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Canto, voz e presença: uma análise do poder da palavra cantada nas folias norte-mineiras* * Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no seminário "Giros etnográficos em Minas Gerais: conflito, casa, comida, prosa, festa, política e o diabo", coordenado por Moacir Palmeira e John Comerford, em agosto de 2013, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Agradeço à Mariza Peirano, debatedora do seminário, pela leitura e as contribuições feitas naquela ocasião, e a José Sergio Leite Lopes, pela orientação no mestrado e doutorado. Sou igualmente grato a Otavio Velho e Samuel Araújo, que generosamente leram e comentaram o texto, e aos pareceristas desta revista, pelas pertinentes observações. É claro que as deficiências e as falhas são de minha inteira responsabilidade. Um esclarecimento: ao longo do texto, as categorias nativas estão em itálico enquanto as categorias analíticas entre aspas.

Durante as visitas que as folias realizam às casas dos devotos, os cantos ocupam lugar central, sendo importantes meios de interação entre os foliões, como são chamados os tocadores e cantadores que integram a equipe ritual, e deles com os moradores e o santo. Neste texto, com o foco etnográfico direcionado para as dimensões formais (como se canta), semânticas (o que se canta) e pragmáticas (o que se faz com o que se canta) do canto, discuto como a presença do santo é ritualmente construída e como se articula com determinadas relações sociais e valores culturais, aproximando e relacionando domínios - céu e terra, esse mundo e o outro, aqui e além, visível e invisível - e seres - vivos e mortos. Para levar a cabo esta análise, o canto será descrito em dois planos: primeiramente, partindo da ideia de que a palavra cantada surge, no contexto da visita de folia, como um "enunciado performativo" no qual "dizer é fazer", veremos como as dimensões poéticas e sonoras caracterizam o canto como um tipo particular de comunicação; em seguida, compreendendo o canto como "um ato de comunicação verbal", direciono o olhar para o texto cantado e para as interações entre foliões, moradores e santo, tal como criadas no contexto de uma visita da folia de São José.

Religiosidade popular; Ritual; Folia de Reis; Folia de São José; Norte de Minas Gerais


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