Resumo
Este ensaio discute efeitos do dialogismo nos modernos estudos do discurso. Procura mostrar que ele repercute desestabilizando conceitos que habitavam a linguística de modo naturalizado. Inicia com a questão da autoria, argumentando que o dialogismo põe em xeque noções como originalidade, genialidade e criação, estreitamente ligadas ao autor. Procura demonstrar que também a noção de texto sofre forte descentramento. O princípio dialógico apaga as fronteiras do texto como totalidade fechada, problematizando sua visão esquemática. Sendo elo na cadeia comunicativa, o objeto texto é, no fundo, uma abstração, recorte do real. Postula-se ainda que a noção bakhtiniana de gênero opera uma revolução copernicana nos estudos discursivos relativizando hipóteses sobre os enunciados, mesmo sobre sua constituição gramatical, retirando-os de um horizonte tópico e único. Finalmente, mostra que do dialogismo deriva uma diversidade de conceitos que se tornaram lugares comuns (heterogeneidade, intertextualidade, polifonia, etc.) e transformaram o panorama dos estudos da discursividade.
Palavras-chave:
Dialogismo; Estudos do discurso; Gênero; Polifonia