Resumos
O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito dos inseticidas endosulfam (1,05 g i.a./L), esfenvalerate (0,075 g i.a./L), fempropatrina (0,09 g i.a./L), triclorfom (0,09 g i.a./L) e triflumurom (0,0375 g i.a./L), utilizados para o controle de Alabama argillacea (Hübner), em ovos e larvas de Chrysoperla externa (Hagen), pulverizados em laboratório e transferidos para casa de vegetação. Avaliou-se a viabilidade dos ovos, o período embrionário e a sobrevivência de larvas de primeiro ínstar eclodidas desses ovos. Larvas de primeiro, segundo e terceiro ínstares foram pulverizadas com os inseticidas, verificando-se a sobrevivência das pupas obtidas, e a viabilidade dos ovos produzidos pelos adultos emergidos. Esfenvalerate e triflumurom provocaram aumento do período embrionário de C. externa, sendo que nenhum dos inseticidas avaliados causou redução na viabilidade dos ovos. Endosulfam, fempropatrina, triclorfom e triflumurom foram altamente tóxicos à fase larval do predador, acarretando mortalidade de 71% a 100%. Esfenvalerate causou mortalidade média de 20% para larvas de primeiro e terceiro ínstares e de 38% para o segundo ínstar, não afetando a viabilidade das pupas obtidas e a capacidade reprodutiva dos adultos, apresentando possibilidades de recomendação para uso em programas de manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro.
Crisopídeo; produto fitossanitário; controle biológico
The objective of this work was to evaluate the effect the insecticides endosulfan (1.05 g a.i./L), esfenvalerate (0.075 g a.i./L), fenpropathrin (0.09 g a.i./L), trichlorfon (0.09 g a.i./L) and triflumuron (0.0375 g a.i./L), used to control Alabama argillacea (Hübner), on eggs and larvae of Chrysoperla externa (Hagen), under greenhouse conditions. Egg viability, duration of the embryonic period and survival of first-instar larvae ecloded from treated eggs were evaluated. For first, second and third-instar larvae treated with the insecticides, subsequent survival of the larvae and pupae, as well as viability of the eggs produced by the emerged adults, were evaluated. The insecticides esfenvalerate and triflumuron caused a significant increase in the embryonic period of C. externa. Endosulfan, fenpropathrin, trichlorfon and triflumuron were highly toxic to larvae, with mortality rates ranging from 71% to 100%. Esfenvalerate caused only about 20% mortality of the first- and third-instar larvae and 38% of the second-instar larvae. Besides causing low larval mortality, esfenvalerate did not affect pupae survival or the reproductive capacity of the adults in the studied period, thus showing good potential for use in integrated pest management in cotton crops.
Green lacewing; pesticide; biological control
CROP PROTECTION
Seletividade de Inseticidas a Chrysoperla externa (Hagen)
(Neuroptera: Chrysopidae)
GERALDO A. CARVALHO, CÉSAR F. CARVALHO, BRÍGIDA SOUZA E JOÃO L.R. ULHÔA
Depto. Entomologia, Universidade Federal de Lavras, C. postal 37, 37200-000, Lavras, MG
Selectivity of Insecticides to Chrysoperla externa (Hagen) (Neuroptera: Chrysopidae)
ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the effect the insecticides endosulfan (1.05 g a.i./L), esfenvalerate (0.075 g a.i./L), fenpropathrin (0.09 g a.i./L), trichlorfon (0.09 g a.i./L) and triflumuron (0.0375 g a.i./L), used to control Alabama argillacea (Hübner), on eggs and larvae of Chrysoperla externa (Hagen), under greenhouse conditions. Egg viability, duration of the embryonic period and survival of first-instar larvae ecloded from treated eggs were evaluated. For first, second and third-instar larvae treated with the insecticides, subsequent survival of the larvae and pupae, as well as viability of the eggs produced by the emerged adults, were evaluated. The insecticides esfenvalerate and triflumuron caused a significant increase in the embryonic period of C. externa. Endosulfan, fenpropathrin, trichlorfon and triflumuron were highly toxic to larvae, with mortality rates ranging from 71% to 100%. Esfenvalerate caused only about 20% mortality of the first- and third-instar larvae and 38% of the second-instar larvae. Besides causing low larval mortality, esfenvalerate did not affect pupae survival or the reproductive capacity of the adults in the studied period, thus showing good potential for use in integrated pest management in cotton crops.
KEY WORDS: Green lacewing, pesticide, biological control
RESUMO - O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito dos inseticidas endosulfam (1,05 g i.a./L), esfenvalerate (0,075 g i.a./L), fempropatrina (0,09 g i.a./L), triclorfom (0,09 g i.a./L) e triflumurom (0,0375 g i.a./L), utilizados para o controle de Alabama argillacea (Hübner), em ovos e larvas de Chrysoperla externa (Hagen), pulverizados em laboratório e transferidos para casa de vegetação. Avaliou-se a viabilidade dos ovos, o período embrionário e a sobrevivência de larvas de primeiro ínstar eclodidas desses ovos. Larvas de primeiro, segundo e terceiro ínstares foram pulverizadas com os inseticidas, verificando-se a sobrevivência das pupas obtidas, e a viabilidade dos ovos produzidos pelos adultos emergidos. Esfenvalerate e triflumurom provocaram aumento do período embrionário de C. externa, sendo que nenhum dos inseticidas avaliados causou redução na viabilidade dos ovos. Endosulfam, fempropatrina, triclorfom e triflumurom foram altamente tóxicos à fase larval do predador, acarretando mortalidade de 71% a 100%. Esfenvalerate causou mortalidade média de 20% para larvas de primeiro e terceiro ínstares e de 38% para o segundo ínstar, não afetando a viabilidade das pupas obtidas e a capacidade reprodutiva dos adultos, apresentando possibilidades de recomendação para uso em programas de manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro.
PALAVRAS-CHAVE: Crisopídeo, produto fitossanitário, controle biológico
A cultura do algodoeiro possui importantes insetos-praga que causam danos consideráveis, destacando-se o curuquerê Alabama argillacea (Hübner). Em altas infestações, essa espécie pode causar prejuízos, desfolhando as plantas prematuramente e incapacitando-as de produzir sementes e fibras maduras. Muitas vezes o manejo desse inseto é realizado com uso de produtos de amplo espectro de ação que podem afetar os insetos benéficos presentes nessa cultura (Gridi-Papp et al. 1992).
Os crisopídeos têm despertado interesse dos pesquisadores por serem eficientes predadores de ampla diversidade de presas, tais como pulgões, moscas-brancas, cochonilhas, lagartas, ácaros etc., podendo ser úteis em programas de manejo integrado de pragas para várias culturas. Figueira (1998) alimentou larvas de Chrysoperla externa (Hagen) com ovos de A. argillacea e constatou o consumo total médio de 350 ovos. Silva (1999), avaliando a capacidade predatória de larvas da mesma espécie de crisopídeo, obteve o consumo médio de 440 lagartas desse noctuídeo. Ao se considerar a potencialidade das espécies de Chrysopidae para o controle de pragas do algodoeiro, torna-se necessário o uso de práticas racionais e efetivas que possam combater os insetos-praga e ao mesmo tempo preservar esses inimigos naturais. A utilização de produtos seletivos é uma estratégia viável para a proteção e conservação dos inimigos naturais em agroecossistemas.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a ação de inseticidas utilizados no controle de A. argillacea sobre ovos e larvas de C. externa, e seus efeitos sobre as fases subseqüentes.
Material e Métodos
Os experimentos foram conduzidos em casa de vegetação, no período de outubro de 1999 a fevereiro de 2000, com ovos e larvas de C. externa oriundos de uma criação de laboratório desenvolvida com insetos coletados em pomares de citros no câmpus da Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, conforme metodologia descrita por Ribeiro et al. (1993). Os produtos com seus respectivos nomes técnicos, comerciais, concentrações e grupos químicos estão apresentados na Tabela 1. O tratamento testemunha foi constituído somente por água.
Efeito dos Inseticidas em Ovos de C. externa. Cerca de 400 ovos com aproximadamente 24h de idade foram retirados de uma criação de laboratório, cortando-se os pedicelos com auxílio de uma tesoura, e colocados em placas de Petri de 10 cm de diâmetro, para receberem os tratamentos com os respectivos inseticidas.
As pulverizações foram feitas com um pulverizador manual, calibrado para aplicação de um volume de 1,7 ± 0,5 mg/cm², seguindo as recomendações de Hassan et al. (1987) e preconizadas pela IOBC (International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants). Para a obtenção do volume médio de calda a ser aplicado, pesaram-se, individualmente, dez discos de papel filtro com diâmetro de 10 cm e, em seguida, realizaram-se as pulverizações nos mesmos. Ao final de cada pulverização, cada disco foi novamente pesado, obtendo-se o volume aplicado em cada um. Dessa forma, o valor de 1,7 ± 0,5 mg/cm2 representou a média dos volumes pulverizados nos dez discos.
Após as pulverizações, os ovos foram individualizados com auxílio de um pincel fino, nas células de placas usadas em teste ELISA (Enzime Linked Immunosorbent Assay), as quais foram fechadas com pvc laminado e colocadas sobre uma bancada dentro da casa de vegetação. Para evitar a incidência direta de raios solares nas unidades experimentais, utilizou-se sombrite a 50%, fixado à altura de 1 m acima da bancada.
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com seis tratamentos e dez repetições, sendo cada parcela experimental constituída por seis ovos, totalizando 360. O efeito dos produtos foi avaliado pela viabilidade dos ovos. Nos tratamentos em que a mortalidade não foi total, avaliou-se a duração do período embrionário, bem como a viabilidade e duração do primeiro ínstar, mantendo-se as larvas nos mesmos recipientes e local, e alimentando-as com ovos de Anagasta kuehniella (Zeller), a cada dois dias.
Efeito dos Inseticidas em Larvas de C. externa. Larvas de primeiro, segundo e terceiro ínstares provenientes da criação de laboratório, foram individualizadas em tubos de vidro de 2,5 cm de diâmetro x 8,5 cm de altura, alimentadas com ovos de A. kuehniella e mantidas em câmaras climatizadas à temperatura de 25 ± 2oC, umidade relativa de 70 ± 10% e fotofase de 12h. Após cerca de 24h da eclosão ou da mudança de ínstar, as larvas, em grupos de seis, foram colocadas com auxílio de um pincel fino, em placas de Petri e, para evitar o canibalismo, foram alimentadas ad libitum com ovos de A. kuehniella. As larvas, juntamente com o alimento a elas fornecido, foram submetidas às pulverizações utilizando-se a mesma metodologia empregada para a fase de ovo.
Após as pulverizações, as larvas foram colocadas nos mesmos tipos de tubos de vidro e levadas para a casa de vegetação, onde foram individualizadas em gaiolas cilíndricas de 3 cm de diâmetro x 3 cm de altura, fechadas em sua parte superior com tecido fino tipo organza. As gaiolas foram fixadas às folhas das plantas de algodoeiro utilizando-se um prendedor metálico adaptado para essa função.
Estudaram-se os efeitos dos produtos em larvas, avaliando-se a porcentagem de mortalidade após 1h, 3h e 6h das aplicações, considerando-se mortas aquelas que não apresentavam quaisquer movimentos quando tocadas com um pincel de pêlo macio. Após esse período, as larvas sobreviventes foram novamente transferidas para tubos de vidro e mantidas em casa de vegetação até a emergência dos adultos, avaliando-se a viabilidade larval e das pupas obtidas. Os adultos emergidos também foram avaliados quanto ao número e viabilidade dos ovos produzidos. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados com seis tratamentos e dez repetições, sendo cada parcela constituída por seis larvas.
A capacidade reprodutiva dos adultos oriundos das larvas pulverizadas com os inseticidas foi avaliada utilizando-se dez casais para cada tratamento. Cada casal foi individualizado em gaiolas de pvc de 10 cm de diâmetro x 10 cm de altura, revestidas internamente com papel filtro, tendo a extremidade superior coberta com tecido tipo organza e a inferior apoiada sobre uma placa de Petri também forrada com papel filtro. Para a alimentação dos adultos, utilizou-se dieta à base de lêvedo de cerveja e mel em partes iguais, adicionando-se algumas gotas de água destilada, até a obtenção de uma pasta, que foi pincelada em tiras de Parafilm® fixadas na parede interna das gaiolas. No interior de cada uma foi colocado um frasco de vidro de 10 ml contendo um chumaço de algodão embebido em água destilada que serviu como fonte desse recurso e umidificador. As gaiolas foram colocadas sobre uma bancada em casa de vegetação e até o 25o dia após a formação dos casais, foram realizadas avaliações diárias do número médio de ovos por fêmea e a sua viabilidade.
De acordo com a porcentagem de mortalidade causada pelo inseticida para cada uma das fases avaliadas, os produtos foram enquadrados em classes conforme as recomendações sugeridas pela IOBC (Hassan et al. 1987), sendo: classe 1 = inócuo (<30%), classe 2 = levemente nocivo (30-79%), classe 3 = moderadamente nocivo (80-99%) e classe 4 = nocivo (>99% de mortalidade).
Os dados referentes à duração do período embrionário, duração das fases larval e pupal e número de ovos/fêmea, foram corrigidos para e os de viabilidade dos ovos, dos ínstares e das fases de larva e pupa, para arco seno , antes de se proceder às análises de variância pelo teste de agrupamento de médias de Scott e Knott (Scott & Knott 1974). A mortalidade das larvas foi corrigida pela fórmula de Abbott (1925) antes de se proceder às análises.
Resultados e Discussão
Efeito dos Inseticidas em Ovos. O período embrionário médio variou de 146,4h a 148,8h, isto é, de 6,1 a 6,2 dias. Os inseticidas esfenvalerate e triflumurom provocaram pequeno aumento desse período, correspondendo a 1,6% em relação ao tratamento testemunha (Tabela 2). Os resultados confirmam aqueles obtidos por Mattioli et al. (1992) para Ceraeochrysa cubana (Hagen), que verificaram prolongamentos do período embrionário em torno de 0,7 e 1,0 dia, respectivamente, para os inseticidas alfacipermetrina e ciflutrina. Os demais inseticidas avaliados não interferiram na duração do período embrionário (Tabela 2), concordando com os resultados de Ferreira et al. (1993), quando realizaram o tratamento de ovos de C. cubana com fempropatrina na dose de 4 ml/L de água.
De acordo com Patel & Vyas (1985), o prolongamento do período embrionário provocado pelo esfenvalerate e triflumurom pode ser atribuído à habilidade das moléculas desses inseticidas em atravessar o córion e atuar no embrião. Esse aumento pode representar desvantagem para a utilização desses produtos em programas de manejo integrado de pragas na cultura algodoeira, uma vez que os ovos de crisopídeos constituem presas fáceis, especialmente para formigas e, assim, ficariam por mais tempo expostos a esses predadores. Contudo, deve-se salientar que, embora esse aumento tenha sido significativo, a diferença em relação à testemunha correspondeu a somente 2,4h, o que não implica na exclusão desses compostos para uso em tais programas.
A viabilidade média dos ovos variou de 73,3% a 90,0% e, de acordo com o teste de comparação de médias, as diferenças entre elas não foram significativas, sendo todos os inseticidas enquadrados na classe 1 (inócuos) (Tabela 2). Esses resultados confirmam aqueles encontrados por Carvalho et al. (1994), quando ovos de C. cubana, tratados com triflumurom na dose de 2 ml/L, apresentaram cerca de 100% de viabilidade. Assemelham-se também aos resultados obtidos por Ferreira et al. (1993) e àqueles de Moraes & Carvalho (1993) que, realizando o tratamento de ovos de C. cubana com fempropatrina na dose de 0,4 ml/L, não observaram redução na porcentagem de eclosão das larvas, encontrando médias de 81,3% e 90,4%, respectivamente.
Os inseticidas endosulfam, esfenvalerate, fempropatrina e triclorfom prolongaram o primeiro ínstar das larvas de C. externa oriundas dos ovos tratados. O mesmo não ocorreu com aquelas provenientes do tratamento com triflumurom, cuja duração não diferiu significativamente da testemunha. Os inseticidas não afetaram a sobrevivência dessas larvas, sendo que todas apresentaram processo normal de ecdise, passando para o ínstar subseqüente (Tabela 3), o que demonstra a seletividade dos produtos estudados quando aplicados sobre ovos. Mattioli et al. (1992) também não observaram qualquer efeito sobre a sobrevivência de larvas, quando os inseticidas reguladores de crescimento flufenoxurom (1,2 ml/L) e diflubenzurom (0,8 ml/L) foram aplicados sobre ovos de C. cubana. Porém, Carvalho et al. (1994) constataram sobrevivência de 71% para larvas de primeiro ínstar, oriundas de ovos de C. cubana tratados com o inseticida regulador de crescimento, triflumurom na dose de 2 ml/L.
Levando-se em consideração a classificação proposta pela IOBC, todos os compostos foram enquadrados na classe 1, sendo, portanto, não tóxicos aos ovos (Tabela 2) e às larvas de primeiro ínstar de C. externa deles eclodidas (Tabela 3). Essa tolerância em relação aos inseticidas empregados, certamente favorecerá a ação desse crisopídeo, na fase de ovo, em programas de manejo integrado na cultura do algodoeiro.
Efeito dos Inseticidas em Larvas. Os compostos endosulfam e fempropatrina foram os que mais afetaram a sobrevivência de larvas do predador, provocando mortalidade média próxima a 95% e 92%, respectivamente, 1h após a aplicação (Tabela 4). Três horas após, esses inseticidas causaram 100% de mortalidade, e triclorfom, cerca de 82%, evidenciando o efeito mais lento desse composto sobre larvas de primeiro ínstar. Após 6h da aplicação, esfenvalerate, triclorfom e triflumurom causaram mortalidade média de 19%, 98% e 2%, respectivamente. Ao contrário dos resultados obtidos no presente trabalho, Hassan et al. (1994) constataram cerca de 99% de mortalidade de larvas de C. carnea quando tratadas com diflubenzurom (0,05 ml/L), inseticida pertencente ao mesmo grupo químico do triflumurom.
Os resultados com triclorfom diferem daqueles obtidos por Hassan et al. (1987), que classificaram o composto, quando utilizado na dose de 0,1 ml/L, como inócuo (classe 1), por causar baixa mortalidade às larvas de C. carnea, o que pode ser devido à maior capacidade dessa espécie de crisopídeo em metabolizar o inseticida, ou mesmo à sua habilidade de se desintoxicar quando exposta ao produto. Divergem também daqueles obtidos por Toda & Kashio (1997), no Japão, que observaram que o triclorfom não foi tóxico para larvas de C. carnea.
O efeito deletério de fempropatrina também foi observado por Moraes & Carvalho (1993), que encontraram 100% de mortalidade de larvas de primeiro ínstar de C. cubana tratada com esse produto na dose de 0,4 ml/L. Avaliando o efeito de oito produtos fitossanitários para larvas de C. carnea em condições de laboratório, Balasubramani & Swamiappan (1997) também observaram que o inseticida organofosforado clorpirifós, pertencente ao mesmo grupo químico do triclorfom, mostrou-se altamente tóxico para o crisopídeo, não podendo ser recomendado o seu emprego de forma generalizada quando se deseja preservar a população de insetos benéficos em um determinado agroecossistema.
De modo geral, pode-se observar que o esfenvalerate apresentou seletividade intermediária às larvas de C. externa em todos os seus ínstares (Tabelas 4, 5 e 6), confirmando os resultados de Mattioli et al. (1992), que trabalharam com os inseticidas piretróides deltametrina e ciflutrina nas doses de 2 e 3 ml/L, respectivamente, aplicados em larvas de primeiro ínstar de C. cubana. Grafton-Cardwell & Hoy (1985) discutiram diversos trabalhos e demonstraram que os crisopídeos apresentam tolerância natural extremamente elevada a alguns piretróides sintéticos. Dessa forma, o efeito tóxico intermediário causado pelo composto a C. externa pode estar associado à sua capacidade inata de desintoxicação.
O inseticida regulador de crescimento triflumurom não causou mortalidade significativa das larvas nas primeiras 6h após o tratamento (Tabelas 4, 5 e 6), confirmando os resultados encontrados por Mattioli et al. (1992), Carvalho et al. (1994) e Velloso et al. (1997).
Ferreira et al. (1993), estudando o efeito de diferentes inseticidas sobre larvas de primeiro ínstar de C. cubana, verificaram que o flufenoxurom (1 ml/L), também pertencente ao grupo químico das benzoilfeniluréias, foi seletivo a esse predador. Contudo, esses resultados diferem daqueles obtidos por Sterk et al. (1999) quando larvas de C. carnea foram tratadas com teflubenzurom e flufenoxurom, em condições de semi-campo, sendo enquadrados na classe 4 (nocivo), e daqueles encontrados por Hassan et al. (1994) com diflubenzurom (0,05 ml/L) quando aplicado em larvas de C. carnea em laboratório. A diferença pode estar associada às espécies de crisopídeos estudadas e também à origem geográfica das suas populações.
Endosulfam e fempropatrina causaram elevada mortalidade de larvas durante a primeira hora após as pulverizações. A maior mortalidade para o triclorfom foi constatada 3h após as pulverizações em larvas de primeiro e segundo ínstares, e após 1h para larvas de terceiro ínstar.
As larvas sobreviventes ao efeito tóxico do esfenvalerate apresentaram inicialmente pequenos tremores, sendo os movimentos restabelecidos 6h após a aplicação. Observações semelhantes foram feitas por Shour & Crowder (1980) com larvas de C. carnea pulverizadas com os piretróides fenvalerato e permetrina, e também por Mattioli et al. (1992), quando aplicaram deltametrina, ciflutrina e alfacipermetrina em larvas de C. cubana.
A sobrevivência das larvas de C. externa submetidas às pulverizações efetuadas no primeiro, segundo e terceiro ínstares, bem como a viabilidade das pupas obtidas desses tratamentos encontram-se na Tabela 7. Baseando-se nas classes de toxicidade da IOBC (Hassan et al. 1987), o inseticida esfenvalerate foi seletivo (classe 1) às larvas e pupas oriundas de larvas de primeiro e terceiro ínstares tratadas, e levemente nocivo quando provenientes de larvas de segundo ínstar pulverizadas.
O inseticida triflumurom, embora tenha demonstrado ação seletiva às larvas nas primeiras 6h após o tratamento (Tabelas 4, 5 e 6), foi altamente prejudicial ao longo do seu desenvolvimento, causando 100% de mortalidade no final da fase larval e enquadrando-se na classe de toxicidade 4 (Tabela 7). Esses resultados confirmam aqueles obtidos por Carvalho et al. (1994) com larvas de C. cubana, e aqueles de Velloso et al. (1997) com larvas de C. externa, para esse mesmo produto, nas doses de 2 e 0,3 g/L, respectivamente.
Com relação aos parâmetros avaliados para os adultos que sobreviveram ao tratamento com esfenvalerate (Tabela 8), verificou-se que a capacidade reprodutiva e a viabilidade dos ovos produzidos não foram afetadas pelo produto quando aplicado sobre larvas de primeiro, segundo e terceiro ínstares.
De modo geral, entre os inseticidas avaliados, o esfenvalerate foi o que causou menos efeitos deletérios a C. externa, apresentando possibilidade de ser recomendado em programas de manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro.
Agradecimentos
Ao Banco do Nordeste do Brasil S.A., pela colaboração financeira para a execução do projeto "Controle biológico do curuquerê-do-algodoeiro com o emprego de Chrysoperla externa".
Literatura Citada
Received 17/09/01. Accepted 20/10/02.
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Publicação nesta coleção
21 Fev 2003 -
Data do Fascículo
Out 2002
Histórico
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Recebido
17 Set 2001 -
Aceito
20 Out 2002