O presente artigo discute a concepção racial de Arthur de Gobineau a partir de sua mais famosa obra, o Essai sur l'inégalité des races humaines. Se comumente este tratado é associado à discussão racialista que toma corpo nas últimas décadas do século XIX, pretendo relacioná-lo a uma polêmica característica da virada do século XVII para o XVIII, a Querela das duas raças. Neste sentido, o objetivo do artigo é revelar, em primeiro lugar, como a reflexão de Gobineau é tributária de um conceito de linhagem tornado paulatinamente anacrônico no mundo pós-revolucionário. Em segundo, demonstrar a hipótese segundo a qual o Essai, menos do que um estudo sobre raças pretensamente "biológicas", representa fundamentalmente uma recusa à nova ordem igualitária que se impõe na era moderna.
Pensamento Conservador; Século XIX; Racialismo; Igualdade; Modernidade