o critério puramente sintático pode favorecer predições contra-intuitivas quanto à segmentação do discurso, e falha em explicar a plausibilidade dessa predicação. Por isso é necessário levar em conta as relações conceituais entre orações, e para tanto eles introduzem a noção de dependência conceitual entre orações.

Segundo Schleppegrell (1992SCHLEPPEGRELL, Mary. Subordination & Linguistic Complexity. Discourse processes, n. 15, p. 117-131, 1992.), as conjunções que funcionam como subordinadoras no discurso escrito podem ser usadas como marcadores paratáticos de fala, exercendo papéis interacionais e coesivos na ligação dos enunciados nesse nível. Ao mesmo tempo em que conjunções subordinativas como porque podem possibilitar ao falante encaixar uma oração em outra, elas podem também possibilitar a ligação de orações em relações não-subordinadas. Ou seja, não se pode classificar uma oração como ‘principal’ ou ‘subordinada’, com base em mero equacionamento dessas orações com o uso ou não de certas conjunções.

2.1.1 A expressão, os tipos e a função das relações de causalidade

A relação de causalidade tem sido enfocada tradicionalmente apenas no seu caráter sintático, em que, num período composto, a causa é expressa em oração subordinada, encabeçada em geral por um conectivo - a conjunção subordinativa causal - ou sem esta em orações reduzidas, e o efeito é expresso na oração principal.

São citadas como conjunção subordinativa causal, em geral, os seguintes: porque, já que, uma vez que, e não há menção de diferentes tipos de porque. Por outro lado, a função mencionada restringe-se à função sintática.

2.1.1.1 A expressão da causalidade

Baseado em trabalho anterior, focalizando a modalidade escrita, que define a relação causa-efeito como uma das três relações lógicas da língua, Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.) demonstra no inglês como os meios de sinalização de causa-efeito são usados em diferentes registros e em diversas situações gramaticais e textuais. Entre as sinalizações discutidas, incluem-se indicações nulas (ou omissão de conectivo), preposições, advérbios de tempo, gerúndios e orações que (which), bem como elementos mais reconhecidos como: isto, causa, efeito, assim, daí, porque, devido a. Muitos fatores limitam essas possibilidades de sinalização da relação causal, tais como: registro, comprimento da sentença, ênfase, pressuposição, variedade de sinalização, coesão e semântica associativa, complexidade gramatical, e a necessidade de um novo tema. O autor mostra que, embora os sinais da relação causa-efeito sejam bem conhecidos, sabemos pouco sobre como e quando eles são empregados no uso da língua em situação real.

Ainda segundo Jordan, sabe-se que itens lexicais, como causa e resultado, nem sempre indicam a presença da relação causa-efeito. Por outro lado, algumas relações de causa-efeito não são indicadas de forma explícita. Muitas outras aparecem subentendidas, por meio de preposições em, depois de, com, ou por meio da conjunção quando, e outras aparecem com indicações de local e tempo que, dentro do significado total da comunicação, podem ser percebidas como indicação de causaefeito, e assim como de tempo.

O autor apresenta as várias maneiras de se expressar a causalidade: (a) conexões sutis e implícitas (sinalização implícita, preposição, indicação de tempo); (b) conexões inter-sentenciais e inter-oracionais (variedade e comprimento, sinalização específica e elementos não-contíguos, modais e variedades); (c) fornecimento de liberdade gramatical (anáforas competitivas e novos temas, clareza de referente, uso de oração principal, nominais associados provocados ou não);1 1 Untriggered and triggered associated nominals. (d) encaixamento2 2 Rank-shifted e subordinação (nominais não-temáticos, complexo nominal temático, orações sem verbo, subordinação); e (e) conexão lexical do causador (nominal recém introduzido, conexão lexical básica, conexão lexical associativa). Devido à exigüidade de espaço, vamos examinar apenas algumas dessas possibilidades.

Segundo Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.), o pronome isto proporciona a reentrada da oração ou do grupo nominal em nova oração para criar uma relação lógica entre o referente e o predicado da nova sentença.

(1) O fato é que muitas fórmulas vitamínicas não são equacionadasadequadamente. Isto pode prejudicar a sua absorção (Advertisement, Popular Mechanics, maio, 1995, p. 42).

Na seguinte versão com a primeira oração reduzida, é possível criar uma relação de causa-efeito entre o sujeito e o predicado de um período simples:

(2) O fato de muitas fórmulas vitamínicas não serem equacionadasadequadamente pode prejudicar a sua absorção.

Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.) comenta que, conforme mostraram Mann e Thompson (1986MANN, W. C.; THOMPSON, S. A. Relational Propositions in Discourse. Discourse processes, v. 9, n. 1, p. 57-90, 1986.), algumas relações entre partes do texto podem não ser sinalizadas.

(3) Na noite de 21 de outubro, o Universe Leader, um navio-tanque de93.000 toneladas, começou a carregar óleo cru no terminal Whiddy Island do Golfo. Na manhã seguinte, 2500 toneladas do óleo cru estavam na Baía de Bantry Bay, em vez de estar nos tanques do navio. Alguém tinha aparentemente deixado aberta a válvula por cerca de meia hora (Pollution Monitor, fevereiro-março, 1975, p. 13).

Quanto ao uso de preposição para indicar causalidade, o autor afirma tratarse de procedimento típico de linguagem jornalística.

(4) Os idosos também sofrem dos danos do fumo (Scientific American, maio 1995, p. 49).

Também a ordem cronológica pode indicar a causalidade.

(5) Kenneth Gibson (82) foi morto ao anoitecer da quinta-feira, quando oseu Oldsmobile derrapou numa curva e bateu num hidrante (The Kingston Whig Standard, abr. 1995, p. 11).

Sobre a variedade e comprimento de sentença, o autor lembra a possibilidade de transformar uma oração em um grupo nominal (rank shift, nos termos de Halliday 1994) para converter a relação de causa-e-efeito entre duas sentenças em uma entre o sujeito (causador) e seu objeto, através de expressões como: isso causa, isto resulta em, etc..

(6) Para mudar a transmissão, a hidráulica ou empurra os lados da poliajuntos ou puxa-os para separar. Isso força a roldana para correr alto ou baixo no encaixe, assim encolhendo ou expandindo efetivamente o diâmetro das polias (Popular Mechanics, maio 1995, p. 30).

Quanto à expressão da causalidade com sinalização específica e elementos não-contíguos, Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.) afirma que, quando há necessidade de explicitar a relação causa-efeito, e no caso do gerúndio, pode-se usar uma palavra do grupo que Winter (1977) chamou de “Vocabulário 3”, ou seja, palavra que sinaliza a relação que queremos indicar, como causa, resultado, efeito, e conseqüência. Assim, o uso de resultando em, causando (que pode ser encabeçado por assim, por conseguinte), explicita a relação de causa-efeito.

(7) Em geral, as partículas não tratadas se reúnem na parte inferior doconduto, (assim) causando aumento gradual de pH conforme a água descartada atravessa a linha (InTech, fev. 1995, p. 38/39).

O pronome relativo que pode ser visto como um compromisso entre isso e o gerúndio, no caso em que a forma isso seria demasiadamente abrupta ou quando o gerúndio for inconveniente por alguma razão. Um desses casos é a necessidade da inserção de um modal.

(8) Os componentes da fumaça de cigarros danificam o interior das veias,o que pode levar ao desenvolvimento da arteriosclerose (Scientific American, maio 1995, p. 49).

Um traço das ligações com gerúndio ou com que é que raramente haverá dificuldade em identificar o primeiro elemento do par binário causa-efeito, pois só pode ser a oração principal. O mesmo acontece com e assim (JORDAN, 1989______. Beyond impressionism: evaluating causal connections. In: FEARING, B. E.; SPARROW, W. K. (Eds.). Technical writing: theory and practice. New York: The Modern Language Association of America, 1989. p. 102-114., p. 105), como podemos ver no exemplo a seguir.

(9) A temperatura do combustível armazenado nos tanques do navio ounos tanques da parte inferior aproxima-se da temperatura do mar, que raramente excede a 30º C, e assim a exigência da SOLAS é plenamente satisfeita quanto aos 40º do ponto de fusão do combustível (Marine Engineering Digest, abr. 1983, p. 19).

A propósito dos elos assindéticos, ou seja, da relação de causalidade expressa sem conectivo explícito, Gohl (2000GOHL, Christine. Causal relations in spoken discourse: asyndetic constructions as a means for giving reasons. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000..) nota ser esse recurso muito freqüente, especialmente na conversa informal. Nesse caso, é quase impossível especificar a relação de coerência que existe entre dois enunciados adjacentes sem olhar para a seqüência mais ampla do contexto circunstancial (lingüístico e não-lingüístico) desses enunciados.

Segundo a autora, embora haja vários estudos sobre as estruturas causais assindéticas (e.g. BLAKEMORE, 1987BLAKEMORE, D. Semantic constraints on relevance. Oxford: Basil Blackwell, 1987.), elas ainda não foram empiricamente investigadas. Em especial, há um vácuo na pesquisa sobre o uso dessas construções na interação falada.

Continuando, Gohl afirma que a sinalização da ligação em construções causais assindéticas aparece em três situações:

  • (a) Proximidade seqüencial, dentro da fala de um mesmo falante, ou deunidades produzidas por dois ou mais falantes.

  • (b) Outro meio de sinalizar a ligação é através meio do desenho prosódicode dois enunciados.

Também Spooren (1997SPOOREN, Wilbert. The processing of underspecified coherence relations. Discourse processes, n. 24, p. 149-168, 1997.), examinando o processo de relações implícitas de coerência implícitas, observou que essa implicitude pode ser tratada pela pragmática ou pela psicolingüística. A proposta de Spooren é juntar essas abordagens e, seguindo Traugott e König (1991TRAUGOTT, E.; KÖNIG, E. The semantics-pragmatics of grammaticalization revisited. In: TRAUGOTT, E.; HEINE, B. (Eds.). Approaches to grammaticalizations. v. 2. Amsterdam: Benjamins, 1991.), descrevê-la como resultado da atividade do chamado princípio-R (não diga mais que o necessário). Além dessa abordagem, o autor se apóia na noção de implicatura da pragmática (GRICE, 1981GRICE, P. Presupposition and conversational implicature. In: COLE, P. (Ed.). Radical pragmatics. New York: Academic Press, 1981.). Ele diz que o uso dos conectivos pelos usuários da língua reflete a sua cooperação conversacional.

Grice utilizou exemplos para demonstrar a ocorrência da Máxima de Modo (“seja claro”), como se vê a seguir:

(12) Ele tirou as calças e foi deitar.

A conjunção e sinaliza uma relação de seqüência temporal (e então), que pode ser entendida pela idéia de que, salvo indicações contrárias, os fatos foram contados em sua ordem natural.

Na reformulação que Horn (1984HORN, Laurence H. Toward a new taxonomy for pragmatic inference: Q-based and Rbased implicature. In: SCHIFFRIN, Deborah (Ed.). Meaning, form and use in context: linguistic applications. Washington: Georgetown University Press, 1984.) faz das máximas de Grice, a ocorrência de relações implícitas está enquadrada nos trabalhos sobre o assim chamado princípioR, que estabelece que o falante não precisa dizer mais que o necessário. Na prática, isso significa que, em uma interação contendo p, um ouvinte pode deduzir que “...mais que p...” O princípio-R da máxima de Relação (“seja relevante”) e é uma generalização das máximas de Modo (“seja breve e organizado, evite a ambigüidade e a prolixidade”) e a segunda máxima de Quantidade (“não faça sua contribuição mais informativa do que necessário”). O autor observa que o princípio-Q pode ser entendido como um princípio de economia do ouvinte: a tarefa do ouvinte é aliviada se ele puder usar um pequeno número de formas para expressar muitos significados, o que ele faz, apoiandose na noção de implicatura (GRICE, 1981GRICE, P. Presupposition and conversational implicature. In: COLE, P. (Ed.). Radical pragmatics. New York: Academic Press, 1981.), para inferir o significado implícito.

E como essas interpretações podem ser inferidas? A questão é discutida com algum detalhamento por Sanders et al. (1992SANDERS, T. J. M.; SPOOREN, W. P. M.; NOORDMAN, L. G. M. Toward a taxonomy of coherence relations. Discourse processes, n. 15, p. 1-35, 1992.). Eles utilizaram um restrito conjunto de traços primitivos de relações, como Operações Básicas (aditiva versus causal) e Polaridade (positivo versus negativo). Dessa forma, é possível expressar proximidade entre classes de relações de coerência: relações temporais e causais são próximas, porque elas diferem apenas nas Operações Básicas primitivas (distinguindo entre relações aditivas e causais). Relações de adição e contraste são próximas, porque elas diferem apenas em Polaridade primitiva (distinção entre relações positivas e negativas). Por outro lado, relações de adição e relações de causa negativa (e.g. John é republicano, mas é honesto.) são distantes, porque diferem tanto nas Operações Básicas quanto na Polaridade (Adição: aditiva, positiva; Causa Negativa: causal, negativa).

Uma outra conclusão a que se chega é a de que o grau com que as inferências ocorrem depende do tipo de texto. A procura de antecedentes causais é abundante em textos narrativos, de acordo com Graesser et al. (1994GRAESSER, A. C.; SINGER, M.; TRABASSO, T. (). Constructing inferences during narrative text comprehension. Psychological review, n. 101, p. 371-395, 1994.), o que é menos freqüente em textos expositivos.

Thompson & Longacre (1985______; LONGACRE, Robert E. Adverbial clauses. In: SHOPEN, T. (Ed.). Language, typology and syntact description II, 1985.) propõem a noção de causa marginal (reason margin), que pode expressar uma causa eficiente relativa ao resultado expresso no núcleo da sentença.

(13) Eu fui para a cidade porque estava aborrecido [a causa marginal ‘porque estava aborrecido’ expressa a causa eficiente relativa ao núcleo ‘eu fui para a cidade’].

Se tivermos uma seqüência de duas sentenças na qual a causa marginal é parafraseada ou é uma paráfrase de dois núcleos, então haverá uma extrapolação dessa relação no nível do parágrafo. Assim, em: Eu fui para a cidade porque estava aborrecido. Eu apenas não consegui mais ficar com eles, em que a ligação causaefeito se espalha pelas duas sentenças. Eu apenas não consegui ficar mais com eles é uma explicação para estava aborrecido.

O estudo mostra que as orações adverbiais, entre elas as causais, possuem uma relevância maior que aquela observada na sentença em que ocorrem, pois contribuem para a construção da coesão no discurso como um todo, ou a coesão dentro do parágrafo.

2.1.1.2 Os tipos de causalidade

Sweetser (1990SWEETSER, Eve E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.) procura mostrar que as conjunções são ambíguas, afirmando que porque possui três leituras: de conteúdo, epistêmica, e de ato de fala, (1a), (1b) e (1c) respectivamente:

(14a) John voltou porque ele a amava.

(14b) John a amava, porque voltou.

(14c) O que você vai fazer hoje à noite, porque está passando um bom filme.

No primeiro exemplo, (14a), uma causa real liga as duas orações: equivale a dizer que o amor que John tem por ela é que o fez voltar. No segundo (14b), a causa poderia aparecer para ser revertida, mas não é; não significa que o retorno foi o causador do amor, como se o amor fosse a conseqüência da volta. O exemplo pode ser entendido como se o conhecimento que o falante tem sobre o retorno de John (como uma premissa) origina a conclusão de que John a ama, isto é, “se voltou, é porque a ama”. O exemplo (14c) poderia ser uma expressão totalmente incompreensível, caso a conjunção fosse entendida segundo uma leitura de conteúdo. Como a oração principal não é de fato uma declaração, a oração iniciada pelo porque não pode ser entendida como a causa real do evento ou da situação apresentada na oração principal. A oração iniciada pelo porque esclarece a causa para um ato de fala (perguntar) subjacente. A leitura seria: “Eu pergunto [o que você vai fazer hoje à noite] porque eu quero te convidar para assistir a um bom filme”.

Noordman & Blijzer (2000NOORDMAN, Leo G. M.; BLIJZER, Femke de. On the processing of causal relations. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000.) lembram que, além da distinção entre relações de conteúdo e relações epistêmicas, as distinções entre relações causais podem ser feitas (a) com base na correspondência entre a ordem conceitual das orações e um modelo do mundo, (b) com base na correspondência entre a ordem linear das orações e um modelo do mundo, e (c) com base na coerção causal entre a causa e o efeito.

2.1.1.3 A função discursiva das causais

Desde os estudos do círculo de Bakhtin, uma boa parcela dos estudiosos da língua a têm entendido como sendo dialógica por natureza. Dentro dessa perspectiva, Ford (1994FORD, Cecilia E. Dialogic aspects of talk and writing: because on the interactive-edited continuum. Text, n. 14, p. 531-554, 1994.) examina a conjunção porque em contexto de uso, nas quais essa conjunção emerge em geral depois de relações retóricas de contraste e negação, ou mais genericamente, depois de proposições que vão contra as expectativas partilhadas. A autora sugere que na conversa há uma negociação imediata e clara entre os interlocutores, que leva a elaborações introduzidas por porque. Em textos mais monológicos e editados, o uso de porque emerge em contextos específicos e de retórica identificável, ou seja, os modos pelos quais parte de um texto trabalham juntas para produzir metas comunicativas, segundo suas palavras, possivelmente como resultado de um diálogo interno com interlocutores projetados.

Em seu estudo, Ford recorre ao conceito de ‘emergência’, termo cunhado por Hopper (1987HOPPER, Paul J. Emergent grammar. BLS, n. 13, p. 139-157, 1987., 1988) no estudo da gramática funcional para expressar o fato de que a gramática é um produto do uso, ou seja, de que certas estruturas e formas emergem a serviço do trabalho comunicativo. Também se apóia em sua análise à noção de estrutura preferencial (POMERANTZ, 1984aPOMERANTZ, Anita. Agreeing and disagreeing with assessments: some features of preferred/ dispreferred turn shapes. In. ATKINSON, M. Maxwell; HERITAGE, John (Eds.). Structures of social action. Cambridge: Cambridge University Press, 1984a., 1984b; SACKS, 1987SACKS, Harvey. On the preferences for agreement and contiguity in sequences in conversation. In: BUTTON, Graham; LEE, John R. E. (Eds.). Talk and social organization. Philadelphia: Multilingual Matters, 1987.) que envolve o conceito de resposta esperada, chamada de preferida. Isto é, em dois turnos de conversa consecutivos, ou seja, num ‘par adjacente’, o segundo turno pode ser de dois tipos: segunda-parte-do-par-preferida e segunda-parte-do-par-não-preferida.

Com relação às explicações após segunda-não-preferida, Gohl (2000GOHL, Christine. Causal relations in spoken discourse: asyndetic constructions as a means for giving reasons. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000..) argumenta que vários estudos da análise da conversa (e.g. ATKINSON e DREW, 1979ATKINSON, J. Maxwell; DREW, P. Order in Court. London: Macmillan, 1979.; HERITAGE, 1984HERITAGE, J. A change-of-state token and aspects of its sequential placement. In: ATKINSON, J. M.; HERITAGE, J. (Eds.). Structures of social action. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. p. 299-345.; POMERANTZ, 1984aPOMERANTZ, Anita. Agreeing and disagreeing with assessments: some features of preferred/ dispreferred turn shapes. In. ATKINSON, M. Maxwell; HERITAGE, John (Eds.). Structures of social action. Cambridge: Cambridge University Press, 1984a./b) mostram que certas ações, em geral organizadas como primeiras partes de pares adjacentes, tornam relevante uma segunda ação, isto é, essas ações chamam uma segunda ação em virtude de implicações seqüenciais. Essas segundas ações têm realizações alternativas, porém não equivalentes: uma realização é a preferida, a outra, a não-preferida. Depois de pedidos, sugestões, oferecimentos e convites, uma aceitação será a segunda ação preferida e não-marcada. Depois de avaliações, uma concordância será a resposta preferida, e um desacordo será a não-preferida. As segundas-não-preferidas exibem vários traços comuns, incluindo atrasos, prefácios e explicações.

Ford notou que a resposta preferida é expressa sem demora ou hesitação. Em contraste, quando ocorre uma resposta não-preferida - uma recusa, uma resposta inesperada - a tendência é de o falante apresentar uma justificação ou desculpa, situação em que 46% (18 dentre 39) de elaborações com porque aconteceram. Nesse sentido, Longacre (1983LONGACRE, R. E. The grammar of discourse. New York: Plenum, 1983.) inclui a noção de relações ‘frustradas’, que é relevante ao ambiente discursivo de porque. A frustração numa relação textual envolve uma expectativa não preenchida baseada em esquemas culturais estabelecidas.

Nessa linha de raciocínio, a segunda-não-preferida envolve, em termos amplos, um contraste. Fairclough (1989FAIRCLOUGH, Norman. Language and power. New York: Longman, 1989., p. 154), por exemplo, vê a negação no discurso ‘como um meio de implicitamente expressar a afirmativa correspondente’. Através da negação, ‘o produtor de texto pode contestar ou desafiar elementos [pressupostos] do contexto intertextual’ (1989, p. 154). O autor do texto pode usar essas pressuposições de modo ‘sincero’ ou ‘manipulativo’.

O estudo de Ford (2000______. The treatment of contrasts in interaction. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000.) considera o contraste em termos amplos, envolvendo contraste neutro, concessão e antítese, reconhecendo que contrastes podem ser manifestados como desacordos entre interlocutores. Quando há algum contraste entre os interlocutores envolvidos em uma interação face-a-face, surge a necessidade de explicações ou soluções, em que o falante esclarece o contraste apresentando uma razão muito importante ou uma conseqüência para o fato. A autora analisa tipos de combinação retórica recorrentes e esperáveis, que compõem a maioria dos casos presentes nos dados: contraste seguido de explicação; e contraste seguido de solução.

Nesses modelos estudados, há evidências de que existe um modelo mais geral, através do qual os contrastes são seguidos de uma explicação introduzida por um conectivo, dentro de uma seqüência padronizada. A pesquisa verifica uma regularidade relevante associada aos usos de explicações e soluções após contrastes.

Segundo a autora, os contrastes podem também expressar comandos e realizar auto-correções. Os falantes agem no papel de autoridade, agem com referência a regras institucionais partilhadas ou mostram seu acesso a conhecimentos exatamente para não explicar seus movimentos constrastivos.

Com relação às explicações depois de avaliações, Gohl comenta que as avaliações em geral contêm marcadores lexicais ou frases que as tornam ‘fortes avaliadores’, no sentido em que Ford (1994FORD, Cecilia E. Dialogic aspects of talk and writing: because on the interactive-edited continuum. Text, n. 14, p. 531-554, 1994.) descreveu esses marcadores. Em alemão esses marcadores lexicais são: especialmente, realmente, muito, totalmente, bem como certos adjetivos como medonho, maravilhoso, brilhante, ou adjetivos na forma superlativa, e.g., pior, e expressões nominais (tudo virou um inferno). Explicações depois de ‘avaliações fortes’ são mais freqüentes do que explicações depois de ‘avaliações mais fracas’. Essa observação leva a concluir que não são os itens lexicais que são responsáveis pela produção de uma unidade explicativa, mas a ação realizada pela afirmação avaliativa.

3 METODOLOGIA

O corpus do presente trabalho é extraído do acervo do Projeto DIRECT, do Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem, iniciado em 1989, a partir de um convênio entre a PUCSP e a Universidade de Liverpool, Inglaterra, e tem investigado questões que envolvem a compreensão e a produção de textos em língua inglesa e em língua portuguesa, na área de negócios e tecnologia.

O corpus, que consiste na transcrição de uma reunião em uma empresa imobiliária sediada na zona Oeste da cidade de São Paulo. Trata-se de uma imobiliária de porte pequeno, com perfil e dimensões de uma empresa de bairro, porém respaldada pelo nome da franqueadora, uma grande empresa reconhecida no mercado de imóveis.

A transcrição tem ao todo 1043 turnos, e a análise baseou-se nos 497 primeiros, por entendermos que essa amostragem é representativa dos fenômenos em análise, suficiente, portanto, para responder às perguntas de pesquisa.

O corpus da pesquisa constitui-se em um registro oral genuíno de língua em uso, que reflete um momento rotineiro da empresa, de modo que as ocorrências de causalidade ali observadas podem ser entendidas como expressões verdadeiras do fenômeno em estudo, nas condições descritas.

O corpus da pesquisa provém da transcrição de uma reunião de rotina (tratando de itens como a confecção de cartão de visitas da firma, da colocação de placas em imóveis do bairro ou bairros vizinhos, do melhor dia para publicação de ofertas em jornais, etc.) e, como os nomes dos participantes não podem ser divulgados, cada um deles é identificado por uma letra, que não é também a letra inicial do seu nome verdadeiro. A escolha das letras é arbitrária, e apenas são verdadeiros os dados profissionais de cada participante, como também a idade e as relações de cada um deles com a empresa.

Os participantes da reunião são sete, a saber:

M (43) - administrador de empresas, um dos sócios da imobiliária e coordenador da reunião; I - (53), economista, o mais antigo na empresa; S (40), arquiteta, recente na empresa; R(35), publicitário, há muito tempo na empresa, irmão de um dos proprietários; A (50), advogado, recente na empresa; Mt (40), nível secundário, com experiência no setor imobiliário; J (68 anos), o que tem mais tempo na profissão de corretor imobiliário; P não é caracterizado (na apresentação dos membros da reunião), uma vez que participa de apenas quatro turnos; e T (sem idade declarada), um excorretor da empresa, presente na reunião.

O primeiro passo foi a anotação de todas as ocorrências de causalidade na transcrição da reunião. Como se pretendia anotar tanto as ocorrências com conectivo explícito como as sem conectivo, não foi possível utilizar um sistema computacional, como o Word Smith, por exemplo, uma vez que tais sistemas assinalam apenas a ocorrência com base em conectivo explícito. Diante disso, a assinalação foi feita “manualmente”, anotando-se as causais indicadas por meio de conectivo, as causais com ligação implícita, e as causais em ocorrências com elementos coesivos de outra classificação que não a causal, ou seja, a causalidade ligada por elemento temporal, final, condicional, proporcional e conformativo. Essas diferentes formas de expressão foram agrupadas com base em Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.) e Gohl (2000GOHL, Christine. Causal relations in spoken discourse: asyndetic constructions as a means for giving reasons. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000..).

A seguir, as ocorrências de causalidade foram agrupadas de acordo com os três tipos, isto é, em causais de conteúdo, causais epistêmicas e causais de atos de fala, segundo Sweetser (1990SWEETSER, Eve E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.) e Maat (2000MAAT, Henk Pander; SANDERS, Ted. Domains of use or subjectivity? The distribution of three Dutch causal connective explained. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000.), adotando-se a assinalação por meio de cores: azul para conteúdo, rosa para epistêmico e verde para ato de fala.

As anotações, conforme a função das causais (se indicativas ou não de contraste, se usadas para abrandamento de ordem ou apenas para explicação, de acordo com Ford (1994FORD, Cecilia E. Dialogic aspects of talk and writing: because on the interactive-edited continuum. Text, n. 14, p. 531-554, 1994. e 2000)).

Para proceder à análise e discussão, adotamos uma legenda que possibilitasse uma observação mais clara das ocorrências de causalidade verificadas na transcrição da reunião: as conexões explícitas foram marcadas em corpo 14, negritado, com grifo no elemento coesivo; para as conexões implícitas, utilizamos o símbolo Ø, negritado, em corpo 16; as ocorrências com conectivo não classificado como causal foram anotadas com o a inicial L (“ligada por”), seguida da inicial da classificação daquele conectivo, em corpo 16, negritado (LF para a causalidade envolvida na conjunção final, LT para a causalidade envolvida na conjunção temporal, LC para a causalidade envolvida na conjunção condicional, LP para a causalidade envolvida na conjunção proporcional, e LCf para a causalidade envolvida na conjunção conformativa).

Além disso, como citamos anteriormente, utilizamos cores para identificar as ocorrências conforme o ‘tipo’ de causalidade: o azul indicando as ‘causais de conteúdo’; o rosa indicando as ‘causais epistêmicas’; e o verde indicando as ‘causais de ato de fala’.

4 ANÁLISE DOS DADOS

Por questão de espaço apresentaremos apenas alguns turnos com as assinalações, a título de ilustração da análise feita.

1-<M> mostrando versões novas de cartões, segurando alto para todos verem e apontando as modificações> ...Os cartões primeiro a gente tinha Sol Imobiliária Perdizes ai nós resolvemos tirar Perdizes (LF) ra poder atuar e vender para o cliente que a gente atua em Higienópolis jardins <> então foi ótimo ...aí nós tiramos o nome da empresa M.K. & P.

-2-<I> que foi ótimo (Ø)

-3-risos

-4-<M> (Ø)Estava super poluído (Ø)três empresas num cartão só aí a gente mudou

-5-<R> Tirou o endereço

[...]

-14- <M> Não é porque cada um chega lá é o cartão É não tavam querendo colocar o CRECI era coisa do J.,embaixo do nome

-15- <I> (Ø)era o J. que tava querendo

-16- <M> É mas não vai ter, Então eu vou colocar aqui, É que não é isso é que cada vez que a gente vem com uma dessa o cara vai lá e

-17- <Mt> (Ø)Mas que tá poluído o cartão tá ,francamente..

-18- <R> (Ø) Eu tiraria o Consultor Imobiliário

-19- <T> É, eu também acho

-20- <R> (Ø)Eu acho horrivel o consultor imobiliário

-21- <M> <mostrando boneco novo> Assim não tá bom?

-22- <T> O nome do cara e o consultor imobiliário embaixo?

-23- <R> Porque é óbvio: se já é imobiliária, você não vai ter médico, cirurgião pedicuro né?

-24- <risos>

-25- <R> (Ø)O trabalho em Imobiliária é um consultor imobiliário

-26- <I> É só (LF)pra dar um toque de classe né?

-27- <M> O cartão tá bonito assim né? Na minha opinião por favor olhem que eu ão quero mais voltar neste assunto

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme já foi mencionado, foram analisadas 497 turnos da reunião analisada, composta por 1043 turnos conversacionais trocados entre os sete membros do staff da firma de corretagem de imóveis,. Nestes, constatamos 174 ocorrências de causalidade, nas quais verificamos que essa relação aparece introduzida por conectivos previstos nas gramáticas pesquisadas, mas o que ocorre mais freqüentemente é a causalidade expressa sem conectivo explícito. Além disso, ela aparece também integrando o significado de conjunção de outra classificação que não a causal.

As 174 ocorrências de causalidade apontadas nos 497 turnos analisados apresentaram a distribuição que é mostrada no quadro 1, sendo:

  • 65 conexões explícitas (30 porque; 15 que; 13 é que; 3 como; 2 ou seja; 1 preposição com; 1 palavra resultado);

  • 82 sem conectivo explícito;

  • 27 com conjunção de outra classificação que não a causal (12 final; 8 condicional; 5 proporcional; 3 temporal; 1 conformativa)

Quadro 1
Tipos de causalidade verificados no corpus.

A discussão desses resultados foi organizada em três partes: (a) as formas de expressão da causalidade; (b) os tipos de causalidade; e (c) a função da causalidade. Por exigüidade de espaço, citaremos apenas alguns exemplos. Mantivemos o número correspondente ao turno, da transcrição original.

5.1 As formas de expressão da causalidade

5.1.1 Com conectivos

Dentre as 174 ocorrências de causalidade verificadas e mostradas no Quadro 02, 65 foram indicadas com o uso de conectivo. Dentre os conectivos, o mais utilizado foi o porque, com 30 ocorrências, dentre elas as que ilustramos a seguir:

-86- <T> Acho que dá para ser menor, porque vai estar sozinho no meio do cartão. E se usar o mesmo tamanho que está esse Perdizes aqui neste seu, aí não tem, quer ver? Tá vendo a letra do Perdizes?

-336- <I> Está com proposta mas num

-337- <M> Está e eu estou acreditando mesmo porque muita coisa andou de um mês pro outro, mas efetivamente fevereiro foi um mês muito ruim, ontem eu fechei os resultados da minha esposa lá com o negócio dela, e janeiro e fevereiro também foi um mês bem fracote

O que se observou, porém, é que, em se tratando de modalidade oral, há situações não previstas naquelas gramáticas utilizadas nas escolas, já que elas se restringem à sintaxe da modalidade escrita. Assim, por exemplo, observamos o caso em que a oração iniciada pelo conectivo não é aquela em que se encontra a relação de causa, que está em outra oração, localizada adiante no texto.

-23- <R> Porque é óbvio ... se já é imobiliária, você não vai ter médico, cirurgião, pedicuro, né?

Nesse exemplo, a conjunção porque se liga a ‘você não vai ter médico ...’ ou seja, reconstruindo o enunciado: ‘É óbvio, porque você não vai ter médico, cirurgião, pedicuro, se já é imobiliária’.

Um outro exemplo desse tipo de ocorrência é o que aparece no turno 291:

-291- <A> Tenta sábado ué, vê o que que dá

-292- <I> Porque é aquele negócio que você falou no sábado você pega sábado e domingo o cara lê sábado bom se quiser e guarda pro domingo vai e telefona no domingo e vai e começou a semana

Nessa ocorrência, a relação causal efetiva seria: ‘porque no sábado você pega sábado e domingo’.

Podemos ver então que uma das características da sintaxe da modalidade oral que a diferencia da escrita são fragmentos de fala que se vão mesclando ao assunto principal. Não se quer com isso dizer que não haja intercalações na modalidade escrita, mas a sintaxe da fala é muito mais complexa do que a da escrita, como diz Halliday (1994).

O segundo conectivo mais utilizado nos turnos analisados foi que (15 vezes), com valor de porque, que é citado na maioria das gramáticas do português pesquisadas:

-27- <M> O cartão tá bonito assim né? Na minha opinião por favor olhem que eu não quero mais voltar neste assunto

O terceiro conectivo mais freqüente nos turnos analisados foi ainda que, associado ao verbo ser, na forma de presente do indicativo, é, criando a seqüência é que, em que se pode observar uma equivalência do que ao porque (= é porque). Note-se, porém, que este é que não tem aqui o valor de expletivo, como também não se trata de compreendê-lo como uma ocorrência de porque, possível segundo uma verificação mais superficial. Por isso, como o uso desse conectivo se deu no corpus da presente pesquisa de maneira diferente daquela como aparece citado nas gramáticas pesquisadas, os comentários serão colocados no item a seguir.

As 7 ocorrências restantes com conectivo explícito confirmaram o que as gramáticas do português pesquisadas assinalam, ou seja, como (3 ocorrências) sempre inicia oração que se antepõe à oração principal:

-182- <M> [...] certeza de retorno e agora como eu tenho leitura diária se eu sentir que durante a semana começou a esquentar o chamado eu estou pensando em colocar este [...]

No exemplo a seguir, também se verifica a posposição da oração principal, isto é, ‘nós vamos descobrir’ aparece depois da oração que contém a causa, ligada por como.

-456- <M> Nessa última semana nós fizemos 21 atendimentos e por 9 ofertas teoricamente deu 2 por oferta, agora isso é uma leitura, não sei, agora, como nós vamos ter isso semanalmente, nós vamos descobrir o que nós estamos fazendo, se está melhorando um pouco ou não o retorno, ta?

Além das ocorrências de relação de causalidade expressas através do conectivo como, assinalamos a utilização de ou seja (2 vezes). Note-se que a ‘explicação’, diferenciada da ‘causa’ em algumas gramáticas do português, não foi assim tratada no presente trabalho, tendo sido incluída como elemento de indicação de causalidade, entendendo-se a causalidade como fenômeno que engloba ‘motivo’, ‘razão’, ‘explicação’, entre outros do mesmo universo.

-401- <I> A longo prazo nós temos um tipo de trabalho diferenciado, certo?, ou seja, o perfil nosso é um perfil por exemplo que nós vamos trabalhar junto através de clientes indicados < >

As duas últimas ocorrências das 7 restantes mostram elemento conector não previsto nas gramáticas pesquisadas. Trata-se da preposição com, não mencionada nas gramáticas pesquisadas como elemento de introdução de causalidade, mas citada por Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.), e a palavra resultado, também citada por aquele autor.

Observadas todas essas situações de utilização de conectivos para indicar a causalidade, constatamos que alguns conectivos presentes nas relações mencionadas nas gramáticas pesquisadas não apareceram em nenhum dos turnos da reunião. É o caso, por exemplo, de visto que, visto como, já que, uma vez que, pois que, de modo que, de maneira que, de forma que, porquanto, pois, sendo que este último figura geralmente no início das listas de conjunções causais apresentadas nos compêndios, além de ser objeto de estudo particular na maioria das gramáticas pesquisadas, no sentido de efetuar-se a distinção entre o ‘pois’ causal e o ‘pois’ conclusivo. Não é nossa intenção, porém, apontar a questão da não-ocorrência de certos conectivos como depreciativa. Ao mostrar a percentagem das ocorrências, o que pretendemos é indicar um caminho de estudo das referidas conjunções que leve em conta o que é mais habitual, o que é menos habitual, o que pode caber em determinadas situações, o que pode ser adequado em outras.

A localização da oração principal e da subordinada causal

Observa-se que nem sempre é evidente a localização da chamada oração subordinada adverbial causal e sua oração principal. No exemplo (23), a seguir, porque aparece contíguo a ‘é óbvio´ e assim, em uma primeira leitura, a tendência, cremos, é julgar que ‘porque é óbvio’ seja a causal. No entanto, ‘é óbvio’ é uma oração intercalada. A oração causal será ‘porque você não vai ter médico, cirurgião [...]’.

-22- <T> O nome do cara e o consultor imobiliário embaixo?

-23- <R> Porque é óbvio: se já é imobiliária, você não vai ter médico, cirurgião, pedicuro, né? (Você não vai ter médico, cirurgião, pedicuro, porque é uma imobiliária)

Outro exemplo dessa situação ocorre no turno 16, em que a oração ‘não é isso’, contígua a é que, não é a causal, mas sim a oração ‘o cara vai lá ...’ ou seja, ‘é que o cara vai lá e...’:

-15- <I> era o J. que tava querendo

-16- <M> É mas não vai ter, então eu vou colocar aqui. É que não é isso, é que cada vez que a gente vem com uma dessa o cara vai lá e (cobra mais)

Uma situação não mencionada nas gramáticas pesquisadas, conforme comentamos anteriormente, é o uso do conectivo é que. O conectivo é que aparece em situação em que é possível subentender um desdobramento em oração principal seguida de uma subordinada adverbial causal. Para entender esse desdobramento, observe-se que a forma verbal ‘é’ corresponde, em algumas das ocorrências, a ‘o problema é’, ‘o que eu quero dizer é’, e, em outras ocorrências, aparece com o sujeito da oração principal, ‘o problema’, explícito. Essa expressão, presente 13 vezes, não é citada nas gramáticas pesquisadas, por isso entendemos tratar-se de situação digna de menção, como expressão tipicamente falada, que ocorre, conforme as anotações no corpus da presente pesquisa, iniciando o período.

-15- <I> era o J. que tava querendo

-16- <M> É mas não vai ter, então eu vou colocar aqui. É que não é isso, é que cada vez que a gente vem com uma dessa o cara vai lá e

Outra situação não comentada pelas gramáticas pesquisadas foi a utilização da preposição com, presente no turno 169 e da palavra resultado presente no turno 402 com a função causal. Com relação a essas duas ocorrências, elas confirmam, ainda que com freqüência baixa, o que está previsto em Jordan (1998JORDAN, Michael P. Pragmatic, stylistic and grammatical limitations on choice: a study of cause-effect signalling in English. In: SÁNCHEZ-MACARRO, Antonia; CARTER, Ronald (Eds.). Linguistic choice across genres: variation in spoken & written English. Amsterdam: Benjamins., 1998.), que afirma serem várias as possibilidades de ligação, entre elas a ligação por meio de preposições (caso da preposição com) e a ligação por meio de palavras que introduzem relação causal (caso da palavra resultado).

-169- <I> Agora sabe o que que eu acho, que quer dizer deu mais na na na quinta, certo? Ou seja, no fim de semana com esse sol que tem feito tal o pessoal se mandou mesmo < > Não vamos dizer que os anúncios não estão tendo resultado [...].

Nesse exemplo, pode-se entender que ‘o pessoal se mandou mesmo’ por causa do sol, devido ao sol, porque tem feito sol, isto é, a preposição com estabelece a relação de causalidade.

-401- <I> A longo prazo nós temos um tipo de trabalho diferenciado, certo? , ou seja, o perfil nosso é um perfil, por exemplo, que nós vamos trabalhar junto através de clientes.

-402- <Mt> Resultado da gente ter a matrícula < > dar uma segurança

Causalidade introduzida por conjunção não-causal

Trata-se de situação em que se requer uma causa, mas o ouvinte - como que subentendendo essa causa - responde com uma outra circunstância, que, evidentemente, preenche uma outra função. Por exemplo, pergunta-se ‘por que você quer este livro?’ e o ouvinte responde: ‘para ler nas férias’, ou seja, pergunta-se a causa e tem-se como resposta uma finalidade. Há, pois, uma substituição da função esperada por uma outra função, no caso a substituição de uma causa por uma finalidade.

Dos 27 casos envolvendo esse tipo de substituição, 12 apareceram introduzidos por conjunção final (LF), ocorrendo logo no início do corpus:

-1- <M> [...] primeiro a gente tinha Sol Imobiliária Perdizes, aí nós resolvemos tirar Perdizes pra poder atuar e vender para o cliente que a gente atua em Higienópolis, Jardins [...]

Quando M diz: “aí nós resolvemos tirar Perdizes”, fica no ar a pergunta, embora não formulada: “por quê?” Que é respondida com a oração final.

A conjunção se, que é uma conjunção condicional, segundo as gramáticas consultadas, também pode ocorrer desempenhando a função causal, como no turno 483:

-483- <Mt> Ah, então é o seguinte se eu demorar mais um pouco eu ajunto mais dinheiro <imitando cliente>

Entenda-se, nessa ocorrência, que ‘eu ajunto mais dinheiro porque demoro mais um pouco’. Essa explicação não exclui, porém, a situação de condicionalidade, pois a demora é também uma condição para que eu ajunte mais dinheiro, e a causalidade pode aí ser explicada pelo fato de que a conseqüência da demora é o acúmulo de dinheiro.

A causalidade envolvida na oração condicional foi estudada por Dancygier & Sweetser (2000), que afirmam que a conjunção se não é lexicalmente causal. No domínio do conteúdo, as orações condicionais expressam causa ou capacitação, mas a causalidade entra na interpretação do conteúdo condicional pela função primária das orações condicionais: a predição (portanto, o conteúdo tomado como um todo).

Além da finalidade e da condicionalidade, a referida substituição ocorre também com conectivo proporcional, o que se constatou em 5 casos, como em:

-73- <A> Quanto mais simples melhor já tem S. já tem FM já deu ênfase no que você quer que é o mais importante, aí endereço CRECI aqui no cantinho.

No turno 73, pode-se compreender que um cartão mais simples, expresso pela conjunção proporcional, é a causa da melhoria.

Ainda foram observadas ocorrências com conjunção temporal. Dos 3 casos observados, apresentamos o que ocorreu no turno 370:

-370- <I> O problema é a saída, quanto mais saída você só vende quando você sai

-371- <R> É a saída é...

Embora o conectivo empregado seja uma conjunção temporal, pode-se entender aqui a idéia de que a saída é a causa da venda, o que se reforça pelo emprego da palavra denotativa de exclusão ‘só’, pois a saída é a única situação que propicia a venda, o que coloca o ato de sair como causador da venda. Não fosse a idéia de exclusão, a oração iniciada pela conjunção quando teria um valor mais próximo da temporalidade.

Uma última ocorrência anotada de causalidade ligada por conjunção não-causal se verifica no turno 295, em que a oração iniciada pela conjunção conformativa conforme contém uma idéia de causa, uma vez que ‘o sentir’ provoca a mudança. De fato, a própria conceituação de conformidade supõe uma situação causal, já que ‘conformidade’ se define como ocorrência da qual decorre outro fato, um fato que se dá ‘de acordo com’, ou seja, ‘causado’ pelo fato inicial, como se pode verificar em:

-295- <M> É apenas pra começar a sentir o sábado isso eu vou mudando conforme eu vou sentindo mas eu tenho que sentir < >

Nessa ocorrência, o conectivo indica a conformidade, pois a mudança se dá “conforme” o que se sente, mas não se pode também, neste caso, ignorar o fato de que a mudança é decorrência de “sentir”, o que pode ser visto, portanto, como uma causa.

5.1.2 Sem conectivos

Dos autores pesquisados, apenas dois (GAMA KURY, 1970KURY, A. da G. Lições de análise sintática: teoria e prática. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1970.; CEGALLA, 1988CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1988.) mencionam a possibilidade de ocorrência de causalidade sem conectivo explícito, o que pode levar a crer que se trate de fenômeno raro. No entanto, a presente pesquisa detectou uma porcentagem muito relevante dessas ocorrências, ou seja, 82 em um total de 174, o que representa 47% de ocorrências. A não-indicação dessa possibilidade deve decorrer do fato de as referidas gramáticas não se aterem a corpora de fala.

Nos exemplos abaixo, colocamos entre parênteses o significado de causalidade, embora o texto original não inclua o conectivo explicitamente.

-36- <S> Não, tem que pôr o CRECI CRECI tem que ter até Ø é obrigatório o CRECI (tem que ter até porque é obrigatório).

-64- <M> [...] Deixa ver o seu cartão.

-65- <Mt> Não tenho, Ø acabou, o meu tá enorme [...] (Não tenho, porque acabou)

-262- <A> < > Sábado ainda sai, mas domingo não sai Ø a turma não sai, a gente programa [...] (não sai porque a turma não sai).

5.2 Os tipos de causalidade

Os tipos foram analisados com base em Sweetser (1990SWEETSER, Eve E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), que prevê três leituras para porque, sendo uma de conteúdo, uma epistêmica, e uma de ato de fala, Ao se assinalarem as três leituras em todas as ocorrências, verificamos que a distinção entre epistêmico e ato de fala é muito sutil, gerando grande dificuldade de identificação.

O seguinte exemplo ilustra o porque de conteúdo:

-44- <R> É, aí é besteira

-45- <P> <em pé desde que chegou> Eu tenho CRECI, eu gostaria de ter o meu CRECI

Nessa ocorrência, <P> afirma que ‘eu gostaria de ter o meu CRECI no cartão, porque eu tenho CRECI).

Segundo Sweetser (1990SWEETSER, Eve E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), a leitura epistêmica supõe que o conhecimento que o falante tem de um fato pode originar uma conclusão, e por isso supõe um conhecimento de mundo extratexto, o que dificulta o estabelecimento de critérios muito claros e rigorosos para a distinção. Assim é que observamos os exemplos a seguir:

-322- <M> Essa brincadeira eu tenho que fazer < > eu vou deixar isso em aberto que no final do mês eu acabo gastando mais uns 400 paus ... eu fiz a conta rapidinho aqui tá?

Consideramos este que como sendo causal epistêmica, pois ‘no final do mês eu acabo gastando mais uns 400 paus [...]’ não é a causa de ‘eu vou deixar isso em aberto’. O meu conhecimento do assunto me permite dizer que ‘vou deixar em aberto’, pois isso me garante que não gaste os 400 paus.

O seguinte exemplo ilustra um caso de porque como ato de fala:

-83- <M> Então diminui o nome do corretor?

-84- <S> Não, não, aí não!

-85- <M> Ou tira o negrito, porque corretor tá em negrito.

Nesse caso, ‘corretor tá em negrito’ não é causa de ‘tira o negrito’, mas do ato de fala ‘Eu ordeno’[...] ‘porque corretor tá em negrito’.

As ocorrências de causalidade encontradas foram predominantemente de conteúdo, perfazendo 109 vezes em um total de 174 assinalações. As epistêmicas encontradas foram 11, e as de ato de fala, 54.

5.3 A função das causais

Consideramos aqui o número de ocorrências com os três conectivos de maior freqüência (porque, que e é que), e as ocorrências sem conectivo explícito.

Esse número de ocorrências será discutido principalmente em relação a <M>, por julgarmos que as suas contribuições não só esclarecem mas também são suficientes para ilustrarmos o assunto tratado neste item. A situação de <M> é muito delicada: ele não pode apenas “comunicar decisões”, tampouco permitir que as discussões conduzam a soluções não interessantes para a empresa. Assim, ao lado de suas ordens, deve haver o abrandamento, bem como suas sugestões devem vir acompanhadas de esclarecimentos satisfatórios, uma vez que é de interesse que os corretores se sintam participantes efetivos na determinação dos rumos da empresa.

Iniciando-se pelas ocorrências com porque, das 30 vezes em que essa conjunção foi usada, 15 foram usadas por <M>. Segundo Ford (1994FORD, Cecilia E. Dialogic aspects of talk and writing: because on the interactive-edited continuum. Text, n. 14, p. 531-554, 1994.), na conversa há uma negociação imediata e clara entre os interlocutores, que leva a elaborações introduzidas por porque, como no exemplo a seguir:

-476- <M> Esse cliente como ele demora 6 meses pra resolver o negócio, aquilo que ele quer é o cliente típico, é o perfil que a gente,, assim vai de encontro ao nosso atendimento, ao atendimento que a gente dá,, porque a gente está atendendo o cliente como um longo prazo pensando em atender mesmo não simplesmente jogando o cara, eu acho que isso aí na nossa.

As outras 15 ocorrências de causalidade com porque são utilizadas pelos outros participantes, com uma freqüência pouco maior por parte de <R> (6 vezes).

O segundo conectivo mais utilizado, que (15 ocorrências), aparece utilizado por <M> em 11 dessas ocorrências. Como que equivale a porque, podemos afirmar que, em 45 ocorrências (30 de porque e 15 de que), 26 foram utilizadas por <M>, e a utilização pelos outros participantes não teve predominância de algum deles.

Finalmente, das 13 ocorrências de é que, 7 foram utilizadas por <M>, em situações que confirmam, na maioria das vezes, a opinião de Ford (2000______. The treatment of contrasts in interaction. In: COUPER-KUHLEN, Elizabeth; KORTMANN, Bernd (Eds.). Cause condition concession contrast. Berlin; New York: Mouton de Gruyter, 2000.) de que a causalidade emerge em situações de contraste, e o contraste é seguido de uma solução ou de uma explicação.

A causalidade sem conectivo apresentou 82 ocorrências, com distribuição sem predominância de qualquer um dos participantes. Há uma utilização maior por <M>, pois ele é quem mais fala, mas a proporção observada nos casos com conectivo não se repete nas ocorrências sem conectivo.

O que se pôde observar nessas ocorrências sem conectivo, no caso de <M>, é que a ausência de conectivo ocorre em situações de pouco contraste, na maioria das vezes apenas indicando uma explicação, como no exemplo abaixo:

-282- <M> Deixa só eu explicar uma coisa eu preciso quando eu faço anúncio no domingo eu consigo negociar (porque) eu ganho bonificado durante a semana que eu posso anunciar qualquer dia quando eu anuncio só durante a semana ou eu faço só uma colcha no sábado ou eu não ganho bonificado

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o tratamento das gramáticas, como mostrado na seção 2.1.1, é possível afirmar que há aspectos ligados ao fenômeno da causalidade que poderiam ser tratados de maneira mais aprofundada, pelas gramáticas escolares brasileiras, que apresentam esse fenômeno em situações muito restritas, ou nem chegam a mencioná-lo.

A descrição formal das estruturas iniciadas pelas conjunções subordinativas causais, por exemplo, deixa de lado a questão da função dessas estruturas, ou seja, o ‘para que servem’ essas formas. Deixar de lado essa questão é não levar em conta que o sistema lingüístico - a léxico-gramática - existe para cumprir funções comunicativas.

O estudo da sintaxe da modalidade oral nos mostra que ela tem características próprias, devido a vários fatores que a cercam, um dos quais é a omissão freqüente dos conectivos, o que nos faz entender as dificuldades dos alunos em estruturar seus textos na modalidade escrita, quando devem substituir uma modalidade pela outra, situação em que o número de conectivos aumenta consideravelmente.

O aprofundamento dos estudos da causalidade poderia fornecer subsídios para uma compreensão da real função do fenômeno, reduzindo a dificuldade diante de exemplos distanciados do uso efetivo da língua, com prescrições que não correspondem às naturais situações de comunicação.

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    Untriggered and triggered associated nominals.
  • 2
    Rank-shifted

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2006

Histórico

  • Recebido
    01 Fev 2006
  • Aceito
    21 Mar 2006
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