Entre 2000-2001, um debate mobilizou os aldeamentos uitoto-murui do rio Caraparaná tendo como tema a noção de "desenvolvimento". Alguns deles sediaram reuniões entre indígenas (locais e de órgãos de representação política nacional) e não indígenas (técnicos de Estado, de ONGs e militares) na produção de "diagnósticos" e "projetos". Nesse contexto, o aldeamento de San Rafael, em articulação entre seu cacique, Don Ángel Ortiz, e o cabildo local, propõe um projeto baseado nos "conhecimentos" das rodas noturnas de diálogo e consumo ritual da coca (Erythroxylon coca var. ipadu) e do tabaco (Nicotiana tabacum), no conjunto de conhecimentos materiais, simbólicos e ético-morais chamado de "Palavra de Coca e de Tabaco" (jiibina uai diona uai). Este conjunto de "conhecimentos" (do mítico-cosmológico ao médico-terapêutico e as formas de governança) é o resultado das articulações socioculturais vividas pelos grupos indígenas que habitam o interflúvio dos rios Caquetá-Putumayo (que têm a coca e o tabaco como epicentros simbólicos), em especial após a década de 1930, com o fim da escravidão caucheira e do conflito Peru-Colômbia. No calor dos debates, a noção de "desenvolvimento" ganha, então, contornos "indígenas", passando a ser lida e articulada a partir dos "usos e costumes" locais, como demanda a Constituição de 1991. Do mesmo modo, diante das demandas da arena do desenvolvimento, um perfil discreto e acabado do que seja a Palavra de Coca e de Tabaco é também apresentado.
Uitoto-murui; Políticas da cultura; Etnodesenvolvimento