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Editorial

Editorial

Como se pode depreender até mesmo da capa deste número, LUA NOVA entendeu necessário participar de um debate que está se dando em toda parte. O papel da revolução soviética foi cantado em versos e prosa desde 1917. É óbvio que, por mais importante que tenha sido o acontecimento, já não se trata apenas disto. O outubro russo de setenta anos atrás foi um acontecimento marcante. Como é fácil perceber hoje, suas conseqüências foram fundamentais para os trabalhadores tanto no plano das políticas internas de inúmeros países, quanto no terreno das relações internacionais. Para dizer isto não é necessário estarmos em 1987, em comemorações anteriores o mesmo poderia ser percebido. Sem dúvida, o que acrescenta um sabor novo, à direita, ao centro e à esquerda, á comemoração destes setenta anos, é o debate sobre a Glasnost. O Projeto Gorbatchev é analisado em dois artigos, de José Paulo Netto e Alberto Sendic, neste número de LUA NOVA.

Nosso interesse pelo tema tem diferentes razões. Em primeiro lugar, o CEDEC, um centro de pesquisa na área das ciências sociais, entende que tudo aquilo que se refere aos anseios de liberdade, de igualdade, de progresso social, de luta contra a tirania, objetivos indubitavelmente presentes na insurreição dos operários e soldados de Petrogrado, tem relação com seus objetivos. Mas a Glasnost confirma a centralidade contemporânea de alguns dos temas que têm sido objeto de nossa preocupação e pesquisa. A modernização, a emergência das massas na política, a plena realização material e intelectual do ser humano necessitam explicitar-se. As sociedades pós-capitalistas ou socialistas não escapam a uma condição geral. Talvez, sob alguns pontos de vista, estejam em melhores situações de enfrentar determinados desafios, inclusive o de sua democratização, porta necessária para aquela plena participação da qual nos falava Rousseau e que, como sabemos, não aconteceu na União Soviética, onde imperou um regime político ditatorial que limita a tão sonhada unidade entre socialização da política e socialização dos meios de produção.

O debate real ou potencial na União Soviética de hoje, ao menos no nosso entender, coloca mais incisivamente o tema das liberdades políticas. Este tema foi amplamente desenvolvido pelo pensamento liberal. A Glasnost surge para o atual grupo de poder como necessidade para a modernização, sobretudo econômica. Será que maiores espaços na circulação de idéias e o estímulo às iniciativas sociais não poderão colocar novas questões? Se o liberalismo apega-se ao tema das liberdades, a Revolução Russa sintetizou aspirações de igualdade com uma força nunca antes vista. Talvez o desafio maior da humanidade, ainda hoje e certamente nas décadas vindouras, será o da compatibilização justamente de liberdade e igualdade. Claro, há outras questões vitais: as novas tecnologias, o meio ambiente, e coloca-se até mesmo o tema da sobrevivência dos seres humanos. A capacidade de todos efetivamente participarem das decisões parece que será o eixo, não da resolução, mas ao menos do seu possível equacionamento. Na URSS, mais realisticamente que esta mesma afirmação feita outrora, há algo que parece mover-se!

O Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Mar 2011
  • Data do Fascículo
    Set 1987
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