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HOTEL MODERNO, UMA MÁQUINA DE HOSPEDAR

HOTEL MODERNO, UNA MÁQUINA ALOJADORA

Resumo

O objetivo do presente artigo é produzir um ensaio teórico sobre o hotel moderno em uma perspectiva histórica e crítica, buscando ampliar o conhecimento sobre a mutação dessa tipologia arquitetônica no contexto de desenvolvimento do turismo de massa, levantando como hipótese que os hotéis constituem “máquinas de hospedar”. Trata-se de uma discussão conceitual a fim de fomentar e subsidiar a discussão sobre os hotéis construídos entre fins da década de 1940 e 1970, no contexto do Movimento Moderno. Para tanto, resgata os antecedentes semânticos e tipológicos do hotel e discute como as práticas sociais do turismo de massas e o papel do Estado refletiram e reproduziram nos mecanismos dos hotéis modernos. Na sequência, apresenta aspectos relativos às tipologias formais e funcionais que sustentam que o hotel moderno é uma máquina de hospedar, enfatizando algumas características que expressam a sua modernidade arquitetônica. Por fim, sublinha a relevância histórica e patrimonial dos hotéis modernos e a importância da documentação para fins de intervenção e conservação desse acervo como testemunhas materiais da arquitetura moderna e do turismo de massas.

Palavras-chave:
Hotel; Meios de Hospedagem; Arquitetura Moderna; Turismo de Massa; Tipologia Arquitetônica

Resumen

El objetivo de este artículo es producir un ensayo teórico sobre el hotel moderno desde una perspectiva histórica y crítica, buscando ampliar el conocimiento sobre la mutación de esta tipología arquitectónica en el contexto del desarrollo del turismo de masas, partiendo de la hipótesis de que los hoteles son máquinas de alojar. Se trata de una discusión conceptual destinada a fomentar y subvencionar el debate sobre los hoteles construidos entre finales de la década de 1940 y la década de 1970, en el contexto del Movimiento Moderno. Para ello, recuerda los antecedentes semánticos y tipológicos del hotel y discute cómo las prácticas sociales del turismo de masas y el papel del Estado se reflejaron y reprodujeron en los mecanismos de los hoteles modernos. A continuación, presenta aspectos relativos a las tipologías formales y funcionales que sustentan la idea de que el hotel moderno es una máquina de alojar, destacando algunas de las características que expresan su modernidad arquitectónica. Por último, se subraya la relevancia histórica y patrimonial de los hoteles modernos y la importancia de la documentación a efectos de intervención y conservación de este conjunto como testigos materiales de la arquitectura moderna y del turismo de masas.

Palabras-clave:
Hotel; Medio se Alojamiento; Arquitectura Moderna; Turismo de Masa; Tipología Arquitectónica

Abstract

This paper aims to produce a theoretical essay about the modern hotel from a historical and critical perspective, seeking to broaden knowledge about the mutation of this architectural typology in the context of the development of mass tourism, hypothesizing that hotels are "lodging machines". This is a conceptual discussion aimed at fostering and subsidizing the debate on hotels built between the late 1940s and the 1970s, in the context of the Modern Movement. To this end, he recalls the semantic and typological antecedents of the hotel and discusses how the social practices of mass tourism and the role of the state were reflected and reproduced in the mechanisms of modern hotels. Then, it presents aspects relating to the formal and functional typologies that support the idea that the modern hotel is a lodging machine, emphasizing some characteristics that express its architectural modernity. Finally, it highlights the historical and heritage relevance of modern hotels and the importance of documentation for intervention and conservation of this collection as material witnesses of modern architecture and mass tourism.

Keywords:
Hotel; Lodging Establishments; Modern Architecture; Mass Tourism; Architectural Typology

INTRODUÇÃO

A construção de hotéis alinhados às premissas da vanguarda arquitetônica do Movimento Moderno se estabeleceu somente em meados do século XX e ocorreu concomitante o desenvolvimento do turismo de massa, em situações específicas que, em geral, foram pouco abordadas pela história da arquitetura. Estas omissões ocorreram tanto em relação aos hotéis modernos construídos em países hegemônicos, como nos Estados Unidos (de tradição hoteleira desde o século XIX) e na Europa, como em regiões do mundo que ocupavam uma condição mais marginal no cenário econômico, político e cultural da modernidade, mas que ainda assim legaram importantes hotéis para a cultura arquitetônica moderna.

O livro de Pevsner, “A History of Building Types”, de 1976, constitui uma das poucas publicações com abordagem teórica e com alcance mais abrangente ao tratar da tipologia hoteleira, muito embora a sua análise enfatize majoritariamente as transformações tipológicas do hotel no século XIX. Por conseguinte, o historiador deixa um vazio importante sobre as transformações da tipologia dos hotéis ao longo do século XXna sua relação com o turismo de massas.

Deste modo, esse artigo compreende um ensaio teórico sobre o hotel moderno em uma perspectiva histórica e crítica, buscando ampliar o conhecimento sobre a mutação dessa tipologia arquitetônica no contexto de desenvolvimento do turismo de massa, com o desiderato de promover uma discussão conceitual a fim de fomentar e subsidiar a discussão sobre a valorização, a documentação e a conservação do acervo de hotéis construídos no contexto do Movimento Moderno, potencializando, assim, a produção de conhecimento sobre o tema.

O trabalho levanta como hipótese a ideia de que os hotéis modernos são, por excelência, tipologias arquitetônicas híbridas e constituem verdadeiras máquinas de hospedar. O edifício híbrido pode ser considerado não somente uma estrutura que combina funções, como um edifício multifuncional, mas constitui uma construção que concilia e concentra diferentes usos e programas complexos em uma grande edificação. Para Fernandes; Mozas; Arpa (2011)FERNANDES, Aurora; MOZAS, Javier; ARPA, Javier. This is Hybrid: An analysis of mixed-use building by a+t. Vitoria-Gasteiz: a+t architecture publishers, 2011., o edifício híbrido se caracteriza pela magnitude de suas dimensões e, sobretudo, pelos recursos tecnológicos que são acionados e empregados para viabilizar a sua complexidade programática. Assim sendo, argumenta-se que o caráter híbrido do hotel moderno, derivado de um programa complexo e repleto de hierarquias de funções, usos e fluxos, se relaciona aos mecanismos tecnológicos suscitados pela modernidade (aspectos estruturais, construtivos, materiais, equipamentos, instalações, mobiliários, etc.) que constituem, por seu turno, mecanismos e engrenagens de uma espécie de máquina de hospedar.

Ademais, preconiza-se que o caráter híbrido do hotel se refere ainda ao acúmulo histórico decorrentes das metamorfoses tipológicas verificadas nos meios de hospedagem e à assimilação de atributos de outros tipos de edifícios (PAIVA, 2021PAIVA, Ricardo Alexandre. O hotel na modernidade: metamorfoses de uma tipologia arquitetônica híbrida | The hotel in modernity: metamorphoses of a hybrid architectural typology. Oculum Ensaios, [S. l.], v. 19, 2021. DOI: 10.24220/2318-0919v19e2022a4889. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/oculum/article/view/4889. Acesso em: 8 fev. 2024.
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). Assim, a abordagem teórica adotada se ancora nos conceitos de tipo e tipologia, uma vez que o edifício híbrido se identifica como algo genérico e flexível, mas que possui raízes significativas no passado.

O percurso metodológico enfatiza os antecedentes semânticos e tipológicos do hotel e discute como as práticas sociais do turismo de massas e o papel do Estado refletiram e reproduziram a construção de hotéis modernos no contexto Ocidental no período compreendido entre a década de 1940 e início da década de 1970, sublinhando os seus mecanismos.

Como síntese, apresenta aspectos relativos às tipologias formais e funcionais que sustentam que o hotel moderno é uma máquina de hospedar, enfatizando algumas características que expressam a modernidade arquitetônica dos hotéis.

ANTECEDENTES SEMÂNTICOS E TIPOLÓGICOS DO HOTEL

A origem etimológica da palavra hotel remonta ao termo hostel em francês arcaico, que evoluiu para hôtel2 2 O acento circunflexo indica a supressão de um “s” latino, que permaneceu em hospitaliser,hospice, etc. . O termo deriva do vocábulo latino hospitale, no sentido de hospedaria, que também origina a palavra hospital (PEVSNER, 1976PEVSNER, Nikolaus. A. History of Building Types. Princeton: Princeton University Press, 1976.). Assim, hotel e seus cognatos derivam do latim hospes, que significa estranho, convidado.

Na França, o termo hotel, além de associado aos meios de hospedagem, vai derivar ainda para o significado de palácio para fins administrativos e órgãos públicos, como Hôtel de Ville (Maire), denotando prefeitura, Hôtel des Vents como salão de leilões, ou Hôtel de la Monnaie como Casa da Moeda. A palavra refere-se ainda à Hôtel-Dieu (hospedagem de Deus), nome antigo dado aos principais hospitais das cidades francesas. Ainda com a acepção de hospital, vale citar como exemplo paradigmático o Hôtel des Invalides em Paris, construído na segunda metade do século XVII por Luis XIV para acolher os militares enfermos.

A matriz da palavra hotel atribui sentido a uma outra tipologia: o hôtel particulier, que em inglês corresponde a private mansion, que consiste em uma mansão privada, um palácio urbano que abrigava uma família abastada. Trata-se de um edifício aristocrático que, a partir do século XVII, possui frequentemente um pátio no acesso e um jardim posterior, daí a expressão “entre cour et jardin” (GADY, 2011GADY, Alexandre. Les Hôtels particuliers de Paris, du Moyen Âge à la Belle Époque. Paris: Éditions Parigramme, 2011.).

A menção ao hôtel particulier auxilia também na compreensão da associação do vocábulo hotel ao palácio. Para Mumford (1998MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 1998., p. 410), a ideia de palácio como um edifício para abrigar a aristocracia, descende do italiano palazzo, que “significa qualquer construção magnificente que possa ser ocupada por um senhor ou príncipe mercador”. Na Itália, há exemplos emblemáticos de palácios urbanos assim como as villas, equivalente não somente à povoação, mas à casa de campo aristocrática do século XVI e XVII.

Como no século XIX a França constituía o principal centro de emissão de influências culturais, a palavra hotel passa a ser usada em vários outros idiomas para designar a tipologia. Na língua inglesa, a palavra hotel foi adotada no século XVIII3 3 "Quanto ao uso do termo "hotel" em inglês, o Oxford English Dictionary observa as trêsocorrências iniciais a seguir - Smollett em 1766; "a despesa de morar em um hotel é enorme"; 'R. King em Travels & Correspondence, 1776 : 'seus hotéis'; e H. Arnot em História de Edimburgo, 1783: 'Em 1763, não havia lugar como hotel; a palavra de fato não era saber, ou apenas inteligível para estudiosos franceses” (PEVSNER, 1976, p. 172). e prevaleceu sobre o termo inn, correlato de estalagem.

Esta nova palavra francesa revelou-se popular e, no início do século XIX, a maioria das estalagens tinha-se tornado hotéis, o que se enquadra num padrão histórico mais profundo, segundo o qual uma das características que definem a estalagem enquanto classe de edifício é a sua contínua adaptação e reinvenção. (JAMES et al, 2017JAMES, Kevin; SANDOVAL-STRAUSZ, Andrew; MAUDLIN, Daniel; PELEGGI, Maurizio; HUMAIR, Cédric; BERGER, Molly W. The hotel in history: evolving perspectives. Journal of Tourism History, 9:1, 2017. 92-111. DOI: 10.1080/1755182X.2017.1343784
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, p.5).

Assim, os inns, análogos às estalagens, tão comuns ainda hoje nos nomes dos hotéis ou cadeias hoteleiras, têm origem na Idade Média e correspondem aos espaços destinados a abrigar e proporcionar descanso para pessoas e cavalos. As estalagens possuíam uma significativa articulação com as vias de comunicação relacionadas ao movimento das carruagens até o advento da ferrovia. Os meios de hospedagem e os meios de transportes que viabilizam a prática da viagem possuem uma relação de origem.

No momento de transição do uso das nomenclaturas, alguns hotéis passaram a se chamar hotel-inn. A distinção entre a pousada e o hotel advém desta mudança na terminologia e teve evidentemente repercussões nas mutações tipológicas. “O resultado é um aparente abismo através do qual o hotel do século XIX parece grande, grandioso e urbano, enquanto a estalagem ou taberna do século XVIII parece pequena, humilde e rural” (JAMES et al, 2017JAMES, Kevin; SANDOVAL-STRAUSZ, Andrew; MAUDLIN, Daniel; PELEGGI, Maurizio; HUMAIR, Cédric; BERGER, Molly W. The hotel in history: evolving perspectives. Journal of Tourism History, 9:1, 2017. 92-111. DOI: 10.1080/1755182X.2017.1343784
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, p. 5).

Daniel Maudlin (2017)MAUDLIN, Daniel. History, Heritage and the Inn in the British Atlantic World'. In: 'The Hotel in History: Evolving Perspectives', Journal of Heritage Tourism, Vol. 8, 2017, 1-20. advoga que as mudanças da pousada/estalagem para o hotel foram mais quantitativas que propriamente qualitativas, pois o programa dos hotéis, qual seja, os cômodos, as salas de reuniões e os serviços praticamente se mantém, mas há, na verdade, um aumento no tamanho do hotel. Evidentemente, este crescimento está vinculado ao incremento e intensificação dos fluxos de viagens, sobretudo na segunda metade do século XIX, com a difusão dos caminhos de ferro. Assim, o hotel no século XIX se vale de aspectos dos claustros medievais, das antigas hospedarias e do “hôtel particulier”, que se manifestam sintetizados ou não em uma edificação palaciana (PAIVA, 2021PAIVA, Ricardo Alexandre. Turismo 4.0 e consumo: a sinergia entre os deslocamentos reais e os virtuais. In: VARGAS, Heliana Comin; PAIVA, Ricardo Alexandre. (Org.). Terciário, Arquitetura e Cidade na Era Digital: permanências e transformações. Fortaleza: SEBRAE/ Expressão Gráfica e Editora, 2021, v. 1, p. 37-57.).

Os mosteiros rurais e os conventos urbanos, caracterizados por um conjunto de células em torno de um pátio, são arquétipos não somente do hotel, mais de um número importante de outras tipologias arquitetônicas (hospitais, sanatórios, escolas, prisões, etc.), em virtude do caráter flexível do uso, além de outras condicionantes sociais relacionadas às práticas historicamente enraizadas exercidas pela Igreja Católica.

Na primeira metade do século XX, há avanços e recuos simultâneos nos fluxos da atividade turística, em função das duas Grandes Guerras Mundiais. Assim, verifica-se nesse período indícios de transições:

- entre o momento em que as viagens se restringiam às classes mais abastadas e a origem doturismo de massas da classe assalariada. No Ocidente, tem-se como marco a introdução das férias remuneradas pelo primeiro ministro francês Léon Blum, eleito em 1936. Tal medida, que se difundiu em vários lugares do mundo, permitiu que mais pessoas pudessem viajar. No bloco socialista essa providência foi anterior:

Em 1919, o primeiro "Estado Operário" do mundo - a União Soviética - nacionalizou as até então aristocráticas estâncias balneares de férias curativas na costa do Mar Negro, reclamando-as para um moderno serviço público de saúde; depois, em 1922, garantiu aos trabalhadores duas semanas de férias anuais remuneradas. (BEYER; HAGEMANN; ZINGANEL, 2013BEYER, Elke; ZIGANEL, Michael Zinganel; HAGEMANN Anke (eds.). Holidays after the Fall. Seaside Architecture and Urbanism in Bulgaria and Croatia. Berlin: Jovis, 2013. 256 p. + 25 colour plates., p. 37).

- entre a persistência do “Grande Hotel”, de origem no século XIX, como representação damodernidade e da elite e o surgimento dos chamados “Hotéis de Turismo”, voltados exclusivamente para o ócio e o entretenimento;

- entre reminiscências da tipologia formal e funcional dos hotéis tradicionais e o surgimento denovas respostas às demandas de hospitalidade, hospedagem e lazer. Há nesse período, portanto, a coexistência de tendências e linguagens arquitetônicas modernizantes, representados pelos movimentos como o Art Déco, além do protoracionalismo e do emergente Movimento Moderno, esse último presente em exemplares ainda isolados no contexto da cultura arquitetônica internacional.

Assim, o hotel não é um tipo de edifício completamente novo. Essa assertiva é interessante para compreender que a origem da tipologia hoteleira é remota e sua gênese remete às formas ancestrais de hospitalidade que permaneceram ou se transformaram ao longo do tempo em função das condicionantes sociais. Um novo ciclo de mudanças provocadas pela modernidade e pela modernização, bem como o advento do Movimento Moderno, contribuiu para suscitar metamorfoses espaciais, funcionais, técnicas e formais na tipologia hoteleira, concomitante ao incremento do turismo de massas.

AS PRÁTICAS SOCIAS DO TURISMO DE MASSAS

O período pós Segunda Guerra Mundial, marcado por reconstrução e por uma relativa trégua face à tensão permanente da “Guerra Fria”, favoreceu um maior incremento das viagens, suscitadas pela expansão da aviação comercial civil e pela generalização do automóvel como meio de transporte. Tecnologias essas, decorrentes do próprio progresso técnico desencadeado pelo conflito mundial.

O turismo de massas surgiu no contexto de primazia da industrialização e conforme foi relatado anteriormente, das conquistas trabalhistas, que acentuou a contraposição entre o tempo do negócio (produção) e o do ócio (consumo). Para Urry (2001, p. 17)URRY, John. O Olhar do turista: lazer e viagem nas sociedades contemporâneas. São Paulo: Studio Nobel, SESC, 2001. “o turismo é uma atividade de lazer, que pressupõe o seu oposto, isto é, um trabalho regulamentado e organizado”. Portanto, embora na lógica da produção industrial o tempo do trabalho tenha primazia, o tempo livre também alimenta a reprodução do modo de produção capitalista, pois “as leis do sistema (de produção) nunca entram de férias” (BAUDRILLARD, 2008BAUDRILLARD, Jean. A sociedade do consumo. Lisboa: Edições 70, 2008., p. 205). Ademais, o consumo verificado nas práticas de lazer e turismo constituiu uma forma de alienação e distinção social na sociedade industrial.

Entretanto, a democratização do lazer e do turismo é limitada, posto que na maioria dos lugares,

(...) ‘turismo de massa’ não significa ‘turismo das massas’, pelo simples fato de que as massas não fazem turismo. O turismo de massa é uma forma de organização do turismo que envolve o agenciamento da atividade bem como a interligação entre agenciamento, transporte e hospedagem, de modo a proporcionar o barateamento dos custos da viagem e permitir, consequentemente, que um grande número de pessoas viaje. (CRUZ, 2001CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Introdução à geografia do turismo. 2. ed. São Paulo: Roca, 2001. 107p., p. 6).

Ainda assim, os avanços no campo do desenvolvimento dos meios de transportes e do “Welfare State”, demandou a provisão de diversas infraestruturas turísticas e de lazer e a construção de vários tipos de meios de hospedagem. Some-se a isso o papel desempenhado pelo Estado na promoção dos lugares e nos incentivos à expansão do turismo que, favoreceu sobremaneira a atuação do mercado e de uma ampla cadeia produtiva e de serviços que o turismo aciona, funcionando como uma “nova indústria motriz” (VARGAS, 1996VARGAS, Heliana Comin. Turismo Urbano: Uma Nova Indústria Motriz. Boletim de Turismo e Administração Hoteleira. Faculdade Ibero Americana, São Paulo, v5, n2, p38-46, 1996.).

O papel dos Estados foi relevante no contexto da nova geopolítica da Guerra Fria, tanto no bloco capitalista como socialista. No Ocidente, o Plano Marshall teve função crucial na ratificação dos Estados Unidos da América como centralidade e potência bélica, econômica, política e cultural na nova ordem mundial do pós-guerra. Além disso, os próprios países europeus buscaram criar condições, isoladamente ou em bloco, para se reerguer. A ação dos Estados Unidos se impôs por meio de financiamentos, mas também da penetração de empresas internacionais em lugares estratégicos, inclusive por intermédio das cadeias de hotéis.

Para Wharton (2001)WHARTON, Annabel Jane. Building the Cold War: Hilton International hotels and modern architecture, Chicago: University of Chicago Press, 2001., a construção de hotéis da rede Hilton na Europa, Oriente Médio e África Setentrional foi estratégica no combate à ideologia do socialismo. Os “Hilton’s” constituíam expressões do poder do capital e do “american way of life”, como se fossem uma “little America”. Essa tática geopolítica é reforçada por Carbone (2002)CARBONE, Cristina. Journal of the Society of Architectural Historians, vol. 61, n. 3, 2002, p. 416-17. JSTOR, https://doi.org/10.2307/991800. Accessed 9 Feb. 2024.
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:

[...] os hotéis foram, tal como as embaixadas, construídos com créditos do Plano Marshal e a forma como o governo dos Estados Unidos encoraja ativamente os empreendimentos Hilton no estrangeiro. Os hotéis Hilton foram, segundo Wharton, os primeiros projetos de construção em grande escala realizados em muitas das principais cidades após a Segunda Guerra Mundial e, com eles, o modernismo e a modernidade americanos foram introduzidos nos tecidos sociais e arquitetônicos dos países que os acolheram. (CARBONE, 2002CARBONE, Cristina. Journal of the Society of Architectural Historians, vol. 61, n. 3, 2002, p. 416-17. JSTOR, https://doi.org/10.2307/991800. Accessed 9 Feb. 2024.
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, p. 416).

No lado socialista, o Estado teve papel primordial no estabelecimento de condições para usufruto do tempo livre e no fornecimento de infraestrutura de lazer e uma espécie de “turismo social”, muito embora as viagens ficassem restritas aos limites do domínio do bloco socialista. Lugares como a atual Croácia, Bulgária e antiga Iugoslávia foram alvo de intervenções importantes. “Após 1945, as economias socialistas estatais recém-emergentes seguiram o exemplo histórico soviético, tornando a provisão de descanso e relaxamento para os trabalhadores (e quadros do partido) um componente importante da sua agenda de política social”. (BEYER, HAGEMANN; ZINGANEL, 2013BEYER, Elke; ZIGANEL, Michael Zinganel; HAGEMANN Anke (eds.). Holidays after the Fall. Seaside Architecture and Urbanism in Bulgaria and Croatia. Berlin: Jovis, 2013. 256 p. + 25 colour plates., p. 40).

Em ambos os blocos, o papel do Estado é patente,

O compromisso com o planejamento racional e a arquitetura predominantemente moderna não era uma prerrogativa apenas dos regimes socialistas de Estado, pois também no Ocidente capitalista abundam exemplos de esquemas de desenvolvimento turístico em grande escala, planejados centralmente; no entanto, o bloco de Leste estava certamente em melhor posição para lhe dar uma expressão sem compromissos, no quadro de uma economia planejada. Por outro lado, enquanto a Europa ocidental se dedicava ao "turismo social", a maior parte dos países socialistas de Estado permitia a propriedade privada, as casas de férias privadas, os alugueres privados e (independentemente da posição oficial) também o "turismo selvagem", como demonstrou Christian Noack. (BEYER, HAGEMANN; ZINGANEL, 2013BEYER, Elke; ZIGANEL, Michael Zinganel; HAGEMANN Anke (eds.). Holidays after the Fall. Seaside Architecture and Urbanism in Bulgaria and Croatia. Berlin: Jovis, 2013. 256 p. + 25 colour plates., p. 53).

Contudo, há uma versão do “turismo social” igualmente no bloco capitalista, por meio da promoção, pelo Estado e pelas associações e sindicatos de trabalhadores, de colônias de férias, condomínios, clubes e espaços de recreação e lazer.

Várias paisagens (praias, lagos, montanhas, rios e cidades históricas) passaram da condição de recursos naturais e culturais a atrativos turísticos, seduzindo um público cada vez maior de visitantes. No compasso desse processo, a modalidade de turismo “sun, sand and sea” se consolidou em função da atratividade que as zonas litorâneas adquiriram no contexto da maritimidade moderna. Segundo Dantas (2014)DANTAS, Eustógio W. C. La maritimité sous les Tropiques: les contributions d’une étude réalisée à Fortaleza (Ceará). CONFINS (PARIS), p. 1-20, 2014., trata-se de novas formas de uso e apropriação do litoral (banhos de mar terapêuticos, vilegiatura ou veraneio e turismo litorâneo) desencadeadas pelas transformações sociais (econômicas, políticas e simbólicas) da modernidade, em contraposição às práticas marítimas tradicionais de origem histórica (pesca artesanal, porto e marinha). Note-se que há em vários lugares a coexistência dessas práticas, gerando, por isso mesmo, impactos e conflitos socioespaciais até a atualidade.

Na segunda metade do século XX a produção e o consumo dos espaços litorâneos se intensificaram e adquiriram o status de lócus privilegiado para fruição do lazer e do turismo de massa, ocasionando diversos fluxos de residentes, veranistas e turistas e, como consequência, grande deslocamento de capital e trabalho. Assim, o lazer passou a permear a vida da sociedade e a organização espacial. Segundo Candilis (1973)CANDILIS, George. Arquitectura y urbanismo del turismo de masas. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1973., três tipos de práticas de lazer ocupam a vida do homem: 1) lazer diário-urbano, 2) lazer semanal-suburbano e 3) lazer sazonal-regional.

Na Europa, em regimes democráticos ou mesmo nas ditaduras, ações do Estado e do mercado promoveram a ocupação extensiva e intensiva do litoral, tanto no Mediterrâneo como na costa sul atlântica do continente, como na França, Itália, Grécia, Espanha e Portugal.

Cabe ressaltar a grande intervenção na região Languedoc-Roussilon na Costa Mediterrânea da França. Trata-se de um grande projeto de urbanização denominado “Plano de Urbanismo de Interesse Regional” (PUIR), 1962-1964/1969) sob a responsabilidade de Agência de Arquitetura e Urbanismo, tendo Georges Candilis (1913-1995) no comando do plano (LOBO, 2013LOBO, Susana. Arquitectura e Turismo: Planos e Projectos. As Cenografias do Lazer na Costa Portuguesa, da 1ª República à Democracia. 2013. 1641f. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2013.). No leste Europeu, destaque para os planos na Costa do Mar Adriático e do Mar Egeu.

Em outros continentes, os usos litorâneos se intensificaram e vários destinos foram valorizados internacionalmente e localmente, como o Caribe, o México e os Estados Unidos, além da Austrália, com o desenvolvimento da Gold Coast e Sunshine Coast (MULLINS, 1991MULLINS, Patrick. Tourism urbanization. International Journal of Urban and Regional Research. (1593): 326-42, 1991.). Mesmo nos países considerados periféricos na América do Sul, há um incremento significativo de diversos lugares litorâneos como no Rio de Janeiro (Brasil), em Viña Del Mar (Chile), em Mar del Plata (Argentina) e em Punta Del Este (Uruguai).

Indiferentemente do sítio, as práticas de vilegiatura e banhos terapêuticos - que remontam ao Século XIX - e o emergente turismo foram importantes catalisadores da urbanização litorânea e turística. Assim, não somente os meios de hospedagem, mas um conjunto de infraestruturas e estruturas urbanas e edilícias foi construído para engendrar a expansão do turismo de massas.

Um impacto importante na arquitetura se refere às transformações verificadas em algumas tipologias arquitetônicas de origem mais remota (hotéis e pousadas) e a criação de novas (aeroportos, terminais de transporte rodoviário, colônias de férias, clubes desportivos, cassinos, etc.). Assim, as práticas de turismo e lazer demandaram novas exigências programáticas para sua fruição, que se inseria em um processo socioespacial mais abrangente relacionado ao início do processo de urbanização turística, suscitada pelo lazer e pelo consumo, diferente da urbanização atrelada à indústria, baseada no trabalho e na produção (MULLINS, 1991MULLINS, Patrick. Tourism urbanization. International Journal of Urban and Regional Research. (1593): 326-42, 1991.).

É interessante notar que no contexto de consolidação do turismo de massa, impulsionado pela internacionalização da aviação comercial e a expansão das rotas, há uma articulação muito forte entre as empresas aéreas e as redes de hotéis. Assim, as cadeias hoteleiras passam a ser subsidiárias das empresas aéreas, facilitando a comercialização dos pacotes de viagens (transporte + hospedagem) e viabilizando a gestão e os fluxos dos voos e seus tripulantes, que se valem destes meios de hospedagem4 4 Exemplos emblemáticos são a conexão entre a TWA e a cadeia Hilton; Pan Am eIntecontinental Hoteis, Air France e a rede Le Méridien (somente a partir da década de 1970), a Swissair e a Swissôtel (a partir da década de 1980), a American Airlines e a American Hotels e a Varig e a Companhia Tropical de Hotéis, no Brasil. .

De modo geral, os hotéis modernos foram construídos no contexto das práticas sociais supracitadas. Não é pretensão inventariar toda a produção de hotéis modernos no contexto do turismo de massa, mas é possível resgatar a gênese e as idiossincrasias do tipo hotel moderno.

OS MECANISMOS DO HOTEL MODERNO

Para Argan (1996)ARGAN, Giulio Carlo. Typology and Design Method. In: NESBIT, Kate (ed.). Theorizing a new agenda for architecture: an anthology of architectural theory 1965-1995. New York: Princeton Architectural Press, 1996., com base na definição de Quatremère de Quincy, o tipo constitui um conceito abstrato e indefinido que traduz uma essência comum a um conjunto de edificações que, por sua vez, expressam algumas analogias formais e funcionais justificadas por demandas de ordem social.

Para reforçar a compreensão do conceito de tipo, é importante considerá-lo dialeticamente como a articulação entre as tipologias funcionais, referente aos aspectos relacionados aos usos e destinações dos edifícios, e as tipologias formais, como a materialização dessas apropriações.

Uma vez materializadas, as formas são apropriadas conscientemente e, então, passam a ser portadoras dos conteúdos sociais. Rossi (2001, p.80)ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2001. pensa o conceito de tipo “como algo permanente e complexo, uma afirmação lógica que vem antes da forma e a constitui [...]. Tipo é a ideia genuína de arquitetura; o que é mais próximo de sua essência”. Nessa perspectiva, a ideia de arquétipo, compreendida como a origem, o princípio, a referência primordial permanente no tipo, constitui uma importante categoria teórica para se compreender as metamorfoses das tipologias arquitetônicas.

Como o Movimento Moderno estabeleceu uma tradição de ruptura em relação ao historicismo, abdicou dos estudos das tipologias como referência para o projeto, conforme salienta Argan (1996)ARGAN, Giulio Carlo. Typology and Design Method. In: NESBIT, Kate (ed.). Theorizing a new agenda for architecture: an anthology of architectural theory 1965-1995. New York: Princeton Architectural Press, 1996.. Entretanto, essa negação era mais um discurso, uma vez que a arquitetura moderna acabou por estabelecer os contra-tipos, qual seja, soluções arquitetônicas modernistas herdadas e renovadas para responder a antigas e permanentes demandas sociais, programáticas e também estéticas. Além disso, valorizaram significativamente a ideia de protótipo, conceito vinculado aos processos de industrialização e padronização decorrentes da modernização da construção.

Os protótipos arquitetônicos são produzidos essencialmente durante o Movimento Moderno, quando os métodos de projeto e construção tomam como referência o modo mecanicista da produção industrial e buscam exemplos que passam as máquinas repetíveis e articuláveis. (MONTANER, 2013MONTANER, Josep Maria. A modernidade superada. Ensaios sobre a arquitetura contemporânea. Barcelona: Gustavo Gili, 2013., p. 97).

Embora não seja o caso dos hotéis, surgem no século XX novos tipos e programas arquitetônicos no contexto das mudanças verificadas nas práticas socioespaciais da modernidade que, evidentemente, condicionaram o surgimento de formas inéditas de produção, uso e apropriação do espaço construído.

Assim, a compreensão da noção de tipo, tipologia e arquétipo, além dos conceitos de contra-tipo, protótipo e novos tipos, são, em conjunto, chaves de interpretação importantes para compreensão das transformações verificadas na tipologia dos meios de hospedagem. As primeiras categorias servem ao estudo das origens remotas do hotel, auxiliando a compreender as permanências históricas na tipologia hoteleira; as últimas, se prestam à apreensão das mudanças no tipo hotel suscitadas pelo modernismo arquitetônico e pelas práticas do turismo de massas.

Ainda na primeira metade do século XX, algumas respostas racionalistas para a solução do hotel e do “Grande Hotel” são emblemáticas na história da arquitetura: o Hotel Imperial de Tóquio (1922), de Frank Loyd Wright e demolido em 1967 e o projeto do Grande Hotel Babilônia (1923) em Nice, de Adolf Loos. Na Alemanha destaque-se o projeto do Colosso de Prora (1936), na Ilha de Rugen ao largo da costa oriental do Báltico.

Prora foi concebida para englobar toda uma gama de modernas instalações de lazer, cujos procedimentos deveriam ser optimizados à maneira taylorista e os movimentos dos hóspedes coreografados com precisão. O resort destinava-se a 20.000 turistas e todos os quartos deviam ter vista para o mar. O resultado foi um único edifício à beira-mar, com uma profundidade muito reduzida, mas com mais de 4,5 quilômetros de comprimento. (BEYER; HAGEMANN; ZINGANEL, 2013BEYER, Elke; ZIGANEL, Michael Zinganel; HAGEMANN Anke (eds.). Holidays after the Fall. Seaside Architecture and Urbanism in Bulgaria and Croatia. Berlin: Jovis, 2013. 256 p. + 25 colour plates., p. 40).

No período entre guerras, verificou-se um certo afastamento das atitudes historicistas e foi sendo incorporada aos projetos aspectos de uma modernidade menos erudita como linguagem arquitetônica dos hotéis, identificada com as tendências protoracionalistas e Art Déco. No período supracitado, “o Movimento Moderno é marginalmente representado, mas versões de “modernidade” são mais características do hotel de arranha-céus de Shangai, Nova York e Canadá, do que de poucas na Europa” (DENBY, 1998DENBY, Elaine. Grand Hotels: Reality and Illusion. London: Reaktion Books, 1998., p. 8).

A importância de se construir um grande hotel como signo de progresso e modernidade persistiu na passagem da década de 1940 para 1950, à altura em que o Movimento Moderno se estabelecia como a principal expressão da cultura arquitetônica e técnica do século XX. Portanto, ainda que o modernismo arquitetônico desejasse se afastar da ideia de monumentalidade, alguns dos “Grande Hotéis” modernos ainda possuíam um apelo simbólico característico dos monumentos, demonstrando que permanecia no hotel, reminiscências históricas, ao mesmo tempo em que são incorporadas as contribuições da vanguarda.

Leão (1996) resgata as transformações do hotel moderno com base no pensamento e na obra de Le Corbusier. A autora estabelece articulações dos hotéis modernos aos Immeuble Vilas e à deferência do mestre ao transatlântico. Essas considerações reforçam o argumento levantado em relação ao caráter híbrido e de “máquina” do hotel moderno.

Para Leão (1996), a ideia de vida coletiva, presente nos manifestos e alguns projetos construídos de Le Corbusier possui como referência o Mosteiro Cartuxo em Galuzzo, visitado pelo arquiteto em 1907. No projeto de Immeuble Villas de 1922 essas influências são evidentes. Trata-se uma nova fórmula de moradia na metrópole, onde “cada apartamento é, na realidade, uma pequena casa com um jardim, localizada a qualquer altura acima de uma via”5 5 Fundação Le Corbusier . Prevalece nessas propostas o pátio interno como elemento estruturante do espaço.

No início de sua atuação, Le Corbusier estabeleceu protótipos básicos para a habitação, como o sistema Dom-Inó (1914), a Casa Monol (1919) e a Casa Citrohan (1922). Entretanto, o sistema Dom-Inó, pela sua ideia abstrata e indefinida pode ser considerado, além de um protótipo, um “tipo moderno” que repercutiu e influenciou uma série de tipologias arquitetônicas e culminou na proposição dos cinco pontos para uma nova arquitetura (pilotis, planta livre, fachada livre, janela em fita e terraço jardim).

Muitas propostas derivadas do esquema de estrutura independente do sistema Dom-Inó, como Cité de Refuge (1932-33) (Figura 01) e o Pavillon Suisse (1930-32) (Figura 02), que possuíam função essencial de alojamentos, constituem referências tipológicas fundamentais para a configuração do hotel moderno.

Figura 1
Plantas Cité de Refuge, Paris, France, 1932. Le Corbusier.

Figura 2
Plantas Pavillon Suisse, Cité Internationale Universitaire, Paris, France, 1930, Le Corbusier.

Diferente das Immeuble vilas, que se desenvolviam em torno do pátio, esses dois projetos supracitados consolidaram a ideia de bloco modulado elevado como uma contribuição moderna a várias tipologias arquitetônicas. A proposta moderna do “object-in-a-field”, em que o edifício se impõe solto em meio ao sítio ou ao lote, extinguindo a configuração da rua-corredor, contribuiu para o surgimento de novos arranjos do bloco modulado solitário ou composto e a aplicação dos cinco pontos.

A Unité d'habitation de Marseille (1945-1952)6 6 Para Montaner (2001), Le Corbusier se influencia pela solução do Construction Committee(Stroikom) of the Economic Council of Russian Soviet Federative Socialist Republic (RSFSR). , estágio mais elaborado do sistema Dom-Inó, constitui uma referência significativa do caráter híbrido da arquitetura que ecoa no hotel, a saber: a diferenciação quantitativa e qualitativa de unidades habitacionais, o agenciamento de elementos modulares e repetidos como protótipos; o destaque dos elementos singulares; a articulação de uma multiplicidade de usos e acessos; o contanto entre diferentes usuários e abertura para o ambiente urbano, etc. Trata-se ainda de uma estrutura edilícia que ratifica a noção de coletividade presente no falanstério e no transatlântico (MONTANER, 2001MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001.), agrupando em um único complexo alguns dos fragmentos da própria cidade.

O transatlântico foi uma referência de máquina e artefato industrial essencial utilizado por Le Corbusier para emplacar a “nova arquitetura” e uma legítima ode à modernidade. O transatlântico (Figura 03), antecipa e reproduz a ideia do hotel moderno, marcado pelo rigor da estrutura formal, racional e despida de preocupações estilísticas e ornamentais. “Mas os construtores de navios, ousados e eruditos, realizam palácios perto das quais as catedrais são muito pequenas: e elas as jogam na água” (LE CORBUSIER, 2014LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. São Paulo, Perspectiva, 2014. [1923], p. 71).

Figura 3
Corte IInstalação do Paquebot Ile de France, nenhum lugar específico, 1936 - Notice en chantier.

O caráter híbrido de um transatlântico não se expressa exclusivamente na diversidade de usos e funções que comporta, mas também na fusão do meio de transporte e hospedagem em um único mecanismo moderno, numa realidade finita. Na afirmação de Le Corbusier, “o navio é o primeiro passo na realização de um mundo organizado de acordo com o novo espírito” (LE CORBUSIER, 2014LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. São Paulo, Perspectiva, 2014. [1923], p. 80). Tanto no hotel como no transatlântico, há um interesse em criar uma ideia de autossuficiência funcional, uma máquina.

Ainda que o transatlântico seja um hotel burguês flutuante, o seu caráter híbrido se revelava também nas diferentes classes sociais que conduzia nos seus percursos de viagem e todo o aparato de serviços e serviçais, equipamentos e tecnologias para viabilizar a sua existência e autossuficiência, como uma máquina de transportar e hospedar, semelhante ao hotel.

Embora não tenha projetado nenhum hotel7 7 Le Corbusier desenhou um Aménagement de Paquebot Ile de France (1936). , Le Corbusier, de certa forma, celebrou o turismo e o hotel por meio da valorização funcional e estética presente no desenho, na forma e na funcionalidade do navio, do avião e do automóvel, mecanismos essenciais para a realização do turismo de massa.

Se o sistema Dom-Inó (1914), a Casa Monol (1919) e a Citrohan (1922) constituem protótipos que sustentam o argumento da máquina de morar, as propostas para o alojamento/hospital, a habitação coletiva e o transatlântico podem ser considerados os protótipos dos hotéis modernos, qualificando-os como máquinas de hospedar.

É importante destacar que, para além das aproximações tipológicas entre os hotéis e a habitação coletiva, há também articulações entre o hotel e o hospital, que remontam á origem histórica de ambos relacionados aos claustros cristãos (mosteiros e conventos) e que, na modernidade se manifestaram entre o hotel e o sanatório.

Os sanatórios surgem no contexto de medidas de sanitarismo e higienismo e de valorização de certos lugares como propícios às atividades terapêuticas e de cura. Assim, verificam-se soluções comuns usadas não somente nos sanatórios, mas também em edifícios de habitação coletiva e nos hotéis, visíveis nos terraços e balcões que proporcionavam iluminação e ventilação natural, além da aeração dos ambientes, como forma de tratar e cultivar o corpo e o espírito. “O modelo sanatório, mas acima de tudo seu terraço individual ou coletivo, começa a ser inseparável das diferentes formas de habitação coletiva dedicada ao turismo, lazer, descanso ou terapia” (MORALES, 2013MORALES, Eduardo Jimenez. Génesis del hotel turístico. In: PIE, R.; ROSA, C. (ed). Turismo líquido. Málaga: Universidad de Málaga y ETSA Málaga, 2013, p. 108-121., p. 109).

Ainda que os hotéis modernos apresentem em comum os princípios racionalistas característicos do movimento, há uma heterogeneidade de variações em razão das condicionantes sociais de cada inserção geográfica e histórica, bem como da situação do lugar nos fluxos do turismo de massa. Como o assunto é demasiadamente abrangente e excede o formato do presente artigo, pretende-se elencar de forma genérica aspectos das tipologias formais/funcionais do hotel moderno que apontam para o argumento que se trata de uma máquina de hospedar.

Os mecanismos do hotel moderno se manifestam principalmente no arranjo espacial e programático do pavimento tipo que abriga as unidades habitacionais.

A organização do pavimento tipo é condicionada em grande medida pela articulação entre a circulação vertical e horizontal. Essa última preside toda a distribuição de acessos às suítes e genericamente possui as seguintes configurações:

- corredores lineares que atendem uma bateria de quartos: soluções adotadas em projetos commenos restrições em relação ao índice de aproveitamento e à localização dos quartos busca situações de vistas ou condições conforto ambiental mais privilegiadas;

- corredores lineares que atendem duas baterias de quartos: soluções mais recorrentes em hotéislocalizados em terrenos valorizados e em sítios mais adensados, em que há uma maior demanda de aproveitamento do solo urbano;

- corredores com formas complexas: nestes casos as circulações horizontais acompanham opartido do projeto, que pode ser desde circulações voltadas para um grande átrio interno até soluções em que a planta do hotel é mais complexa.

A unidade habitacional do hotel, geralmente composta por quarto, vestíbulo, banheiro e às vezes varanda ou sacada, constitui um mecanismo importante no projeto do hotel moderno. Esse conjunto compõe um genuíno protótipo na construção, trata-se de um módulo que estabelece padronizações no nível estrutural, construtivo, de instalações, de equipamentos, de mobiliário, entre outros. Os quartos frequentemente se agrupam dois a dois e são unidos pelos shafts dos banheiros. Uma maior variação na disposição dos quartos ocorre nas extremidades dos pavimentos tipo, em pontos de inflexão da planta, ou agrupando dois módulos de quartos (Figura 04).

Figura 4
Layout típico de planta baixa - um corredor para dois conjuntos de quartos: SAS Hotel, 1960, Copenhagen, Dinamarca, Arne Jacobsen.

Essa espécie de coordenação modular repercute notadamente na concepção, disposição, produção em série do mobiliário (Figura 05) e se expressa francamente na forma do edifício. A repetição dos módulos das unidades habitacionais do hotel confere regularidade e ritmo à forma, visíveis na identificação das estruturas e vedações, em lajes em balanço e varandas individuais ou coletivas, que se anunciam numa linguagem abstrata, própria do modernismo arquitetônico.

Figura 5
Variações de layout com o mesmo mobiliário: SAS Hotel, 1960, Copenhagen, Dinamarca, Arne Jacobsen.

Outra analogia que pode ser atribuída ao hotel como uma máquina de hospedar se refere aos avanços tecnológicos das instalações e equipamentos. Desde o século XIX, os hotéis são tipologias que empregaram de forma pioneira o elevador, o gás, a eletricidade, o telefone, a calefação, entre outras comodidades. Nos hotéis do século XX, o apuro tecnológico é incrementado e as áreas de serviço adquirem ganho quantitativo e qualitativo para viabilizar o funcionamento, os variados serviços ofertados pelo hotel e o fluxo de hóspedes e empregados, além dos insumos e mercadorias.

O advento do concreto, do aço, do vidro, bem como o elevador repercutiu no desenvolvimento de técnicas e tecnologias que viabilizaram novas formas de uso e concepção espacial e estrutural, além de repercutirem na linguagem do edifício. Só para citar um exemplo, desde a década de 1960, muitos hotéis adotaram o concreto aparente como expressão plástica, se alinhado às tendências brutalistas vigentes. Como não faz parte do escopo e do formato desse artigo abranger toda a produção de exemplares, é possível sintetizar que prevalecem nos hotéis modernos os valores universais preconizados pelo Movimento Moderno e uma adaptação à realidade do lugar se realiza por meio da integração das artes, ou a ideia de “obra de arte total”, articulando arquitetura, interiores, artes plásticas e paisagismo de forma racional e com evidentes analogias aos mecanismos da lógica da produção industrial.

CONCLUSÃO

Vargas (2019)VARGAS, Heliana Comin. Espaços de consumo e a arquitetura de Morris Lapidus. Arquitextos, São Paulo, ano 19, n. 224.02, Vitruvius, jan. 2019 . advoga que os espaços de consumo, como lojas, shoppings e inclusive os hotéis, “foram colocados no ostracismo pela elite arquitetônica vinculada ao Movimento Moderno e adepta do estilo internacional, juntamente com seus críticos” (VARGAS, 2019VARGAS, Heliana Comin. Espaços de consumo e a arquitetura de Morris Lapidus. Arquitextos, São Paulo, ano 19, n. 224.02, Vitruvius, jan. 2019 ., p. 1). Esta constatação é muito significativa, uma vez que alerta para a importância e a necessidade de revisões teóricas e historiográficas no campo da articulação entre o turismo, o lazer e a modernidade arquitetônica e, especificamente, sobre os hotéis modernos.

O hotel moderno se encontra na encruzilhada entre o passado, o presente e o futuro, posto que em razão de serem patrimônios recentes, essas obras acabam por ter uma condição de vulnerabilidade, pois não são suficientemente antigos para serem classificados como objeto de interesse de salvaguarda, nem atuais o bastante para atender às mudanças tecnológicas e à crescente tendência de comodificação e valorização da renda da forma exigida na cultura arquitetônica contemporânea.

Nesse sentido, uma reflexão teórica sobre a tipologia (funcional e formal) dos hotéis, identificando rupturas e permanências em relação às transformações suscitadas pelas práticas contemporâneas do turismo flexível e do turismo 4.0 (PAIVA, 2021PAIVA, Ricardo Alexandre. O hotel na modernidade: metamorfoses de uma tipologia arquitetônica híbrida | The hotel in modernity: metamorphoses of a hybrid architectural typology. Oculum Ensaios, [S. l.], v. 19, 2021. DOI: 10.24220/2318-0919v19e2022a4889. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/oculum/article/view/4889. Acesso em: 8 fev. 2024.
https://periodicos.puc-campinas.edu.br/o...
), constituem subsídios relevantes para a sua conservação, que demanda intervenções projetuais sensíveis e capazes de respeitar a dignidade da materialidade dos hotéis modernos, seja na manutenção do seu uso ou mesmo em casos de reuso.

Atualmente, as tecnologias digitais tendem a interferir na configuração espacial dos hotéis, na automação e comando agora de uma “máquina digital de hospedar”, por meio de dispositivos virtuais como tablets, smartphones ou comandos remotos. Entretanto, é importante reivindicar que essas mutações tecnológicas estejam a favor da manutenção e conservação dos hotéis modernos, uma vez que eles expressam a sobrevivência de reminiscências historicamente constituídas da tipologia do hotel no contexto do turismo de massa.

Assim, se fazem urgentes revisões históricas e abordagens teóricas e críticas que sistematizem a produção de conhecimento sobre o processo de modernização pelo viés do turismo e sua relação dialética com a produção da arquitetura, não somente de hotéis, mas de variadas tipologias arquitetônicas suscitadas pelas práticas de lazer da sociedade e suas manifestações tangíveis e intangíveis.

AGRADECIMENTOS

À CAPES, que concedeu a Bolsa de Professor Visitante Junior para a realização da pesquisa de pós-doutorado junto ao Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa (UL), em Portugal.

NOTAS

  • 1
    Pevsner (1976)PEVSNER, Nikolaus. A. History of Building Types. Princeton: Princeton University Press, 1976. faz referência, na década de 1950, ao Hotel Hilton (1953-1955) em Istambul,de Skidmore, Owings & Merrill y Sedad H. Eldem e, na década de 1960, ao Hotel SAS Royal (1960) em Copenhague, de Arne Jacobsen (1902-1971).
  • 2
    O acento circunflexo indica a supressão de um “s” latino, que permaneceu em hospitaliser,hospice, etc.
  • 3
    "Quanto ao uso do termo "hotel" em inglês, o Oxford English Dictionary observa as trêsocorrências iniciais a seguir - Smollett em 1766; "a despesa de morar em um hotel é enorme"; 'R. King em Travels & Correspondence, 1776 : 'seus hotéis'; e H. Arnot em História de Edimburgo, 1783: 'Em 1763, não havia lugar como hotel; a palavra de fato não era saber, ou apenas inteligível para estudiosos franceses” (PEVSNER, 1976PEVSNER, Nikolaus. A. History of Building Types. Princeton: Princeton University Press, 1976., p. 172).
  • 4
    Exemplos emblemáticos são a conexão entre a TWA e a cadeia Hilton; Pan Am eIntecontinental Hoteis, Air France e a rede Le Méridien (somente a partir da década de 1970), a Swissair e a Swissôtel (a partir da década de 1980), a American Airlines e a American Hotels e a Varig e a Companhia Tropical de Hotéis, no Brasil.
  • 5
    Fundação Le Corbusier
  • 6
    Para Montaner (2001)MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001., Le Corbusier se influencia pela solução do Construction Committee(Stroikom) of the Economic Council of Russian Soviet Federative Socialist Republic (RSFSR).
  • 7
    Le Corbusier desenhou um Aménagement de Paquebot Ile de France (1936).

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Editado por

Editores Responsáveis

Alexandra Maria Oliveira
Alexandre Queiroz Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    09 Fev 2024
  • Aceito
    01 Abr 2024
  • Publicado
    10 Maio 2024
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