Resumo:
O artigo propõe a reflexão sobre o papel da escrita na representação do outro excluído do universo letrado, tomando por base o conto “Totonha”, de Marcelino Freire, integrante da coletânea Contos negreiros (2005). O tema é abordado à luz de problematizações acerca da escrita do outro evidenciadas pela etnografia (GEERTZ, 1989GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. São Paulo: LTC, 1989.; Clifford, 1998CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Trad. Patrícia Farias. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.), e na perspectiva política das divisões sociais geradas pelo exercício da escrita (RANCIÈRE, 2004RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Trad. Lilian do Valle. São Paulo: Autêntica, 2004., 2005). Ao final, pretende-se elucidar a hipótese de que a escrita de Marcelino Freire encena o paradoxo de dizer o outro no seio de uma escrita performática (RAVETTI, 2003RAVETTI, Graciela. Performances escritas: o diáfano e o opaco da experiência. In: HILDEBRANDO, Antônio; NASCIMENTO, Lylei; ROJO, Sara (Org.). O corpo em performance. Belo Horizonte: NELAP/FALE/UFMG, 2003.), que se apresenta como resistência ao sistema dominante de significação do outro.
Palavras-chave:
Leitura; Escrita; Dominação; Alteridade; Marcelino Freire