Resumo
O artigo descreve a recepção da Teoria Crítica Alemã (Escola de Frankfurt) no campo da Educação Física no Brasil. Demostra sua apropriação por autores brasi-leiros na crítica produzida ao esporte de alto-rendimento e na renovação pedagó-gica da disciplina escolar. Conclui pela necessidade de se seguir estudando a pre-sença dessa teorização na Educação Física, atualizando seus pressupostos à luz da paisagem cognitiva e política contemporânea..
Palavras-chave Educação Física; Esporte; Teoria crítica; Brasil
Abstract
The present article aims to describe the reception of the Critical Theory (Frankfurt School) in the field of Physical Education in Brazil. And also to reveal its appropria-tion by Brazilian authors regarding the high performance sport critique and the pe-dagogical renewal of school subjects. Thus, it can be concluded that further studies regarding the presence of this theorization in Physical Education are needed, sta-ying up to date to its assumptions in the light of the contemporary cognitive and poli-tical landscape.
Keywords Physical Education; Sports; Critical Theory; Brazil
Resumen
El artículo describe la rececpción de la Teoría Crítica Alemana (Escuela de Frank-furt) en el campo de la Educación Física en Brasil. Demuestra su apropriación por autores brasileños en la crítica producida al deporte de alto rendimiento y en la re-novación de la disciplina escolar. Concluye la necesidad de continuar estudianto la presencia de esta teorización en la Educación Física, actualizando sus presupues-tos a la luz del paisaje cognitivo y político contemporáneo.
Palabras clave Educación Física; Deporte; Teoría crítica; Brasil
INTRODUÇÃO1
A Alemanha exerceu considerável influência no recente desenvolvimento do campo científico da Educação Física/Ciências do Esporte de muitos países da América Latina. Essa presença não levou aos mesmos desenvolvimentos conceituais e institucionais nem foi recebida sem lutas e tensões, mas é inegável o “carimbo” alemão na constituição da Educação Física/Ciências do Esporte em diversos lugares da América Latina (Eusse; Santos; Levoratti; Almeida, 2023). Focarei minha atenção, para atender ao título desta mesa, que dá origem a este artigo, na “entrada” de uma teoria crítica alemã no referido território. Todavia, antes de continuar, faço dois esclarecimentos.
O primeiro diz respeito à amplitude da expressão teoria crítica alemã que, no extremo, remete a um gigantesco empreendimento intelectual que remonta aos escritos de Karl Marx no século XIX e que teria se diversificado, desde então, no que se pode chamar de “marxismo ocidental”, enunciado que inclui intelectuais propriamente alemães, como Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benjamin, Karl Kosch, Erich Fromm, entre muitos outros, mas também se aplica a autores, de distintas nacionalidades, que construíram suas análises à luz da tradição crítica inaugurada por Marx, como Luckács, Gramsci, Althusser, Sartre, Thompson, Bourdieu etc. Sendo assim, é importante delimitar e dizer que, aqui, chamarei “teoria crítica alemã” aquele empreendimento intelectual reunido em torno da Escola de Frankfurt, incluindo os desdobramentos teóricos observados no interior do próprio Instituto de Pesquisa Social localizado na cidade de Frankfurt. Adotar essa “escola” de pensamento não garante, como pode sugerir, unidade e concordância epistemológica/política. Esse fato é ainda mais evidente se compararmos, diacronicamente, as teses de seus membros “fundadores” com o pensamento de autores de gerações mais recentes, como Jürgen Habermas e Axel Honneth (alguns, inclusive, questionam se esses dois intelectuais ainda seriam representantes daquela Escola, uma análise em que não pretendo entrar aqui).
Em segundo lugar, tomei o campo brasileiro da Educação Física/Ciências do Esporte como referência para discutir a presença e a contribuição da teoria crítica alemã na sua constituição. Fiz isso não apenas por prudência, devido à enorme extensão da América Latina, mas também por que avalio que uma teoria crítica, nos termos aqui descritos, não se consolidou (em alguns casos, nem mesmo instalou-se) como uma tradição de pensamento importante para a renovação dos discursos da disciplina na América Latina.
Feitas essas ressalvas, é impossível falar da presença da teoria crítica alemã na Educação Física/Ciências do Esporte no Brasil sem situá-la em relação a dois temas: de um lado, a crítica ao esporte; de outro, o debate pedagógico/epistemológico da disciplina. Embora essas duas dimensões estejam imbricadas, serão abordadas separadamente por uma questão meramente didática. A reflexão se organiza em uma única sessão, seguida das considerações finais.
2 TEORIA CRÍTICA ALEMÃ NO BRASIL: RECEPÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Sabe-se que não é a teoria crítica da Escola de Frankfurt quem inaugura uma atitude crítica em relação ao esporte. Já no início do século XX, uma “velha esquerda”, fosse ela comunista, socialista ou anarquista, estampava nas páginas suas desconfianças em relação ao caráter burguês do esporte. Dava a entender, em suas análises, que o problema não era o “esporte em si”, mas os valores que veiculava quando orientados pela classe burguesa (Bracht, 2011). Não surpreende advogarem em favor da construção de um esporte proletário, que representasse os valores da classe trabalhadora. Esse pioneiro julgamento mais “à esquerda”, contudo, não repercutiu nos periódicos e livros do nascente campo da Educação Física, que desferiu seus “golpes” ao fenômeno esportivo desde outros “lugares” conceituais. É conhecido desse período o debate sobre o que seria mais benéfico à educação de crianças nas escolas: a ginástica ou o esporte (Almeida, 2008). Também se discutiam os contornos de uma “forma escolar para o esporte” baseada nos valores do amadorismo em vez do malfadado profissionalismo (Linhales, 2006). Já nos anos 1970, conforme investigação de Oliveira (2001), também foram elaboradas críticas ao processo de esportivização da Educação Física, então transformada em treino desportivo. Muitas dessas análises foram registradas nas páginas da “Revista Brasileira de Educação Física e Desportes”, periódico “oficial” do regime ditatorial. A própria campanha mundial “Esporte para Todos” (EPT), capitaneada, no Brasil, por Lamartine Pereira da Costa, produziu uma crítica ao elitismo da prática esportiva de alto nível ao se opor à especialização, à mecanização do movimento, à disciplina corporal para valorizar, ao contrário, o discurso do lazer, da saúde, da integração/participação social/civismo etc.2
Nenhuma dessas abordagens analíticas sobre o esporte que repercutiram na Educação Física estiveram baseadas em uma teoria crítica da sociedade, representada, aqui, pela Escola de Frankfurt. Nem mesmo os inúmeros alemães que estiveram no Brasil por conta do convênio estabelecido com a Alemanha, entre eles Jürgen Dieckert e Reiner Hildebrantd, ambos professores visitantes na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no início dos anos 1980, foram responsáveis por introduzir o vocabulário dessa tradição.3 Tampouco foi Hans Lenk, portador de um discurso oficial e “conservador” do esporte na Alemanha (e por isso mesmo um fervoroso oposicionista da teoria crítica alemã do esporte), que se deu ao trabalho de discutir tal perspectiva nos cursos sobre Sociologia/Filosofia do Esporte que ministrou, nos final dos anos 1970, na Universidade de São Paulo (USP), na UFSM e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ou seja, o conhecimento da crítica ao esporte inspirada em uma teoria crítica alemã não é obra dos próprios alemães que estiveram no Brasil, desde pelo menos os anos 1960, com a assinatura do acordo de cooperação com aquele país (Santos, 2022).
Conforme os estudos conduzidos por Vaz (2001, 2006) e por Torri e Vaz (2006), uma teoria crítica alemã do esporte, influenciada pelos intelectuais do que ficou conhecido como “nova esquerda”, chega ao país de forma indireta (importante demarcar isso) nas interpretações que uma brasileira, sem qualquer vínculo com a Alemanha, fez daquela tradição. Trata-se da professora Kátia Brandão Cavalcanti, autora tornada célebre devido a sua dissertação de mestrado intitulada “Esporte para Todos: um discurso ideológico”, trabalho defendido em 1982 e publicado no formato de livro dois anos depois (Cavalcanti, 1984). Antes mesmo da conclusão da sua dissertação, Cavalcanti já veiculava esse discurso contra o esporte, como se pode ler em suas publicações entre 1980 e 1982. Aliás, no ano de conclusão da sua dissertação, ela esteve ministrando cursos na edição do “I Congresso Brasileiro de Esporte para Todos”, realizado na cidade de Curitiba, em 1982. Segundo testemunho de Valter Bracht (2024),4 que naquele momento era estudante de mestrado na Universidade Federal de Santa Maria, ele acompanhou “de perto” as palestras da pesquisadora para entender sua perspectiva crítica do fenômeno. Valter Bracht (Almeida; Gomes, 2014), como contou em uma entrevista, estava interessado nas ideias de Cavalcanti por que tinha lido, dois anos antes, seu artigo “Características do esporte na sociedade industrial” (Cavalcanti, 1980), que era baseado, fundamentalmente, nas análises do sociólogo francês Jean Marie Brohm. Segundo Vaz (2001, 2006) e Torri e Vaz (2006), as análises do autor francês remontavam, de modo parcial e seletivo (e é importante destacar isso), a conceitos de Marcuse e Adorno com o objetivo principal de denunciar os vínculos entre o esporte e o trabalho alienado na sociedade capitalista. O pioneirismo de Cavalcanti, ainda de acordo com Vaz (2001, 2006) e Torri e Vaz (2006), deve ser reconhecido, pois ela teve o mérito de introduzir, desde a Educação Física, a teoria crítica do esporte, de inspiração frankfurtiana, no país. Fez isso em um momento em que as Ciências Humanas e Sociais brasileiras ainda não tinham voltado, com prioridade, sua atenção ao fenômeno.
O interesse de Valter Bracht pela temática, despertado ainda no seu curso de mestrado, alimentou seu desejo de realizar o doutorado na Alemanha, na Universidade de Oldenburg. Seguiria, assim, o caminho já trilhado por seu grande amigo no mestrado, Elenor Kunz. O destino, contudo, seria diferente. Dieckert, professor da Universidade de Oldenburg então cedido à UFSM, mediou a conversa do colega brasileiro com Bero Rigauer, nome central da teoria crítica alemã do esporte e autor de um livro “obrigatório” dessa tradição, intitulado “Esporte e Trabalho” (1968) – ainda não traduzido para o português. Sob a orientação de Rigauer, Bracht defendeu, em 1990, a tese de doutorado denominada “Sport und Politik in Brasilien” (Esporte e Política no Brasil). O material foi organizado em três partes, segundo Bracht (2024)5 explicou: uma delas em que pensou a relação do esporte com a política estatal; a segunda discutia a dimensão política da socialização por meio esporte – o argumento dessa parte, construído com base em entrevistas com alunos de sétima e oitava série de escolas de Maringá e Curitiba, seguia linha parecida com o que escreveu em “A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo...capitalista”, cuja primeira versão é de 1985. A última parte da tese se dedicou a refletir sobre as práticas corporais como um elemento da cultura, o que o fez tomar a capoeira como objeto da sua reflexão à luz das interpretações de Marilena Chauí no livro “Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil”, de 1986. A tese, como se vê, não foi construída à luz de conceitos frankfurtianos propriamente ditos. Em parte, o autor informa que, naquele momento, não dominava suficiente bem essa tradição para usá-la. Ao mesmo tempo, explica que Rigauer, no final dos anos 1980, estava trabalhando com outras teorias nos colóquios com seus estudantes, o que o teria influenciado em suas escolhas conceituais na pesquisa.
Em 1997, já no Brasil, ele voltará ao tema da teoria crítica do esporte ao descrever algumas teses daquela tradição no âmbito de um livro dedicado a introduzir distintas apreciações do fenômeno esportivo. A obra, publicada pela editora da Universidade a que Valter acabara de chegar dois anos antes, a Universidade Federal do Espírito-Santo (UFES), teve uma quarta edição em 2011, acrescida de um prefácio,6 em que o estudioso reforça o argumento de que o livro objetivava oferecer uma introdução ao tema, sem tomar uma posição definitiva em favor de uma ou outra abordagem do fenômeno. Três anos depois da publicação dessa edição, quando indagado sobre a atualidade da teoria crítica alemã descrita no capítulo 3 daquela obra, Bracht (Almeida; Gomes, 2014, p. 304-305) ofereceu a seguinte reflexão:
Acho que o grande desafio da Teoria Crítica do Esporte é exatamente dizer em que medida ainda este conceito é produtivo para pensar, para refletir, para construir teoria social acerca do fenômeno esportivo. Eu diria que [...] haveria a necessidade de se fazer uma releitura da Teoria Crítica construída nas décadas de 60, 70, não só no sentido de revisar as teorias, como também ver qual é o alcance daquelas perspectivas na conjuntura social contemporânea, quer dizer, em que medida as mudanças sociais que vêm ocorrendo exercem uma pressão, no sentido de rever os próprios conceitos com os quais nós operamos para pensá-la. [...] Um dos grandes desafios é esse: É, ainda, pertinente falar de Teoria Crítica em geral mas, também, em relação ao esporte? O que significa isso hoje? Esse é um desafio teórico enorme, dada a pluralidade teórica colocada. [...] Tem todo um debate sobre como a virada linguística, seja sob a perspectiva da hermenêutica, seja sob a perspectiva da Filosofia analítica, apresenta implicações para o que temos chamado de teoria crítica; o debate entre realismo e relativismo, etc., tudo isso influencia essa questão
(Bracht, 2014, p. 304-305).
Valter Bracht tem se ocupado desses desafios no plano geral do pensamento crítico (Bracht, 1999, 2016, 2021), não prescindindo de situar seus efeitos no esporte (Bracht, 2002, 2019b). Em ao menos duas dessas análises, ele mobilizou conceitos da teoria crítica alemã. Na primeira delas, com colaboradores, recorreu aos conceitos de Zygmunt Bauman e Jürgen Habermas para discutir o papel público dos intelectuais que estudam o esporte e suas instituições em tempos pós-metafísicos (Bracht; Gomes; Almeida, 2014). Na outra, ele (2018) recorreu a Axel Honneth em uma avaliação sobre as condições de possibilidade de uma crítica imanente ao esporte de alto rendimento. Na reflexão, argumentou que há valores normativos no esporte, como o cavalheirismo, a retidão moral, a igualdade, o prazer pelo jogo etc., que se tornam patológicos quando o pressuposto da participação nas atividades esportivas é racionalizado, ou seja, quando se aproxima de uma atividade econômica, momento em que a imagem esportiva e os próprios atletas passam a ser uma mercadoria muito valiosa (Bracht, 2018). Seria tarefa de uma teoria crítica do esporte, à luz dessa compreensão, reconstruir “[...] dentro da realidade social mesma as ideias ou aspirações normativas cujo caráter transcendente permitirá então submeter a ordem social existente à uma crítica fundamentada”. Valter Bracht não voltou a esse tema, a partir da referida abordagem, desde então.
Outro capítulo especial sobre a presença da teoria crítica do esporte na Educação Física brasileira está vinculado ao trabalho daquele que, como disse Bracht no prefácio da quarta edição do seu livro de 1997, apresenta-se não só como o principal divulgador dessa perspectiva na América Latina, mas é quem tem “[...] renovado e explorado o potencial analítico e compreensivo dessa teoria em relação a este fenômeno” (Bracht, 2011, p. 14). Refiro-me a Alexandre Fernandez Vaz.
A história de Alexandre Vaz com essa tradição crítica alemã do esporte começa ainda nos anos 1990, período que é também marcado pela convivência com Elenor Kunz, que fora seu professor na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) após retornar de sua experiência de doutoramento na Universidade de Hannover, na Alemanha. Neste começo da década de 1990, aparecem os primeiros textos de Alexandre Vaz com base na teoria crítica alemã, particularmente a de sua primeira geração. Destaco dois, embora existam outros. O primeiro é um capítulo de livro organizado por Valter Bracht, Silvana Goellner e Amarílio Ferreira Neto e publicado, em 1995, sob os auspícios do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Ele não se ocupou do esporte propriamente dito ao oferecer uma interpretação crítica da atividade filosófica da Educação Física pós-movimento renovador da disciplina, oportunidade para refletir sobre a perspectiva conceitual de alguns autores importantes àquela altura, como Silvino Santin e o próprio Elenor Kunz (Vaz, 1995a).
É deste ano, por sua vez, a escrita da dissertação intitulada “Razão e corporeidade: elementos para a compreensão da cultura corporal na modernidade” (Vaz, 1995b), ocasião para, no seu último capítulo, discutir o declínio da experiência no esporte moderno e propor, a partir da própria cultura esportiva, uma relação não autoritária entre ser humano e natureza, tema que aparecerá em muitos outros textos de Vaz na sequência de sua trajetória acadêmica.
No final dos anos 1990, Alexandre Vaz vai realizar seu doutoramento na Universidade de Hannover, sob a orientação de Andreas Trebels, que já era conhecido do público brasileiro por ter sido orientador de Elenor Kunz. A eles, juntar-se-á Detlev Claussen, proeminente herdeiro da teoria crítica clássica.7 A presença em território alemão permitiu a Alexandre Vaz aprofundar sua relação com a teoria crítica do esporte, oferecendo uma abordagem menos seletiva e mais aprofundada dos conceitos frankfurtianos, particularmente à luz de Adorno, Horkeimer, Benjamin e Marcuse, na análise do fenômeno esportivo. Da mesma forma, possibilitou ao pesquisador analisar as críticas de outros estudiosos do esporte à teoria crítica do esporte, como Hans Lenk, Richard Grueneau e Eric Dunning; apontar lacunas no âmbito da própria teoria crítica do esporte; bem como estabelecer diálogo com outras perspectivas que se ocuparam do fenômeno esportivo, como a sociologia configuracional de Norbert Elias e a compreensão do dilema brasileiro a partir da antropologia de Roberto DaMatta. Isso deu origem, em 2002, à tese de doutorado, publicada em alemão em 2004 e não traduzida para o português, intitulada “O esporte e sua crítica na cultura e na civilização: análises e perspectivas em Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, Norbert Elias e Roberto DaMatta” (Vaz, 2004). No Brasil, as ideias desse livro estão espraiadas em diversos escritos de Alexandre Vaz (1999, 2000, 2001, 2002, 2006).
O exercício realizado por ele não só consolidou a presença desse referencial crítico na Educação Física brasileira, mas também recolocou conceitualmente a teoria crítica do esporte no diálogo com, naquela altura, o já efervescente campo dos estudos socioantropológicos do esporte no Brasil. Além de renovar o interesse pela teoria crítica do esporte no país, ele também tem se ocupado sistematicamente de uma das lacunas apontadas pelos críticos da teoria crítica do esporte inspirada na “nova esquerda”, ou seja, a falta de empiria em muitas de suas análises. Bem ao espírito do Instituto de Pesquisa Social, que procurava conciliar análises teóricas rigorosas com trabalho empírico socialmente orientado, o autor conduziu dezenas de estudantes de pós-graduação na realização de estudos sobre diferentes artefatos dedicados ao corpo (revistas, filmes etc.), bem como investigações “empíricas” sobre diversas práticas corporais – da capoeira ao basquete em cadeira de rodas – experimentadas em diferentes espaços (hospitais, ginásios, academias de ginástica etc.) e praticadas por pessoas de distintas idades, de diferentes gêneros, etc. Também encontramos muitas reflexões sobre os sentidos da “educação do corpo” na escola, particularmente na infância (aí inserida a Educação Física escolar). A perspectiva frankfurtiana têm servido, além disso, de inspiração para inúmeros textos não “acadêmicos”, particularmente sobre o futebol, publicados em revistas e sites dedicados ao fenômeno esportivo, popularizando, para um público não acadêmico, a abordagem crítica do esporte de origem alemã. Uma visita ao seu Currículo Lattes mostra o quão longe ele foi nesse processo.
Tanto nas investigações empíricas como nos seus ensaios e artigos científicos, Alexandre Vaz, com ou sem seus orientandos, interpreta as práticas corporais esportivas considerando a ambiguidade destacada por Adorno nos momentos em que ele se referiu ao esporte: é um fenômeno que tanto serve à regressão, à barbarização, ao autoritarismo, ao sofrimento, à utopia do progresso infinito, à indústria cultural, à danificação da consciência etc., como, ao mesmo tempo, pode ser visto esteticamente, oportunidade em que mimesis (a sensibilidade, o lúdico, o jogo) encontra um lugar fundamental que pode ser propício à reconciliação entre humano e natureza sem prescindir da mediação reflexiva.
Há pelo menos três décadas, portanto, ele vem divulgando o potencial analítico dessa teoria em território nacional e em países vizinhos (particularmente Argentina e Uruguai), oportunidade também para colocá-la em diálogo com outras tradições de pensamento, representadas por nomes como Hannah Arendt, Stuart Hall, Ortega e Gasset, Giorgio Agamben, Hans Grumbrecht, Zygmunt Bauman, Michel Foucault, Axel Honneth, Judith Butlher, entre outros. Em todos esses casos, a postura do colega não é, como ele mesmo afirmou (Vaz, 2006) – mais de uma vez –, a de tomar aquela perspectiva conceitual, especialmente a de seus “pais fundadores”, como um receituário, mas como um convite aberto à pesquisa e à reflexão.
Outra manifestação da teoria crítica alemã no Brasil pode ser encontrada em textos pedagógicos/epistemológicos da disciplina. Dois nomes se destacam, ambos antes mencionados: Elenor Kunz e Valter Bracht.
Os livros de Elenor Kunz – “Educação Física: ensino e mudanças”, fruto da tese de doutorado realizada entre 1984 e 1987 na Alemanha, sendo publicado, no Brasil em 1991; e “Transformação didático-pedagógica do esporte”, lançado em 1994– são obras que foram influenciados por aquela tradição. No trabalho de 1991, prevalece, por um lado, a pedagogia crítica de Paulo Freire, uma opção, diga-se de passagem, inédita naquele contexto que via o surgimento das abordagens progressistas da Educação Física. Conforme depoimento do próprio autor (2021), a opção por Freire partiu de uma exigência de seu orientador de doutorado, que pediu a ele a indicação de um autor brasileiro (que pudesse ser lido em alemão) com o propósito de evitar, por assim dizer, certo “colonialismo alemão” na escrita da tese. Aliás, esse era um receio expresso em algumas passagens de “Ensino e mudança” em que ele se refere à presença alemã no Brasil desde a lógica da “invasão cultural”.8 De outro lado, é central, na tese de doutorado, uma abordagem filosófica do movimento humano que não tem qualquer relação com a teoria crítica frankfurtiana, mas que ele herdou do seu orientador, Andreas Trebels, que o “apresentou” a uma teoria do movimento baseada na obra de autores holandeses (Buytendijk, Gordijn e Tamboer) fortemente influenciados pela fenomenologia de Merleau-Ponty.
Além desses dois campos teóricos, o livro de 1991 contém uma interlocução, por assim dizer, velada, com um proeminente intelectual do círculo frankfurtiano: Jürgen Habermas. Esse diálogo era mediado pelas interpretações, desde o campo educacional alemão, de Klaus Mollenhauer, reconhecido por ser representante de uma ciência crítica da Educação na Alemanha (Krüger; Schippling, 2010), e de Hilbert Mayer. As ideias, na obra de Elenor Kunz (1991), da “ação pedagógica como ação comunicativa” e “discurso” prenunciam a futura centralidade de Habermas em “Transformação didático-pedagógica do esporte”, um livro que, como disse ele (1994), deveria ser entendido como um complemento de sua tese de doutorado.
A influência de Habermas foi aumentando no início dos anos 1990, quando Kunz desenvolveu ações, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com o propósito de fomentar uma teoria crítica da educação. No prefácio do livro de 1994, ele mesmo cita um seminário sobre teoria crítica da educação que ofertou, em 1991, no âmbito do programa de mestrado em educação daquela Universidade (Alexandre Vaz, inclusive, cursou a disciplina como aluno especial, reencontrando seu antigo professor da UDESC), e um curso de especialização em Educação Física escolar, repetidas vezes ofertados na UFSC, bem como outras ações no interior do recém criado Núcleo de Estudos Pedagógicos em Educação Física (NEPEF). Foi nesse contexto que Elenor Kunz elaborou os contornos de uma pedagogia crítico-emancipatória e de uma didática comunicativa na Educação Física, nome que, nesse momento, não deixa dúvidas de sua vinculação conceitual.9
No livro de 1994, a despeito de algumas referências a Adorno, Horkheimer e Marcuse, Habermas foi a orientação teórica escolhida. Destaco, entre outros possíveis modos de se notar essa presença, o capítulo “A competência objetiva, social e comunicativa”, que é influenciado pelas categorias trabalho, interação e linguagem, conforme elaboradas por Habermas. Na explicação desses conceitos, Elenor Kunz adapta um esquema construído por Hilbert Mayer (aquele autor por ele já mobilizado no livro de 1991) para defender a necessidade de uma articulação entre as três esferas como estruturas universais que servem de referência para a análise e crítica ao processo educacional, bem como para o ensino dos esportes. Também Elenor Kunz mobiliza Habermas no capítulo “O fenômeno esportivo enquanto realidade educacional”, na distinção entre “sistema e mundo vivido”, para pensar o esporte como mundo vivido e sistema, diferenciação também representada, na obra, pela distinção entre movimento e se-movimentar.
Depois da publicação dessas duas obras, diria que os interesses acadêmicos de Kunz o levaram a um “abandono” da perspectiva habermasiana, cuja filosofia foi se reinventando desde então, e do próprio Paulo Freire. Como revelam suas obras posteriores, Elenor Kunz (2000, 2015) volta sua atenção à fenomenologia de Merleau-Ponty dada sua relevância para a teoria do se-movimentar. Esse quadro me leva a concluir que seu trabalho da década de 2000, embora pertencente ao quadro das teorias progressistas da Educação Física, deixou de ter vinculação estreita com a teoria crítica alemã da Escola de Frankfurt.10
Por fim, retornemos a Valter Bracht, cujos textos pedagógicos/epistemológicos contêm uma interlocução com autores de distintas fases da tradição frankfurtiana. Em artigos reunidos em “Educação Física e ciência: cenas de um casamento infeliz”, é nítida a influência de Habermas quando Bracht, ao oferecer uma avaliação crítica das Ciências do Esporte no Brasil,11 recorre ao modelo habermasiano a respeito dos interesses norteadores do conhecimento para problematizar, na Educação Física, o predomínio do interesse técnico (da abordagem empírico-analítica) em detrimento dos interesses prático e emancipatório. A hegemonia, na área, do agir racional com respeito a fins tem ofuscado uma compreensão mais ampliada da racionalidade (sua dimensão estético-expressiva e prático-moral), produzindo aquilo que Valter Bracht (2015) chamará, vinte anos depois (mas dessa vez inspirado na teoria crítica alemã de Axel Honneth), de “reificação” da pesquisa na Educação Física, quer dizer, o esquecimento do sentido da investigação em uma área de intervenção com as características da disciplina.
Em outro capítulo do livro supramencionado, Valter Bracht (1999) compreende que seria mais produtivo pensar uma teoria pedagógica da Educação Física a partir da teoria da ação comunicativa de Habermas, pois, a partir dessa orientação, seria possível postular um equilíbrio entre os interesses técnico, prático e emancipatório do conhecimento a partir da especificidade do campo.12
No último capítulo do livro, ao delinear diferentes entendimentos da relação entre política e epistemologia na Educação Física e no Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte, Valter Bracht assevera que sua posição se aproxima do caminho apontado por Habermas, embora reconheça as críticas dirigidas a ele e os impasses a que sua posição leva. As dificuldades do binômio epistemologia/política, um tema recorrente em seus trabalhos desde então (Bracht, 2019a, 2021), reaparecem quando o autor descreve o debate travado entre Habermas e Richard Rorty (Bracht; Almeida, 2008, 2011a, 2011b) e extrai implicações das posições de ambos para uma pedagogia crítica da Educação Física. Nos referidos artigos, diferentemente de antes, não há uma tomada de posição explícita em defesa do filósofo alemão, mas o exercício de pensar com Habermas, contra Habermas, com Rorty, contra Rorty.
A relação do autor com essa tradição crítica alemã se manifesta também em outros dois momentos de sua produção dedicada à Educação Física escolar. De um lado, Axel Honneth foi novamente mobilizado para ele compreender a inovação e o desinvestimento pedagógico nas aulas de Educação Física escolar. A categoria do reconhecimento social, como desenvolvida por Honneth na obra “Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais” e em outros trabalhos, alimentou Valter Bracht na condução de estudos empíricos para a compreensão daqueles dois fenômenos. Uma visão sobre esse processo investigativo pode ser acessada no livro “A Educação Física escolar na América do Sul: entre a inovação e o abandono/desinvestimento pedagógico” (Bracht; Almeida; Wenetz, 2018), bem como em artigos publicados com seus estudantes (Faria; Bracht, 2014; Machado; Bracht, 2016; Faria; Machado; Bracht, 2012). Por outro lado, não se pode deixar de mencionar o estudo desenvolvido por ele em seu estágio pós-doutoral durante o ano de 2012, ocasião em que, sob a supervisão de Alexandre Vaz, pôde avançar na compreensão conceitual de um neologismo por ele próprio criado na década de 1990: o “movimentopensamento” (Bracht, 1999) – também formulado como “jogopensamento” (Bracht, 2003). Fez isso partir da interlocução com dois nomes da filosofia alemã: Hans-Gadamer e Theodor Adorno. O “grande” público conheceu os resultados desse empreendimento em seu último livro, precisamente no seu capítulo 5 (Bracht, 2019b), que é uma versão atualizada do relatório de 2012. Como ele mesmo disse (Bracht, 2019b), o diálogo entre aquelas duas tradições alemãs de pensamento permitiu refletir sobre os contornos de uma educação estética a partir do movimentar-se humano, sem perder de vista sua vinculação a uma teoria pedagógica crítica da Educação Física, preocupação que o orienta desde seus escritos mais remotos.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, restringi o universo da análise realizada ao território brasileiro e delimitei o sentido da expressão “teoria crítica alemã”, pois é notória a existência de outras teorias críticas alemãs (ou de autores/autoras do marxismo ocidental) que seguem orientando discussões da Educação Física na atualidade (menos em análises sobre o esporte, mas, seguramente, no debate pedagógico/epistemológico da disciplina).
Embora reconheça a importância dos alemães para o desenvolvimento, segundo a expressão de Dieckert (2020), de uma “cultura do pensamento” na Educação Física do país, a consolidação da teoria crítica da Escola de Frankfurt é consequência do trabalho de “tradução” e recepção de autores brasileiros que se beneficiaram, (in)diretamente, dos intercâmbios estabelecidos com a Alemanha desde pelo menos os anos 1960. Tais apropriações contemplam diferentes abordagens da teoria crítica alemã, permitindo que conceitos diversos fossem incorporados nas reflexões teóricas e empíricas produzidas na Educação Física. Também é digno de registro o fato de essa incorporação propor diálogos entre a tradição crítica alemã e outras teorias não vinculadas ao círculo frankfurtiano. Essa operação é muito importante para o exercício de se pensar com, mas também contra os autores da tradição crítica alemã, renovando essa orientação.
A descrição oferecida não contemplou tudo o que já foi publicado sobre ou a partir da teoria crítica da Escola de Frankfurt na Educação Física brasileira,13 mas avalio que os nomes e os livros aqui mencionados tiveram um papel fundamental para pautar temas, construir agendas de trabalho, influenciar novas gerações e contribuir, assim, para estabelecer essa tradição em território nacional.
Como desafios por vir, há a necessidade, de um lado, de refletir sobre as potencialidades e os limites dessa teorização crítica à luz de uma nova paisagem cognitiva e de uma sociedade em transformação acelerada e constante. De outro, são bem-vindas investigações que se ocupem das recepções que os autores fizeram da tradição frankfurtiana na Educação Física no Brasil, oportunidade para identificar as reinvenções realizadas, os conceitos privilegiados, as ênfases assumidas e o próprio alcance (epistemológico, político etc.) do que foi produzido. Esse duplo exercício fortalece uma atitude crítica em relação à própria perspectiva crítica, tarefa fundamental para se pensar cada vez melhor a Educação Física e seus temas.
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Este texto resultaria de minha participação na mesa “A constituição de um pensamento renovador da Educação Física/Ciências do Esporte na América Latina: convênios com a Alemanha”, no âm-bito do “Simpósio Internacional Ciências do Esporte na América Latina e na Alemanha”. Agradeço aos organizadores pelo convite e dedico o texto à população do Rio Grande do Sul, que sofreu com as enchentes de maio de 2024.
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Para uma análise crítica ao EPT, conferir Pazin (2014).
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Sobre a presença alemã na UFSM, conferir Rosa (2017); Ribas e Camargo (2020); Hildebrandt (2012) e Dieckert (2020). O “III Seminário Internacional de Educação Física: currículo e didática”, realizado em outubro de 2024 na UFSM, elegeu como tema as contribuições de Reiner Hildebrandt à Educação e à Educação Física.
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Informações verbais obtidas em uma mensagem de Whatsapp.
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5
Informações verbais obtidas em uma mensagem de Whatsapp.
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Neste momento, a editora UNIJUÍ já era responsável pela edição do livro.
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Refiro-me aos intelectuais da primeira geração da Escola de Frankfurt, como Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benjamin entre outros.
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8
Esta preocupação em reconhecer a “cultura brasileira” (Dieckert, 2020) ou com a valorização de uma “cultura de movimento brasileira” (Hildebrandt, 2020) que estaria em processo de esportivização aparece nos depoimentos de Dieckert (2020) e Hildebrandt (2021) sobre suas estadias na UFSM. Não surpreende ambos realizarem incursões investigativas em tribos indígenas no Brasil (Hildebrandt, 2020; Dieckert; Mehringer, 1989).
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9
Um desdobramento importante desse movimento intelectual é a coleção “Didática da Educação Física”, com 4 volumes.
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10
Para uma visão mais “completa” da trajetória intelectual de Kunz, sugiro a análise de Bracht em palestra proferida, em 2002, por ocasião do evento de homenagem ao professor Kunz, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3BY8XIAcy90. Para uma reflexão crítica sobre o trabalho de Kunz, indico Ghidetti, Almeida e Bracht (2013, 2014) e Rocha, Almeida e Moreno (2022).
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11
Este capítulo do livro foi escrito, originalmente, em 1995.
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12
Nesta passagem, Bracht (1999) situa a pedagogia crítica emancipatória de Kunz, e não o Coletivo de Autores, como aquela iniciativa mais próxima desse projeto de reconciliação, o que já revela, naquele momento, sua posição em relação à perspectiva de “fundo” do livro escrito a muitas mãos (Coletivo de Autores).
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Não considerei, por exemplo, as teses de doutorado de Paulo Evaldo Fensterseifer e Giovani De Lorenzi Pires, inspiradas em autores dessa tradição.
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FINANCIAMENTO
Este artigo é uma ação vinculada aos projetos de pesquisa “A constituição de um pensamento renovador da Educação Física na América do Sul: uma análise comparada entre Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia” e “Formação de professores de Educação Física no Espírito-Santo e na América do Sul”. As investigações são financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES), a quem agradecemos pelo apoio (Edital Profix 15/2022. Processo 2022-Z3971; Edital Universal 03/2021. Processo 2021-B3GXG; Bolsa Pesquisador Capixaba 06/2021. Processo 2022-D93DK; Edital Universal 28/2022. Processo 2023-DL91F).
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COMO REFERENCIAR
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REFERÊNCIAS
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Editado por
-
RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira**Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
09 Dez 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
18 Jul 2024 -
Aceito
18 Out 2024 -
Publicado
02 Nov 2024