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Editorial

Editorial

Machado de Assis em linha chega ao número 9 fiel à sua missão: difundir conhecimento sobre a obra do autor, em seus múltiplos aspectos.

Sinal da consolidação do seu impacto no âmbito dos estudos machadianos é, além do número expressivo de visitas ao sítio eletrônico da revista (cerca de 1.500 acessos somente nos últimos três meses), o amplo espectro geográfico das contribuições para este número. Do Brasil, recebemos contribuições de Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará. Do exterior, chegaram-nos artigos de um doutorando da Califórnia e um professor da Universidade Vanderbilt (Tennessee), Earl Fitz. Convidado pelos editores, o professor Fitz nos enviou um texto sobre a recepção de Machado de Assis nos Estados Unidos, o qual, já tendo sido publicado em inglês na Luso-Brazilian Review, aparece aqui pela primeira vez em português, em cuidadosa tradução de Mariana Magalhães Viana de Barros.

A tradição crítica se faz representar neste número por um texto de Barreto Filho, fino analista da vida e da obra de Machado de Assis, cujos ensaios são de reconhecida importância na bibliografia sobre o autor. Trata-se da parte dedicada ao romance machadiano no livro O romance brasileiro: de 1752 a 1930, organizado por Aurélio Buarque de Hollanda e publicado em 1952. O ensaio impressiona até hoje também porque, há sessenta anos, o crítico não procurava amortecer no chão firme das certezas sua perplexidade diante da obra de Machado. Os editores agradecem de público aos filhos e netos de Barreto Filho, que por intermédio da filha Maria Amélia Barreto Peixoto generosamente deram permissão para publicar esse artigo.

A crônica machadiana é contemplada em dois artigos deste número. Leonardo Francisco Soares, professor da Universidade Federal de Uberlândia, a partir das crônicas da série "História de quinze dias", flagra o olhar machadiano sobre a guerra (especialmente sobre os conflitos balcânicos do fim da década de 1870) e indica que já aí se torna cada vez mais tênue a separação entre ficção e história. Por sua vez, Eduardo Luz, que integra o corpo docente da Universidade Federal do Ceará, dedica-se à série "A Semana" (na qual Machado reflete sobre a sociedade brasileira, sua configuração cultural e seus rituais de convivência urbana) e lê a crônica machadiana como bem realizado esforço do autor para compreender a brasilidade.

A ficção de Machado de Assis aparece nos estudos de Eduardo Viana da Silva, doutorando na Universidade de Santa Barbara, Califórnia, que explora a figuração dos animais e seu uso simbólico e metafórico em três produções da maturidade do autor: os romances Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, e o conto "A Sereníssima República", pertencente à coletânea Papéis avulsos. Jaison Luís Crestani, pós-doutorando do Centro de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, investiga "O espelho" – fonte inesgotável para a reflexão crítica – e propõe uma nova leitura do conto, enfatizando-lhe a ironia estratégica. Dário Ferreira Souza Neto, doutorando na Universidade de São Paulo, concentra-se em uma das mais populares histórias de Machado, o conto "A cartomante", e o insere na tradição literária da ficção tragicômica, mostrando de que modo o autor reinventa o melodrama burguês com o qual sua história dialoga explícita e implicitamente.

Machado de Assis crítico literário é o tema de Andréa Sirihal Werkema, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que se detém principalmente na discussão do ensaio "Notícia da atual literatura brasileira – instinto de nacionalidade", assinalando sua relevância para o conceito de literatura brasileira, não só no contexto geral da literatura produzida no Brasil, mas, sobretudo, no da obra posterior do próprio Machado de Assis.

Raramente lembrado nos estudos machadianos, mas de extrema importância para a melhor compreensão de sua estratégia narrativa, Machado tradutor é examinado aqui por Franciano Camelo, mestrando da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, que, em ensaio promissor, examina a tradução empreendida por Machado de Assis de boa parte do romance Oliver Twist, de Dickens, e aponta para a peculiaridade dessa tradução, em que se destaca a voz narrativa, menos significativa no original inglês.

Na vertente dos estudos intermidiáticos, Cristiane Passafaro Guzzi, mestranda na Unesp/FCLAR, discute a transposição do romance Dom Casmurro para a minissérie televisiva Capitu (2008), de Luiz Fernando Carvalho, a qual explorou expressamente a autoconsciência dos mecanismos reflexivos empregados na obra de Machado e transfigurados na adaptação do romance para o novo meio.

Como nas edições anteriores, todos os artigos recebidos pelos editores foram submetidos à avaliação de membros da comunidade acadêmica nacional e internacional, cujos pareceres e sugestões fundamentaram a decisão de publicação dos textos.

Sem prejuízo da excelência acadêmica, que é seu principal compromisso, Machado de Assis em linha acolhe a contribuição de jovens pesquisadores que, ao lado de nomes consagrados, dão à publicação a diversidade que a vem caracterizando desde a sua criação, em 2008.

Marta de Senna e Hélio de Seixas Guimarães

Rio de Janeiro / Los Angeles, junho 2012

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jan 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2012
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