Open-access PARACANOAGEM NO BRASIL: FINANCIAMENTO E DESENVOLVIMENTO

PARACANOEING IN BRAZIL: FINANCING AND DEVELOPMENT

PARACANOTAJE EN BRASIL: FINANCIAMIENTO Y DESARROLLO

Resumo

A paracanoagem é uma das modalidades que foram incluídas nos Jogos Paralímpicos de Verão. O presente estudo teve como objetivo analisar o desenvolvimento financeiro da paracanoagem no Brasil, por meio de uma pesquisa com abordagem qualitativa, de cunho exploratório, descritiva por meio de levantamento bibliográfico e documental. Como resultado foi observado aporte financeiro a atletas e às entidades esportivas durante o ciclo 2012 e 2016, havendo redução nestes incentivos no ciclo 2016 e 2018. Concluímos que houve aumento de recursos após sua inclusão nos Jogos Paralímpicos, porém sem investimentos de recursos privados. Ainda que os resultados demonstram evolução é fundamental entender como foi aplicado o recurso para avaliar a eficiência do investimento.

Palavras-chave Paracanoagem; Esporte Paralímpico; Gestão Esportiva; Financiamento Esportivo

Abstract

Paracanoeing is one of the sports included in the Paralympic Games. The present study aimed to analyze the financial development of paracanoeing in Brazil, through a qualitative research approach, exploratory in nature, descriptive through literature and documentary research. As a result, it was observed a significant financial contribution to athletes and sports entities during the 2012 and 2016 cycles, with a small reduction in these incentives in the 2016 and 2018 cycles. We conclude that there was a significant increase in resources after its inclusion in the Paralympic Games but without private resource investments. Although the results demonstrate evolution, it is essential to understand how the resource was applied to evaluate the efficiency of the investment.

Keywords Paracanoeing; Paralympic Sport; Sports Management; Sports Financing

Resumen

La paracanotaje es una de las modalidades incluidas en los Juegos Paralímpicos. El presente estudio tuvo como objetivo analizar el desarrollo financiero de la paracanotaje en Brasil, a través de una investigación con enfoque cualitativo, de carácter exploratorio, descriptivo a través de una investigación bibliográfica y documental. Como resultado, se observó un gran aporte financiero a los atletas y a las entidades deportivas durante los ciclos 2012 y 2016, habiendo una pequeña reducción en estos incentivos en los ciclos 2016 y 2018. Concluimos que hubo un aumento significativo de recursos después de su inclusión en los Juegos Paralímpicos, pero sin inversiones de recursos privados. Aunque los resultados demuestran evolución, es fundamental entender cómo se aplicó el recurso para evaluar la eficiencia de la inversión.

Palabras clave Paracanotaje; Deporte Paralímpico; Gestión Deportiva; Financiamiento Deportivo

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), que congrega 15 federações, é a Entidade Nacional de Administração do Esporte (ENAD). Essa entidade tem responsabilidade sobre a gestão da modalidade paralímpica e das modalidades olímpicas: canoagem slalom e canoagem velocidade. Esta forma de administração da modalidade pode ser observada em outras ENADs. Porém também no cenário paradesportivo existem ENADs exclusivas das modalidades Paralímpicas, ou ainda modalidades que têm como representação administrativa o Comitê Paralímpico Brasileiro, caso das seguintes modalidades: paratletismo, paralterofilismo, paranatação e paratiro esportivo (Pasini; Gutierrez; Duarte, 2020).

Ainda no âmbito do paradesporto, a paracanoagem é uma modalidade recente no Brasil, entretanto apresenta um bom nível técnico, inclusive em campeonatos internacionais. Esse desenvolvimento ocorreu de diferentes formas e iniciou seu processo a partir de participações de atletas em eventos nacionais e, especialmente, em campeonatos brasileiros (Vara; Moreira; Maiola, 2018). Com o aumento da visibilidade e da importância dos Jogos Paralímpicos de Verão (JPV) a participação das equipes brasileiras teve suporte do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) por meio de convênios realizados entre as entidades.

Houve também um conjunto de ações, leis e normatizações que foram fundamentais para a evolução do esporte paralímpico no Brasil, isto fez com que a CBCa apresentasse à sua comunidade um plano de trabalho de longo prazo (CBCa, 2020). A paracanoagem brasileira apresenta resultados em eventos internacionais, mantendo-se sempre entre os seis melhores países nos campeonatos mundiais, totalizando 19 medalhas até o mundial de 2021, sendo quatro ouros, oito pratas e sete bronzes (ICF, 2023).

Nesse sentido, entender como o suporte financeiro realizado por diferentes instâncias da comunidade esportiva é importante para determinar a relação com o desenvolvimento esportivo e seus resultados práticos. Assim, o presente estudo tem por objetivo analisar o financiamento da CBCa durante os Ciclos 2012 a 2020 e relacionar aos resultados internacionais obtidos pela modalidade, em especial em Campeonatos Mundiais e JPV.

1.1 REVISÃO

A Paracanoagem é uma modalidade praticada em águas calmas. Este é um esporte aquático de velocidade para atletas com deficiência física, com um sistema de classificação esportiva subdividido em 6 classes: KL1, KL2, KL3-VL1, VL2, VL3 (Derman et al., 2018; ICF, 2022). As provas são disputadas na distância de 200m e 500m nas embarcações de kayak e canoa (CBCa, [2022]). Na modalidade são utilizadas duas embarcações, caiaque (K) e a canoa va'a (V).

A modalidade encontra-se no quadro de medalhas desde os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Como modalidade esportiva a primeira participação da Canoagem em Jogos Olímpicos de Verão, foi pela canoagem velocidade, nos jogos de Berlim, em 1936. Já a participação da Canoagem Slalom ocorreu nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972 (ICF, 2022). Antes mesmo da modalidade ter conotação de alto rendimento e ser incluída nos JPV, ela teve seu desenvolvimento no território nacional, quando, em 1999, houve o primeiro relato descrito da participação de atletas com deficiência em eventos nacionais da paracanoagem (CBCa, 1999). No período de 2000 a 2009 vários campeonatos foram realizados em conjunto com a canoagem velocidade, fato realizado também pela Federação Internacional de Canoagem (FIC) (IPC, 2016). No ano de 2009 a FIC enviou ao Comitê Paralímpico Internacional uma carta formal de intenção de participação nos Jogos Paralímpicos 2016 (ICF, 2009). Em 2010 a Paracanoagem entrou no seleto quadro de esportes paralímpicos, fato anunciado pelo Comitê Paralímpico Internacional, em assembleia realizada naquele ano. Consequentemente, a modalidade teria sua estreia nos Jogos Paralímpicos Rio 2016.

Segundo, Pitts, Li e Kim (2018), a gestão de negócios esportivos é um campo de estudo emergente e em expansão, no que diz respeito à ciência e pesquisas, necessitando estudos sistemáticos para o desenvolvimento de novas informações ou formas de validar as informações existentes, porém, são poucos estudos envolvendo o paradesporto com gestão. Shapiro et al. (2012) ao realizar uma análise de 34 periódicos voltados à gestão esportiva, com mais de 5 mil artigos, encontrou apenas 89 artigos com pesquisas voltadas à pessoa com deficiência.

De acordo com Humphreys e Ruseski (2008) a indústria do esporte tem três principais componentes primários, a) atividade envolvendo a participação esportiva b) atividades esportivas que contemplem espectadores c) atividades esportivas que contemplem espectadores por meio de algum meio de comunicação. No cenário do paradesporto brasileiro, pode ser observada efetiva evolução dos resultados esportivos e uma grande evolução na apresentação destes números para a comunidade, como observado por Santos et al. (2019), que compara a cobertura do jornal Folha de São Paulo em relação aos Jogos Paralímpicos entre os anos de 1992 e 2016.

Quando avaliado o cenário envolvendo a participação esportiva, evidencia-se que o Brasil tem investido recurso financeiro nos esportes de alto rendimento, sobretudo com o objetivo de alcançar o sucesso em resultados esportivos em grandes eventos internacionais (Ferreira, 2018).

Neste contexto, os recursos financeiros são peças-chave para o avanço do esporte. De Bosscher e colaboradores (2009) demonstram as ações que permeiam o sucesso no esporte de elite e definem alguns pilares para tal desenvolvimento, entre eles destaca o pilar 1, que é o suporte financeiro, visto que o país que mais investe no esporte, pode criar mais oportunidades para o atleta treinar em melhores circunstâncias. Sobre esta destinação de recursos, no paradesporto a estrutura administrativa e organizacional se dá de maneira distinta ao esporte convencional, portanto, quando se pensa na destinação de recursos para as entidades, esse fator é preponderante em tomadas de decisões (Reis; Mezzadri; Silva, 2017).

2 MÉTODO

A presente pesquisa tem uma abordagem qualitativa, de cunho exploratório, descritiva, e se utiliza de levantamento bibliográfico e documental, tratando de estudar as características do grupo (Gil, 2008), em especial o suporte financeiro para a paracanoagem brasileira ao longo dos ciclos de 2012 e 2020. Pelo fato de a modalidade ser recente e não haver pesquisas com a temática em diferentes perspectivas, o estudo torna-se exploratório, o qual tende a proporcionar uma aproximação do autor com o problema, submetendo os objetos de estudo a influências de certas variáveis. Uma vez que o autor tem conhecimento das ações da modalidade, este estudo traz uma visão geral da modalidade (Gil, 2008).

Assim a pesquisa é analítica, pois envolve o aprofundamento das informações, na tentativa de explicar os fenômenos, considerando o desenvolvimento da paracanoagem (Thomas; Nelson; Silverman, 2000). Para tal foi feita análise documental, por meio de coleta de dados de cartas, circulares, notas oficiais, resultados oficiais, diários oficiais encontrados em websites, além do banco de dados e outros documentos da Confederação Brasileira de Canoagem entre os anos de 2012 e 2020. Foram obtidas informações sobre o histórico de resultados da modalidade, atividades de desenvolvimento realizadas para o esporte, ações de governança e leis que correlacionam e dão o suporte ao desenvolvimento da paracanoagem no Brasil e aos recursos financeiros da entidade durante os diferentes ciclos paralímpicos. O acesso aos documentos e arquivos da Confederação Brasileira de Canoagem foi autorizado pela sua presidência. Desta forma, os dados e informações refletem o cenário da modalidade.

3 RESULTADOS

3.1 CICLO 2012-2016

3.1.1 Investimento em atletas

Durante o Ciclo 2012 a 2016 foram realizadas ações para desenvolver o esporte de alto rendimento, inicialmente destaca-se a indicações de pleitos em projetos estaduais, como o caso do Time São Paulo, que em parceria com o CPB possibilitou a participação de dois atletas de destaque internacional na modalidade neste projeto, apoiado com recursos financeiro (CBCa, 2013b). Neste mesmo ciclo foi dada continuidade ao bolsa atleta nacional, que incentivou onze atletas nacionais e sete atletas internacionais (CBCa, 2013a) e foi criado o Programa Bolsa Pódio, que incentiva atletas com resultados expressivos internacionalmente, neste ciclo foram apoiados três atletas.

Neste mesmo sentido a Academia Brasileira de Canoagem (ABRACAN) entidade que apoiou a captação de recursos para a canoagem brasileira, por meio de projeto de Lei de Incentivo - Centro de Treinamento de Paracanoagem - apoiou atletas que participavam dos treinamentos com uma bolsa que era espelho do Bolsa Pódio.

3.1.2 Convênios Estabelecidos pelas entidades Paradesportivas

Nos convênios os recursos são destinados tanto para área meio, a qual é utilizada para a manutenção da entidade, e área fim, esta que é utilizada diretamente para o desenvolvimento da modalidade. No primeiro ciclo Paralímpico houve avanço nos valores oriundos de repasse do CPB, conforme observado a seguir:

Tabela 1
Recursos de convênio CBCa e CPB.

Os valores, conforme apresentado anteriormente, obtiveram um aumento de 53% no primeiro ano do ciclo, quando comparado a 2012; aumento 9% de 2013 para 2014, e de 13% de 2014 para 2015. E no ano dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 houve um implemento de mais 69% em recursos. Para execução de projetos da área fim, a CBCa firmou convênios com o CPB que nos anos de 2013, 2014 e 2015 viabilizou a execução de cinco projetos a cada ano. Já no ano de 2016 foram dez projetos executados, com o aumento substancial de recursos.

Além deste implemento de recurso, em 2014 houve a captação de Projetos de Lei de Incentivo pela Academia Brasileira de Canoagem, e contou com o investimento de mais de 2 milhões de reais no primeiro ano de execução. O projeto contemplou, por 12 meses, a contratação de embarcações importadas, em acordo com as especificações da Federação Internacional de Canoagem; manutenção e locação do espaço para treinamento; contratação de equipe multidisciplinar e academia específica de treinamento para que pudessem atender da melhor forma os 12 melhores atletas da modalidade (BNDES, 2014). Em 2015, foi captado R$ 3.505.798,83, ano este importante para a sequência das ações envolvendo a preparação da equipe de paracanoagem para os Jogos Paralímpicos Rio 2016 (Brasil, 2015). Deste projeto dois atletas conquistaram medalha nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020.

Somado a isto, ainda pela Lei de Incentivo ao Esporte, a Academia Brasileira de Canoagem, captou R$ 25.933.132,39, sendo que este valor é referente às ações desenvolvidas entre as modalidades Olímpicas e Paralímpicas.

Tabela 2
Treinamento e cursos de paracanoagem.

3.2 CICLO 2017-2020

3.2.1 Investimento em atletas

No último ano do ciclo 2017-2020 houve o investimento em seis atletas no bolsa pódio (Brasil, 2020). Neste mesmo período, não houve a captação de recursos da Lei de Incentivo ao Esporte que contemplasse o pagamento de bolsa aos atletas. Desta forma, foi executado um projeto por convênio com o CPB. Nesse projeto foi incluído o pagamento de bolsas no valor total anual de R$ 105.000,00.

3.2.2 Convênios Estabelecidos pelas entidades Paradesportivas

No segundo ciclo Paralímpico, a preparação para os JPV de Tóquio 2020, os valores estabelecidos por meio de convênio entre CBCa e CPB foram:

Tabela 3
Valores referente a convênios realizados com o Comitê Paralímpico Brasileiro.

Durante os dois primeiros anos do ciclo não houve alteração percentual e representativa dos valores de convênio. Porém, entre os anos de 2018 e 2021 além de implemento de 33% em 2018 e 13% em 2021, ocorreram projetos especiais com foco para os JPV de Tóquio, os quais podem ser observados abaixo:

Nestes anos ocorreram projetos especiais do CPB, que visavam o apoio direto e específico a potenciais atletas medalhistas nos JPV de Tóquio, sendo eles o Projeto Seleção, que contemplou o apoio à equipe técnica e pagamento de bolsa aos atletas. O Projeto Tóquio, que além do apoio com treinador e fisioterapeuta, possibilitou a aquisição de embarcações em fibra de carbono, a qual seria utilizada posteriormente nos JPV de Tóquio e, por último, o retorno do Projeto Seleção, que contou com o suporte a materiais e viagens de atletas e equipe técnica como preparação para o principal evento da modalidade no ciclo.

Tabela 4
Projetos Especiais - Convênio CBCa e CPB.

Neste sentido, durante estes anos foram firmados com o CPB, em sua área fim, 12 convênios no ano de 2017, 10 convênios no ano de 2018, seis convênios em 2019, dois convênios em 2020 e seis convênios em 2021. Em todos estes anos, além dos projetos, ocorreu o Programa de Manutenção Técnica, que visa a manutenção de treinadores e equipe técnica para a modalidade.

Somada às ações anteriores, neste ciclo ocorreu projetos de apoio à participação da equipe de paracanoagem em eventos internacionais, por meio de recursos aprovados e captados junto à Lei de Incentivo ao Esporte, conforme apresentado abaixo.

Tabela 5
Projetos da CBCa pela Lei de Incentivo ao Esporte.

Destaca-se ainda que a CBCa realizou o Campeonato Brasileiro Interclubes de Canoagem Velocidade e Paracanoagem, em 2019, com o apoio de um convênio do Governo do Distrito Federal, por meio da Secretaria de Esporte e Lazer e do Banco Regional de Brasília (BRB) (CBCa, 2019).

Os convênios firmados nesse período contribuíram para o desenvolvimento conquistado pela modalidade, sendo observado o aumento de 58% de participantes em competições nacionais, de 50 atletas em 2013 para 79 atletas em 2020, ainda que o número de clubes tenha reduzido de 24 para 18 no mesmo período. Paralelo ao cenário nacional, foi possível observar em nível internacional o aumento de 200% na quantidade de medalhas em Campeonatos Mundiais, sendo 2 em 2013 e 4 em 20192.

4 DISCUSSÃO

Visto que o presente estudo tem como objetivo analisar o financiamento da CBCa durante os Ciclos 2012 a 2020 e relacionar aos resultados internacionais obtidos pela modalidade, em especial em Campeonatos Mundiais e JPV, é importante observar que o primeiro ciclo paralímpico da modalidade foi realizado no Brasil, momento que houve um grande investimento em infraestrutura no esporte nacional (Ferreira, 2018).

Porém, os recursos financeiros oriundos para a modalidade no início do Ciclo Paralímpico para os JPV Rio 2016, em especial entre os anos de 2012 e 2013, foram muito reduzidos, ao contrário do que pode ser observado para o apoio ao esporte de alto rendimento do Brasil para a preparação dos Jogos de Londres 2012, quando o país foi o terceiro com mais investimentos daquele ciclo (De Bosscher, 2015).

Não distante desta análise, a Paracanoagem, a partir de 2014, teve um grande investimento, em especial por meio de Lei de Incentivo ao Esporte, com a criação do Centro de Treinamento de Paracanoagem, fato que colaborou para a melhora da estrutura da modalidade, sobretudo na aquisição de materiais para academia e embarcações.

Este aumento do recurso para a modalidade pode estar atrelado ao fator da modalidade estrear nos JPV Rio 2016, pois neste período ocorreu grande investimento no esporte como política de governo, sobretudo na tentativa de o Brasil melhorar os resultados nas modalidades Olímpicas e Paralímpicas, no Rio 2016. Também a realização de grandes eventos pode desenvolver a cultura do país para a prática e visão do esporte, fator que Mazzei et al. (2014b) entendem que pode influenciar nos processos decisórios para patrocinadores em confederações brasileiras de modalidades olímpicas.

Porém, quando trata-se de relacionar o investimento financeiro e os resultados, esta percepção não é tão clara. Apesar do grande incentivo e aporte financeiro no primeiro ciclo da Paracanoagem poder estar relacionado com a primeira medalha dos JPV Rio 2016 e os ótimos resultados obtidos em Campeonatos Mundiais, ela se contradiz quando observamos que o país realizou grandes investimentos em distintas áreas do Esporte de Alto Rendimento e o país terminou os JPV Rio 2016 na 8ª colocação nos JPV, uma posição atrás dos JPV Londres 2012 (Carneiro et al., 2021).

Por outro lado, ainda que o Brasil tenha tido uma queda no ranking, houve a melhora na quantidade de medalhas, sendo que a Paracanoagem foi uma das nove modalidades que conquistou medalha para o país, colaborando para que o Brasil seja o terceiro país em termos de crescimento do número de medalhas ao longo dos JPV desde 1988, apresentando um valor acumulado de crescimento de 3,2% (Santos, 2022).

Durante ambos os ciclos, o desenvolvimento das ações da paracanoagem estão relacionadas ao uso de recurso oriundo da Lei Agnelo Piva, em especial por convênios estabelecidos junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro, e a Lei de Incentivo ao Esporte, uma vez que grande parte do recurso oriundo para a modalidade está relacionada ao investimento realizados por entes públicos, reforçando que um grande percentual deste investimento advém de apoio de Leis Federais, assim como demonstra o estudo de Carneiro et al. (2021). Isto pode estar relacionado com o maior apoio do país e do Comitê Paralímpico Brasileiro a projetos destinados para as modalidades que se enquadram nos Jogos Paralímpicos, conforme resolução do CPB 003/2018 que trata do regulamento de gestão, execução e controle dos convênios oriundos da Lei nº 9.615/1998 (CPB, 2018).

Quando analisado o recurso financeiro da entidade e o investimento específico em uma modalidade, percebe-se a importância para o desenvolvimento e a obtenção de sucesso esportivo (De Bosscher, 2015). Porém, apenas o recurso financeiro não pode garantir o sucesso do esporte e do país, assim existe a necessidade de observar como e onde é investido este recurso, em especial como poderá chegar aos atletas, aos treinadores e como este recurso é sistematizado e organizado cada um para o desenvolvimento. Neste sentido, ainda que ocorra o constante aumento de recursos para a modalidade ao longo dos dois ciclos Paralímpicos, é importante entender o porquê deste aumento, e como foi distribuído estes valores, para então entender se o sucesso da modalidade está relacionado a isto (De Bosscher, 2010).

Ainda que a canoagem brasileira tenha obtido resultados expressivos, nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 e 2020, o esporte no país não tem uma força cultural, ainda que as comunidades ribeirinhas e indígenas usem a canoa como meio de transporte. Sotiriadou, Gowthorp e De Bosscher (2014) analisaram a relação entre a cultura esportiva e as políticas de governo aplicada ao esporte de alto rendimento, em especial a canoagem na Austrália, concluindo que as políticas do esporte são diferentes entre os países, mas que assumem papel importante para influenciar o desempenho e promover a cultura esportiva.

Observadas essas influências para um investimento e possibilidade a partir do aumento da cultura esportiva, não é evidenciado incentivos por parte de iniciativas privadas, em especial em termos de patrocínio. Mazzei et al. (2014a), destaca que os grandes eventos realizados no Brasil, sobretudo os Jogos Pan-americanos 2007 e os Jogos Paralímpicos 2016 impulsionaram o investimento no esporte de alto rendimento, porém para que ocorra o legado as confederações devem realizar uma gestão cada vez mais profissional.

O aumento dos recursos financeiros durante os ciclos não está condicionado apenas a propósito de resultado esportivo e atemporal, também relaciona-se com alterações de leis. Entre elas destaca-se a Lei 13.146 de 2015, também conhecida como Lei da Inclusão, a qual tem como premissa assegurar e promover a igualdade de condições entre a pessoa com deficiência e as demais pessoas. Essa lei trouxe alteração em dois pontos do art. 56 da Lei 9.615 de 1998, são eles: aumento de 2% para 2,7% dos recursos oriundos das loterias; e a alteração da divisão do repasse deste percentual, de 15% para 37,04% para o Comitê Paralímpico Brasileiro, fator que responde ao aumento de 69% de repasse por convênio do CPB para a CBCa entre os anos de 2015 e 2016 (Brasil, 2015).

Quando analisada a variação de recursos oriundos de diferentes fontes para a paracanoagem brasileira, observa-se que no ciclo 2013-2016, 23% está relacionada a recursos advindos de convênio com o CPB, por meio de concursos de prognósticos, quando analisado apenas Projetos de Lei de Incentivo exclusivos com ações da paracanoagem, ao contrário do que Carneiro et al. (2021) demonstram que neste mesmo ciclo os valores de concurso de prognóstico comparados a LIE representaram 67% do investimento ao Esporte de Alto Rendimento.

Porém é importante analisar como este recurso foi distribuído ao longo dos anos, uma vez que, a partir de pesquisas De Bosscher et al. (2015), treinadores, atletas e dirigente entendem que o Brasil, como anfitrião dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, teria a tendência de melhorar seus resultados a partir de um suporte financeiro ao esporte no ciclo e uma participação esportiva em eventos nacionais e internacionais. No entanto, poucos creem em outros pilares muito importantes, como tecnologia e inovações e identificação de talentos, estas informações corroboram com os projetos apresentados via Lei de Incentivo ao Esporte, em ambos os ciclos, que em sua maioria estão relacionados a participação e organização de eventos e apoio a centro de treinamento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paracanoagem apresentou uma evolução financeira para o desenvolvimento do esporte de uma forma significativa, percebe-se que com a entrada nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 os valores destinados ao esporte aumentaram, em especial com possibilidade de recurso oriundo da Lei 9.615 de 1998, alterada pela 13.146 de 2015, que tratam da distribuição de recursos oriundos de concursos de prognósticos.

Ainda que se perceba a evolução destes recursos, verifica-se que a paracanoagem, por meio de sua entidade de administração, perdeu forças em projetos de Captação de Lei de Incentivo, quando a modalidade teve o ápice de incentivo em 2015-2016, realizando grandes investimentos em infraestrutura. Além de recursos oriundos da Lei de Incentivo ao Esporte, percebe-se que a modalidade carece de recursos oriundos de outros fins, em especial da iniciativa privada, como patrocínios.

Por fim, ainda que tenha ocorrido o aumento do recurso financeiro para a modalidade é complexo afirmar a relação entre o aporte financeiro e os resultados esportivos, porém é importante avaliar se este recurso foi aplicado de forma eficiente, em especial entender quais áreas foram financiadas, além disso verificar se houve resultado prático para o esporte.

Desta forma, sugere-se aos gestores e às entidades de administração do Esporte, incluindo Comitê Paralímpico Brasileiro, a análise contínua da evolução do esporte, sobretudo nas mesmas dimensões das aplicadas pelo Modelo Spliss, avaliando constantemente quais áreas e pilares estão sendo desenvolvidas e quais devem receber mais atenção de acordo com os recursos financeiros obtidos.

  • 1
    Informações retiradas de documentos arquivados na Confederação Brasileira de Canoagem, em 2022.
  • 2
    No ano de 2020 não ocorreu o Campeonato Mundial de Paracanoagem em virtude da proliferação do COVID-19.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • COMO REFERENCIAR
    MAIOLA, Leonardo; SANTOS, Luiz Gustavo Teixeira Fabricio dos; BAIÃO JUNIOR, Arlindo Antonio; DUARTE, Edison. Paracanoagem no Brasil: financiamento e desenvolvimento. Movimento, v. 30, p. e30006. jan./dez. 2024. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.129812

REFERÊNCIAS

Editado por

  • RESPONSABILIDADE EDITORIAL
    Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
    *Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    17 Mar 2023
  • Aceito
    06 Mar 2024
  • Publicado
    01 Jun 2024
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