Resumo:
Conceito de crescente popularidade no debate público e acadêmico brasileiro, o bolsonarismo tem sido objeto de vários trabalhos e tema de importantes interpretações do Brasil contemporâneo. Este artigo pretende analisar os contornos e os pressupostos do termo a partir da análise de um elemento a ele frequentemente atribuído: sua dimensão antissistêmica. Para tal, analisamos criticamente dois dos mais influentes livros sobre o bolsonarismo, de autoria de Marcos Nobre e Rodrigo Nunes, que privilegiam seu fundamental antagonismo ao sistema político brasileiro (e ao “ establishment ” em geral). A partir de uma análise do conceito de bolsonarismo construído pelos autores, argumentamos que tal construção conceitual em torno do eixo sistema-antissistema sublima um dos seus elementos centrais, a radicalização autoritária da direita tradicional, ao pressupor (a) uma reiteração do dualismo Estado-sociedade (típico de longeva tradição do pensamento político brasileiro); (b) uma sobreposição de diferentes atores do campo das direitas (ultradireita, direita tradicional, nova direita, bolsonaristas); e (c) uma importação pouco mediada de conceitos e contextos relativamente exógenos ao caso brasileiro.
Palavras-chave: Bolsonarismo; Ultradireita; Pensamento político-social brasileiro; Interpretações do Brasil contemporâneo; Crise democrática no Brasil