Resumos
Uma rainha de Creightonidris scambognatha Brown é citada pela primeira vez para o Mato Grosso, na região do Pantanal, além de e uma operária para Bahia, também pela primeira vez. Ambas foram obtidas através do extrator de Winkler.
Serapilheira; Winkler; distribuição; biogeografia
A queen of Creightonidris scambognatha Brown is recorded for the fist time for the State of Mato Grosso, Pantanal area, and a worker for the State of Bahia, also for the first time for Brazil. Both specimens were obtained with Winkler extractors.
Litter; Winkler; distribution; biogeography
SCIENTIFIC NOTE
Registros novos da formiga criptobiótica Creightonidris scambognatha Brown (Hymenoptera: Formicidae)
New records of the cryptobiotic ant Creightonidris scambognatha Brown (Hymenoptera: Formicidae) from Brazil
Augusto C.C. CastilhoI; Jacques H.C. DelabieII,III; Marinêz I. MarquesIV; Joachim AdisV; Luciana F. MendesII
IPrograma de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, gutocastilho@gmail.com
IILab. Mirmecologia, Convênio UESC/CEPLAC, Centro de Pesquisas do Cacau e Depto. Ciências Agrárias e Ambientais, Univ. Estadual de Santa Cruz, C. postal 7, 45600-000 Itabuna, BA, Brazil, delabie@cepec.gov.br
IIIBolsista do CNPq
IVDepto. Biologia e Zoologia, Instituto de Biociências, marinez@cpd.ufmt.br, Univ. Federal de Mato Grosso, Avenida Fernando Corrêa da Costa, s/n, 78060-900 Cuiabá, MT, Brazil
VMax-Planck-Institute for Limnology, Tropical Ecology Working Group, Postfach 165, 24302 Plön, Alemanha adis@mpil-ploen.mpg.de
RESUMO
Uma rainha de Creightonidris scambognatha Brown é citada pela primeira vez para o Mato Grosso, na região do Pantanal, além de e uma operária para Bahia, também pela primeira vez. Ambas foram obtidas através do extrator de Winkler.
Palavras-chave: Serapilheira, Winkler, distribuição, biogeografia
ABSTRACT
A queen of Creightonidris scambognatha Brown is recorded for the fist time for the State of Mato Grosso, Pantanal area, and a worker for the State of Bahia, also for the first time for Brazil. Both specimens were obtained with Winkler extractors.
Key words: Litter, Winkler, distribution, biogeography
A tribo Basicerotini é endêmica da região Neotropical. Praticamente nada se conhece sobre o comportamento das espécies que a compõem (Brown 1949, Brown & Kempf 1960), a não ser o que consta nas publicações de Wilson & Hölldobler (1986) e Hölldobler & Wilson (1990) que ressaltam a capacidade de camuflagem dessas formigas, que usam o substrato do solo como comportamento criptobiótico.
O gênero Creightonidris Brown (Formicidae: Basicerotini) é monotípico para C. scambognatha Brown. Ocorre no Brasil (Delabie 2000) e na Venezuela (Lattke 1991), sendo considerada rara. Até o momento, foram registrados cerca de doze exemplares presentes em coleções, todos fêmeas aladas e provenientes do cerrado de Goiás, da Floresta Amazônica nos estados do Pará e do Amazonas e também da Floresta Atlântica no estado da Bahia (Delabie 2000). Lattke (1991) fez também um registro de uma fêmea capturada a 140 metros de altitude, num acampamento do lado venezuelano do Pico da Neblina, perto da fronteira com o Brasil (Fig. 1).
Não há nenhuma informação sobre ecologia ou outros aspetos da biologia dessa formiga, mas suas mandíbulas aberrantes, como já foi observado por Brown & Kempf (1960), fazem desta um inseto altamente especializado quanto à nutrição. Provavelmente, constrói seu ninho em troncos podres e na serapilheira, sendo que, tomando em conto as demais informações disponíveis sobre os Basicerotini, sua colônia poderia comportar na ordem de 100 a 1000 indivíduos segundo Silvestre et al. (2003). A falta de informação está associada a sua camuflagem e hábito de forrageamento que dificultam sua amostragem, estudo e visualização (Hölldobler & Wilson 1990).
Durante as coletas ocorridas recentemente na serapilheira de um acurizal (16º22'S 56º18'W) na parte norte do Pantanal mato-grossense, onde predomina Attalea phalerata Mart. (Arecaceae), amostrou-se uma rainha de C. scambognatha com o auxílio do extrator de Winkler (Bestelmeyer et al. 2000) no município de Nossa Senhora do Livramento, MT (06.XII.2003, col. A.C.C Castilho), constituindo, portanto, o primeiro registro da espécie para o bioma do Pantanal e para o Mato Grosso.
Observa-se que as pesquisas sobre a mirmecofauna do Pantanal ainda são incipientes, podendo-se citar algumas publicações recentes como Adis et al. (2001) que avaliaram estratégias de sobrevivência de formigas durante o período de cheia, Fernandes (2003) que apresenta as comunidades de formigas do Pantanal sul mato-grossense, assim como Battirola et al. (2005) que analisaram a comunidade de formigas em copas de A. phalerata Mart. (Arecaceae).
Registra-se também a primeira operária de C. scambognatha coletada recentemente na serapilheira com o auxílio de extrator de Winkler, numa área de Mata Atlântica secundária (12º33'S 41º23'W), município de Lençóis, BA (Lençóis, Trevo, 30.III.2001; col. J.R.M. Santos).
A distribuição conhecida da espécie está ilustrada na Fig. 1. Esta ocorre pelo menos nas províncias zoogeográficas seguintes (classificação de Morrone 2006): províncias "Cerrado", "Imeri", "Floresta Atlântica", "Floresta do Paraná", "Pantanal", "Pará" e "Llanos venezuelanos". Considerando essa ampla distribuição é possível que se encontre C. scambognatha praticamente em todo o território brasileiro (salvo talvez na caatinga e nos campos sulinos), além, provavelmente, das demais regiões dos paises limítrofes com as quais o Brasil divide a Bacia Amazônica, a baixa altitude.
Desta maneira, é provável que a espécie seja mais comum do que atualmente considerada. Devido ao seu comportamento criptobiótico, é também provável, que possa ser amostrada em outras localidades com o uso cada vez mais amplo de extrator de Winkler para a amostragem das formigas do solo e da serapilheira, permitindo melhor avaliação sobre a freqüência real de espécies de formigas consideradas raras.
Agradecimentos
Este estudo foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Mato Grosso.
Received 01/XII/05. Accepted 03/V/06.
- Adis, J., M.I. Marques & K.M. Wantzen. 2001. First observations on the survival strategies of terricolous arthropods in the northern Pantanal wetland of Brazil. Andrias 15: 127-128.
- Battirola, L.D., M.I. Marques, J. Adis & J. H.C. Delabie. 2005. Composição da comunidade de Formicidae (Insecta, Hymenoptera) em copas de Attalea phalerata Mart. (Arecaceae) no Pantanal de Poconé, Mato Grosso, Brasil. Rev. Bras. Entomol. 49: 107-117.
- Bestelmeyer, B.T., D. Agosti, L.E. Alonso, C.R.F Brandão, W.L. Brown Jr., J.H.C. Delabie & R. Silvestre. 2000. Field techniques for the study of ground-living ants: An overview, description, and evaluation, p.122-144. In D. Agosti, J.D. Majer, L. T. de Alonso & T. Schultz (eds), Ants: Standard methods for measuring and monitoring biodiversity. Smithsonian Institution, Washington, 280p.
- Brown, W.L. 1949. Revision of the ant tribe Dacetini: IV. Some genera properly excluded from the Dacetini, with the establishment of the Basicerotini, new tribe. Trans. Am. Entomol. Soc. (Phila) 75: 83-96.
- Brown, W.L. & W.W. Kempf. 1960. A world revision of the ant tribe Basicerotini (Hymenoptera: Formicidae). Studia Entomologica 3: 161-250.
- Delabie, J.H.C. 2000. Creightonidris scambognatha (Hymenoptera: Formicidae: Basicerotini) in the Atlantic forest biome, east of Bahia, Brazil. Rev. Biol. Trop. 48: 272-273.
- Fernandes, W.D. 2003. Biodiversidade de formigas no Pantanal sul-mato-grossense. Anais do XVI Simpósio de Mirmecologia, Florianópolis, UFSC, 7-11.
- Hölldobler, B. & E.O. Wilson. 1990. The ants. Cambridge, Belknap/Harvard University Press, 732p.
- Lattke, J.E. 1991. Estudios de hormigas de Venezuela (Hymenoptera: Formicidae). Bol. Entomol. Venez. 6: 56-61.
- Morrone, J.J. 2006. Biogeographic areas and transition zones of Latin America and the Carribean islands based on panbiogeographic and cladistic analyses of the entomofauna. Annu. Rev. Entomol. 51: 467-494.
- Silvestre, R., C.R.F. Brandão & R.R. Silva. 2003. Grupos funcionales de hormigas: el caso de los gremios del Cerrado, p.113-148. In F. Fernández (ed.), Introducción a las hormigas de la Región Neotropical. Smithsonian Institution Press, 398p.
- Wilson, E.O. & B. Hölldobler. 1986. Ecology and behavior of the Neotropical cryptobiotic ant Basiceros manni (Hymenoptera: Formicidae: Basicerotini). Insectes Soc. 33: 70-84.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
30 Mar 2007 -
Data do Fascículo
Fev 2007
Histórico
-
Recebido
01 Dez 2005 -
Aceito
03 Maio 2006