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Apresentação

APRESENTAÇÃO

Os artigos reunidos na Edição 65 de Organizações & Sociedade, O&S, tratam de temas relacionados à organização em geral, e parte deles aborda especificamente algumas organizações em diversas dimensões e escalas. Esses artigos não tratam da Revista O&S, mas seus conhecimentos possibilitam construções da organização-O&S em tempo de reestruturação, mapeamento de processos e análise do ambiente no qual ela se insere.

Os três primeiro artigos focalizam o âmbito intraorganizacional e, nesse âmbito, os indivíduos e suas relações na formação de grupos, equipes, redes e organizações familiares. O artigo Conexões entre Trabalhadores: alternativas para além do discurso hegemônico de grupos e equipes, de Lílian Weber e Carmen Ligia Iochins Grisci, tem como objetivo "ir além do discurso de grupos e equipes de trabalho, avançando o debate relativo às conexões entre trabalhadores". Sob esse objetivo é realizada uma revisão da "literatura gerencial" sobre, por um lado, noções de grupo e equipe, e, por outro lado, visões do distanciamento entre o discurso e a prática desse trabalho. Nessa contraposição, é desenvolvida uma "reflexão sobre outras possibilidades de pensar o coletivo, extrapolando as atuais prescrições normatizadoras e aproximando da noção do trabalho articulado em redes, demandado no paradigma do trabalho imaterial"; complementada por um estudo de caso com chefias intermediárias em um hospital universitário público. Os outros artigos são duas diferentes abordagens sobre organização familiar. O artigo Relações entre Poder e Subjetividade em uma Organização Familiar, de Fernanda Tarabal Lopes, Alexandre Carrieri e Luiz Alex Silva Saraiva, tem como objetivo discutir vínculos entre indivíduo e organização; considerando que esses vínculos caracterizam a permanência, ou não, de sujeitos indicados como sucessores e analisando esses vínculos com base em categorias inter-relacionadas de subjetividade e poder. Ao estudar uma empresa familiar, os autores interpretam, dentre outras histórias, a história do trabalho; sendo essa história romanceada pelos entrevistados a partir do mito fundador em um processo que: "por meio da socialização primária, esconde o controle por intermédio da inserção de valores do pai na precoce entrada na empresa por parte dos filhos do sexo masculino"; e reproduz, "no âmbito da empresa, relações sociais patriarcais", tendo a filha que enfrentar a "resistência à dominação do pai, que se recusava a deixá-la participar do negócio da família". O artigo Sistemas de Valores e Implicações na Governança Corporativa em um Grupo Empresarial Familiar, de Annor da Silva Junior, Priscilla de Oliveira Martins da Silva e Alfredo Rodrigues Leite da Silva, tem como objetivo "descrever e analisar as implicações do contexto familiar e do sistema de valores na governança corporativa"; isto é, um grupo empresarial familiar de grande porte que é analisado em quatro dimensões: família, propriedade, gestão e sistemas de valores. A título de conclusão, é apresentada a seguinte proposição para discussão: "a adoção de um modelo de governança com aderência ao sistema de valores que norteiam a família controladora oferece uma mediação de interesses propícia à manutenção e ao desenvolvimento da organização familiar".

Na "Despedida do Editor" publicada na Edição 64, Pinho (2013. p. 13) agradece às pessoas que com ele compõem a "equipe interna", ressaltando que "esta sempre foi e é extremamente enxuta"; sendo com essa equipe que a Revista O&S foi classificada como A2 e passou a integrar a Coleção SciELO (Scientific Electronic Library Online) de periódicos científicos. Seria possível analisar se essas pessoas formaram na prática algo mais ou menos distante das noções teóricas de equipe (WEBER, GRISCI, 2013), mas a questão que se impõe é como reestruturar a organização-O&S. Uma possibilidade é continuar tentando formar uma equipe, ainda que não nos moldes idealizados pela "literatura gerencial", o que se mostrou uma missão, se não impossível, extremamente difícil e essa dificuldade não pode ser simplesmente atribuída ao caráter público da instituição. Outra possibilidade, talvez mais adequada e viável, é potencializar o trabalho articulado em redes (WEBER, GRISCI, 2013) para além de um ou dois editores e um pequeno conjunto de técnicos, envolvendo coeditores, avaliadores, autores, leitores atuais e potenciais e outros interessados.

Mais do que uma equipe, a O&S parece ter contado com uma família. A O&S como organização familiar pode ser vista como uma filha bem criada, qualificada como A2 e indexada, e suficientemente preparada para ter sua própria casa e se sustentar sem pai e mãe, nem madrasta e padrinhos. Em paralelo, ela ganhou mais autonomia quando deixou de se vincular à Diretoria da Escola de Administração para se vincular diretamente ao Núcleo de Pós-Graduação em Administração, NPGA, que reúne os programas de pós-graduação em administração. O momento dessa suposta organização familiar é de emancipação. Aos poucos a O&S perde o caráter de organização familiar, o que de fato nunca foi, e deixa de aparecer na foto como filha, em um processo de reestruturação visando sua plena articulação em redes de produção e difusão de conhecimento, no âmbito nacional e internacional.

Os dois outros artigos tratam mais especificamente de gestão organizacional. O artigo Falhas Organizacionais: tipologia, determinantes e proposta de modelo teórico, de Silvia Morales de Queiroz Caleman e Decio Zylbersztajn, objetiva: criar uma tipologia para o estudo da natureza das falhas organizacionais; estudar as falhas organizacionais a partir de uma análise dual das razões da cooperação; e propor um modelo de análise para a compreensão do desenvolvimento das falhas organizacionais. A conclusão é de "que as falhas devem ser investigadas a partir de seis principais dimensões: estrutural; cognitiva; comportamental; informacional; institucional e; política"; e que as falhas ocorrem "de modo sistêmico e sinérgico, tendo o indivíduo e suas restrições de ordem cognitiva e comportamental como elementos centrais". O artigo Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual: mapeamento da produção acadêmica brasileira de 1997 a 2011 nos Encontros da ANPAD, de Roberto Pinto de Araujo, Antônio Paulo Mottin e José Francisco de Carvalho Rezende, apresenta os resultados de uma pesquisa que, em meio a 9.027 artigos levantados, identificou: 272 artigos relacionados à Gestão do Conhecimento (GC) e Capital Intelectual (CI); e, nesses artigos, os temas abordados, os métodos de pesquisa predominantes em cada trabalho, os autores dos artigos e filiação acadêmica, e os tipos de referências utilizadas nos trabalhos.

Esses temas ampliam a compreensão do mapeamento de processos que se realiza hoje na organização-O&S. Procura-se mapear como se produz e se difunde a O&S, desde a submissão dos artigos, passando por avaliação, revisão e editoração, até as publicações impressa e eletrônica e suas formas de distribuição; atentando-se para os fluxos, as etapas, os recursos materiais, humanos e intelectuais. No que se refere aos recursos materiais, vale observar que o insumo básico do produto O&S é informação, e sua distribuição é comunicação, de modo que a tecnologia do processo produtivo se confunde com tecnologia de informação e comunicação, e mapear processos é principalmente levantar e sistematizar informações. O próximo passo será informatizar, integrar e aperfeiçoar os processos produtivos e, em uma perspectiva mais ampla, a gestão. Os recursos humanos são, segundo Caleman e Zylbersztajn (2013), os indivíduos cujas restrições de ordem cognitiva e comportamental são consideradas elementos centrais de falhas organizacionais. Essas falhas extrapolam os processos produtivos e os produtos e recaem na relação entre esse ambiente operacional e o ambiente externo, cujos fatores "apresentam um caráter temporal, sendo a incerteza e a capacidade de adaptação das organizações os vetores para a análise das falhas organizacionais sob essa dimensão [estrutural]" (CALEMAN, ZYLBERSZTAJN, 2013). Nessa perspectiva, se evidencia que a excelência da Revista O&S depende das pessoas envolvidas em seus processos de produção e difusão. Ao lado dessas pessoas emergem os recursos intelectuais que se traduzem em conhecimento. Aqui não se trata do conhecimento difundido pela O&S e sim do conhecimento produzido e utilizado em seus processos, ao longo de sua trajetória. Esse conhecimento requer hoje uma gestão cuidadosa para que não se perca com o passar do tempo e possa ser continuamente atualizado e também compartilhado. Seria desejável que esse conhecimento fosse convertido em conhecimento científico e tecnológico em abordagens da organização-O&S como objeto de estudo.

Os três últimos artigos extrapolam o âmbito intraorganizacional, se voltam para o âmbito interorganizacional na perspectiva do ambiente externo. O artigo Mensuração do capital social nas redes colaborativas vitivinícolas da Serra Gaúcha, de Kadígia Faccin, Janaina Macke e Denise Genari, no cumprimento de seu objetivo demonstra "a presença de altos índices de capital social, no cluster vitivinícola, distribuídos uniformemente entre as três dimensões estudadas: relacional, estrutural e cognitiva"; e afirma "que diferentes combinações de elementos vinculados ao capital social levam a resultados diferenciados, ou a realidades organizacionais idiossincráticas". O artigo A Influência da Rede de Alianças no Crescimento das Empresas de Biotecnologia de Saúde Humana na Indústria Brasileira, de Antonio Estrella e Walter Bataglia, tem como objetivo: "analisar a influência da estrutura social formada pela rede de alianças interorganizacionais no crescimento econômico das empresas brasileiras de biotecnologia (biotec), com capital privado e atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), no segmento de saúde humana". A conclusão é de "que à medida que a empresa de biotecnologia acumula experiência em fazer e gerir alianças, ganhando capacidade relacional, desenvolve competências que influenciam positivamente o depósito de novas patentes e o seu crescimento em termos do número de funcionários". O artigo Coletividade e Iniciativas Empreendedoras Locais no Desenvolvimento de um Mercado Tradicional, de Gustavo Melo Silva e Jorge Alexandre Barbosa Neves, apresenta uma análise de "o mercado da tecelagem tradicional do município de Resende Costa (MG), resultado da articulação entre ações coletivas e empreendedoras locais". Resulta dessa análise a indicação de que: "o mercado foi influenciado, inicialmente, por ações estruturantes do Estado, por uma produção dispersa nos domicílios, pela divisão do trabalho e pela organização burocrática comercial que controla seus serviços produtivos para atender, por um lado, as pressões de consumo e, por outro lado, a solidariedade entre indivíduos de um território".

Esses últimos artigos tratam especificamente de "redes colaborativas", "rede de alianças" e "ações coletivas e articuladas", e de relações de cooperação e competição. Projetando para a organização-O&S, cabe questionar: Quem integra e pode vir a integrar suas redes? Com quais interesses e relações? Como atender a esses interesses e potencializar essas relações em prol da excelência? Excelência no ambiente operacional, no ambiente externo ou na interseção desses ambientes? Como aperfeiçoar os processos? Como qualificar o produto-O&S e, em correlato, os serviços prestados. Quais são os indicadores de qualidade adequados para O&S? Posição no Qualis Periódicos da CAPES? Indexação? Impacto? Citações? Internacionalização? Relevância? Legitimidade? Reconhecimento? As questões sobre a organização-O&S e o produto-O&S apontam para a necessidade de oportunamente se discutir a Revista O&S, de se empreender conjuntamente uma reflexão ampla, profunda e crítica sobre ela.

Mônica de Aguiar Mac-Allister da Silva

Editora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013
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