Este artigo procura, distanciando-se dos modelos formais que têm servido de eixo para os estudos sobre ação coletiva e movimentos sociais, restituir a dimensão vivida do engajamento político. Com base em análise etnográfica centrada num conjunto de bairros da Grande Buenos Aires, explora os modos - múltiplos e heterogêneos - como as pessoas se envolvem nos chamados movimentos piqueteros, e indica que essas experiências ganham inteligibilidade ao serem inscritas numa trama mais ampla de relações e possibilidades de vida. A partir de uma perspectiva figuracional, o texto discute alguns pressupostos da literatura sobre organizações piqueteras, em particular, e protestos sociais, em geral; questiona a dicotomia entre razão material e razão político-moral com que se tem abordado a questão das motivações da ação coletiva; desconfia de uma oposição rígida entre Estado e movimentos sociais, apontando para o papel criador - e não só cooptador - das políticas estatais; e, finalmente, propõe sociologizar o lugar do "prazer de fazer" na origem e na continuidade do engajamento político.
Ação Coletiva; Etnografia; Política; Economia; Prazer de fazer; Movimentos Piqueteros; Argentina