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MOVIMENTOS SOCIAIS: QUESTÕES CONCEITUAIS

EDITORIAL

Gunder Frank e Fuentes, com seu conhecido estilo polêmico, ao discutir os movimentos sociais dizem, de forma muito direta, que estes não são novos, tratando-se apenas da reelaboração de formas antigas e menos antigas de movimentos reivindicativos que antes se articulavam ao redor de outros temas. Talvez tenham razão!

O que queremos colocar aqui em evidência, inclusive por se tratar de questão de notável importância hoje no Brasil, é um tema que provavelmente nos ocupará intensamente a médio prazo: o da marginalização de importantes camadas da população. As dificuldades que alguns apontam, inclusive nos artigos adiante apresentados, para os movimentos, indicam a possibilidade de que estes tenham suas raízes mais fundas naquelas camadas que não encontram qualquer espaço na modernidade. Não se trata apenas do Bangladesh, do Tchade ou da favela da Rocinha. Trata-se também de quase um terço da população dos Estados Unidos que vive abaixo dos níveis considerados mínimos naquele país, ou dos desempregados da Comunidade Econômica Européia, que representam, há muito, doze por cento da força de trabalho. A década de oitenta, com crescimento econômico de todos os países desenvolvidos, incluindo-se os socialistas da Europa, e dos grandes países da Ásia, aparentemente nos coloca, ao seu findar, a ilusão de que é possível uma era, aparentemente sem fim, de prosperidade. Apenas algumas regiões e países ficariam à margem.

Será que os movimentos sociais, então, representam atraso, a não-modernidade? Sem a pretensão de oferecer qualquer indicação, é certo que a situação política do Brasil, seja as experiências em curso, por exemplo ao nível do poder local, municipal, seja aquelas que poderão advir da campanha presidencial, realçam cada vez mais a questão do projeto. Se a sociedade pós-industrial, como diz Touraine, é inteiramente um campo de conflitos, pode-se pensar que os movimentos sociais, mesmo os das chamadas minorias, não podem apenas incidir no sentido da administração da mudança. A marginalidade é uma contra-face importante do desenvolvimento, mas é também a memória de que mesmo em condições de riqueza relativa a questão da democracia e da participação é central. O que nos parece é que ser a memória, se bem importante, não é absolutamente suficiente. Mas a verdade é que mesmo os movimentos sociais ou reivindicativos clássicos, como o são os sindicais, não produziram, de per si, o projeto político. Mas certamente foram uma mola vital na formação política do mundo contemporâneo.

O Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jan 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1989
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