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MACHADO DE ASSIS, AFROPESSIMISTA: UMA POSSIBILIDADE HERMENÊUTICA?

MACHADO DE ASSIS, AFROPESSIMIST: A HERMENEUTIC POSSIBILITY?

Resumo

Este ensaio investiga possibilidades de leitura da produção literária de Machado de Assis desde uma perspectiva Afropessimista. Em contraposição ao entendimento convencional do pessimismo presente na obra de Machado, ressaltado no trabalho de críticos como Sílvio Romero, Alcides Maya e Alfredo Pujol, sugere-se que o Afropessimismo oferece subsídios para uma compreensão do olhar radicalizado de Machado de Assis sobre as consequências da escravidão para a sociedade brasileira. Desde essa perspectiva, apresentam-se alguns apontamentos iniciais de leitura sobre os contos "Mariana" (1871) e "Pai contra mãe" (1906).

Palavras-chave:
crítica literária; Afropessimismo; escravidão

Abstract

The paper inquires about interpretations of Machado de Assis's literary production from an Afropessimist perspective. In contrast to the conventional understanding of pessimism present in Machado de Assis's writings, in the works of critics such as Sílvio Romero, Alcides Maya and Alfredo Pujol, the paper suggests that Afropessimism offers support for an understanding of Machado de Assis's radicalized view of the consequences of slavery for Brazilian society, presenting some remarks on the short stories "Mariana" (1871) and "Pai contra mãe" (1906).

Keywords:
literary critic; Afropessimism; slavery

Meu propósito, neste ensaio, é sugerir algumas possibilidades de leitura para um conjunto de produções literárias de Machado de Assis desde uma perspectiva Afropessimista.1 1 A grafia de Afropessimismo/Afropessimista com inicial maiúscula tem como propósito explicitar a referência à orientação teórica, evitando confusões com os discursos afropessimistas que se popularizaram nos anos 1980 e 1990 - e que, em termos muito sintéticos, reiteravam a condição supostamente irrecuperável da África pós-colonial, ao mesmo tempo que abriam espaço para discursos salvacionistas. Trata-se de indagar sobre subsídios que propiciem um novo entendimento para um aspecto característico da escrita machadiana, já ressaltado pela crítica coeva ao autor - a saber, o pessimismo -, desde uma compreensão fundamentalmente diversa: se nomes representativos da crítica como Sílvio Romero, Alcides Maya e Alfredo Pujol associavam os elementos pessimistas presentes nos escritos machadianos à "infidelidade étnica" ou a condições fisiológicas, leituras de cunho Afropessimista pressupõem que Machado de Assis tinha uma percepção crítica radicalizada acerca dos efeitos da escravidão sobre pessoas negras, nos âmbitos ontológico e social.

Duas ponderações prévias me parecem importantes. Em primeiro lugar, devo reconhecer que, sendo o Afropessimismo uma perspectiva teórica contemporânea, minha proposta pode, já de início, soar anacrônica; a esse respeito, ressalto que não se trata de supor que Machado compartilhasse de um conjunto de preceitos e pressupostos constantes do trabalho de nomes como Orlando Patterson e Frank B. Wilderson III, mas de indagar sobre a viabilidade de leituras de produções machadianas desde um olhar Afropessimista no que tange, sobretudo, ao modo de representação das pessoas escravizadas. Em outras palavras: não pretendo sugerir que Machado de Assis tenha sido um Afropessimista avant la lettre, em sentido rigoroso; argumento, contudo, que o seu entendimento dos efeitos da escravização sobre corpos e subjetividades talvez possa ser compreendido a partir dessa perspectiva. Em segundo lugar, o que me parece particularmente relevante nessa possibilidade hermenêutica é o seu alinhamento com tendências críticas contemporâneas que têm se erguido contra a obsoleta hipótese do absenteísmo machadiano no que tange à escravidão,2 2 Ver, por exemplo, os trabalhos reunidos em Bernardo et. al. (2010) e Duarte (2020). em um sentido particularmente agudo - quer dizer: certas produções literárias facultam perceber que Machado de Assis teria não apenas se ocupado da condição de pessoas escravizadas, como também teria percebido as consequências da opressão escravista em uma dimensão radicalizada.

Machado de Assis, pessimista

Como a tradição crítica produzida desde o final do século XIX entendeu o pessimismo machadiano? Sem qualquer pretensão de esgotar o tema, esboçarei uma síntese a partir de três nomes representativos, a saber: Sílvio Romero, Alcides Maya e Alfredo Pujol.

Começo resgatando a argumentação constante do "estudo comparativo de literatura brasileira" produzido por Sílvio Romero (1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897.). Movido por sua disposição para realizar "um estudo completo de Machado de Assis", tendo como diretriz uma preocupação com os "fatos" e com a "imparcialidade" que assegurassem a cientificidade de sua análise, Sílvio Romero (1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 70) ponderava que um exame desse tipo seria obstado pelo "verdadeiro cipoal de lendas e elogios com que admiradores fanáticos e incultos" cercavam a obra machadiana; e nomeava o pessimismo - junto do humorismo e da filosofia - entre as "contas do rosário que os crentes costumam desfiar diante de seu ídolo".3 3 Nesta e em outras citações, atualizamos a grafia. Após um primeiro conjunto de obras compostas entre 1859 e 1870, tendo como marco a publicação de Contos fluminenses, nos quais o autor teria se manifestado "tão plácido", "tão brando, tão sossegado de índole", Machado teria subitamente se transfigurado num "grande filósofo, terrível manejador de humour, profundo pensador de espírito dissolvente e irritadiço, envolvendo a criação e a humanidade nas malhas de um pessimismo fulminante"; salto que, contudo, não ocorre na "psicologia normal" (ROMERO, 1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 70-71). Dessa maneira, para Romero (1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 73), o pessimismo machadiano era uma "variante maneirosa", um "pessimismo de criança, ironia de adolescente, aprendida nos livros, sobreposta a um dos espíritos mais tímidos e pacatos que já uma vez surgiram na América".

Mais adiante, o crítico associava a emergência desse olhar pessimista a um fenômeno mais amplo: à incapacidade de certos românticos, precisamente após 1870, de abandonarem as "ilusões" e "miragens" que até então os havia orientado. Naquele "ano climatérico", afinal, o Brasil precisara encarar as consequências da guerra do Paraguai - na qual a difícil vitória expusera, nas contundentes palavras de Romero (1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 125), "que estávamos podres" -, enfrentava as pressões republicanas e as agitações abolicionistas e testemunhava a aparição da escola do Recife; em âmbito global, a Alemanha se unificava, a França perdia territórios para a Prússia e caíam os Estados Papais. Nesse momento de "desgosto" e "crise", não restava aos "velhos românticos" outra opção, que não "atirar fora a velha bagagem e tomar outra nova", aderindo a alguma das "grandes correntes filosóficas" do século, como o materialismo, o positivismo, o evolucionismo, o monismo ou o hartmannismo; contudo, houve aqueles que não tiveram essa "coragem", e que "começaram a se mostrar amuados, displicentes, irônicos, desgostosos, rebuscados, misteriosos e pessimistas" - entre os quais Machado de Assis surgia como "chefe de fila" (ROMERO, 1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 125-127). Deriva desse ato de covardia intelectual o "pessimismo de pacotilha" machadiano; um "pessimismo livresco e intencional" transparente em obras como Papéis avulsos, Várias histórias, Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba (ROMERO, 1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 127).

No primeiro estudo alentado acerca de Machado produzido após a sua morte, Alcides Maya (1912MAYA, Alcides. Machado de Assis - algumas notas sobre o humour. Rio de Janeiro: Livraria Editora Jacintho Silva, 1912.) lançaria outro olhar sobre o pessimismo - para tanto, construindo uma argumentação que, em diversos momentos, não dissimulava o propósito de refutar francamente as concepções de Sílvio Romero. Embora preservando parâmetros racialistas, Maya não via em Machado uma infidelidade à "psicologia étnica", como argumentava Romero - para quem a falsidade do pessimismo machadiano era evidente porque "nós os brasileiros não somos em grau algum um povo de pessimistas […]. Nós brasileiros somos faladores, maldizentes, desrespeitadores das conveniências, assaz irrequietos, até onde nos deixa ir nossa ingênita apatia de meridionais, mas não somos pessimistas" (ROMERO, 1897ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1897., p. 256-257); por outro lado, no Brasil se verificaria, "com o tempo, o predomínio do sangue branco", o que afastaria a nacionalidade da mestiçagem e a aproximaria das "raças superiores", cabendo compreender a obra machadiana à luz desse "magno ideal" (MAYA, 1912MAYA, Alcides. Machado de Assis - algumas notas sobre o humour. Rio de Janeiro: Livraria Editora Jacintho Silva, 1912., p. 145-146). Destarte, o humour não deveria ser entendido como elemento nacional, mas essencialmente humano, como evidenciam as obras literárias de Rabelais e Cervantes; de modo que Machado podia ser "profundamente pessimista" enquanto escritor, independentemente das influências de qualquer "sistema filosófico" (MAYA, 1912MAYA, Alcides. Machado de Assis - algumas notas sobre o humour. Rio de Janeiro: Livraria Editora Jacintho Silva, 1912., p. 32-33).

Alcides Maya compreendia a singularidade da produção machadiana no âmbito brasileiro a partir de "sua visão tragicômica do mundo", "da focalização do homem diante do absurdo, creditadas ao adiantamento do seu espírito, o de um mulato talentoso que se mostrou capaz de participar de faculdades superiores da cultura e da literatura europeias", como pondera Hélio de Seixas Guimarães (2017GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Machado de Assis, o escritor que nos lê: as figuras machadianas através da crítica e das polêmicas. São Paulo: Unesp, 2017., p. 75). Trata-se de um pessimismo "sutil e complexo, cultivado sob o estímulo de tendências congênitas", o que lhe concederia "um timbre novo, filosofia de supremo desengano, em que a dúvida é menos que dúvida, pois desaparece na certeza do irreparável" (MAYA, 1912MAYA, Alcides. Machado de Assis - algumas notas sobre o humour. Rio de Janeiro: Livraria Editora Jacintho Silva, 1912., p. 33); se isso poderia levar o autor a tornar-se um anarquista armado de uma "ética vingativa", Machado foi capaz de conceder ao seu desespero uma "expressão ideal", do que resultaria o valor de sua obra: "A tinta de Machado de Assis é um violete de decadência. Ele é mais do que um homem triste, do que um vulto de raça frustrada: representa uma civilização que de si própria duvida" (MAYA, 1912MAYA, Alcides. Machado de Assis - algumas notas sobre o humour. Rio de Janeiro: Livraria Editora Jacintho Silva, 1912., p. 37). Assim, importava compreender o pessimismo machadiano como o "impulso de um bom ante a crueldade, aceno amorável atirado à indiferença dos outros, sentimento e raciocínio de pensador desiludido" (MAYA, 1912MAYA, Alcides. Machado de Assis - algumas notas sobre o humour. Rio de Janeiro: Livraria Editora Jacintho Silva, 1912., p. 46).

Meia década mais tarde, Alfredo Pujol (1934PUJOL, Alfredo. Machado de Assis - curso literário em sete conferências na Sociedade de Cultura de São Paulo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1934., p. 74) publicaria a primeira edição de seu curso literário sobre Machado de Assis, no qual o pessimismo do autor de Quincas Borba surgia associado a uma causa específica: se a primeira fase da prosa machadiana seria marcada por um "humorismo faceto", "que apenas faz sorrir", como "reflexo do seu temperamento e do seu modo de observar os homens e as coisas", haveria uma espécie de ruptura após o "aparecimento da nevrose que gerou o seu doloroso pessimismo", produzindo "a tristeza da sua visão e o amargor da sua análise". Embora não desprezando questões de ordem estética e filosófica - como o desprendimento das "cadeias românticas"; a rejeição ao naturalismo de Émile Zola e ao realismo de Eça de Queirós; a influência de escritores como Rabelais, Montaigne, Shakespeare, Cervantes, Stendhal, Mérimée, Swift e Sterne, bem como da filosofia de Schopenhauer -, entendia Pujol que, na gênese do pessimismo machadiano, "avultam as condições fisiológicas, criadas pelo veneno da nevrose que atormentou a sua existência". Esse "mal orgânico" teria se manifestado já nas últimas páginas de Iaiá Garcia, a ponto de ser possível enxergar traços do autor em Luiz Garcia; posteriormente, Machado se recusaria a escrever o nome do mal que o afligia, assemelhando-se a Gustave Flaubert. Desse modo, a "névoa de acerba melancolia" que passou a pairar na existência machadiana tinha como raiz a "nevrose" (PUJOL, 1934PUJOL, Alfredo. Machado de Assis - curso literário em sete conferências na Sociedade de Cultura de São Paulo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1934., p. 113), que constituiria um dos elementos determinantes para a sua formação estética definitiva, perceptível no livro inaugural de sua nova fase: as Memórias póstumas de Brás Cubas, "em que se fixou a renovação da arte de escrever e da análise psicológica no romance brasileiro" (PUJOL, 1934PUJOL, Alfredo. Machado de Assis - curso literário em sete conferências na Sociedade de Cultura de São Paulo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1934., p. 115).

Comparando a literatura machadiana com a filosofia de Schopenhauer, ponderava Alfredo Pujol (1934PUJOL, Alfredo. Machado de Assis - curso literário em sete conferências na Sociedade de Cultura de São Paulo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1934., p. 110-111) que, se em ambos os casos "o pessimismo provinha, antes de tudo, de uma misteriosa força íntima que lhes sombreava a visão das coisas" - no que tange ao pensador alemão, um "gênio sombrio, taciturno e misantropo" -, no escritor brasileiro "o pessimismo nada tem de agressivo ou demolidor": Machado "aceitou sem revolta o absurdo da natureza humana, e por isso o naufrágio das ilusões e o enigma do universo o deixam quase impassível e indiferente". A escrita machadiana seria, enfim, marcada por um "pessimismo sereno", por uma "resignação irônica" e por uma "indulgência ao mesmo passo mordaz e sorridente" (PUJOL, 1934PUJOL, Alfredo. Machado de Assis - curso literário em sete conferências na Sociedade de Cultura de São Paulo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1934., p. 257).

Sabemos que importantes obras da crítica posterior enfatizariam a influência da epilepsia na trajetória biográfica e na produção literária machadiana, como as assinadas por Peregrino Júnior e Lúcia Miguel-Pereira (1936MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. Machado de Assis: estudo crítico e biográfico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936., p. 96), que reconheceria nessa condição médica o "grande inimigo" do escritor. Não obstante, parece-me que as apreciações de Sílvio Romero, Alcides Maya e Alfredo Pujol oferecem subsídios suficientes para um entendimento do lugar que a primeira crítica concedeu ao pessimismo na obra de Machado, e que faria fortuna nas décadas subsequentes - fosse como pressuposto para análises biografizantes, fosse como um princípio hermenêutico, rastreável até a contemporaneidade; como afirmou recentemente o escritor Milton Hatoum (2019HATOUM, Milton. Machado de Assis, 180 anos: seu pessimismo era fruto de uma reflexão correta sobre o atual. Estadão, São Paulo, 21 jun. 2019. Disponível em: Disponível em: https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/machado-de-assis-180-anos-seu-pessimismo-era-fruto-de-uma-reflexao-correta-sobre-o-atual/ . Acesso em: 5 jan. 2024.
https://www.estadao.com.br/cultura/liter...
): "Acima de tudo e de todos no Brasil de sua época, Machado era um pessimista".

Machado, Afropessimista

Como é possível ensaiar caminhos para a leitura da obra machadiana a partir das perspectivas Afropessimistas que emergiram a partir do final do século XX? A esse propósito, faço algumas observações preliminares. Em primeiro lugar: cabe notar que isso não implica o estabelecimento de qualquer relação de continuidade com as análises de Romero, Maya e Pujol, uma vez que, para esses críticos, o pessimismo machadiano estava associado a um conjunto de pressupostos nacionalistas e patológicos ausentes da noção contemporânea de Afropessimismo - que emerge do repertório crítico elaborado pelo pensamento revolucionário negro dos anos 1960 e 1970. Não obstante, importa observar que a teorização Afropessimista propõe um entendimento particular do racismo antinegro como decorrente dos efeitos ontológicos da escravidão, sendo isso o que possibilita manter a uma distância segura quaisquer riscos de anacronismo: não se trata, com efeito, de sugerir que na obra de Machado se fizessem integralmente presentes os preceitos compartilhados pelas pensadoras e pensadores negros que se inscrevem no campo teórico do Afropessimismo, o que seria inadequado por evidentes razões históricas; mas de questionar em que medida é possível aproximar o olhar machadiano sobre a condição dos sujeitos escravizados do entendimento Afropessimista. Em outras palavras: não se trata de afirmar que Machado de Assis era Afropessimista em um sentido restritivo; mas de indagar sobre possibilidades de leitura da produção machadiana a partir do Afropessimismo contemporâneo.

Faz-se necessário, por conseguinte, abordar a indagação: o que é o Afropessimismo? A dificuldade de apresentar uma resposta simples pode ser evidenciada por tentativas de definição que recorrem a noções vagas, como "escola de pensamento" ou "lente teórica".4 4 Ver Weier (2014) ou a introdução de Wilderson III et al. (2017). O Afropessimismo tem como um dos pontos de partida os trabalhos de Orlando Patterson (2008PATTERSON, Orlando. Escravidão e morte social: um estudo comparativo. Tradução de Fábio Duarte Joly. São Paulo: Edusp, 2008., p. 34), segundo os quais o escravizado se tornava uma não-pessoa, uma vez que "a escravidão é a dominação permanente e violenta de pessoas desenraizadas e geralmente desonradas". Assim, ao escravizado era imposta uma morte social. O que o Afropessimismo faz é indagar sobre as consequências da relação histórica entre a negritude e a escravidão: o "não-evento da emancipação" (HARTMAN, 2017HARTMAN, Saidiya. The burdened individuality of freedom. In: WILDERSON III, Frank B. et al. Afro-pessimism: an introduction. Minneapolis: racked & dispatched, 2017. p. 31-48., p. 33) - ou, no caso do Brasil, a noção de abolição como farsa, estabelecida pelo movimento negro e veiculada, por exemplo, no rap contemporâneo (SAMYN, 2018SAMYN, Henrique Marques. A abolição como farsa no rap contemporâneo. Mosaico, v. 9, p. 142-156, 2018.) - transformou o escravizado no "sujeito negro", preservando a violência estrutural e a condição de pessoas negras como socialmente mortas (WILDERSON III et al., 2017WILDERSON , III Frank B et al. Afro-pessimism: an introduction . Minneapolis: racked & dispatched , 2017., p. 8-9); de modo que ao fim, em última instância, é contra as próprias pessoas negras que a própria humanidade se define (WILDERSON III, 2021WILDERSON , IIIFrank B et al . Afropessimismo. São Paulo: Todavia , 2021., p. 191). No que tange a intelectuais brasileiros que têm dialogado com o Afropessimismo, demandam destaque os nomes de Denise Ferreira da Silva (2019SILVA, Denise Ferreira da. A dívida impagável. São Paulo: A casa do povo, 2019., entre outros) e Osmundo Pinho (2021PINHO, Osmundo. Cativeiro: antinegritude e ancestralidade. Salvador: Segundo Selo, 2021.).

Como venho enfatizando ao longo deste ensaio, meu objetivo aqui é ensaiar possibilidades de leitura das obras de Machado de Assis a partir do Afropessimismo; assim, o que me interessa é questionar de que modo princípios Afropessimistas podem ser proveitosamente evocados para abordar aspectos particulares de narrativas machadianas. Isso significa pressupor que, ao menos no que tange a certo corpus, a condição escravizada impunha uma morte social, propiciando uma vulnerabilização à violência arbitrária, uma alienação compulsória configurada como um desenraizamento e um alheamento ao jogo da honra; e que isso estava associado, de modo particular, a pessoas negras. Reitero que não advogo que se trate de um protocolo de leitura aplicável, de modo imediato, a todo o conjunto da obra machadiana; por outro lado, limito-me a apresentar aqui alguns apontamentos de leitura, que poderão ser futuramente aprofundados, em torno de duas narrativas machadianas específicas - que, notoriamente, estão entre aquelas nas quais o tema da escravidão aparece de modo mais explícito: os contos "Mariana" (1871) e "Pai contra mãe" (1906). Começo apresentando uma síntese das narrativas.

No que tange a "Mariana", refiro-me, por óbvio, ao conto originalmente publicado em janeiro de 1871, no Jornal das famílias, assinado por J.J., e não àquela outra narrativa, de igual título, presente no volume Várias histórias (1896). Macedo inicia a narração mencionando o seu retorno para a corte, após ter passado quinze anos na Europa. Hospedando-se no Hotel Damiani, rebatizado Ravot, o narrador vê passar, na rua, seu amigo Coutinho; juntam-se a eles outros dois amigos, para um almoço na sala do hotel. Quando a conversa passa a tratar de casamentos, Coutinho afirma que, contrariamente às expectativas de Macedo, não se casara com sua prima Amélia - que se fizera esposa de um fazendeiro; é o que dá azo para que, pouco depois, Coutinho comece a falar sobre a mulher que o amara como nenhuma outra: trata-se, precisamente, da personagem que dá título ao conto. Descrita como "uma gentil mulatinha",5 5 Todas as citações de "Mariana" foram extraídas da versão disponibilizada em http://www.machadodeassis.net (ASSIS, on-line). "criada como filha da casa", Mariana supostamente recebe um tratamento semelhante aos das outras filhas - embora Coutinho afirme que a menina recebia, de sua mãe, "os mesmos afagos que ela dispensava às outras filhas", importa perceber que essa fala expressa uma perspectiva senhorial -, mas sua circulação pela casa é restrita: "Não se sentava à mesa, nem vinha à sala em ocasião de visitas". A condição específica de Mariana permite que ela receba uma educação superior à dispensada a outras escravizadas, aprendendo a ler, a escrever e a fazer trabalhos de agulha; aos 15 anos, chega a ter lições de francês com uma das irmãs de Coutinho. Essa descrição inicial sugere, portanto, que Mariana, a negra escravizada, ocuparia uma posição próxima à das mulheres brancas livres; ilusão alimentada pelo próprio Coutinho, que afirma "ver nela uma pessoa da família" e sustenta o mito do "senhor benevolente" ao descrever a conduta de sua mãe - quando o comportamento de Mariana começa a mudar, supondo que a menina "houvesse cometido alguma falta" e buscasse proteção junto dele, afirma: "Nesse caso a falta devia ser grande, porque minha mãe era a bondade em pessoa, e tudo perdoava às suas amadas crias".

Todavia, a transformação de Mariana se devia a outro motivo: razões afetivas, como suspeitava a irmã de Coutinho, a primeira a mencionar "algum namoro"; contudo, o objeto de sua afeição era o próprio Coutinho - e não "o copeiro ou o cocheiro", como ele gracejara. A dor da "mulatinha" pode ser mensurada por seu comportamento: ciente de que se trata de um "amor impossível", e diante da iminência do casamento de Coutinho com sua prima Amélia, Mariana adoece, para de comer e, finalmente, foge pela primeira vez. A situação irrita Amélia - e será decisiva para que o seu enlace com Coutinho não se efetive. Quatro dias antes do casamento, na festa do Natal, Mariana comete um "segundo ato de rebeldia", desaparecendo novamente; localizada em um hotel, confrontada por Coutinho, Mariana recorre ao suicídio, consumindo um frasco de veneno. Amélia desiste do casamento, incomodada com a preocupação de Coutinho pela escravizada; este preserva a lembrança do "amor imenso e profundo, sincero e inalterável" que lhe foi dispensado. Finalmente, o conto se encerra com um passeio dos amigos pela rua do Ouvidor, onde se entretêm "examinando os pés das damas que desciam dos carros, e fazendo a esse respeito mil reflexões mais ou menos engraçadas e oportunas".

O conto "Pai contra mãe", por sua vez, foi publicado em Relíquias de casa velha, última coletânea publicada em vida por Machado. A narrativa se inicia com uma referência à escravidão como algo que ficou no passado, o que abre espaço para uma descrição de certos aparelhos utilizados para a tortura de escravizados: os ferros, ao pescoço e ao pé; e a máscara de folha de flandres. Eivada de ironia, a descrição menciona as frequentes fugas de escravizados - já que "nem todos gostavam da escravidão" -, as violências físicas - "nem todos gostavam de apanhar pancada" - e a "bondade" dos donos de escravizados, que comumente se limitavam à repreensão: "o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói" (ASSIS, 2023 [1906]______. Pai contra mãe. In: ______. Relíquias de casa velha. Org. Hélio de Seixas Guimarães. São Paulo: Todavia, 2023 [1906]. p. 31-45., p. 31-32). A menção aos aparelhos se devia à sua relação com "certo ofício": aquele desempenhado por Cândido Neves, o "Candinho", figura central na narrativa. Por conta de seu "caiporismo" - a incapacidade de aguentar qualquer emprego -, Cândido Neves logo se dedica à tarefa de capturar escravizados fugidos. Quando sua esposa, Clara, engravida, a condição econômica do casal se torna difícil: a concorrência no ofício, com o surgimento de outros caçadores, prejudica o desempenho de Cândido; Clara tenta ajudar, cosendo para fora, mas a situação não melhora. Quando nasce o filho, o casal já mora de favor e Cândido não tem escolha, senão seguir o conselho de Mônica, tia de Clara, e levar o bebê para a roda dos enjeitados.

É quando o acaso ajuda Cândido Neves, e ele se depara com Arminda - uma "mulata fujona" que procurava há dias, cuja captura lhe valeria uma gratificação de cem mil-réis. Usando uma corda, Cândido enlaça os braços de Arminda, que implora que ele a solte, alegando que seria castigada por seu "senhor", afirmando estar grávida e prometendo servir como escravizada ao próprio Cândido. Quando este devolve Arminda ao seu proprietário, ela acaba abortando, enquanto luta para libertar-se. Cândido recebe a recompensa, pega o filho - que deixara aos cuidados de um farmacêutico - e volta a casa; a justificativa que apresenta para si mesmo é que "nem todas as crianças vingam" (ASSIS, 2023 [1906]______. Pai contra mãe. In: ______. Relíquias de casa velha. Org. Hélio de Seixas Guimarães. São Paulo: Todavia, 2023 [1906]. p. 31-45., p. 45).

Embora quaisquer sínteses acabem por, inevitavelmente, simplificar o texto machadiano, apagando valiosas nuances que só podem ser devidamente percebidas por leituras em profundidade, penso que essas sinopses atendem aos fins deste ensaio - que, volto a ressaltar, tenciona apenas sugerir possíveis caminhos de leitura para a obra de Machado de Assis. Passo, portanto, a destacar alguns aspectos das narrativas que talvez suscitem instigantes análises desde uma perspectiva Afropessimista.

O mais evidente aspecto é a vulnerabilização dos corpos negros a modos de violência arbitrários - não decorrentes, portanto, de transgressões ou crimes. Quanto a Mariana, o máximo ato de violência é, por óbvio, o suicídio: um ato definitivo, por intermédio do qual a "mulatinha" dá fim à sua própria existência; todavia, é fundamental perceber que esse é apenas o momento final de um conjunto de processos de violência que sobre ela incidem reiteradamente - tanto no âmbito psicológico e afetivo, ensejando o seu adoecimento, quanto no que diz respeito à ameaça do uso da força policial para capturá-la. No caso de Arminda, mesmo que sua fuga possa ser criminalizada no âmbito do regime escravista, a arbitrária violência a que era cotidianamente submetida é evidenciada pelo fato de que, ao suplicar por clemência, ela se oferece para servir ao seu próprio captor como escravizada, a fim de não sofrer os efeitos da "maldade" de seu senhor - no texto, metonimizada pelos açoites. Em outras palavras: Arminda se agarra à esperança de que, mesmo mantida na condição escravizada, possa receber um tratamento menos cruel.

Um segundo aspecto a ser observado é a concretização da morte social através de uma alienação compulsória, ou seja, a inexistência de laços de nascimento e de quaisquer vínculos que não os estabelecidos pelo "senhor". Em relação a Mariana, isso é perfeitamente evidenciado pelas tentativas senhoriais de afirmar a solidez desses vínculos; refiro-me aos vários momentos em que Coutinho a qualifica como "cria de casa" ou "pessoa da família". Mariana é sempre tratada como uma estranha no próprio espaço que, desde uma perspectiva senhorial, deveria constituir o seu "lar"; está sempre sujeita a limites rigidamente impostos, a fim de preservar a clivagem que a aparta dos seus proprietários; e, ao final, é condenada à morte por nutrir a esperança de ultrapassar um limite considerado intransponível. Já a situação de Arminda é tacitamente contrastada com a de Cândido, que se move justamente pelo interesse de constituir uma família, assegurando os meios de sobrevivência para o seu filho recém-nascido; quer dizer: se Cândido luta para assegurar a sua descendência, essa possibilidade é radicalmente recusada à Arminda, que sequer tem o direito de gerar um filho. A justificativa final da narrativa - "nem todas as crianças vingam" - é o reconhecimento dessa diferença, ou seja, a negação definitiva de que Arminda possa estabelecer quaisquer relações familiares, visto que a sociedade escravista a percebe como necessariamente desarraigada.

Por fim, devo ressaltar como os contos machadianos explicitam a condição desonrada de Mariana e de Arminda. Desprovidas de existência social independente ou de um nome a zelar, como as personagens machadianas poderiam ter uma honra a defender? Mariana é constantemente admoestada de que deve ocupar o seu lugar subalternizado, sem poder exigir respeito ou consideração de ninguém - inclusive quando, após a segunda fuga, a desesperada menina se lança aos braços de Coutinho, que a repele, novamente qualificando-a como fujona; sua intenção, como o texto enfatiza, era "fazer com que a mulher não se esquecesse de que era escrava". Ademais, note-se que Machado cria uma reveladora situação ao enfatizar as discussões entre Coutinho e Amélia a respeito de Mariana: por um lado, Coutinho censura os ciúmes da prima, visto que "era loucura e abatimento ter zelos de uma cria de casa", de modo que Amélia não sabia "conservar a necessária dignidade"; como ela podia "humilhar-se diante de uma escrava"? Por seu lado, Amélia censura o noivo justamente porque ele ousava fazer "uma defesa de Mariana". Em outras palavras, a tensão entre Coutinho e Amélia ocorre por conta de supostas tentativas de defender o indefensável, a partir de noções despropositadas de honra. No caso de Arminda, a desonra ocorre de modo ainda mais brutal, quando ela é finalmente capturada por Cândido Neves. Tendo ignorados seus gritos de súplica, Arminda se vê obrigada a lutar; gemendo, arrasta-se no chão; embora a cena seja testemunhada por diversas pessoas, ninguém a socorre - "Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia" (ASSIS, 2023 [1906]______. Pai contra mãe. In: ______. Relíquias de casa velha. Org. Hélio de Seixas Guimarães. São Paulo: Todavia, 2023 [1906]. p. 31-45., p. 43). O ato final de humilhação é, decerto, o aborto, que também ocorre quando Arminda está no chão, diante de seu proprietário e de seu captor.

O que demonstram essas propostas de leitura da produção machadiana a partir de preceitos Afropessimistas - aqui, meramente ensaiadas - é que Machado talvez compreendesse os efeitos da escravidão de uma maneira muito mais profunda do que comumente se supõe. Se, ao longo da história, a crítica percebeu o pessimismo como um elemento fundamentalmente presente na produção machadiana, justificando-o a partir de entendimentos diversos, talvez seja possível construir possibilidades hermenêuticas que dialoguem com vertentes contemporâneas dos estudos machadianos - no que tange, particularmente, aos questionamentos em torno de procedimentos de racialização -, mobilizando olhares alinhados com o Afropessimismo. Isso facultaria a suposição de que, para Machado, a escravidão seria ontologicamente experienciada - o que poderia ser percebido, por exemplo, na construção de personagens - e que, mesmo quando não escravizado, o indivíduo negro permanece condenado a uma morte social - o que talvez ofereça subsídios para uma compreensão do ceticismo machadiano diante da Abolição, aliás evidenciado pelas irônicas referências, em "Pai contra mãe", à violência escravista como um fenômeno pretérito. Para aludir à crônica assinada por Machado, publicada uma semana após o fim da escravidão: talvez, para o velho Bruxo, todo o Brasil fosse como a província do Bacabal, na qual os dispositivos legais nada significavam para abolir a escravidão; e onde os negros permaneceram sujeitos a serem arbitrariamente castigados, inclusive pelas autoridades, por algo que não fizeram (ASSIS, 2013 [1888]ASSIS, Machado de. Bons dias! [20 e 21 de maio de 1888]. In: ______. Crônicas escolhidas. Seleção, introdução e notas de John Gledson. São Paulo: Penguin Classics; Companhia das Letras, 2013 [1888]. p. 99-105., p. 104-105).

Referências

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  • ______. Pai contra mãe. In: ______. Relíquias de casa velha. Org. Hélio de Seixas Guimarães. São Paulo: Todavia, 2023 [1906]. p. 31-45.
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  • WILDERSON , III Frank B et al. Afro-pessimism: an introduction . Minneapolis: racked & dispatched , 2017.
  • WILDERSON , IIIFrank B et al . Afropessimismo. São Paulo: Todavia , 2021.
  • 1
    A grafia de Afropessimismo/Afropessimista com inicial maiúscula tem como propósito explicitar a referência à orientação teórica, evitando confusões com os discursos afropessimistas que se popularizaram nos anos 1980 e 1990 - e que, em termos muito sintéticos, reiteravam a condição supostamente irrecuperável da África pós-colonial, ao mesmo tempo que abriam espaço para discursos salvacionistas.
  • 2
    Ver, por exemplo, os trabalhos reunidos em Bernardo et. al. (2010)BERNARDO, Gustavo et al. Machado de Assis e a escravidão. São Paulo: Annablume, 2010. e Duarte (2020)DUARTE, Eduardo de Assis. Machado de Assis afrodescendente: antologia e crítica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Malê, 2020..
  • 3
    Nesta e em outras citações, atualizamos a grafia.
  • 4
    Ver Weier (2014)WEIER, Sebastian. Consider Afro-Pessimism. Amerikastudien, v. 59, n. 3, p. 419-433, 2014. ou a introdução de Wilderson III et al. (2017)WILDERSON , III Frank B et al. Afro-pessimism: an introduction . Minneapolis: racked & dispatched , 2017..
  • 5
    Todas as citações de "Mariana" foram extraídas da versão disponibilizada em http://www.machadodeassis.net (ASSIS, on-line______. Mariana (1871). Contos na Imprensa - fase 2 (1868-1871). Romances e contos em hipertexto. Disponível em: http://www.machadodeassis.net. Acesso em: 5 jan. 2024.
    http://www.machadodeassis.net...
    ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    26 Jan 2024
  • Aceito
    08 Mar 2024
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