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Editorial

Este número da Machado de Assis em linha começa com uma nota triste: a morte inesperada e prematura do historiador Nicolau Sevcenko, aos 61 anos, em 13 de agosto deste ano, em São Paulo.

Numa edição que inclui um dossiê dedicado a Machado de Assis e Lima Barreto, o machadiano John Gledson faz uma homenagem a Sevcenko, relembrando seu primeiro encontro com o autor de Literatura como missão- Tensões sociais e criação cultural na Primeira República, o livro de 1983 que já se tornou um clássico da história da cultura brasileira. Além de revelar a importância do historiador para os seus estudos sobre Machado de Assis, Gledson mostra como a presença de Machado se faz notar na obra de Sevcenko, em especial no seu estudo sobre os primeiros anos republicanos, que tiveram em Lima Barreto e Euclides da Cunha figuras de proa, marcados ambos pela sombra machadiana. A MAEL estende a homenagem a Cristina Carletti.

O dossiê Machado / Lima reúne seis textos, que tratam da relação entre os dois autores para além do Fla X Flu a que muitas vezes a análise foi reduzida por historiadores e críticos. Lilia Moritz Schwarcz, da Universidade de São Paulo, toma essa oposição como ponto de partida para indicar como Lima Barreto, ao evocar Machado em seus escritos, refere-se principalmente a si mesmo, buscando, pelo contraste, constituir-se como autor e encontrar seu próprio lugar na República das Letras. Felipe Botelho Corrêa, do King's College, Reino Unido, mostra o papel e a importância das revistas, em detrimento dos jornais, no projeto literário e na resistência de Lima Barreto aos valores da República. Paulo Moreira, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, propõe a presença de um traço comum em contos de Machado, Lima e Lobato: o desapontamento com a modernização de fachada trazida pelo regime republicano. As relações entre ficção e história, literatura e política, também servem de eixo para a comparação que Júlio Cezar Bastoni da Silva, da Universidade Estadual Paulista, faz entre Esaú e Jacó, de Machado de Assis, e Numa e a Ninfa, de Lima Barreto. A despeito das diferenças de composição, todas as narrativas comparadas por Moreira e Bastoni da Silva reteriam traços estruturais da sociedade brasileira do início do século. Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Robert Oakley, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, discutem a sensibilidade e a modernidade do romance de Lima Barreto.

As confluências entre Lima e Machado se fazem notar também na seção "Da tradição crítica". Neste número, garimpamos um artigo de Francisco de Assis Barbosa, o grande biógrafo de Lima Barreto, a respeito de Machado de Assis, em mais uma aproximação sensível e bem informada entre os dois autores.

A revista apresenta ainda outros seis artigos dedicados a aspectos da obra e da figura machadianas. Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos, da Universidade de São Paulo, e Luana Ferreira de Freitas, da Universidade Federal do Ceará, tratam das relações entre Machado e a tradição literária inglesa, focalizando Jane Austen e Sterne, respectivamente. Adriana da Costa Teles, pós-doutoranda na Universidade de São Paulo, e Raquel Campos, pós-doutoranda na Universidade Federal de Goiás, analisam procedimentos irônicos no conto "Evolução" e no romance Ressurreição. Reginald Daniel, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, Estados Unidos, e Terezinha Zimbrão, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, tratam das questões raciais e étnicas associadas ao homem e ao escritor e que tiveram representação em sua obra literária.

Finalmente, a revista traz uma resenha de Eugênio Vinci de Moraes, do Centro Universitário Uninter, no Paraná, sobre o livro Machado de Assis: uma apresentação, de João Hernesto Weber.

Machado de Assis em linha, assim, dá continuidade à política iniciada em 2014 de receber e publicar textos em inglês e português, e mantém sua tradição de reunir colaborações de estudiosos da obra de Machado de várias partes do Brasil e do mundo. Neste número, estão representados o Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país; e também os Estados Unidos e a Inglaterra, que desde a segunda metade do século XX se consolidaram como centros importantes dos estudos machadianos.

São Paulo, Rio de Janeiro, dezembro de 2014

Hélio de Seixas Guimarães, EditorMarta de Senna, Editora Sênior

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014
Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Av. Prof. Luciano Gualberto, 403 sl 38, 05508-900 São Paulo, SP Brasil - São Paulo - SP - Brazil
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