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POTIRA E SABINA: ESCRAVIDÃO, GÊNERO E INDIANISMO NA POESIA DE MACHADO DE ASSIS

POTIRA E SABINA: SLAVERY, GENDER, AND INDIANISM IN THE POETRY OF MACHADO DE ASSIS

Resumo

Autor de personagens femininas aclamadas pelos leitores, Machado de Assis criou mulheres que suscitam o debate de gênero realizado pela crítica literária. Neste artigo, meu objetivo é analisar Potira e Sabina, duas personagens femininas machadianas da coletânea poética Americanas (1875), uma indígena e outra africana, pela ótica das discussões sobre escravidão, raça e gênero no Brasil Imperial. O tema das duas poesias dialoga com o debate acerca da Lei do Ventre Livre (1871), que apontou para o possível fim da escravidão no Brasil - mostrando que o poeta estava afinado com as principais questões oitocentistas em torno dos três temas citados.

Palavras-chave:
Machado de Assis; poesia; escravidão; gênero; indianismo

Abstract

Machado de Assis was the author of female characters who were acclaimed by audiences. These characters have already sparked a gender debate in literary criticism. In this article, my purpose is to analyse two of Machado's female characters from the poetic collection Americanas (1875): Potira and Sabina, the former indigenous and the latter African, through the lens of the debate on slavery, race, and gender in Imperial Brazil. The theme of the two poems dialogues with the debate on the Free Womb Law (1871), a law that pointed towards the possible end of slavery in Brazil - showing that the poet was aligned with the main nineteenth-century debates on gender, race, and slavery.

Keywords:
Machado de Assis; poetry; slavery; gender; indianism

Machado de Assis escreveu personagens femininas icônicas, entre as quais Helena, Iaiá Garcia e Capitu figuram como as mais conhecidas do público leitor. A experiência das mulheres do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX foi interpretada pelo escritor em quase toda a sua obra - hipótese que tem sido defendida por críticos literários e historiadores da literatura há alguns anos (RIBEIRO, 1996RIBEIRO, Luis Filipe. Mulheres de papel: um estudo do imaginário em José de Alencar e Machado de Assis. Niterói: EdUFF , 1996.; PIETRANI, 2000PIETRANI, Anélia Montechiari. O enigma mulher no universo masculino machadiano. Niterói: EdUFF, 2000.; CHALHOUB, 2003CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras , 2003.; STEIN, 2012STEIN, Ingrid. Figuras femininas em Machado de Assis. São Paulo: Paz e Terra, 2012.; FITZ, 2014FITZ, Earl. Machado de Assis and the Female Characterization: The Novels. Cranbury: Bucknell University Press, 2014.). As personagens femininas machadianas ganham destaque numa análise que considera como o autor interpretou as relações paternalistas na sociedade imperial, já que as mulheres, independentemente de sua classe social, se encontravam na posição de subalternidade dentro da lógica senhorial. O próprio autor, por sua experiência social, parecia conhecer muito bem as relações paternalistas e os perigos de uma posição subalterna (SCHWARZ, 2000SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. 4. ed. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2000.; CHALHOUB, 2003CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras , 2003., p. 45). Talvez tenha sido com Capitu, personagem de 1899, que Machado de Assis encontrou sua maior sofisticação literária de uma protagonista feminina, enquanto Helena (1876) já foi uma personagem que dava a tônica dissimulada e conhecedora do universo senhorial. Entretanto, não podemos nos esquecer de personagens menos conhecidas de sua obra, como é o caso de Potira e Sabina, da coletânea poética Americanas (ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875.).

Meu objetivo, portanto, é analisar as duas personagens femininas: Potira, a indígena; e Sabina, a escravizada africana. Cada uma de uma raça, elas compõem uma coletânea machadiana destinada a interpretar a noção de história do Brasil. Neste artigo irei examinar como é possível alinhavar essas duas personagens com o debate da escravidão, raça e gênero. Em outras palavras, subjaz a Potira e Sabina a imagem das mães que compuseram a nacionalidade brasileira num debate sobre gênero e escravidão no contexto da Lei do Ventre Livre.

Potira

Machado de Assis publicou Falenas e Contos Fluminenses em 1870, fruto do contrato que havia firmado com B. L. Garnier no ano anterior. Com uma carreira literária ainda incipiente, tendo publicado somente uma coletânea poética cerca de cinco anos antes, o poeta já era figura conhecida na imprensa carioca. Pela qualidade literária que demonstrava, os novos volumes em livro foram recebidos com certo ânimo pela roda literária da época. Porém, Machado foi acusado de não contribuir com o desenvolvimento da literatura nacional nessas duas obras (MAGALHÃES JR., 2008MAGALHÃES JR., Raimundo. Vida e obra de Machado de Assis: ascensão. Rio de Janeiro: Record, 2008. v. 2., p. 140-141).

As críticas impulsionaram o autor a defender sua produção e seu projeto literário, primeiramente com o texto crítico Instinto de Nacionalidade (1873) e posteriormente com a publicação de Americanas (1875)______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875.. O principal argumento exposto em Instinto de Nacionalidade (ASSIS, 1873______. Notícia da atual literatura brasileira - Instinto de Nacionalidade. O Novo Mundo. Nova Iorque, 23 de março, v. III, n. 30, p. 107-108, 1873.), texto veiculado no periódico O Novo Mundo (Nova Iorque), foi que a literatura brasileira não podia se limitar ao nacionalismo e, sobretudo, ao indianismo. Os escritores brasileiros deveriam tomar para si certa missão social independentemente do assunto que tratavam em suas obras. Machado desde então demonstrava acreditar que a literatura nacional não poderia se limitar a uma fórmula pré-concebida, como a indianista (ASSIS, 1858ASSIS, Machado de. O passado, o presente e o futuro da literatura. A Marmota, Rio de Janeiro, n. 941, p. 1-2, 9 abr. 1858.). Seguindo essa lógica, o escritor fluminense tentaria buscar novos temas e problemas para a literatura nacional se desenvolver. Contudo, antes de seguir seu projeto literário, Machado de Assis escreveu uma coletânea poética indianista, intitulada Americanas, em que parece pagar tributo ao romantismo brasileiro.

Os primeiros versos indianistas escritos por Machado de Assis encontram-se em "Potira". A poesia que integra Americanas foi publicada ainda em 1870, no Jornal do Commercio, nos dias 29 de junho e 28 de agosto. A proximidade da publicação de Falenas e o consenso dos críticos sobre a falta de compromisso com o nacionalismo literário reforça o argumento de que foi a opinião de seus colegas na imprensa que impulsionou o poeta a procurar um maior diálogo com o indianismo romântico. "Potira", pelo seu conteúdo, parece não gerar dúvida quanto a se tratar de um poema indianista. Machado de Assis utilizou um pseudônimo para sua publicação, pois quem assinou os versos no Jornal do Commercio foi um singelo Y.1 1 Machado de Assis era reconhecido como "criador de Potira" antes mesmo de Americanas ser publicada em livro, não parecendo ser o caso de o autor não querer ser reconhecido como o poeta de "Potira". Ver Sílvio (1873). O autor inspirou-se no seguinte trecho de Simão de Vasconcellos, veiculado nas Crônicas da Companhia de Jesus, para escrever a sua poesia:

Os Tamoios, entre outras presas que fizeram, levaram esta índia, a qual pretendeu o capitão da empresa violar: resistiu valorosamente dizendo em língua brasílica: "Eu sou cristã e casada; não hei de fazer traição a Deus e a meu marido; bem podes matar-me e fazer de mim o que quiserdes". Deu-se por afrontado o bárbaro, e em vingança lhe acabou a vida com crueldade (VASCONCELLOS, 1865VASCONCELLOS, Simão de. Crônicas da Companhia de Jesus do Estado do Brasil. 2. ed. Lisboa: A. J. Fernandes Lopes, 1865. v. 2., p. 60-61).

Simão de Vasconcellos narrou o caso de um assalto a um aldeamento jesuítico. Conta diversos casos de índias que haviam se casado com colonos e se convertido ao cristianismo; entre elas, uma que resistiu a um estupro e foi assassinada. Machado de Assis deu a ela o nome de Potira e imaginou outra possibilidade de narrativa: uma em que ela foi sequestrada e levada de volta à taba onde nasceu. O capitão do assalto ganhou o nome de Anagê e foi concebido como um homem que tivera a mão de Potira prometida em casamento. A história de Machado começou com a chegada dos índios em suas terras após o assalto aos colonos, levando consigo as recompensas - entre elas, Potira, "a moça que renegou Tupã". Enquanto a índia ainda estava desacordada, o "aspérrimo guerreiro" estuprou a moça. Potira preferiu assumir a condição de escravizada de seu povo a se casar com o índio. Passaram-se alguns dias, e durante um ritual no qual os Tamoios sacrificariam um prisioneiro de guerra, a moça fugiu horrorizada com a cerimônia de antropofagia. Ao perceber a fuga, Anagê perseguiu e matou Potira.

Apesar da natureza da história e de seus personagens, "Potira" não parece ser uma poesia indianista comum. Tanto pelo seu poeta, que era iniciante nos versos de caráter indianista, de uma forma até um pouco tardia para a época, como pelo veículo de publicação, o Jornal do Commercio. As crônicas de Machado de Assis já foram lidas em uma interlocução com o jornal e o tempo histórico em que foram produzidas (GRANJA; CANO, 2008GRANJA, Lucia; CANO, Jefferson. Introdução. In: ASSIS, Machado de. Comentários da Semana. Campinas: Editora da Unicamp, 2008. p. 1-56.; GRANJA, 2018GRANJA, Lucia. Machado de Assis - antes do livro, o jornal: suporte, mídia e ficção. São Paulo: Editora Unesp, 2018. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.7476/9788595462816 . Acesso em: 11 jan. 2024.
https://doi.org/10.7476/9788595462816...
; RAMOS, 2016RAMOS, Ana Flávia Cernic. As máscaras de Lélio: política e humor nas crônicas de Machado de Assis (1883-1886). Campinas: Editora da Unicamp , 2016.). Sugiro que o mesmo pode ser feito com as poesias machadianas publicadas no jornal, inclusive "Potira".

Na coletânea Americanas, o poeta transmitiu a mensagem de que há certos sentimentos e certas histórias que não dependem da raça do personagem - Machado de Assis não está apenas falando de uma categoria racial, mas também de gênero. Machado parece defender esse argumento numa época em que a literatura começava a flertar com certo cientificismo. Portanto, a raça de um personagem literário da década de 1870 não era fortuita, mas determinava o destino do personagem, enquanto muitas vezes seus autores interpretaram uma noção de povo brasileiro - é o caso de Araripe Jr. e de Bernardo Guimarães (RIBEIRO, 2016RIBEIRO, Cristina Betioli. Um norte para o romance brasileiro: Franklin Távora entre os primeiros folcloristas. Campinas: Editora da Unicamp , 2016.), por exemplo. Machado de Assis demonstrava ter uma perspectiva diferente sobre a realidade social brasileira e principalmente sobre a literatura, argumentando que podia falar de assuntos mais diversos e ainda assim expor problemas sociais, sobretudo aqueles ligados à escravidão.

Nesse sentido, o assunto de "Potira" parece aproximar-se da questão de gênero. Seu autor pode ter utilizado personagens indígenas para debater o estupro, a violência e o domínio dos corpos das mulheres, independentemente de sua origem social ou racial. O tema da violência contra a mulher talvez fique mais evidente com a epígrafe da poesia na edição em livro (ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875.), um trecho sobre morte e memória escrito por Ariosto em Orlando Furioso: "se, poi ch'a morte il corpo le percosse/ Desse almen vita alla memoria d'ella".2 2 Em tradução livre: "Se ao menos, depois que a morte espanca/ desse vida à memória dela". Apesar de a epígrafe vir de um livro da literatura italiana do século XVI, ela explica, de alguma forma, a natureza de "Potira". Ariosto também escreveu sobre a violência contra a mulher - no caso, Angélica, alvo amoroso de dois cavaleiros, Rinaldo e Ferrau. Angélica fugiu e foi assassinada, mesmo destino de Potira, e até o fantasma da italiana foi vítima de uma tentativa de estupro. Os dois cavaleiros apaixonados unem-se para resgatá-la sem saber de sua morte. A poesia de Machado discute, dentre outros assuntos, o estupro e o assassinato de uma mulher.

Pode existir também outro motivo para a escolha dessa epígrafe. Em Orlando Furioso, Ariosto refutou os mitos da cavalaria, questionando os ideais cavalheirescos e a real conduta dos homens (COSTA LIMA, 2009COSTA LIMA, Luiz. O controle do imaginário & a afirmação do romance: Dom Quixote, As relações perigosas, Moll Flandres, Tristam Shandy. São Paulo: Companhia das Letras , 2009.). Enquanto homem da Renascença, ele escrevia sua obra com a intenção de reinterpretar a tradição literária vigente. A liberdade da criação de Ariosto encontra-se no encadeamento da tradição com novos instrumentos disponíveis à época (BEECHER; CIAVOLELLA, 2003BEECHER, Donald; CIAVOLELLA, Massimo; FEDI, Roberto. Preface. In: ______; ______; ______ (Orgs.). Ariosto today: contemporary perspectives. Toronto: University of Toronto, 2003. p. IX., p. 9-11) - algo parecido com o que Machado de Assis fez em suas Americanas, ao unir os temas tradicionais do indianismo com uma renovação de ideias e da perspectiva indígena.

A poesia "Potira" foi publicada no Jornal do Commercio, no qual eram veiculados os debates parlamentares do século XIX. Ela coincide com um dos debates mais importantes para o desdobramento da escravidão no Brasil: a discussão para aprovar a Lei do Ventre Livre. Em abril de 1870, o Conde D'Eu retornou para a Corte Imperial. O marido da Princesa Isabel estava no Paraguai com as tropas brasileiras. Em comemoração do retorno das tropas e no bojo dos debates sobre a emancipação dos escravizados, a Princesa Isabel decidiu libertar o ventre de suas escravizadas.3 3 Ver Jornal do Commercio (1870). Assim, retomava-se um debate iniciado antes de o Brasil entrar em guerra: o ventre livre das escravizadas. Cumprindo a ordem do Imperador, em 14 de maio de 1870 iniciaram-se os debates na Câmara dos Deputados para aprovar uma lei que libertava os filhos nascidos de mulheres escravizadas.4 4 É evidente que, nesse contexto, a luta das próprias mulheres escravizadas por seus direitos não pode ser desconsiderada. Ver Cowling (2013).

No debate no Senado, já em 1871, a questão indígena foi crucial, afinal, para discutir a revogação da legislação brasileira ditando que a escravidão seguia o ventre, ou seja, a prole de mulheres escravizadas era necessariamente escravizada, se discutia como no século XVIII a lei que permitia a escravização de indígenas foi revogada. Portanto, a escravidão indígena e sua revogação pelas Leis Pombalinas (1755) faziam parte do referencial jurídico dos legisladores (BRASIL, 1871BRASIL. Anais do Senado do Império do Brasil: Terceira Sessão em 1871 da Décima Quarta Legislatura de 1 a 30 de setembro. Rio de Janeiro: Diário do Rio de Janeiro, 1871. v. 5. Disponível em: Disponível em: https://www.senado.leg.br/publicacoes/anais/pdf-digitalizado/Anais_Imperio/1871/1871%20Livro%205.pdf . Acesso em: 11 jan. 2024.
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, p. 121-123, p. 261 e p. 270-271). O debate parlamentar representava o poder patriarcal dos legisladores brasileiros sobre o corpo e o ventre de mulheres escravizadas. Era a decisão masculina sobre o destino do corpo e do ventre das mulheres. Essa violência simbólica pode não ter escapado de Machado de Assis, que publicou "Potira", uma poesia sobre a escravização e estupro da figura histórica que é a mulher indígena.

Dessa forma, Machado de Assis já demonstrava um diálogo entre a produção ficcional e os assuntos imediatos do jornal, ao passo que também utilizava recursos literários diferentes para falar sobre a escravidão - fato que se torna ainda mais evidente nos anos seguintes, com suas crônicas, como é o caso da série História de Quinze Dias, de 1873 (PEREIRA, 2009PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Introdução. In: ASSIS, Machado de. História de Quinze Dias. Campinas: Editora da Unicamp , 2009. p. 9-57.).

A escravidão e a questão indígena podem ser associadas, pois ambas dizem respeito ao problema da mão de obra no Brasil. Diante do fim do tráfico de escravizados africanos, um dos projetos do Império foi a utilização de mão de obra indígena por meio da colonização do interior e da criação de aldeamentos, solução já posta por José Bonifácio na Constituinte de 1823. A utilização da mão de obra indígena como saída para o fim do tráfico foi proposta também por Perdigão Malheiro em seu tratado sobre a escravidão (MALHEIRO, 1867MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão. A escravidão no Brasil: ensaio histórico-jurídico-social. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1867.).

A literatura indianista e a escravidão igualmente podem ser associadas. O indianismo brasileiro diz respeito ao problema estrutural de maior relevância para a ordem imperial: a escravidão. A partir do indianismo, a gênese da literatura brasileira vinculava-se à imagem dos indígenas, apartando-se da realidade da escravidão africana, vista como uma mácula para a imagem do Brasil Imperial. Já é clássica na história da literatura a interpretação de que, diante da escravidão africana, os literatos recorriam a imagens de índios por vários motivos: associando-os à escravidão para solucionar o problema da mão de obra, defendendo o índio não apenas como símbolo da nação, mas como braço forte disposto a trabalhar em prol da civilização, e para metaforicamente lidar com a miscigenação brasileira, negando a origem africana (TREECE, 2008TREECE, David. Exilados, aliados e rebeldes: o movimento indianista, a política indigenista e o Estado-Nação Imperial. São Paulo: Nankin Editorial; Edusp, 2008.; RICUPERO, 2004RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2004.; SALLES, 2013SALLES, Ricardo. Nostalgia imperial: a formação da identidade nacional no Brasil do Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Editora Ponteio, 2013.).

Portanto, a literatura indianista dizia respeito ao problema estrutural da escravidão. Muitas vezes, falar de índio poderia servir como metáfora para a escravidão, recurso frequentemente usado por Gonçalves Dias (RICUPERO, 2004RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2004.). É possível que Machado de Assis, por meio de sua poesia indianista, estivesse seguindo a forma literária de Gonçalves Dias, como já sugeriu Wilton Marques (2006MARQUES, Wilton José. Machado de Assis e Gonçalves Dias: encontros e diálogos. Luso-Brazilian Review, v. 43, n. 1, p. 51-64, jun. 2006. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1353/lbr.2006.0034 . Acesso em: 11 jan. 2024.
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). No entanto, mais do que a estética literária ou uma homenagem a Gonçalves Dias, Machado de Assis possivelmente estava usando do mesmo recurso de vincular os índios à escravidão, fazendo de sua personagem indígena uma metáfora para lidar com o debate mais próximo de sua produção, a escravidão - sobretudo das mulheres e sua condição subalterna dentro da lógica senhorial masculina.

Existe uma interpretação clássica sobre a literatura indianista ser uma forma de interpretar o nascimento da nação brasileira, elegendo mitos de fundação do país e representando a identidade nacional. Dessa forma, surgiram análises como a de Alfredo Bosi (1992BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.), em que a personagem indígena assume o papel de mãe dentro da nacionalidade brasileira.

Em conclusão, "Potira" pode ser uma forma de experimentação literária que Machado de Assis não retomou diretamente nos anos seguintes. Embora tenha mantido o diálogo entre ficção e realidade através das crônicas e dos folhetins, ao longo dos anos 1870 a forma poética foi sendo deixada em segundo plano em sua carreira literária, após a publicação em um veículo como o Jornal do Commercio, periódico que dedicava pouco espaço à literatura e era conhecido por publicar os debates parlamentares.

Sabina

Machado de Assis jamais evitaria o tema da escravidão na formação brasileira. Embora haja poucos versos dedicados aos escravizados africanos na coletânea poética Americanas, o autor escreveu "Sabina". A protagonista do poema, representante dos escravizados africanos, é fundamental para compreender Americanas. A maioria dos poemas da coletânea tem como cenário o universo colonial, enquanto "Sabina" se destaca por ter sua narrativa inserida durante o período imperial, de um Brasil já independente, mas marcado pela presença da escravidão. "Sabina", de alguma forma, pode ser tomado como uma espécie de releitura do conto "Mariana", publicado em janeiro de 1871 no Jornal das Famílias.

A poesia narra o envolvimento de Sabina com Otávio, o filho de seu Senhor. A jovem escravizada apaixona-se pelo sinhozinho com quem tem um breve relacionamento durante a viagem de férias do moço, que estudava na capital. Sabina, por sua vez, fica grávida. Como é de se esperar, Otávio logo a abandona e fica noivo de uma mulher de sua classe social. Amargurada, Sabina planeja se matar, porém desiste ao pensar na criança que nasceria fruto da relação com Otávio.

As comparações com "Mariana" são inevitáveis, já que são histórias muito parecidas. A grande diferença é o final, pois Sabina desistiu da morte por causa da liberdade do seu ventre; já Mariana preferiu o caminho do suicídio, pois não via esperança em seu futuro. Sidney Chalhoub interpretou "Mariana" em paralelo com o romance Helena. Ambas as narrativas iniciam em tom de galhofa e terminam numa tragédia. E isso, sobretudo, porque "em ambos os casos, a ideologia paternalista dos senhores e as relações de dependência provocam situações de violência e humilhação" (CHALHOUB, 2003CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras , 2003., p. 134). Já na comparação de "Mariana" com "Sabina", destaca-se que ambas foram escravizadas domésticas. Machado de Assis propositalmente aproxima a escravidão doméstica da condição de liberdade, em sua descrição.5 5 Sobre a escravidão doméstica, ver Graham (1992) e Telles (2018). No conto "Mariana", a aproximação entre escravidão e liberdade tem como objetivo enfatizar a precariedade da experiência de liberdade numa sociedade escravista e paternalista (CHALHOUB, 2003CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras , 2003.). Já em "Sabina", Machado de Assis parece revisitar temas de "Mariana" com a escravizada próxima da condição de liberdade:

Sabina era mucama da fazenda;
Vinte anos tinha; e na província toda
Não havia mestiça mais à moda,
Com suas roupas de cambraia e renda.
Cativa, não entrava na senzala,
Nem tinha mãos para trabalho rude;
Desbrochava-lhe a sua juventude
Entre carinhos e afeições de sala.
Era cria da casa. A sinhá-moça,
Que com ela brincou sendo menina,
Sobre todas amava esta Sabina,
Com esse ingênuo e puro amor da roça.
(ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875., p. 161)

"Mariana" situa-se no processo de discussões sobre a emancipação dos escravos. Machado de Assis, a partir da ficção, provavelmente sugere que não havia saída para a escravidão dentro das lógicas paternalistas entre senhores e escravizados. A Lei do Ventre Livre representou um momento em que o poder público interferiu no poder privado dos senhores.

Em "Sabina", por sua vez, Machado novamente demonstra como as relações paternalistas entre senhores e escravos vigoravam. Na década de 1870, o cativeiro ainda causava mal para os escravizados e os proprietários ainda eram responsáveis pelas dores da escravidão; mas Sabina vive porque havia uma esperança de que seu filho seria livre graças à Lei de 1871, independente de Otávio.

Sabina é mãe; o sangue livre
Gira e palpita no cativo seio
E lhe paga de sobra as dores cruas
Da longa ausência. Uma por uma, as horas
Na solidão do campo há de contá-las,
E suspirar pelo remoto dia
Em que o veja de novo... Pouco importa,
Se o materno sentir compensa os males.
(ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875., p. 169)

Desde o início desse relacionamento, o narrador já indicava que a história não acabaria bem. Seu desfecho já estava selado e a leitora sabe que ele não seria bom para Sabina:

Toda enlevo e paixão, sincera e ardente
Nesse primeiro amor d'alma que nasce
E os olhos abre ao sol. Tu lhe dormias,
Consciência; razão, tu lhe fechavas
A vista interior; e ela seguia
Ao sabor dessas horas mal furtadas
Ao cativeiro e à solidão, sem vê-lo
O fundo abismo tenebroso e largo
Que a separa do eleito de seus sonhos,
Nem pressentir a brevidade e a morte!
(ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875., p. 168)

Machado também parece representar uma das formas como o povo brasileiro foi concebido: no contato entre os senhores e suas escravizadas, o que implicou profunda dor para as mulheres. Do convívio desigual entre senhores e escravizadas, nasceu o mestiço - ou seja, de uma relação de poder que significava humilhação para as cativas. Para Sabina, relacionar-se com Otávio também significava viver um momento de terror, vergonha e medo. Otávio tenta seduzir Sabina com conversa mansa:

Não me negues teu suave aroma!
Fez-te cativa o berço; a lei somente
Os grilhões lhe lançou; no livre peito
De teus senhores tens a liberdade,
A melhor liberdade, o puro afeto
Que te elegeu entre as demais cativas,
E de afagos te cobre!
(ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875., p. 166)

Novamente ocorre a reflexão sobre a relação entre escravidão e liberdade. Essa liberdade temporária prometida por Otávio evidencia ainda mais a situação de dependência de Sabina, que se torna vítima no relacionamento com o senhor. Dentro da coletânea, o autor coroa Americanas com a concepção do mestiço entre africanas e brancos através da história de Sabina - e este, por sua vez, exercia papel fundamental na formação do povo brasileiro. Uma relação que é, no fim das contas, violenta, afinal Sabina se encontrava submetida à ordem patriarcal. A violência pode ser representada pelo ato de Otávio seduzir Sabina enquanto ela se banhava no rio. Sua história, portanto, tange dois problemas também transversais à escravidão no Brasil: a formação nacional e a submissão da mulher escravizada.

"Sabina" ainda traz referenciais clássicos e mitológicos, como quando o poeta brinca com a tradição grega ao comparar Otávio, que tem nome de imperador romano, ao deus Adônis:

Vinte anos
Tinha Otávio, e a beleza e um ar de corte
E o gesto nobre, e sedutor o aspecto;
Um vero Adônis, como aqui diria
Algum poeta clássico, daquela
Poesia que foi nobre, airosa e grande
Em tempos idos, que ainda bem se foram...
Também eu a adorei, uma hora ao menos,
E suspirei destes remotos climas
Pelas formosas ribas do Escamandro,
Onde descia, entre soldados gregos,
A moça Vênus;
(ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875., p. 193)

O eu lírico parece reconhecer que o tempo dos clássicos já estava ultrapassado. Para inserir referenciais mitológicos em sua poesia, Machado compara Sabina a Iara, a mãe d'água na tradição indígena.6 6 Sobre a lenda de Iara e "Sabina", ver Casemiro (2011). O mito que encerra a interpretação da poesia é o rapto das Sabinas, uma lenda sobre a origem de Roma. Os romanos sequestraram as mulheres Sabinas e as estupraram (DELFIM; BRANDÃO, 2015DELFIM, Leão; BRANDÃO, José Luís. Análise crítica das lendas fundacionais. In: OLIVEIRA, Francisco; BRANDÃO, José Luís (Orgs.). História de Roma Antiga: das origens à morte de César. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. v. 1, p. 27-52., p. 34-35), o que indica que a sociedade ocidental é fruto da miscigenação entre povos, um processo violento, sobretudo contra as mulheres. O estupro era um direito de guerra desde a Antiguidade e, no caso do rapto das Sabinas, está relacionado à demonstração de força e poder com finalidade de aumentar a população romana. Machado de Assis, ao apropriar-se do mito, parece evidenciar o sacrifício e a violência inerente ao nascimento da nação e à condição de mulheres escravizadas. O narrador afirma que Otávio estudava o ius romano e o pátrio ius. Tratava-se, portanto, de um sinhozinho que herdava o poder patriarcal de propriedade. E, com isso, acreditava ter a permissão de dominar suas escravizadas, algo sugerido também no Direito romano.7 7 Ovídio, em sua Arte de amar, também recorreu ao mito das Sabinas para enaltecer o uso de violência contra a mulher, ensinando formas de estuprar. Em Ovídio, o estupro é uma arma de sedução (ANDRÉ, 2006).

Já em Machado de Assis, a sedução e o abandono a que Sabina foi submetida humilha e sujeita a mulher escravizada a sentimentos de vergonha e medo. No caso de "Sabina", houve o agravante de uma gravidez desamparada, da qual nasceu um filho sem a paternidade reconhecida, mais um dentre tantos mestiços. Na poesia, Machado de Assis evidencia a condição dos dependentes, mostrando como a ação senhorial causava danos. O velho caçanje conta histórias de outras moças que tiveram o mesmo destino que Sabina, ou também Mariana:

Riem-se dela as outras; é seu nome
O assunto do terreiro. Uma invejosa
Acha-lhe uns certos modos singulares
De senhora de engenho; um pajem moço,
De cobiça e ciúme devorado,
Desfaz nas graças que em silêncio adora
E consigo medita uma vingança.
Entre os parceiros, desfiando a palha
Com que entrança um chapéu, solenemente
Um caçanje ancião refere aos outros
Alguns casos que viu na mocidade
De cativas amadas e orgulhosas,
Castigadas do céu por seus pecados,
Mortas entre os grilhões do cativeiro.
(ASSIS, 1875______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875., p. 169)

A condição feminina é ainda mais delicada nesse caso. No trecho, o narrador conta que um dos pajens, portanto também um homem escravizado, tomado por "cobiça e ciúme", pretende se vingar de Sabina. A moça, além de propriedade do senhor, também estava sujeita à posse entre seus pares na senzala. O ancião, outro homem escravizado, conta outras histórias que viu julgando e culpando as mulheres pela violência cometida pelos senhores.

Em suma, na poesia, Machado de Assis recria a mitologia nacional baseada em mitos ocidentais a fim de explicar, dentre outras coisas, a origem do povo brasileiro, dialogando diretamente com a questão do ventre livre das escravizadas, já que em "Sabina" faz referência direta à Lei do Ventre Livre. A poesia narra o nascimento de um mestiço, fruto da relação entre uma escravizada e um senhor, mas que seria livre, contemplado pela referida lei. Ainda que nascida livre, a criança mestiça representava a manutenção de uma lógica paternalista enraizada na sociedade brasileira.

Considerações finais

As personagens femininas machadianas foram aclamadas pela crítica literária e pelo público leitor. A sofisticação literária das personagens femininas concebidas pela pena de Machado de Assis consiste na forma como o narrador parecia conhecer bem a lógica paternalista e senhorial em que as mulheres estavam inseridas. A hipótese levantada nos últimos anos foi justamente que o autor, enquanto um homem mestiço de origem pobre, sabia como circular pelo mundo senhorial, assim como suas personagens femininas demonstravam dominar a lógica senhorial para sobreviver à violência estrutural da sociedade patriarcal. Muitas vezes, o domínio do universo masculino sobre as mulheres era narrado de uma forma sutil na pena machadiana. Porém, o escritor publicou narrativas em que o paternalismo era descrito de forma crua e direta, como é o caso das duas poesias analisadas neste artigo. "Potira" e "Sabina" suscitam um debate sobre a violência e domínio masculino sobre as mulheres, o que nos leva a refletir acerca das relações entre raça, gênero e escravidão.

A poesia "Potira" possui uma tônica indianista, que dialoga com a crítica recebida por Machado de Assis de que o autor não contribuía para a literatura nacional por não escrever sobre temas diretamente brasileiros. Mais do que uma resposta a uma crítica literária preocupada com o desenvolvimento da literatura nacional, a poesia certamente está relacionada a temas mais contemporâneos à sua publicação, como é o caso dos debates da Lei do Ventre Livre e da escravidão brasileira; não se trata apenas de uma narrativa que contava uma alegoria histórica sobre o surgimento da nação brasileira. É possível chegar a essa interpretação ao lê-la em consonância com os debates publicados no Jornal do Commercio, veículo de publicação da poesia "Potira" e dos debates parlamentares brasileiros do Império. Ao ler a poesia "Potira" dentro da lógica do jornal em que foi publicada em 1870, se percebe a possibilidade do diálogo direto entre uma poesia sobre a questão indígena, sua possível relação com a escravidão africana e os debates que apontavam para o fim da escravidão. Assim, o debate sobre a Lei do Vente Livre veiculado no Jornal do Commercio destaca-se como um assunto importante para interpretar a poesia como uma reflexão de Machado de Assis quanto ao domínio masculino sobre o corpo e o ventre das mulheres escravizadas.

Além disso, muitas vezes a literatura indianista utilizava personagens indígenas para debater a escravidão propriamente dita, recurso utilizado por Gonçalves Dias em diversas poesias. Existe uma relação entre indígenas e africanos na história brasileira. José Bonifácio, por exemplo, na década de 1820, já havia desenvolvido a ideia de uma sociedade mestiça, promovendo o casamento entre indígenas, brancos e mestiços como alternativa para o fim da escravidão africana.

A segunda poesia analisada, "Sabina", é direta ao tratar do tema da escravidão e da Lei do Ventre Livre (1871). A personagem, uma escravizada africana, se tornaria mãe de uma criança que seria livre graças à Lei de 1871. A concepção dessa criança mestiça representa uma das formas de conceber a sociedade brasileira: a partir da relação entre senhores e suas escravizadas.

Por fim, as duas poesias foram publicadas na mesma coletânea. "Potira" foi publicada primeiramente no jornal em 1870 e, depois, abriu a coletânea poética Americanas (1875)______. Americanas. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1875.. Já "Sabina" era uma poesia inédita, publicada pela primeira vez na coletânea. As personagens Potira e Sabina são importantes por representarem mulheres indígenas e africanas que compõem a nacionalidade brasileira. As personagens acabam sendo complementares no debate proposto, que envolve a violência masculina sobre os corpos, o ventre e a prole das mulheres, e por meio da análise das poesias é possível sustentar um debate acerca da escravidão e da formação social brasileira.

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  • 1
    Machado de Assis era reconhecido como "criador de Potira" antes mesmo de Americanas ser publicada em livro, não parecendo ser o caso de o autor não querer ser reconhecido como o poeta de "Potira". Ver Sílvio (1873)SÍLVIO. Voos Ícaros. A Vida Fluminense, Rio de Janeiro, n. 268, p. 2-3, 15 fev. 1873..
  • 2
    Em tradução livre: "Se ao menos, depois que a morte espanca/ desse vida à memória dela".
  • 3
    Ver Jornal do Commercio (1870)JORNAL DO COMMERCIO. Rio de Janeiro, n. 118, 30 abr. 1870..
  • 4
    É evidente que, nesse contexto, a luta das próprias mulheres escravizadas por seus direitos não pode ser desconsiderada. Ver Cowling (2013)COWLING, Camillia. Conceiving freedom: women of color, gender, and the abolition of slavery in Havana and Rio de Janeiro. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2013..
  • 5
    Sobre a escravidão doméstica, ver Graham (1992)GRAHAM, Sandra. Proteção e obediência: criadas e seus patrões no Rio de Janeiro (1860-1910). São Paulo: Companhia das Letras , 1992. e Telles (2018)TELLES, Lorena Féres da Silva. Teresa Benguela e Felipa Crioula estavam grávidas: maternidade e escravidão no Rio de Janeiro (século XIX). 2018. 345 f. Tese (Doutorado em História em Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.8.2019.tde-24072019-152856 . Acesso em: 13 jan. 2024.
    https://doi.org/10.11606/T.8.2019.tde-24...
    .
  • 6
    Sobre a lenda de Iara e "Sabina", ver Casemiro (2011)CASEMIRO, Sandra Ramos. A Lenda da Iara no poema "Sabina", de Machado de Assis. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 40, n. 3, p. 1681-1691, set./dez. 2011. Disponível em: Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisticos/article/view/1289 . Acesso em: 11 jan. 2024.
    https://revistas.gel.org.br/estudos-ling...
    .
  • 7
    Ovídio, em sua Arte de amar, também recorreu ao mito das Sabinas para enaltecer o uso de violência contra a mulher, ensinando formas de estuprar. Em Ovídio, o estupro é uma arma de sedução (ANDRÉ, 2006ANDRÉ, Carlos Ascenso. Entre o despeito e o respeito: a mulher em Ovídio. Humanitas, Coimbra, n. 58, p. 99-117, 2006.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2024
  • Aceito
    10 Abr 2024
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