Na tradição dos estudos machadianos, o conto "O espelho" tende a ser apreciado criticamente por uma perspectiva de leitura que legitima a suposta seriedade do discurso arbitrário do narrador-personagem Jacobina. Sob esse ângulo, o conto é entendido em chave filosófica, existencial e psicológica, e as extravagantes teorias metafísicas de Jacobina são consideradas como uma demonstração válida e autêntica da essência humana. Desse modo, na tentativa de contornar essas distorções interpretativas, este trabalho propõe uma redefinição das perspectivas de análise com o intuito de priorizar a apreciação dos procedimentos estruturais, que mobilizam uma ironia estratégica empenhada em desqualificar esse narrador e em satirizar o conteúdo de suas investigações metafísicas.
contos; narrador; ironia; sátira